:::::RIO DE JANEIRO - 30 DE ABRIL DE 2006 :::::

O Globo - Ilha - Versão Impressa
30/04/2006
Crise da Varig ameaça 4 mil insulanos


Por Bernardo Mello Franco
bernardo.franco@oglobo.com.br


A ligação do comissário Sérgio Mansilha com a Varig começou no berço: no momento em que ele nasceu, em Porto Alegre, há 46 anos, o pai tripulava um DC-3 da companhia na linha Bagé-Santana do Livramento, próximo à fronteira com o Uruguai.

O avião, remanescente de uma frota que dominou o céu brasileiro entre as décadas de 40 e 60, repousa num gramado da Base Aérea do Galeão.

A ligação do comissário Sérgio Mansilha com a Varig começou no berço: no momento em que ele nasceu, em Porto Alegre, há 46 anos, o pai tripulava um DC-3 da companhia na linha Bagé-Santana do Livramento, próximo à fronteira com o Uruguai. O avião, remanescente de uma frota que dominou o céu brasileiro entre as décadas de 40 e 60, repousa num gramado da Base Aérea do Galeão. Em 1986, Mansilha conheceu Gisela, também comissária, a bordo de um 737 que voava do Rio à capital gaúcha. Eles se casaram e hoje moram na Freguesia, com duas filhas em idade escolar. Entre o trabalho no ar e as manifestações pela sobrevivência da empresa, o casal aperta os cintos para enfrentar a maior crise da história da Varig. Eles fazem parte de um grupo de quatro mil funcionários e aposentados que moram na Ilha e temem a falência da companhia.

Segundo o secretário municipal de Trabalho, Wanderley Mariz, a Varig é um dos pilares da economia insulana. Ele acredita que a suspensão dos vôos pode provocar um efeito em cadeia no comércio e no mercado imobiliário:

-É a única empresa que mantém a base de operações no Galeão. Os funcionários têm boa média salarial e construíram suas vidas no bairro.

Na casa dos Mansilha, o fantasma do desemprego já impôs cortes no padrão de vida. Há dois meses, eles venderam um automóvel, suspenderam as idas ao cinema e a restaurantes e tentam renegociar dívidas bancárias. Com o salário atrasado, Sérgio lidera um grupo de dez funcionários que vai à escola da filha mais nova, na Freguesia, para garantir as matrículas caso a empresa deixe de voar.

- Nunca imaginei que chegaríamos a esse ponto. Tenho colegas que saíram da Varig para virar motoristas no transporte alternativo - conta o comissário, que passou a usar as vans para se deslocar até a Associação de Comissários da Varig, no Centro, da qual é vice-presidente.

A apreensão dos funcionários reflete a forte ligação com a empresa que, há 40 anos, é a principal conexão do país com o exterior. Os variguistas, como gostam de ser chamados, estão engajados na luta pela sobrevivência da companhia. Gisela teme não se adaptar à vida após a Varig.

- Tenho orgulho da minha carreira na Varig e não quero trabalhar na concorrência. Se a empresa falir, vou me sentir órfã - resume a comissária, mostrando o broche em forma de asa que recebeu em homenagem aos 20 anos na companhia.

A Ilha ainda preserva relíquias do tempo em que a Varig era considerada uma das empresas aéreas mais sólidas do mundo. A área de lazer do Galeão, em terreno cedido pela Aeronáutica, é a última mantida pela empresa para os funcionários. O parque industrial da VEM, subsidiária vendida no início do ano, continua a ser o maior da América Latina.

Na terça-feira, em audiência pública no Senado, os dirigentes do movimento Trabalhadores do Grupo Varig aprovaram plano de extinção de 2.900 postos para salvar a companhia da falência. Enquanto a decisão não sai, os insulanos seguem na torcida.

- Vamos continuar lutando. Nosso objetivo era preservar a carreira, mas hoje só pensamos em manter o emprego - admite Gisela Mansilha.


O Globo - Ilha - Versão Impressa
30/04/2006
Aposentados temem êxodo no bairro


O drama da Varig não atinge apenas pilotos e comissários de bordo que lutam para manter os aviões da companhia no ar. Num pequeno edifício da Estrada do Galeão, dezenas de aposentados se reúnem diariamente para acompanhar a crise na Associação dos Mecânicos de Vôo da Varig. Entre recortes de jornais e cópias do Diário Oficial, organizam manifestações e calculam as conseqüências da possível falência da empresa.

O tesoureiro Félix Oliveira, de 73 anos, estima que o fim da companhia pode reduzir em até dois terços a renda dos pensionistas do fundo Aerus, que teve intervenção decretada pelo governo federal no dia 12. Se o pagamento dos benefícios for interrompido, ele teme que muitos aposentados sejam obrigados a deixar a Ilha e migrar para casas mais modestas no subúrbio.

- Não posso continuar no Jardim Guanabara apenas com a renda do INSS - afirma o sul-matogrossense, que foi mecânico de aviões, inspetor de manutenção e engenheiro de vôo em 34 anos na Varig.

Aposentado há mais de uma década, o pernambucano George Wanderley, que mora no mesmo bairro, também participa de todas as assembléias de funcionários e já foi a Brasília de ônibus três vezes desde janeiro para defender a sobrevivência da empresa. Aos 70 anos, sendo 39 na Varig, ele trava uma luta em família ao lado dos filhos: dois pilotos e um comissário.

- Eles estão apreensivos, mas já distribuíram currículos para outras companhias. A Varig de hoje é bem diferente da empresa que conheci, onde os funcionários podiam contar com uma carreira estável e bem-remunerada - lamenta.

Apesar da crise, os pensionistas não aceitam qualquer proposta pela salvação da companhia. No ano passado, combateram a oferta da Docas Investimentos, do polêmico empresário Nelson Tanure, que tentou controlar a Fundação Ruben Berta por US$ 112 milhões a serem pagos em dez anos. A pedido de credores, a venda foi suspensa pela Justiça.


O Globo - Ilha - Versão Impressa
30/04/2006
Novela da Varig se arrasta desde os anos 80



A crise da Varig, que se agravou no início do mês com os boatos de que a companhia poderia deixar de voar, arrasta-se desde 1986. As turbulências começaram quando o Plano Cruzado congelou os preços das passagens aéreas e se agravaram, segundo analistas, devido a erros de gestão. A dívida da Varig é estimada em cerca de R$ 7 bilhões.

No governo Collor, a Varig sofreu novo revés com o fim do monopólio sobre as linhas internacionais e a entrada de empresas estrangeiras no mercado. Em 1992, durante a recessão provocada pela Guerra do Golfo, foi obrigada a vender parte da frota e passou a alugar aviões de empresas de leasing.

Em 1994, o primeiro processo de reestruturação da companhia terminou com a dispensa de mais de três mil funcionários, a suspensão de pagamentos por 60 dias e o fechamento de 30 escritórios no exterior.

A Varig perdeu a liderança no mercado doméstico para a TAM em 2003. As duas empresas estudaram uma fusão, mas o plano foi suspenso por recomendação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Em 2005, a Gol assumiu o segundo lugar nas rotas nacionais e a Varig apresentou um plano de recuperação judicial que levou à venda das subsidiárias VEM e VarigLog.

Nas últimas semanas, funcionários se mobilizaram para pedir ajuda ao governo. No dia 11, no entanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não é papel do Estado salvar empresas privadas da falência.


Zero Hora
30/04/2006
Uma paixão de quase R$ 1 bilhão
Nem a crise parece capaz de abalar a força da marca Varig

ALEXANDRE DE SANTI

Se a Varig vendesse apenas seu charme e simpatia, ganharia quase R$ 1 bilhão. Mesmo em crise, endividada em mais de R$ 8,4 bi, a empresa é uma das principais marcas brasileiras. Uma paixão nacional, como exagerou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sexta-feira. O presidente é conhecido pelas frases de efeito em discursos de improviso - e por eventuais tropeços nas avaliações. Mas Lula acertou ao imaginar duas Varigs: uma carismática e outra falimentar.

- A Varig, como outras empresas, virou uma espécie de paixão nacional. Mas essas coisas você não trata com o coração, e sim com a racionalidade de uma empresa que tem problemas - disse, no mesmo dia em que notícias de Brasília indicavam que a crise pode ser resolvida nesta terça-feira, quando quatro propostas serão analisadas por credores, uma delas simpática ao próprio presidente - a divisão da Varig em duas, uma doméstica, e outra internacional com as dívidas.

O valor da marca que Lula considera uma paixão foi apurado pela Brand Finance, consultoria inglesa de avaliação e gestão de marcas, em pesquisa no segundo semestre de 2005 com as 107 mais valiosas companhias brasileiras com ações. Foram ouvidas 1,5 mil pessoas, quantificadas as qualidades de cada uma das marcas e ponderados os dados com a receita (veja o ranking).

Simplificando, o montante corresponde ao valor que uma companhia aérea deveria pagar para comprar o letreiro e a rosa-dos-ventos dourada da Varig. No aluguel, estaria incluindo apenas a marca - e suas valiosas características. Funcionários, dívidas, aviões e toda a operação ficariam de fora no negócio. O bilhão de reais mede quanto de paixão existe pelo logotipo da empresa de quase 79 anos.

- Ela tem carisma, tem uma história ligada ao desenvolvimento do país. É como se fosse um bem público, como se fosse da população - diz o presidente da Brand Finance para o Cone Sul, Gilson Nunes.

Na pesquisa, a Varig se sobressaiu pela qualidade de serviço, boa percepção geral da marca, ética, transparência e responsabilidade social. A companhia só não subiu mais no ranking porque teve desempenho modesto nos itens confiança, preço e recomendação a outros consumidores. Quando o levantamento foi feito, o valor da marca era de R$ 1,197, mas a Brand Finance abateu o número para R$ 950 milhões depois da crise.

- Hoje, a empresa depende da marca. É a marca que segura a Varig - diz Nunes.

Zero Hora - Empresas
30/04/2006

Uma questão de identidade

A relação estreita entre a Varig e o Brasil é a principal razão da atual comoção com a crise, na avaliação da socióloga Maria Beatriz Balena Duarte. A professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), doutora em sociologia das organizações, acredita que a sociedade lamenta um possível desfecho trágico para o episódio porque a empresa fez parte das conquistas brasileiras no século 20.

- Perder a empresa é perder um pouco da nossa identidade - aponta.

O sentimento entre o público e a empresa, segundo a professora, não é de paixão, que pressupõe uma relação passageira. Na opinião de Maria Beatriz, a relação entre o brasileiro e a Varig está mais próximo de um longo casamento construído em momentos como o primeiro vôo internacional, em 1942. Ou nas vezes em que os aviões trouxeram os campeões mundiais de futebol.

José Carlos Martins, consultor da Global Brand, especializada na avaliação de marcas, vê riscos na comoção pela empresa. Quando os argumentos racionais estão esgotados, pondera, fica claro para o público que a companhia não é mais viável.

- Quando chegamos na chantagem emocional forjada a fórceps pelos diretores e funcionários, a marca da empresa acaba sendo prejudicada. A chantagem só ajuda a reforçar que não há mais solução técnica.


O Estado de São Paulo
30/04/2006

Plano pode trazer saída para Varig
Investidores estudam proposta de para compra das atividades domésticas da empresa, sem as dívidas antigas

Nilson Brandão Junior

Depois de enfrentar talvez o pior mês da história da companhia, a Varig e sua crise entram em nova etapa - e há luz no fim do túnel. A proposta consensual com o governo para venda isolada da parte doméstica sadia, com financiamento e empréstimo-ponte via BNDES, pode dar novos rumos às negociações. Concorrentes poderão entrar no negócio. O próprio Matlin Patterson não descarta ajustar a segunda proposta, via Varig Log. Já há pelo menos um consórcio sendo montado, pela ASM Asset Management, para um eventual leilão da parte doméstica.

O executivo Lap Wai Chan, do fundo Matlin Patterson, sócio na Volo Brasil, dona da Varig Log, disse que não descarta uma adaptação da proposta original de US$ 400 milhões da ex-subsidiária pela compra da Varig. Mas a evolução do assunto depende do que for apresentado na assembléia de credores, terça-feira. Anteontem, representantes do Matlin foram à Justiça, para se inteirar da evolução do processo.

No mesmo dia a Alvarez&Marsal divulgou detalhes do chamado Plano B, montado em consenso com o governo, para a venda da Varig doméstica. A Alvarez fez contatos isolados com os principais credores da empresa, para apresentar as linhas gerais da alternativa, que será detalhada nos próximos dias. Por ela, o BNDES poderá financiar até 50% da compra da Varig doméstica em leilão, num prazo de 60 dias, e antecipar, numa operação de mercado, US$ 100 milhões ao fluxo de caixa da companhia aérea.

Um técnico do BNDES esteve ontem na sede da empresa, para levantar os dados financeiros solicitados pelo banco que servirão de base à análise da antecipação do empréstimo, confirmou o diretor geral da Alvarez no Brasil, Marcelo Gomes. Mais à frente, será realizada uma "due dilligence" (verificação de contas), para fixação do valor mínimo da Varig doméstica. O BNDES não se manifesta oficialmente sobre o assunto, mas uma equipe de funcionários da área de Mercado de Capitais do do banco acompanha as principais reuniões da empresa com o governo e com a Anac, agência reguladora do setor, nas últimas semanas.

O banco admite financiar um investidor para Varig, mas não terá relação comercial com a Varig antiga, pesadamente endividada e sem certidão de dívidas quitadas. Qualquer alternativa de empréstimo levará em conta a oferta de garantias, sem risco ao banco.

O projeto de venda da parte doméstica ainda está sendo modelado. Exigirá a participação de uma companhia aérea em cada consórcio. Segundo uma versão extra-oficial, esta teria sido uma exigência do banco e da Anac. A TAM disse que não comentaria a hipótese de analisar o negócio, já que sabe da proposta apenas pelos jornais. Os executivos da Gol não foram localizados na noite de sexta-feira.

CREDORES

A assembléia de terça-feira vai analisar a proposta da Varig Log e decidir alterações no plano de recuperação. A venda de unidade isolada é prevista na Lei de Recuperação Empresarial, mas precisa ser incluída no plano. A expectativa é que a alteração seja aprovada. Em tese, diz uma fonte, os credores não teriam motivo para vetar uma alternativa adicional. Além disso, a proposta da venda fatiada é um consenso com o governo, diz a Alvarez&Marsal, e os credores estatais votarão na assembléia.

O fundo de pensão Aerus, que se opunha à proposta inicial da VarigLog, também não concorda com a segunda oferta, porque não há solução para o endividamento passado da companhia aérea. O fundo, maior credor privado da Varig, ficará contra a proposta da Varig Log na assembléia e votará a favor da inclusão da possibilidade de venda isolada dentro do plano de recuperação, informou uma fonte.

Enquanto isso, ao menos um consórcio já analisa a participação num leilão da Varig doméstica. Está sendo coordenado pela ASM, empresa de gestão de recursos, baseada no Rio, com fundos administrados de R$ 500 milhões, que já prestou assessoria à Varig na arquitetura societária para a recuperação. O sócio da empresa, Antonio Luis de Mello e Souza, confirmou estar estruturando um fundo - com um sócio operador e outros quatro cotistas investidores - para participar de um leilão da parte isolada da Varig.

Ele não revela o nome dos interessados. Diz que a proposta está sendo formatada e só será apresentada quando houver o leilão.

Segundo a Alvarez, caso aprovada a alteração do plano, em até 10 dias será montada uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) com a operação doméstica e parte do Smiles. Dentro de 60 dias sairia o leilão da unidade isolada.

A "Varig internacional" continua com os passivos, dentro da recuperação judicial e direitos sobre a ação de recomposição tarifária movida contra a União. A nova empresa doméstica terá um contrato operacional, para alimentar os vôos internacionais da Varig com os passageiros do mercado local. Em contrapartida, a Varig internacional deverá ter 10% da nova empresa, o que garantiria à empresa antiga uma chance de valorização.

O executivo da Alvarez&Marsal, Luiz de Lucio, diz que é possível companhias concorrentes se interessarem pelo plano B. "Imagino que sim. Em qualquer mercado quando um concorrente está à venda, pelo menos se olha o negócio." De Lucio passou os últimos dias em Nova York, acompanhando a audiência na Corte americana que prorrogou, para a Varig, a blindagem contra o arresto de aviões por 30 dias.

A Varig entrou em abril com a crise em estágio agudo e rumores, quase diários, de que poderia paralisar as operações a qualquer momento. Vôos atrasados ou cancelados. Oficialmente, a empresa reconhecia ter problemas de caixa e precisava adiar o pagamento de dívidas. Tentou um acordo, que não saiu. Mais de uma vez o presidente da Varig, Marcelo Bottini, desmentiu rumores de paralisação da empresa.

Os problemas financeiros da Varig atual são delicados. No primeiro trimestre do ano, a companhia aérea acumulou despesas correntes não pagas no valor de US$ 72,514 milhões, das quais US$ 19,564 milhões para empresas de leasing de aviões. Também não conseguiu voar no período com a quantidade mínima de "aeronaves navegáveis" (63) prevista no plano de recuperação para o primeiro semestre. Semana passada, o total "navegável" chegou a 47. Em meados do mês, surgiu a nova proposta da Varig Log e, agora, o Plano B em paralelo a uma maior disposição de o governo apoiar uma solução de mercado. Há também uma proposta do consultor Jayme Toscano e um projeto do movimento Trabalhadores Geral da Varig (TGV) anexados ao processo de recuperação.


O Estado de São Paulo
30/04/2006
Varig negocia com magnata russo
Exilado na Inglaterra, Berezovsky é procurado na Suíça, na França e em seu país por lavagem de dinheiro

Jamil Chade
Marcos Rogério Lopes

O magnata Boris Berezovsky, apontado como o maior acionista do fundo de investimentos MSI, parceiro do Corinthians, estuda um plano para salvar a Varig. Ele esteve por duas semanas no Brasil e se reuniu com a alta cúpula da empresa aérea por vários dias. Procurado na Suíça, França e em seu país por lavagem de dinheiro, ele admitiu ao Estado, com exclusividade, que avalia investir na empresa brasileira. Berezovsky vive exilado na Inglaterra e é acusado de ter participado no desvio de US$ 600 milhões da empresa aérea russa Aeroflot para contas na Suíça, segundo o Tribunal Federal Suíço.

"Acabo de regressar hoje (ontem) do Brasil, onde encontrei pessoas extremamente interessantes e estudadas", afirmou o russo. Ele mora Londres com aval do governo britânico, mas tem seus passos seguidos de perto pelo governo russo. No final do ano passado, ele já havia indicado ao Estado seu desejo de conhecer o Brasil, o que gerou da embaixada russa em Brasília comentários de que o empresário seria preso se fizesse tal viagem.

Berezovsky não explicou como conseguiu visto para entrar no Brasil, mas garantiu que quer "voltar logo" ao País. "O Brasil é cheio de oportunidades de negócios. Uma delas é a Varig e estou estudando a situação da empresa para tomar uma decisão", afirmou.

Quem convenceu o investidor a vir ao País foi seu braço direito no Brasil, o empresário Renato Duprat. "Ele é do ramo, já foi dono da Aeroflot e tem interesse em investir no Brasil, que considera uma das mais promissoras economias do mundo, ao lado de China e Índia", disse Duprat, que foi dono da Unicor, empresa de assistência médica que faliu deixando dívidas e pendências com ex-funcionários e clientes no fim da década de 90.

Foi o brasileiro quem apresentou ao Corinthians o iraniano Kia Joorabchian, amigo de Berezovsky e presidente do fundo MSI. Também é Duprat que costuma servir de ponte e intérprete nas conversas do presidente do clube paulista, Alberto Dualib, com o investidor.

O russo ficou hospedado no Hotel Unique e se encontrou diariamente com a alta cúpula da Varig. "Foi lá o presidente, o vice e um diretor. Mas agora não sei os nomes", afirmou Duprat. "Foram várias reuniões nas quais eles detalharam a situação da empresa, mostraram o tamanho da companhia e tentaram convencer o Berezovsky da viabilidade do investimento." De acordo com Duprat, não se falou em valores. "Ainda é muito cedo para isso. Sequer se mencionou de quanto seria a oferta", garantiu.

Berezovsky jamais admitiu ter investido na MSI e nem tampouco o fundo de investimentos confirma a ligação com o milionário russo. O magnata garantiu não ter tratado de temas relacionados ao Corinthians. "Fui apenas tratar de outros negócios", disse. "Tenho certeza de que o Brasil será uma das economias que mais crescerão nos próximos cinco ou seis anos."

A Varig informou que recebe qualquer pessoa interessada em participar do processo de capitalização da companhia e que o russo se apresentou como possível investidor.

Até sexta-feira à noite havia quatro propostas no processo de recuperação da Varig: a da Varig Log (US$ 400 milhões), o chamado Plano B (venda da parte doméstica com financiamento pelo BNDES), o projeto do movimento Trabalhadores do Grupo Varig (TGV) e a proposta que o consultor Jayme Toscano disse representar e que geraria uma injeção de recursos de US$ 1,9 bilhão.
COLABOROU NILSON BRANDÃO JUNIOR


29/4/2006 21:09h
O Dia - On Line
Representante dos funcionários da Varig afirma que empresa tem condições de sair da crise

Djalma Oliveira

Brasília - Ao lado dos trabalhadores da Varig, o economista Paulo Rabello de Castro comanda um dos focos de resistência para que a companhia sobreviva às turbulências financeiras e volte a voar em céu de brigadeiro. Ele foi contratado pela organização Trabalhadores do Grupo Varig (TGV) para cuidar dos aspectos econômicos da reestruturação da companhia aérea. O consultor afirma que a Varig pode se reerguer sem usar o dinheiro público. Mas, para que isso aconteça, alerta para a necessidade de mudar a mentalidade da direção da empresa. Ele criticou ainda a posição do Planalto no caso. “O presidente Lula foi infeliz quando disse que o governo não pode ajudar empresa falida e não se retratou”, lembrou.

- Qual é o papel do senhor na recuperação da Varig?

- Em 2002, um grupo da Associação de Pilotos da Varig (Apvar) nos procurou para uma consulta. Eles já imaginavam que a empresa corria risco e tinham razões de sobra para estarem com receio: seu fundo de pensão e as próprias vidas estão atreladas à empresa, já que esse é um emprego extremamente especializado e difícil de se conseguir. E a nossa avaliação mostrou um buraco que não tinha tratamento adequado no balanço.

- E qual é o tamanho desse buraco?

- Hoje, na recuperação judicial, quando a empresa teve que abrir seus livros e desvendar a verdade, apurou-se que é de R$ 2,1 bilhões. Mas, quando nós começamos a fazer a avaliação, em 2002, chegamos a déficit total de R$ 1,2 bilhão, sendo que havia parte, vamos dizer assim, escondida, de R$ 500 milhões. E mal sabíamos que essa era só parte do iceberg.

- Como a empresa chegou a esse ponto?

- Há vários motivos conjugados. Eu costumo dizer que há dráculas de dentro e dráculas de fora. Os de dentro propiciaram todas as formas de má gestão já tentadas em uma companhia. Você pode fazer uma lista volumosa de defeitos no “andar de cima” que atrapalham a operação no “andar de baixo”. A cara da Varig ficou muito parecida com a de uma estatal. E por isso muita gente que se posiciona hoje contra ajudar a Varig age até corretamente pelo medo de que mais recursos públicos sejam usados para sustentá-la.

- E os dráculas externos?

- Um deles é a tributação, que, no Brasil, é uma das mais altas do mundo. Aí também entram as tarifas aeroportuárias, que aqui são pagas a uma monopolista (Infraero). Nos EUA, não existe esse monopólio. Tudo isso compõe o esforço brutal que uma companhia aérea faz para sustentar a máquina do governo, que, estranhamente, volta-se contra a empresa quando ela não se comporta adequadamente.

Não é por acaso que quebrou uma TransBrasil, depois uma Vasp, e depois poderá haver uma piora de situação de empresas hoje consideradas competitivas. O que eu defendo é que a Varig sofreu mais por estar aí há mais tempo. O serviço aéreo é um serviço público concedido. Cabe ao governo ter uma relação de vigilância, de acompanhamento, inclusive financeiro, das principais companhias aéreas, para que não caia sobre ele a terrível responsabilidade de ter que intervir em uma hora em que o serviço praticamente já colapsou. Portanto, esse discurso neomercadista que o governo faz hoje de deixar quebrar, que quem não é eficiente que se dane, não tem uma razão de ser.

- O senhor acredita que essa é a posição do governo, de deixar a Varig quebrar?

- A posição do Poder Executivo é essa, mas não é porque eu digo. O presidente Lula foi infeliz quando disse que o governo não pode ajudar empresa falida e não se retratou. Isso é totalmente criticável no momento em que a empresa está no início de um processo de recuperação, cuja lei de recuperação de empresas foi aprovada e por ele, Lula, sancionada no ano passado. Portanto, ele deveria estar orgulhoso disso. Assim como pessoas entram em crise, empresas entram em crise. Se for matar quem está com síndrome do pânico, vai acabar matando muitos talentos. O que é preciso é diagnosticar, como fizemos quatro anos atrás.

- Em que a Varig se assemelha a uma estatal?

- A situação do “ninguém manda”, grupos de interesse disputando espaço. Tudo, menos a eficácia do serviço. No entanto, você tem uma equipe técnica de altíssima qualidade, a melhor da América Latina, fruto de décadas de boa escola de treinamento. Isso tudo é contraditório: como pode um “andar de baixo” funcionar tão bem com os problemas que há no “andar de cima”? É por causa do sistema fundacional.

A Fundação Rubem Berta é o drácula de dentro. E isso não tem a ver com o Rubem Berta, que foi um grande gestor, mas percebeu, no fim da vida, o defeito que o seu modelo continha: necessitava a perenização de Rubem Berta. Ele ainda conseguiu selecionar o melhor substituto que podia, mas é difícil que o segundo ou o terceiro reproduzam o milagre. No início dos anos 80, chegou até a ser emprestadora de recursos para a BR Distribuidora.

- O senhor acredita que a Varig consiga se recuperar sem dinheiro público?

- Não tenho a menor dúvida. O que a Varig precisa agora é aplicar o plano de recuperação judicial, que foi aprovado, mas, de fato, não entrou em marcha. E a demora vem do fato de que aplicar um plano é tão difícil quanto começar uma dieta. Essa obesidade dela está afetando o seu coração.


29/4/2006 21:09h
O Dia - On Line
Varig tem semana decisiva
Credores avaliam na terça-feira oferta de consultoria, que prevê cisão da empresa em duas


Brasília - A crise da Varig terá um capítulo decisivo na próxima terça-feira, quando a assembléia de credores da empresa vai ouvir a proposta de compra do executivo Marcelo Gomes, integrante da Alvares & Marsal, consultoria que trabalha na reestruturação da companhia.

Outras ofertas foram feitas pela VarigLog — que já foi da companhia aérea e agora pertence à Volo do Brasil —, de US$ 400 milhões, e por investidores europeus, no valor de US$ 1,9 bilhão, apresentada pelo consultor Jayme Toscano.

A proposta de Marcelo Gomes prevê a cisão da empresa em duas partes — uma doméstica, sadia, e outra internacional, com as dívidas. Caso a divisão seja aprovada na terça-feira, em até 10 dias será criada uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), com a operação doméstica da empresa. A partir daí, dentro de 60 dias, a parte doméstica da Varig seria vendida em leilão.

De acordo com o plano de Gomes, o BNDES emprestaria US$ 100 milhões à SPE. O dinheiro seria usado para cobrir necessidades de caixa da Varig até a conclusão do processo de venda da parte doméstica da empresa.

Gomes lembrou, no entanto, que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a Infraero precisam dar o sinal verde, mas ressaltou que essa operação é legal e segue os parâmetros estabelecidos pela Lei de Recuperação Judicial. A possibilidade de venda isolada da Varig doméstica vai ser analisada com as propostas apresentadas pela VarigLog e por Jayme Toscano.

Gomes esclareceu que, de acordo com sua proposta de cisão, a Varig doméstica nasce sem passivos. Todas as dívidas ficariam com a Varig internacional, que continuaria no plano de recuperação judicial, aprovado em dezembro do ano passado.

O BNDES não quis comentar o plano de Marcelo Gomes e nem a possível participação do banco estatal em mais essa tentativa de reerguer a empresa aérea.



20:23h - 29/04
Reuters
PT rejeita proposta de estatização da Varig


SÃO PAULO, 29 de abril (Reuters) - O 13o Encontro Nacional do PT rejeitou neste sábado proposta que defendia a estatização da empresa aérea Varig, que luta contra uma crise financeira que se agravou nos últimos meses.

Para evitar a aprovação da tese apresentada pelo dirigente esquerdista Marcos Sokol, o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini, teve de apresentar junto com dirigentes gaúchos do partido uma moção em apoio ao tratamento que o governo vem dando à crise da Varig.

A moção aprovada pede que o governo e o Poder Judiciário, que administra a recuperação da empresa, façam esforços para manter os empregos e as rotas aéreas da companhia e para que ela permanença de capital nacional.

Na sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva repetiu que o governo não irá colocar dinheiro público na empresa, mas admitiu que pode "financiar a salvação da Varig, desde que a Varig cumpra seu papel".

Na única votação polêmica do encontro, foi rejeitada também, por 350 a 300 votos, moção sugerindo que a União passasse à condição de co-autora de uma ação judicial já em curso que propõe a revisão do processo de privatização da Companhia Vale do Rio Doce.

Também neste caso, foi necessária a interferência direta de Berzoini para evitar que o encontro do partido aprovasse uma medida considerada inconveniente pelo governo.


15:06h - 29/04
Agencia Brasil
Dilma, presidente da Varig e diretor da Anac discutem situação da empresa na quarta-feira

Priscilla Mazenotti*
Repórter da Agência Brasil


Brasília – A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, o diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, e o presidente da Varig, Marcelo Bottini, participam de audiência pública na Comissão de Turismo e Desporto da Câmara para discutir a situação financeira da empresa aérea na próxima quarta-feira (3).

Na última quarta-feira (26), o presidente da Varig disse que deve ser feita uma reestruturação na empresa, com a redução de salários e pessoal. Em audiência no Senado na última terça-feira (25), o coordenador dos Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), Márcio Marsillac, afirmou que devem ser demitidos cerca de 2.900 funcionários e os salários reduzidos em 30%.

Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o governo "não vai colocar dinheiro público" para salvar a companhia aérea Varig. Mas afirmou que "o que poderemos fazer é financiar a salvação da Varig, desde que a Varig cumpra com o seu papel". Segundo ele, a situação da Varig deve ser tratada "com racionalidade" e que a solução para os problemas financeiros da companhia têm de estar "de acordo com as leis de mercado", disse ele.

Lula deu entrevista após participar do Feirão da Casa Própria, promovido pela Caixa Econômica Federal na capital paulista. O presidente afirmou ainda que concorda com os argumentos apresentados pelo juiz Luiz Roberto Ayoub, da 1ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, encarregado do processo de recuperação judicial da companhia aérea. Ayoub afirmou, à Agência Brasil, no dia 20, que a existência da empresa é benéfica para o país não só porque garante milhares de empregos como porque é mais uma opção de transporte aéreo para os consumidores brasileiros.

O juiz se reuniu na última quinta-feira (27) com o ministro da Defesa, Waldir Pires, para debater a situação da empresa. Depois do encontro, Ayoub disse apenas que "a solução está sendo construída" e que na terça-feira próxima (2) a situação da Varig será apresentada aos credores.


29/04/2006 - 13h55m
O Globo
Senado volta a discutir crise na Varig na próxima terça-feira

Maria Lima - O Globo

BRASÍLIA - Uma audiência conjunta de quatro comissões do Senado deverá voltar a discutir a crise da Varig na próxima terça-feira. A sessão de debate está sendo promovida pelas comissões de Infra-estrutura, de Assuntos Econômicos, Assuntos Sociais e Desenvolvimento Regional.

Foram convidados para participar da audiência Demian Fiocca, presidente do BNDES; Adacir Reis, secretário de Previdência Complementar do Ministério da Previdência Social;e Graziela Baggio, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, entre outros.


29/04/2006 - 09h10
Folha On Line
Lula afirma que vai resolver "divergências"
MARCELO SALINAS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou que haja conflito entre o novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, como noticiou a Folha ontem. O petista reduziu as disputas internas a "divergências políticas" e que cabe a ele resolvê-las. Disse ainda que Mantega, Meirelles e ele próprio precisam se "enquadrar" na política do governo.

Apesar de se colocar como mediador entre Mantega e Meirelles, Lula disse que os "juros vão continuar caindo", reforçando a posição do ministro no embate.

Anteontem, quando o BC sinalizou redução na intensidade da queda dos juros, Mantega, na Fiesp, declarou haver espaço de sobra para continuar cortando a taxa Selic.

"Não tem de ter duas posições, mas apenas uma, que é a do governo. O Banco Central se enquadra, a Fazenda se enquadra, eu me enquadro e todo mundo trabalha tranqüilo", afirmou o petista.

As declarações foram feitas em sua visita ao segundo Feirão Caixa da Casa Própria, em São Paulo.

No evento, Lula também falou publicamente, pela primeira vez, sobre a crise da Varig, indicando que o governo pode financiar eventual comprador, mas que não irá tentar recuperá-la com dinheiro público.

"Tenho dito que o governo não vai colocar dinheiro público. O que poderemos fazer é financiar a salvação da Varig desde que ela cumpra o seu papel."

Ao recusar a injeção de recursos públicos na Varig, Lula defendeu uma solução "de mercado" para a crise e disse concordar com o juiz Luiz Roberto Ayoub, que cuida do processo de recuperação judicial e é contra a falência da empresa, a qual considera viável.


O petista também amenizou suas críticas ao presidente da Bolívia, Evo Morales, que expulsou do país a siderúrgica brasileira EBX e ameaça estatizar poços de exploração de gás da Petrobras.

Conforme a Folha publicou anteontem, Lula disse aos colegas Hugo Chávez, da Venezuela, e Néstor Kirchner, da Argentina, que a atitude do boliviano é "inaceitável" e "preocupante".

Ontem, o tom foi diferente: "Diziam que quando tomasse posse iria brigar com todo mundo, com os EUA. Estou terminando o mandato e nunca briguei com ninguém. Por que brigaria com o Morales?". Leia abaixo trechos da entrevista coletiva de Lula.

ATRITO- "Não há disputa entre Guido Mantega e Banco Central. Se há divergência de alguém com alguém, será dirimida pelo presidente da República. Nem o Banco Central está lá para divergir do Guido nem o Guido está lá para divergir do Banco Central. Estão lá para trabalhar e dar resultados para a sociedade brasileira."

GOVERNO- "Às vezes uma divergência política aparece na imprensa como se fosse uma guerra. Graças a Deus somos um país em que podemos ter pontos de vista diferentes. É a sétima queda de juros consecutiva, os juros vão continuar caindo, a situação econômica está sólida, o país está crescendo, o salário está aumentando. É isso que interessa para o povo brasileiro, que está comprando mais e comendo mais."

VARIG- "Tenho dito que o governo não vai colocar dinheiro público. O que poderemos fazer é financiar a salvação da Varig desde que ela cumpra seu papel. A Varig, assim como outras empresas do país, viraram uma espécie de paixão nacional. Mas essas coisas você não trata com o coração, mas com a racionalidade de uma empresa privada que tem problemas e que precisa encontrar soluções segundo as leis de mercado."

TRANQÜILIDADE- "Não quero que o país tenha problema neste mar de tranqüilidade que vivemos. Há uma situação privilegiada no país, que entrou numa rota de crescimento de longo prazo. A inflação estará controlada. Neste ano, 90% dos acordos salariais foram feitos acima da inflação."

MORALES- "Pretendo conversar com o presidente Evo Morales. Ele acabou de ser eleito e tem um governo muito novo. Ainda há muita coisa para acontecer na Bolívia, que vive uma situação de pobreza muito grande e é justo que o presidente defenda os interesses de melhorar a qualidade de vida de seu povo. Pode estar certo de que resolveremos as divergências. Ele foi eleito, um índio que chegou ao poder é extraordinário."