Folha de São Paulo
29/08/06
Justiça anula redistribuição
de vôo da Varig e multa Anac
Decisão de Vara Empresarial
do Rio impõe a técnicos da agência
pena de R$ 20 mil
Juíza decide anular edital de licitação
publicado pela Anac no "Diário Oficial"
da União para distribuir slots da aérea
em Congonhas
JANAINA LAGE DA SUCURSAL DO RIO
MAELI PRADO DA REPORTAGEM LOCAL
A Justiça do Rio anulou as iniciativas da Anac
(Agência Nacional de Aviação Civil)
para redistribuir as autorizações de vôos
e os espaços de pouso e decolagem que não
constam da primeira etapa do plano de linhas entregue
pela Varig ao órgão regulador e à
Justiça. A 8ª Vara Empresarial do Rio atendeu
a um pedido dos novos donos da aérea.
A juíza Márcia Cunha determinou ainda uma
multa de R$ 20 mil para o superintendente de Relações
Internacionais da Anac, Brigadeiro Eliezer Negri, para
o gerente-geral, Franklin Nogueira Hoyer, e para o superintendente
de Serviços Aéreos, Mário Gusmão
Paes.
Na última quinta, a Justiça do Rio enviou
oficiais a uma reunião de técnicos da Cernai
(Comissão de Estudos Relativos à Navegação
Aérea Internacional) para notificar a agência
sobre a decisão que impede a redistribuição
das rotas.
O encontro ocorreu para discutir a redistribuição
de alguns destinos da Varig no exterior a pedido de aéreas.
As recomendações dos técnicos seriam
submetidas à diretoria colegiada da Anac e tinham
pedidos de freqüências a Angola, EUA, França,
Itália, México e Uruguai, enviadas por BRA,
Gol, OceanAir, TAM e VarigLog.
A disputa entre a Justiça do Rio e a agência
começou quando a Varig entregou seu plano básico
de linhas dividido em três etapas. A primeira contempla
apenas dez destinos nacionais e três internacionais,
com uma frota prevista de 18 aeronaves. A Anac afirma
que, a partir do momento em que a empresa afirma que não
tem como realizar determinados trechos nos próximos
meses, é dever da agência redistribuir as
linhas para não caracterizar tratamento diferenciado
e não prejudicar o usuário final.
A Justiça do Rio avalia que a agência deve
seguir o previsto na portaria 569 da Anac, que prevê
prazo de 30 dias para operação das rotas
domésticas e de 180 dias para as rotas internacionais
antes da retomada pela agência. A discussão
é complexa porque a nova Varig ainda não
existe de fato. A empresa aguarda a certificação
como concessionária de transporte aéreo.
A Anac diz que questões relacionadas à outorga
de linhas devem ser discutidas em âmbito federal.
Alegou também que ainda não havia sido notificada
da decisão.
Segundo a decisão judicial de ontem, foram declaradas
nulas as deliberações adotadas nessa reunião
relacionadas à distribuição de rotas
internacionais que integram a UPV (Unidade Produtiva Varig)
antes do prazo fixado pelo juízo. Além disso,
a decisão anula o edital de licitação
publicado pela Anac no "Diário Oficial"
da União para redistribuir 56 "slots"
(espaços de pouso e decolagem) em Congonhas por
meio de sessões públicas. Desse total, 50
slots pertencem à Varig.
A Anac informou que não foi notificada e que não
deve se pronunciar antes disso.
Em nota, os novos donos da Varig afirmam que "a
decisão é justa e resguarda os direitos
adquiridos no leilão judicial".
Valor Econômico
29/08/06
Justiça cancela redistribuição
de rotas da Varig
Valor Online
A Varig comunicou ontem que a 8ª Vara Empresarial
do Rio de Janeiro acolheu seu pedido e anulou "todos
os atos" da Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac) que tinham por objetivo abrir licitação
para as rotas nacionais e internacionais da Varig antes
do prazo previsto em lei.
De acordo com a Varig, a decisão da juíza
Márcia Cunha de Carvalho também estabelece
multas individuais no valor de R$ 20 mil para o superintendente
de relações internacionais da Anac, brigadeiro
Eliezer Negri, para o gerente geral da agência,
Franklin Nogueira Hoyer, e também para o superintendente
de serviços aéreos da agência , Mário
Roberto Gusmão Paes.
Questionada sobre a decisão, a Anac informou que
não recebeu nenhuma notificação judicial
e que não tem nenhuma informação
sobre o assunto. Procurados pelo Valor Online, representantes
da 8ª Vara e da Justiça do Rio não
foram encontrados.
Na avaliação da nova Varig, denominada
Aéreo Transportes Aéreos, a decisão
é justa e resguarda os direitos adquiridos no leilão
de compra da aérea. A companhia informa ainda que
pretende retomar gradualmente as rotas adquiridas da antiga
Varig, dentro dos prazos previstos em lei - redistribuição
de rotas apenas depois de passados 30 dias após
a obtenção da concessão para os destinos
nacionais e 180 dias para os internacionais.
"A empresa já está negociando a compra
de mais aeronaves para expandir sua malha dentro dos prazos
e atender os consumidores. No momento, a Aéreo
aguarda apenas a liberação pela Anac da
concessão para operar a empresa aérea e
iniciar seu plano de expansão", informa a
empresa em nota oficial, acrescentando que já entregou
os documentos solicitados pela agência.
Na semana passada, a Anac decidiu redistribuir 50 slots
(horários de pouso e decolagem) no aeroporto de
Congonhas, em São Paulo, que estavam sob concessão
da Varig, para outras companhias aéreas, de acordo
com edital de licitação publicado no "Diário
Oficial da União". O edital prevê ainda
a licitação de outros seis slots ociosos
de Congonhas.
A agência decidiu redistribuir as rotas não
contempladas na primeira fase do plano de linhas enviado
pela Nova Varig, com o uso de 18 aeronaves. A intenção
da Varig era de que a agência mantivesse as concessões
até a operacionalização final de
toda a frota, prevista em 80 aeronaves. Hoje, a Varig
opera com nove aviões.
O juiz da 8ª Vara Empresarial, Luiz Roberto Ayoub,
defende, no entanto, que a Anac só poderia repassar
essas rotas 30 dias após a nova Varig receber a
autorização para operar transporte aéreo.
O Globo
29/08/06
Correio Braziliense
28/08/06
Impasse trabalhista
A responsabilidade sobre as dívidas com os empregados,
deixadas pelas empresas que entram em recuperação
Judicial e são vendidas, como a Varig, é
uma das brechas mal resolvidas da nova lei de falências
Pessoas observam avião da Varig no aeroporto de
Brasília: novos controladores recusam-se a arcar
com o passivo trabalhista
Hoje, a Varig deverá iniciar a liberação
das guias para o saque do Fundo de Garantia por Tempo
de Serviço (FGTS) e do seguro-desemprego aos 5,5
mil funcionários demitidos durante a reestruturação
da companhia. O acordo foi fechado ao longo da semana
passada, depois de uma série de encontros entre
os trabalhadores e o empresário Lap Chan, representante
do fundo norte-americano Matlin Patterson — que
hoje controla a VarigLog e, indiretamente, a Varig. Chegar
a uma saída conciliatória tornou-se vital
para a companhia nos últimos meses. Tudo porque
o maior temor de Chan, revelado durante as reuniões,
continua sendo a sucessão das dívidas deixadas
na “antiga Varig”. Em especial, a trabalhista.
O acordo sobre o FGTS e o seguro-desemprego, no entanto,
não evitará a continuidade da batalha judicial
que pode colocar em risco tanto o futuro da aérea
quanto dos seus ex-funcionários. O dilema jurídico
sobre a sucessão do passivo trabalhista já
é visto por especialistas como a principal falha
do novo sistema de recuperação de empresas
em dificuldade, a nova lei de falências. A grande
questão é se os direitos dos trabalhadores
devem ou não ser considerados no momento de recuperação
de uma companhia. A resposta unânime de juízes
e advogados trabalhistas ouvidos pelo Correio é
que sim.
Apesar da constatação de que a sucessão
é inevitável, os próprios analistas
acreditam que a decisão definitiva para o impasse
irá demorar. Na última sexta-feira, a VarigLog
sinalizou com um novo acordo coletivo para tentar conciliar
o pagamento dos salários atrasados e demais benefícios
com a capacidade de caixa da empresa. Porém, nem
mesmo o acerto colocará um ponto final na ação
civil movida pelo Ministério Público do
Trabalho do Rio de Janeiro, que ainda está em primeira
instância.
O tamanho total da dívida protestada é
uma incógnita. Como a empresa permanece em recuperação
judicial (o que a impede de divulgar balanços financeiros)
não há números exatos sobre os passivos
no momento atual. Em meados de 2005, o montante devido
aos trabalhadores, declarado pela aérea, era de
R$ 225 milhões. Passados mais de um ano do início
do processo de recuperação e com o contínuo
atraso dos pagamentos, os sindicatos do setor estimam
que a dívida chegue, hoje, a R$ 1 bilhão.
Responsabilidade
O impasse mais grave é a responsabilização
do novo administrador, a VarigLog, pelo pagamento da dívida.
Para comprar a Varig em leilão, a empresa teve
a garantia da 8ª Vara de Justiça Empresarial
do Rio de Janeiro de que nenhum passivo seria repassado
da antiga aérea para a nova. Nem mesmo o trabalhista.
No entanto, casos anteriores que passaram pela Justiça
do Trabalho não deixam dúvidas de que o
passivo com funcionários não pode ficar
para trás. A interpretação de juízes
é que esse tipo de dívida é transmitida
aos novos administradores quando a empresa é vendida.
Assim foi com o Itaú em 2000, quando adquiriu o
controle do Banco do Estado do Rio de Janeiro (Banerj).
Apesar da resistência, a instituição
foi obrigada a arcar com o passivo, mesmo argumentando
que a razão social das empresas era diferente e
que não havia responsabilidade sobre a dívida.
O mesmo aconteceu com a aquisição de parte
da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) pela Ferrovia
Centro-Atlântica (FCA), em 1996.
O caso Varig não deve ser diferente, crêem
advogados trabalhistas. Apesar da legislação
de falência ter mudado em 2005, as regras da nova
lei não são claras sobre o direito adquirido
pelos funcionários da empresa em recuperação.
Além disso, a existência de artigos específicos
na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT)
sobre a sucessão anularia qualquer interpretação
contrária que a própria Justiça fizer
em cima da generalidade da Lei de Falências. “Quando
você tem regras gerais e específicas, prevalecem
as específicas. Como a CLT é a legislação
específica para essas questões, a sucessão
deve prevalecer”, acredita Luís Inácio
Barbosa Carvalho, advogado trabalhista há 15 anos.
O ex-ministro do Trabalho Almir Pazzianotto também
não vê maneira de manter o passivo congelado
na antiga empresa. “Pela CLT, a mudança da
propriedade não afeta os direitos adquiridos pelos
trabalhadores”, relembra. Porém, o jurista
alerta que a indefinição da Lei de Falência,
que não revoga os dispositivos anteriores presentes
nas leis trabalhistas, é um erro grave no mecanismo
de salvamento das companhias. “Se a empresa nova
nascer contaminada pelos problemas da antiga, de nada
adiantou a nova lei. Ela já nasce inviabilizada”,
ressalta Pazzianotto. Como a questão não
foi resolvida durante a construção da lei
de falências, restará aos funcionários
aguardar uma decisão da Justiça nas alçadas
superiores, provavelmente no Superior Tribunal de Justiça
(STJ).
Drama dos funcionários
Funcionários da Varig durante protesto em Brasília:
abandonados
Sem perspectivas de receber os quase cinco salários
atrasados, nem os benefícios definidos por lei
para os demitidos, os funcionários mandados embora
pela Varig vivem dias de agonia. Em Brasília, aproximadamente
300 pessoas perderam seus empregos, muitas com quase 30
anos na empresa. A luta agora é para sobreviver,
apesar da falta de dinheiro e da pequena perspectiva de
conseguir colocação na mesma carreira. Embora
o setor esteja em franca expansão, as vagas criadas
não têm sido suficientes para absorver os
5,5 mil demitidos pela Varig em todo o Brasil.
Enquanto esperam por um desfecho das negociações
com a VarigLog, nova controladora da companhia, e do processo
trabalhista movido no Rio de Janeiro, os funcionários
têm trocado informações sobre o caso
e encontrado seus próprios meios de amenizar a
dura realidade de dívidas e abandono. No Orkut
— maior rede de relacionamentos da internet no Brasil
— existem centenas de comunidades mantidas por funcionários,
onde debatem sobre a situação da aérea.
Os grupos servem basicamente para transpor o mais forte
obstáculo que tem se erguido para quem está
fora da empresa: a falta de informação.
Muitos trabalhadores das equipes de terra (aeroviários)
não receberam baixa das suas carteiras de trabalho,
estando oficialmente ainda ligados à empresa. “A
Varig nos tratou como pessoas descartáveis. Até
hoje não sabemos qual o critério para a
escolha dos demitidos e continuamos sem saber oficialmente
o que está acontecendo. Muito do que sabemos é
pela mídia”, desabafa Glenda Azevedo Holanda,
24 anos, cinco passados na Varig. Inconformada com a falta
de envolvimento da companhia na solução
do impasse, Glenda move, por conta própria, uma
ação na Justiça trabalhista. Pede
R$ 80 mil em salários atrasados, benefícios
não pagos e indenização por assédio
moral. A primeira audiência de conciliação,
realizada na quinta-feira passada, não gerou resultado
por conta do acordo anunciado pela Varig com os sindicatos
para a liberação do Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS) e seguro-desemprego.
Mesmo com o nome lançado em sistemas de controle
de crédito, a aeroviária diz que sua situação
ainda é melhor do que a de muitos colegas. É
o caso de João (nome fictício) que após
se dedicar à companhia por cinco anos se vê
em uma das mais delicadas situações da sua
vida. Com a mulher grávida de cinco meses, o ex-funcionário
não sabe de onde irá tirar dinheiro para
pagar as contas que se acumulam. “Até hoje
não comprei uma meia para o meu filho que vai chegar”,
confessa João, que também tenta na Justiça
conseguir o pagamento do que a Varig lhe deve.
Além dos problemas financeiros, a maior mágoa
dos ex-funcionários tem sido o tratamento dado
pela companhia a quem sempre apoiou a sua recuperação.
O que todos trazem em comum é o sentimento de abandono.
Desde que os cancelamentos de vôos começaram,
há cerca de dois meses, os trabalhadores se mantiveram
firmes no atendimento aos clientes. “A gente dançava
conforme a música”, resume Glenda. Enquanto
tentavam resolver seus problemas de endosso de passagens,
poucos passageiros estavam conscientes de que aquelas
pessoas que estavam do outro lado do balcão viviam
situação muitas vezes pior. “A Varig
só funcionou nestes últimos três meses
porque os funcionários estavam lá, trabalhando
como formiguinhas”, relembra João.
Hoje, eles têm dúvidas se a companhia é
capaz de se reerguer. A Varig tem mantido os demitidos
em stand by, com a promessa de que haverá recontratações
em breve. Os uniformes ainda estão nos armários
esperando uma reconvocação ou um novo emprego.
Fernando Carvalho Benevides, 28 anos, já decidiu
que, para a Varig, ele não volta. “A companhia
não olhou na nossa cara. Eu não penso em
voltar. Agora quero estudar para outro ramo, holetaria
talvez”, afirma. (MM)
Correio Braziliense
27/08/06
Varig por um fio
A aventura do fundo de investimentos
Matlin Patterson no controle da aérea pode durar
muito pouco. Se em um mês a empresa não estancar
o prejuízo, controlador ameaça desistir
da compra
Lap Chan (c), representante do fundo, disse
que já gastou US$ 100 milhões dos US$ 150
milhões disponíveis
A sobrevivência da Varig voltou a ficar por um
fio. Fracassadas as negociações com as empresas
de arrendamento de aeronaves, pressionada pelos funcionários
e sofrendo com a retomada das rotas feita pela Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac), os novos
investidores da companhia já começam a achar
que fizeram um mau negócio. As malas já
estão prontas, caso o cenário não
mude em pouco tempo. O laudo fatídico tem sido
apresentado pelo executivo chinês Lap Chan, representante
do fundo de investimento Matlin Patterson, principal acionista
da VarigLog e, indiretamente, da Varig.
O tempo de permanência da Matlin Patterson como
investidora da Varig é medido em dólares.
O fundo norte-americano, que já investiu pouco
mais de US$ 100 milhões ao longo do processo de
negociação e compra da companhia aérea,
tem como limite de gasto US$ 150 milhões. “Eles
estão dispostos a perder até este valor.
A partir disso, vale mais a pena abandonar”, conta
uma fonte do Correio. Sem boas perspectivas de que a empresa
conseguirá se levantar no curto prazo, o relógio
corre contra a Varig. As perdas diárias da aérea
somam US$ 1,5 milhão. Seguindo a marca estabelecida
por Chan, a companhia teria mais um mês para voltar
a funcionar a contento. Senão, ficará sem
seu único investidor e, neste caso, só lhe
restará a falência.
Na última semana, Chan fez pelo menos quatro reuniões
com funcionários da Varig em Porto Alegre, Salvador,
São Paulo e Rio de Janeiro na tentativa de chegar
a um acordo que freasse o risco de uma sucessão
das dívidas trabalhistas da Varig para a VarigLog.
Nos encontros, o executivo desabafou e deixou claro que,
se as coisas continuarem como estão, a Matlin abandonará
o barco. “Se não me derem as condições
que estão previstas no edital (do leilão
da Varig), eu não tenho porque ficar aqui”,
teria dito o empresário segundo a fonte que participou
de uma das reuniões. A aquisição
foi em 20 de julho.
Anac preocupa
No momento, o maior obstáculo para a permanência
do fundo norte-americano tem sido a Anac. No último
mês, a reguladora resolveu endurecer com a Varig,
em uma mudança de linha de atuação
considerada estranha nos bastidores da companhia aérea
(ver matéria abaixo). A agência decidiu passar
por cima da decisão do juiz Luiz Roberto Ayoub,
responsável pelo caso na 8º Vara Empresarial
do Rio de Janeiro, de congelar as rotas pertencentes hoje
à companhia e que não estão sendo
usadas. Além de retomá-las, a Anac já
marcou o primeiro leilão de redistribuição
para o dia 14 de setembro, onde irá vender os 50
mais cobiçados horários de vôos (slots)
pertencentes à Varig, os de Congonhas.
A reguladora também pretende criar mais problemas
para a companhia e liberar o Certificado de Homologação
de Empresa de Transporte Aéreo (Cheta) para a “nova
Varig” com restrições. Vazou a informação
de que serão incluídas exigências
técnicas, como a atualização de manuais
de segurança, que deverão ser cumpridas
em seis meses. Caso as ressalvas não sejam atendidas
no prazo, a Varig poderá perder o certificado e
voltar à estaca zero.
Sem qualquer segurança de que o Cheta não
será anulado seis meses após sua liberação,
as empresas de leasing de aviões não têm
tido boa vontade em negociar com a Varig, o que complica
ainda mais a sobrevivência da empresa. Sem aeronaves,
a aérea não conseguirá cumprir seu
plano de malhas, muito menos investir na retomada de sua
clientela.
Independente
Um outro motivo que pesa na decisão de deixar a
aérea à deriva tem relação
estreita com as causas que levaram o Matlin Patterson
a investir na companhia. O plano encabeçado por
Lap Chan sempre se tratou de uma estratégia de
sobrevivência para a recém-adquirida VarigLog.
Na época do leilão, 40% da operação
da transportadora de cargas dependia de contratos de locação
de aviões da Varig. Isso fazia com que, se a Varig
falisse, a VarigLog morreria junto. Dessa forma, restava
apenas assumir a ex-controladora.
Mas, após a aquisição da Varig,
muita coisa mudou para a VarigLog. Com os cancelamentos
dos vôos internacionais, a ex-subsidiária
foi obrigada a fechar contratos com outras empresas para
garantir o transporte das encomendas. Lap Chan também
tratou de investir no salvamento da “operação
logística” e, nos últimos meses, fechou
contrato para a trazer 32 aeronaves para a VarigLog. Essas
duas ações praticamente eliminaram a antiga
dependência da Varig.
Na falta do principal motivo para embarcar na aventura
de manter aquela que já foi a maior aérea
da América Latina, a Matlin Patterson teria concluído
que “para tudo há um limite”, conta
a fonte. Caso decida mesmo sair da empreitada, o fundo
norte-americano poderá ser incluído na massa
falida da Varig e cobrar parte dos investimentos feitos.
Candidatos para os aviões
Antes complacente com a crise da Varig, a mudança
de postura da Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac) pode estar relacionada com pressões
das empresas aéreas concorrentes, segundo fontes
ouvidas pelo Correio. Não há dúvidas
para os investidores de que a redistribuição
das linhas da companhia agrada particularmente a TAM e
a Gol, que hoje dividem isoladas o mercado doméstico
de transporte aéreo. Estratégias recentes
e ainda não reveladas ao público reforçam
a tese de que a falência da Varig voltou a ser um
bom negócio.
Fontes que participam do processo de recuperação
contam que a TAM já estaria com contrato fechado
para alugar aproximadamente seis Boeings 777, hoje sob
posse da Varig. Essas aeronaves fazem parte do lote de
equipamentos parados por conta do processo de arresto
movido pelas empresas de leasing (lessors) na Corte de
Falências de Nova York.
Assim como já havia sido feito no início
da crise, as lessors se anteciparam em arranjar outros
interessados para os aviões alugados pela Varig.
Antes de dar início ao processo de recuperação
judicial, a companhia chegou a ter a chance de saldar
sua dívida com a International Lease Finance Corporation
(ILFC), uma das principais empresas de leasing de aeronaves
do mundo. Em contrapartida, a ILFC exigia a devolução
dos aviões que havia alugado à empresa dentro
de um cronograma.
Tudo porque o equipamento já estava prometido
a uma concorrente. O cronograma era baseado no tempo de
manutenção e pintura das aeronaves, que
ganhariam a logomarca da Gol. O acordo não foi
feito, mas isso não evitou que, mais tarde, os
mesmo aviões 737 acabassem na mão da concorrente.
Rotas em disputa
O movimento da TAM traria uma estratégia ainda
mais complexa. Os 777 são os mais modernos da linha
Boeing e, normalmente, são usados para rotas internacionais.
Para que os contratos saiam da gaveta, a TAM precisa conquistar
mais linhas para o exterior, o que só poderá
vir das que estão nas mãos da Varig, ainda
a maior detentora de freqüências nesse mercado,
mesmo sem usá-las. Sendo assim, a nova política
linha-dura da Anac acabaria se encaixando perfeitamente
às necessidades da concorrente, com a rápida
retomada das rotas e redistribuição para
os demais interessados.
A segurança da TAM de que as linhas internacionais
cairão no seu colo está nos acordos bilaterais
fechados pelo Brasil. Muitos deles prevêem a existência
de apenas uma empresa “de bandeira nacional”
— como no caso de aeroportos europeus —, cargo
antes ocupado pela Varig. Com 52,64% do mercado de vôos
internacionais no mês de julho, não há
dúvidas de que a sucessora no posto será
a TAM.
Essa partilha do espólio antes da falência
da Varig compromete ainda mais a saúde da empresa.
Vale lembrar que até os trabalhadores já
fazem parte da divisão da herança da companhia.
Na época do leilão, TAM e Gol haviam se
comprometido em contratar de forma quase imediata 6 mil
funcionários da concorrente em caso de falência.
Globo Online - O Globo
28/08/2006 às 21h59m
Justiça anula distribuição
de rotas da Varig
A 8ª Vara Empresarial do
Rio de Janeiro anulou todos os atos da Agência Nacional
de Aviação Civil (ANAC) que pretendiam licitar
rotas nacionais e internacionais da Varig antes dos prazos
previstos por lei – 30 dias após a obtenção
da concessão para os destinos nacionais e 180 dias
para os internacionais.
As rotas estavam em processo de distribuição
desde a última quinta-feira, quando uma reunião
realizada no Rio chegou a ser interrompida por oficiais
de Justiça, a pedido da Varig. Uma nota técnica
da Anac, divulgada ontem no site do órgão
regulador, recomendava a distribuição de
rotas para seis diferentes países da América
do Norte, da Europa e da África para TAM, Gol,
OceanAir e BRA.
De acordo com as palavras da juíza Márcia
Cunha de Carvalho “enquanto não suspensa,revogada
ou cassada a decisão Judicial, concorde ou não
com ela, ao destinatário da ordem resta uma só
atitude: cumprir”
A decisão prevê ainda a aplicação
de multas individuais no valor de R$ 20 mil para o superintendente
de relações internacionais da ANAC, brigadeiro
Eliezer Negri; para o gerente geral da ANAC, Franklin
Nogueira Hoyer; e para o superintendente de serviços
aéreos, Mário Roberto Gusmão Paes.
As rotas e os espaços da Varig nos aeroportos
foram congelados em maio, antes do leilão, e, por
decisão judicial, não podem ser distribuídas
antes da homologação da Nova Varig como
empresa aérea de transporte regular. Mesmo depois
da concessão, a Justiça do Rio determinou
o prazo de 30 dias após a homologação
para distribuição dos destinos $e 180 dias
para os internacionais.
A TAM confirmou ontem que apresentou pedido para sete
frequências para Paris (a empresa já voa
para este destino) e outras sete para Milão (Itália).
Segundo a TAM, as rotas são consideradas economicamente
interessantes para a companhia. A Gol também confirmou
o pedido de sete frequências para o México
(para onde ainda não voa) e outras sete para o
Uruguai (onde já tem operações).
Já a OceanAir não confirmou oficialmente
as rotas que estão na nota técnica da Anac
para o México (sete frequências), Angola
(duas frequências) e sete frequências para
os EUA (Los Angeles). A BRA apresentou solicitação
para voar para a França, México e Itália,
com sete frequências para cada rota.
Na semana passada a Anac já havia desrespeitado
as decisões da 8ª Vara Empresarial do Rio,
abrindo o processo de licitação. Segundo
a Anac, a competência para o assunto é da
Justiça federal.
Valor Online
28/08 - 20:13h
Justiça cancela redistribuição
de rotas, diz Varig; Anac afirma não ter sido comunicada
RIO - A Varig comunicou há pouco que a 8ª
Vara Empresarial do Rio de Janeiro acolheu seu pedido
e anulou "todos os atos" da Agência Nacional
de Aviação Civil (Anac) que tinham por objetivo
abrir licitação para as rotas nacionais
e internacionais da Varig antes do prazo previsto em lei.
De acordo com a Varig, a decisão da juíza
Márcia Cunha de Carvalho também estabelece
multas individuais no valor de R$ 20 mil para o superintendente
de relações internacionais da Anac, brigadeiro
Eliezer Negri; para o gerente geral da agência,
Franklin Nogueira Hoyer; e para o superintendente de serviços
aéreos, Mário Roberto Gusmão Paes.
Questionada sobre a decisão, a Anac informou que
não recebeu nenhuma notificação da
8ª Vara Empresarial do Rio e que não tem nenhuma
informação sobre o assunto.
Procurados pelo Valor Online, representantes da 8ª
Vara e da Justiça do Rio não foram encontrados.
Na avaliação da nova Varig, denominada
Aéreo Transportes Aéreos, a decisão
é justa e resguarda os direitos adquiridos mo leilão
de compra da aérea.
A companhia informa ainda que pretende retomar gradualmente
as rotas adquiridas da antiga Varig, dentro dos prazos
previstos em lei - redistribuição de rotas
apenas depois de passados 30 dias após a obtenção
da concessão para os destinos nacionais e 180 dias
para os internacionais.
"A empresa já está negociando a compra
de mais aeronaves para expandir sua malha dentro dos prazos
e atender os consumidores.
No momento, a Aéreo aguarda apenas a liberação
pela Agência da concessão para operar a empresa
aérea e iniciar seu plano de expansão",
informa a empresa em nota oficial, acrescentando que já
entregou todos os documentos solicitados pela agência.
(Valor Online)
O Dia
28/08/2006 17:04:00
Funcionários da Varig iniciam
vigília no Santos Dummont
Rio - Funcionários da Varig iniciaram nesta segunda-feira
uma vigília no aeroporto Santos Dummont para exigir
o pagamento dos salários atrasados e das rescisões
de contratos.
A Justiça deve homologar nesta segunda-feira acordo
que libera FGTS e seguro-desemprego para os funcionários
demitidos.
A decisão cabe á juíza Maria Thereza
Prata, da 33ª Vara do trabalho do Rio. Ela está
de posse desde quinta-feira da lista de 4.544 demitidos
pela empresa.
Tribuna da Imprensa
28 agosto de 2006
O CALOTE TRABALHISTA E SUAS PERVERSAS
CONSEQUÊNCIAS
Quando se fala em moratória
da dívida externa, a mídia grita. Mas diante
desse calote nos empregados da Varig em nome de sua recuperação
financeira, ninguém se toca.
Rodrigo da Matta era um piloto que preferia comandar
um jato da ponte aérea para ficar mais perto da
família, em Niterói. Temperamento alegre
e comunicativo, doce no trato apesar dos seus mais de
1,90m de altura, corpo atlético, ele morreu aos
44 anos no final de julho, na semana em que o pai, o antropólogo
Roberto da Matta, festejaria seus 70 anos.
O sol já se ia, quando ele foi fulminado por
um infarto. Naquele momento, o chinês Lap Chan,
preposto de um fundo norte-americano de investimentos,
confirmava a mais impiedosa guilhotina social de nossa
história. Sem ver um tostão desde abril,
seis mil competentes funcionários iam ser demitidos
da Varig com um carimbo fatal: em nome da Lei de Recuperação
de Empresas, eles passariam a ser tratados como se nunca
tivessem trabalhado na empresa octogenária.
Rodrigo perdia a vida, mas não era a única
vítima de uma ciranda macabra. O mega-golpe não
ceifaria apenas os trabalhadores em serviço. Estavam
sendo surrupiados também os aposentados e pensionistas
atendidos pelo Aerus, um fundo de pensão para o
qual contribuíram por anos e que também
por anos vinha sendo dilapidado ante a omissão
dos órgãos públicos.
Por trás das cortinas, os trabalhadores e aposentados
da Varig viveram cenas dilacerantes de desespero e revolta.
Afinal, no ano passado, a empresa dera sinais de que tinha
tudo para dar a volta por cima.
Julho passou e agosto está chegando ao fim. Numa
hora em que a mídia se ocupa dos “presuntos”
mais frescos, estão consumando na surdina o mais
desonesto dos calotes, a apropriação dos
direitos dos trabalhadores da Varig.
E, enquanto um insípido burocrata da agência
aérea governamental disse na Assembléia
Legislativa do Rio de Janeiro que o governo não
tem nada com isso, a opinião pública vai
sendo tapeada com meias informações, como
se tudo estivesse dentro dos conformes.
Escondendo a tragédia
Aos poucos, o tempo vai escondendo a tragédia.
O que se fala agora é menos do essencial e mais
de outras vilanias típicas da súcia que
se vale de uma cortina de fumaça para perpetrar
o crime por inteiro.
Mal pôs a mão na massa, o preposto do fundo
abutre tratou de fazer mal também ao Rio de Janeiro.
Violando acordos firmados com o Governo do Estado, quer
transferir para São Paulo o que restar de vida
da Varig. A empresa de manutenção, os escritórios,
enfim, o Rio só não desaparece do mapa porque
é um bom aeroporto de passagem. No mesmo instante,
a agência governamental precipita-se na transferência
das linhas da Varig para suas concorrentes.
É uma pena, uma grave constatação,
que a opinião pública não esteja
se sentindo igualmente lesada por esse golpe, no qual
os atingidos de hoje são apenas os “abre
alas” de um novo e perverso modelo de relações
trabalhistas. Modelo inacreditável, mas que vai
se cristalizando sob os olhares lânguidos de todos
– mídia, políticos, formadores de
opinião.
Recapitulemos, já que nós desta TRIBUNA
DA IMPRENSA estamos sozinhos tentando contar essa história
suja de cabo a rabo.
Havia uma respeitada empresa aérea, a maior do
Brasil. Por causas próprias e em face de políticas
governamentais, ela foi enfrentando turbulências
quase intransponíveis. Embora os próprios
empregados tivessem oferecido seus corações
e mentes para assumi-la e recuperá-la com o mínimo
de fraturas, o juiz empresarial optou por outro piloto.
Que piloto!
Com base numa lei nova, de 201 artigos e uma infinidade
de parágrafos e incisos, aprovou um plano de recuperação
que deixa seus empregados a pão e água.
Para isso, é bom que se diga, contou com a solidariedade
militante de um sindicato cuja única preocupação
é postar-se como linha auxiliar do governo que,
por motivos mais do que conhecidos, abandou à Varig
à própria sorte.
A vigília da verdade
Nesse script, a ficção impôs-se
como fato consumado. A empresa não faliu, mas seus
empregados e os aposentados se tornaram buchas de canhão.
Por uma alquimia em nome da Lei 11101/95, a Varig foi
dividida em duas: a velha, com suas dívidas, e
a “nova”, eximida de suas obrigações
trabalhistas, com um brutal corte epistemológico
em sua história, como é, aliás, praxe
da súcia do PT.
Resultado: seis mil demitidos não sabem a quem
apelar para receberem os atrasados, e os seus direitos
trabalhistas. O Sindicato dos Aeronautas tratou tão
somente das autorizações para sacarem o
fundo de garantia e recorrerem ao auxílio desemprego.
O principal, que soma mais de R$ 300 milhões, fica
para quando Deus quiser.
Para consolidar essa ignomínia trabalhista, o
preposto do fundo abutre joga com a divisão dos
empregados. Anunciou a demissão de 6 mil ao arrepio
dos próprios acordos coletivos de trabalho. E deixou
outros 3.800 como sobreviventes, aferrados aos seus salva-vidas,
o que é compreensível, considerando que
o mar não está para peixe.
Entre os demitidos e os mantidos criou-se um grupo de
premidos pela esperança. Eu até gostaria
que estivessem certos, mas estes preferem chorar baixinho,
sem incomodar, esperando que um dia sejam lembrados e
repescados.
É para contar essa história aos seus antigos
passageiros que comissários, pilotos e aeroviários
da Varig fazem uma vigília hoje, a partir das 14
horas, no Aeroporto Santos Dumont.
Se você passar por eles, não deixe de ouvi-los
atentamente. Porque o que eles estão passando hoje
pode sobrar para outros assalariados amanhã. Eles
vão tentar manter a denúncia dos maus tratos
no ar, já que para a quase totalidade da mídia
o massacre que sofreram já é página
virada.