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Folha
de São Paulo
28/03/2008
Nova empresa aérea quer ser
3ª do país
Fundador da JetBlue diz
que ela terá preços baixos e capital inicial
de US$ 150 mi, com investidores do país e externos
Frota deve começar com 3 aviões da Embraer,
e rotas devem focar destinos fora do eixo Rio-SP; nome virá
de campanha na internet
JANAINA LAGE EM SÃO PAULO
Danilo
Verpa/Folha Imagem
David Neeleman,
fundador da americana JetBlue, durante o lançamento
ontem em São Paulo de nova empresa aérea no
país
O
fundador da JetBlue, David Neeleman, divulgou ontem os planos
de criação de uma nova companhia aérea
no Brasil. A empresa deve começar a operar em janeiro
com três aeronaves e tem como meta se tornar uma das
três maiores do país. Atualmente, TAM e Gol
concentram aproximadamente 90% do mercado.
Apesar do nome estrangeiro, Neeleman nasceu no Brasil e
disse que sempre olhou com atenção para o
mercado brasileiro. Ele criou a JetBlue nos EUA no fim dos
anos 1990, uma empresa de baixo custo e baixa tarifa que
cresceu mesmo em um cenário de crise no setor.
Justificando o investimento, destacou que o mercado de aviação
cresceu 12% no ano passado no Brasil e que deve continuar
com um cenário de inflação sob controle,
moeda forte e aumento do crédito.
A nova companhia surge com uma estratégia agressiva
de marketing e será a primeira a usar os E-jets da
Embraer no país, com capacidade de 70 a 120 assentos.
Neeleman divulgou ontem o fechamento de um contrato de US$
1,4 bilhão para a aquisição de 36 E-195,
jato com 118 assentos. Há ainda opções
de compra de 20 aeronaves e direito de compra de outras
20. Caso confirme todas as opções e direitos
de compra, o valor do contrato sobe para US$ 3 bilhões.
A idéia é chegar a 76 aviões em cinco
anos, com vôos para as principais cidades do país.
Neeleman afirmou que no Brasil as tarifas ainda são
muito elevadas e promete oferecer passagens mais em conta.
"Mesmo os menores preços são altos demais",
disse. Segundo o empresário, as tarifas no Brasil
são em média 50% mais elevadas do que nos
EUA. Questionado sobre quão mais baratas suas tarifas
seriam, respondeu: "Não sei, quer dizer, sei,
mas não vou falar". Da mesma forma não
esclareceu quais rotas pretende explorar.
A estratégia da empresa é atrair tanto o cliente
corporativo, que busca conforto, quanto o passageiro que
normalmente viaja de ônibus. O executivo estima que
150 milhões de passageiros viajam em ônibus
interestaduais no Brasil.
Os passageiros poderão assistir a novelas ou futebol
em monitores individuais, prometeu. A empresa negocia com
Direct TV e Sky para definir a programação.
Os assentos serão revestidos de couro ecológico,
com fileiras de duas poltronas, afirmou. "Ninguém
gosta da poltrona do meio", disse. Sem pratos quentes,
os lanches serão escolhidos pelos passageiros a partir
de uma cesta de produtos, acrescentou.
Segundo Neeleman, as concorrentes não focam nas necessidades
dos passageiros que não precisam passar pelo eixo
Rio-São Paulo. A nova empresa deverá oferecer
vôos ponto a ponto, sem conexões. Apesar disso,
ele pretende obter autorizações de pouso e
decolagem em Guarulhos, Congonhas ou Santos Dumont.
Segundo a Anac, a agência do setor, Congonhas não
tem autorizações disponíveis e, sem
mudança de regra, a nova empresa só poderá
operar no maior aeroporto do país com a saída
de algum concorrente.
Na primeira etapa, só fará vôos domésticos,
mas há planos de expandir as operações
em vôos para a América do Sul. O capital inicial
é de US$ 150 milhões entre investidores privados
no Brasil e no exterior, que não tiveram seus nomes
divulgados.
O nome da empresa será escolhido com campanha na
internet. Primeiro, o público poderá escolher
cinco nomes em www.voceescolhe.com.br. Depois, os internautas
votarão em uma lista de nomes. O primeiro a votar
no nome escolhido receberá um passe vitalício
com direito a acompanhante para voar na empresa. Os mil
primeiros que escolherem o nome vencedor ganharão
um bilhete de ida e volta. A Folha consultou o site durante
a tarde de ontem, mas apareceu a mensagem: "Devido
ao grande número de acessos, o cadastro para a promoção
está temporariamente indisponível".
Folha
de São Paulo
28/03/2008
Concorrência deve levar à
redução de tarifas
EM SÃO PAULO
A
entrada em operação da nova empresa forçará
as concorrentes a reduzir tarifas, segundo especialistas
ouvidos pela Folha. A avaliação é que,
mesmo que a empresa não se disponha a "roubar
passageiros", a tendência é de aumento
da competição no setor. A queda dos preços,
no entanto, dependerá da velocidade de crescimento
da nova empresa, que começará a atuar com
apenas três aviões.
A entrada da Gol em 2001 provocou uma revolução
no mercado, com uma corrida das concorrentes para reduzir
custos e preços de bilhetes, em um cenário
de empresas em crise. Segundo o consultor em aviação
Paulo Bittencourt Sampaio, a tendência é de
uma nova rodada de quedas de preços, mas, desta vez,
as concorrentes estão mais bem estabelecidas no mercado.
"No primeiro ano, ela ainda será um concorrente
pequeno, mas deve aumentar a competição entre
as empresas. O modelo de negócios é diferente
do usado hoje e será testado quando for colocado
em prática. Seria infantil pensar que a concorrência
vai ficar parada", afirma.
Para Lúcia Helena Salgado, economista do Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada), a nova companhia
vai ocupar nichos de mercado que estavam desatendidos, com
passageiros que não precisam passar pelos aeroportos
centrais. "Com o crescimento da economia essa parcela
deve aumentar ainda mais", disse.
Na avaliação da economista, as principais
empresas se acostumaram com margens de lucros elevadas e
terão de rever suas estratégias para evitar
a perda de participação no mercado. Ressalta
ainda que o órgão regulador deverá
ficar atento em casos de práticas predatórias.
"Se tivesse de desenhar uma estratégia para
operar no Brasil, faria algo assim. O que não dá
é disputar o filé mignon com avião
velho", afirmou André Castellini, da Bain &
Company.
Segundo o presidente do Snea (Sindicato Nacional das Empresas
Aeroviárias), José Márcio Mollo, a
nova empresa pode trazer inovações para o
setor. "É uma ótima aquisição
para o setor aéreo, quanto maior a concorrência,
melhor", disse.
O vice-presidente da OceanAir, Jorge Vianna, afirmou que
ainda não conhece o modelo de negócios da
empresa, mas que será bem-vinda se conseguir facilitar
a participação das empresas menores. Procuradas
ontem pela reportagem, Gol e TAM não comentaram o
assunto.
Folha
de São Paulo
28/03/2008
Negócio quebra paradoxo no
país, diz Embraer
EM SÃO PAULO
O
presidente da Embraer, Frederico Curado, disse ontem que
o uso do E-195 por uma companhia brasileira é importante
para a empresa. O jato já é operado em 18
países, mas não havia sido usado antes no
Brasil. "Não ter esses aviões no Brasil
é um paradoxo, que gera curiosidade lá fora.
Depois de 800 aviões vendidos, não temos mais
que provar nada." A Embraer será responsável
pela manutenção das aeronaves.
A BRA havia sido a primeira empresa brasileira a fechar
contrato com a Embraer. Como a companhia aérea entrou
em crise, ele não foi efetivado.
Representantes da empresa apresentaram os planos ao BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social),
mas ainda estão verificando outras fontes de financiamento.
Segundo David Neeleman, que pretende criar a nova companhia,
a aeronave é perfeita para o mercado brasileiro.
Questionado sobre um possível custo maior por assento,
afirmou que considera também o custo por viagem,
que poderia compensar uma eventual diferença. A JetBlue
usa o E-190. O E-195 oferece 18% a mais de poltronas, com
um aumento de 6% no custo por viagem.
Para André Castellini, da Bain & Company, a adoção
dos jatos de 70 a 120 assentos no Brasil não muda
a estratégia da Embraer.
"A Embraer é uma empresa com produto competitivo,
o mercado brasileiro tem uma importância simbólica",
disse Castellini.
Certificado
A entrada em operação da nova empresa depende
ainda da obtenção do Cheta (Certificado de
Homologação de Empresa de Transporte Aéreo),
que é liberado pela Anac (Agência Nacional
de Aviação Civil). De acordo com Neeleman,
a expectativa é que o documento seja liberado em
seis meses. O prazo é inferior ao da Gol, com o menor
prazo até então.
Apesar da divulgação dos planos, o quadro
de executivos da empresa ainda não está completo.
Neeleman ocupa por enquanto a posição de presidente
do conselho. Outros dois executivos da JetBlue já
estão trabalhando na nova empresa: Gerald Lee (desenvolvimento
de negócios na companhia americana) e Trey Urbahn
(área comercial).
O primeiro brasileiro contratado é Gianfranco Beting,
como diretor de marketing. A empresa contratará 400
funcionários no começo das operações
e pretende chegar a 6.000 em cinco anos.
Folha
de São Paulo
28/03/2008
Avião, tráfego e garoa
TIVE UM COMPROMISSO de almoço com meu editor em São
Paulo para tratar do lançamento de meu próximo
livro. Depois, à noite, eu teria que comparecer à
formatura das primeiras turmas de administração
e direito da Universidade Zumbi dos Palmares, obra do professor
José Vicente, a quem a comunidade negra deve um extraordinário
serviço.
Um amigo ofereceu-me em Brasília uma carona num avião
pequeno. Ele viria com a mesma finalidade. Aceitei. Em seguida,
para saber a hora da partida, falei com o piloto, que me
advertiu: "Teremos de sair cedo, pois não há
slot para Congonhas e nossas opções são
Guarulhos, Campinas ou Jundiaí".
"A que hora chegaremos?" "Não sei,
depende do tráfego." Liguei para o amigo que
me oferecera a carona: "Obrigado, mas vou mesmo no
avião da carreira, que me parece o mais confiável.
Tenho um compromisso ao qual não posso faltar".
Marquei minha passagem para as 10 horas e fui para o aeroporto
de Brasília certo de que chegaria a São Paulo
às 11h30. Doce ilusão. Dentro do avião,
avisaram que, por uma falha técnica -um dos motores
acusara alta temperatura-, tínhamos que esperar.
Fiquei 40 minutos lendo os jornais. Depois, mais 30 na fila
de espera para a decolagem. Enfim, ao chegarmos a São
Paulo, fomos avisados de que havia outra fila e teríamos
mais uns 30 minutos de vôo. Com paciência, conformei-me.
Milton Campos contava que, certa vez, numa situação
dessas, ficou angustiado. Um companheiro ao seu lado perguntou-lhe:
"falta de ar, doutor Milton?". "Não,
falta de terra".
Saltei rapidamente e peguei o táxi. Chovia. Duas
horas de trânsito me afastavam do restaurante. Os
nervos -os meus são sempre tolerantes- agüentavam.
Liguei para meus convidados do esperado almoço. Disse-lhes
do meu sofrimento. Estava tudo parado. Responderam-me que
o mesmo acontecera com eles, e docemente esperei que o tráfego
andasse. Nada. A avenida Brasil estava cheia e intransitável.
O
locutor de uma rádio, do helicóptero, afirmava
que havia na marginal um congestionamento de 30 km. Dei
graças a Deus. O nosso não parecia tão
grande. Eram 15 horas quando entrei no restaurante. Meu
editor e meu livro cederam lugar aos comentários
sobre o futuro das cidades com uma área de ruas limitada.
"Será que não descobriremos uma pílula
para automóveis?", foi minha saudação
aos amigos com quem iria almoçar. "O diabo",
respondeu-me um deles, "é que os automóveis
não ovulam".
Eu, que vi na minha juventude a "garoa do meu São
Paulo", na expressão de Mário de Andrade,
via agora a fumaça do trânsito. E a data do
lançamento do meu livro ficou para outro almoço.
Ou engarrafamento.
Folha
de São Paulo
28/03/2008
Nem Boeing nem Airbus
NELSON DE SÁ
Desde
a home de Folha Online etc., a nova empresa aérea
"com jatos Embraer" ecoou. Com despachos de Reuters,
AP e cobertura de Market Watch, BBC, foi o destaque de Brasil
por Yahoo News e Google News. "New York Times"
e "Wall Street Journal", na home, adiantaram longas
reportagens, também ressaltando serem "jatos
produzidos no Brasil". Concentraram-se no perfil de
David Neeleman, nascido aqui, criador da JetBlue nos EUA
e que "ajudou a redefinir as aéreas com jatos
novos e oferecendo serviço de barganha".
DESAFIANTES
Já o "Financial Times" deu ontem que, depois
da russa Sukhoi e da chinesa Avic 1, agora é a japonesa
Mitsubishi que fabricará jatos regionais "desafiando
a Embraer" e a canadense Bombardier. Ela já
estaria com 25 encomendas feitas pela aérea All Nippon.
TRÂNSITO
AÉREO
E um dos correspondentes do "FT" relatou a experiência
de viajar da avenida Paulista a Carapicuíba em helicóptero,
transporte em alta na cidade por conta do trânsito
pesado -que é também aéreo e, diz o
texto, fez a viagem de meia hora durar uma hora e meia.
O
Estado de São Paulo
28/03/2008
Neeleman lança empresa aérea
com TV a bordo e preços mais baixos
Fundador da JetBlue cria companhia
no Brasil, com aviões da Embraer e investimentos
de US$ 150 milhões
Mariana Barbosa
O
empresário David Neeleman,48 anos, fundador da empresa
americana JetBlue, anunciou ontem sua nova companhia aérea
brasileira. Ainda sem nome - a escolha será feita
por meio de um concurso na internet - a nova companhia deve
iniciar operações em janeiro de 2009, com
três jatos E-195 da Embraer.
Ao
lado do presidente da Embraer, Frederico Curado, Neeleman
anunciou a compra de 36 jatos E-195, de 118 lugares, que
serão entregues em até três anos. A
preço de tabela, trata-se de um contrato de US$ 1,4
bilhão. O valor pode atingir US$ 3 bilhões
se forem exercidas opções de compra para mais
40 jatos.
Nascido
em São Paulo quando seu pai, Gary Neeleman, trabalhava
como correspondente da agência de notícias
UPI, o empresário fala português e possui nacionalidade
brasileira - ativo importante para quem quer investir no
setor aéreo no Brasil, que restringe em 20% a participação
estrangeira.
Durante
um evento simples mas bastante concorrido em um restaurante
em São Paulo, Neeleman afirmou que pretende crescer
estimulando uma demanda nova no mercado com preços
competitivos e rotas diferentes das praticadas pelas líderes
TAM e Gol/Varig. A idéia é oferecer vôos
diretos e múltiplas freqüências diárias
entre grandes capitais, muitas vezes sem passar por São
Paulo e Rio. Ele quer conquistar espaço nos aeroportos
de Guarulhos, Congonhas e Santos Dumont, mas não
pretende usá-los como centros de conexões.
O
empresário não quis revelar os destinos nem
os preços que pretende praticar. 'Isso ainda é
segredo, se não a concorrência vai em cima.'
Na sua opinião, as empresas no Brasil praticam tarifas
'altas demais'. Mas avisa que não pretende fazer
'loucuras'. 'Não queremos guerra tarifária.'
Se a concorrência for para cima dele, contudo, avisa:
'Não será fácil. Criamos a JetBlue
em Nova York, onde tem muita concorrência, e nossa
receita chegou a US$ 1 bilhão mais rápido
do que qualquer outra companhia.'
O
avião da Embraer será um dos grandes diferenciais
da companhia. Voando em mais de 18 países, mas inédito
no Brasil, o E-195 é um dos mais modernos jatos em
atividade. 'Depois de 800 aviões vendidos, não
temos mais o que provar. Mas, sem dúvida, ter o avião
voando no Brasil é uma questão de patriotismo',
afirmou Frederico Curado.
Segundo
Curado, o E-195 possui um custo de viagem mais baixo do
que os jatos Airbus e Boeing usados por TAM e Gol/Varig,
ainda que o custo por assento seja mais alto, dado que os
jatos da concorrência comportam de 140 a 180 passageiros.
Assim
como na JetBlue, que opera o E-190, os aviões da
nova empresa terão poltronas de couro e monitores
individuais com TV ao vivo. Comissários - e de vez
em quando o próprio Neeleman, como fazia na JetBlue
- passarão com cestos repletos de salgados, doces
e bebidas e o passageiro poderá se servir a vontade.
'Quem quer um bom jantar vai a um restaurante', disse Neeleman.
A
configuração de 118 lugares do E-195 permitirá
à companhia oferecer uma distância entre poltronas
de 31 polegadas (78,74 cm), duas a mais do que nos aviões
de TAM e Gol - suficiente para agradar o ministro da Defesa
Nelson Jobim, crítico notório do aperto nos
aviões.
Para
manter o interesse pela nova companhia até o seu
lançamento, foi criado um site (www.voceescolhe.com.br)
onde os internautas poderão escolher do nome da empresa
à cor do uniforme da tripulação. O
primeiro a sugerir o nome que vier a ser escolhido ganhará
um passe vitalício com direito a acompanhante. Na
estréia ontem, o site ficou congestionado - e atraiu
inclusive a visita de um hacker.
O
Estado de São Paulo
28/03/2008
Investimento inicial só perde
para o da Virgin
Nova empresa é a chance
de Neeleman dar a volta por cima depois da JetBlue
Mariana Barbosa
O
investimento de US$ 150 milhões para a criação
da nova companhia de David Neeleman é o segundo maior
investimento inicial privado em uma companhia aérea
no mundo. Perde apenas para a Virgin, de Richard Branson,
que foi fundada com um capital de US$ 170 milhões.
A JetBlue foi fundada com US$ 135 milhões, um investimento
que contou com a participação do banqueiro
George Soros e do JP Morgan. 'Foi muito fácil conseguir
esse investimento, havia muitos interessados', disse Neeleman.
'Poderíamos ter trazido mais US$ 100 milhões,
mas achei que não precisava.'
Com
o acesso fácil a recursos, o empresário nem
pensa em uma abertura de capital. Afinal, sua experiência
com capital aberto na JetBlue não foi das melhores.
Em maio de 2007, por decisão dos acionistas, ele
foi gentilmente convidado a deixar a cargo de presidente-executivo
da empresa que criou. A demissão aconteceu três
meses depois do colapso das operações da JetBlue,
durante uma nevasca em fevereiro, quando passageiros ficaram
mais de cinco horas dentro de aviões sem comida nem
informações. 'Sou um criador, acho que sou
melhor em criar do que em fazer a manutenção
do dia-a-dia', disse Neeleman. 'Sempre quis voltar para
o Brasil, e deixar a presidência me deu tempo para
colocar isso em prática.'
Neeleman
vinha matutando a idéia de montar uma companhia no
Brasil havia uns três anos, mas o assunto não
passava de um sonho distante. Com seu afastamento da presidência
da JetBlue, o desejo de fazer um negócio no Brasil
passou a representar uma chance de dar a volta por cima.
A
nova companhia é o quarto empreendimento de Neeleman
no setor. Além da JetBlue, criada em 1999, o empresário
é co-fundador da Morris Air (1984), vendida para
a SouthWest em 1993 por US$ 130 milhões. Pelo contrato,
ficou cinco anos impedido de atuar no setor aéreo
americano. Foi então para o Canadá, onde fundou
a WestJet.
Neeleman
é também conhecido pelas inovações
tecnológicas. Foi o inventor do bilhete eletrônico,
hoje usado em toda a indústria, e pioneiro, na JetBlue,
em oferecer programação de TV ao vivo. Hoje,
ele é dono da LiveTV, empresa que produz e opera
sistema de TV para diversas companhias.
A
intenção de Neeleman é trazer toda
a família para morar no Brasil. 'Vocês sabem,
tenho 9 filhos - de 8 a 26 anos - com a mesma mulher e um
neto. Estamos negociando, mas com tanta gente não
é fácil.' Como parte da estratégia
de convencimento, Neeleman trará a família
para passar as férias no Brasil a partir da semana
que vem.
NÚMEROS
US$
150 milhões
é o capital inicial da nova empresa aérea
brasileira, o segundo maior investimento inicial privado
em uma empresa aérea no mundo
US$
170 milhões
foi o investimento inicial na empresa aérea britânica
Virgin
US$
135 milhões
foi
o capital inicial da JetBlue
Jornal
do Brasil
28/03/2008
Nova empresa terá 36 jatos
da Embraer
Companhia de David Neeleman começa
a operar em 2009 com aviões mais espaçosos
Ana Paula Machado -São Paulo
Em
bom português, o empresário David Neeleman
lançou a nova empresa aérea brasileira. Filho
de americanos, Neeleman, que nasceu em São Paulo,
disse que a companhia já surge como a segunda no
mundo com maior investimento. Serão US$ 150 milhões
investidos nesta nova empresa.
–
A Virgin American foi lançada com US$ 170 milhões
e na JetBlue foram aplicados US$ 135 milhões –
ressaltou o executivo que é fundador e ex-presidente
da empresa americana de baixas tarifas JetBlue Airways.
– Temos como sócios grandes fundos de pensão,
que decidiram investir no país por acreditarem no
potencial deste mercado. Poderíamos arrecadar até
um pouco mais, há muitos investidores interessados
no projeto.
A
companhia já nasce inovando. Será a primeira
a operar jatos 195 fabricados pela Embraer, com configuração
para 118 assentos. A encomenda de 36 pedidos, avaliada em
US$ 1,4 bilhão, tem mais 40 opções
de compra. Os três primeiros aviões serão
entregues em dezembro. O objetivo de Neeleman é iniciar
as operações em janeiro de 2009.
Após
três anos de funcionamento, a expectativa é
que a nova empresa acrescente um novo avião por mês
à frota e tenha um total de 76 aeronaves em cinco
anos.
O
jato da Embraer terá dois dispositivos HUD –
Head Up Display – que permitirão, segundo o
presidente da fabricante brasileira, Frederico Curado, aumento
na segurança operacional. O equipamento projeta os
parâmetros indicados no painel em uma placa transparente
diante dos olhos dos pilotos.
–
Esse dispositivo auxilia muito os pilotos nas manobras de
decolagem e pouso. É um avião muito seguro.
Estamos contentes em ter nossos modelos operando no país.
Se deu certo nos EUA, Europa, Oriente Médio e na
China dará certo aqui também – disse
Curado.
E
foi justamente a segurança e a eficiência operacional
das aeronavaes as razões pela qual Neeleman optou
pelos modelos. Ele ressaltou que a nova empresa operará
sob cinco princípios: Segurança, segurança,
segurança, segurança e segurança.
–
Nunca tivemos acidente em qualquer das minhas empresas e,
por isso, estamos investindo US$ 500 mil adicionais por
avião em equipamentos de segurança –
destacou.
As
aeronaves contarão com mais espaço, com quatro
assentos por fileira, posicionados dois-a-dois.
Serviços
lucrativos
Todos
os assentos serão revestidos em couro ecológico.
A nova empresa será a primeira na América
Latina a oferecer TV ao vivo, em monitores individuais,
através de um sistema via satélite da LiveTV.
–
São aviões que podem nos garantir um menor
custo por viagem. Pelo fato de conseguirmos obter resultados
positivos com menos passageiros, poderemos estabelecer serviços
lucrativos, sem escalas, entre várias cidades e também
um maior número de freqüências entre elas.
Essa melhora será repassada ao preço das passagens
– disse Neeleman.
E
é essa a proposta do empresário, criar uma
empresa que possa operar em trechos sem escalas, com mais
freqüências e com tarifas baratas.
–
A pessoa precisa viajar rápido e voltar no mesmo
dia. Isso nós iremos proporcionar.
O
Brasil é a segunda maior economia nas Américas
e décima maior economia no mundo, mas apenas 5% dos
seus habitantes voam com regularidade. Segundo Neeleman,
as passagens aqui custam em média 50% a mais do que
nos EUA em distâncias equivalentes.
–
Há um enorme mercado a ser conquistado. Hoje, no
Brasil, viajam de ônibus 150 milhões de pessoas
e certamente a maioria deseja usar o avião nestes
trechos. São esses os passageiros que queremos transportar
– ressaltou.
O
empresário, que já lançou três
outras aéreas nos EUA e Canadá, não
teme uma reação da TAM e da Gol, empresas
que dominam quase 90% do mercado brasileiro.
–
Eles não serão suicidas para entrar em uma
concorrência ruim. Há espaço para todos,
queremos estimular o mercado e não tirar passageiros
de ninguém. Mas se fizerem isso temos caixa para
suportar. Posso dizer que não será fácil
– advertiu Neeleman.
Valor
Econômico
28/03/2008
Fundador da JetBlue tem US$ 150 milhões
para competir no país
Roberta Campassi
Marisa Cauduro/Valor
Confiante e empolgado,
Neeleman, promete "algumas" tarifas mais baixas
A
segunda companhia aérea mais capitalizada do mundo,
em seu lançamento, na história da aviação.
A única, por enquanto, que operará aviões
da Embraer em território nacional. Estas foram duas
marcas que a companhia aérea brasileira do empresário
David Neeleman obteve em sua apresentação
oficial. Com capital de US$ 150 milhões, o criador
da aérea americana JetBlue acredita que chega com
força suficiente para enfrentar uma concorrência
dura. Com um pedido firme de 36 jatos do modelo Embraer
195, inéditos em céus brasileiros, ele sustenta
que abrirá caminho para uma enorme demanda reprimida.
Num evento cheio de azul, verde e amarelo, embalados pela
música "Aquarela do Brasil", Neeleman e
uma equipe de executivos apresentaram um projeto com boa
parte das peças que já eram imaginadas. Guardaram,
no entanto, segredos estratégicos, como as rotas
que pretendem operar ou o tamanho dos descontos que a empresa
poderá oferecer. Também não revelaram
os investidores envolvidos.
A nova companhia aérea, cujo nome será escolhido
pelo público, começa a voar em janeiro de
2009 com três aviões operando vôos entre
as principais cidades brasileiras sem fazer conexões
em aeroportos que concentram tráfego - os chamados
"hubs". O objetivo é oferecer não
apenas mais vôos diretos do que a concorrência,
como também diversas freqüências e opções
de horário ao longo do dia. A empresa buscará
espaços em aeroportos congestionados como Congonhas,
Guarulhos e Santos Dumont.
Dentro das aeronaves, o cliente encontrará os mesmo
itens que se tornaram a marca da JetBlue nos EUA: televisões
individuais, mais espaço entre os assentos e poltronas
de couro. Neeleman promete, acima de tudo, segurança.
"Nas quatro empresas aéreas que eu criei, nunca
houve um acidente", disse. Ele também prometeu
serviços rápidos e eficientes nos balcões
dos aeroportos e na venda de bilhetes, que será feita
majoritariamente pela internet.
Em relação aos preços, a empresa promete
tarifas mais baixas do que a concorrência - mas algumas
mais baixas, e não todas. Embora Neeleman tenha afirmado
que as passagens no Brasil são cerca de 50% mais
caras do que nos EUA e que poderiam ser mais baratas, sua
companhia terá faixas de preço para todos
os públicos. A inovação, segundo Neeleman,
é que o intervalo entre a tarifa mais barata e a
mais cara será maior do que as diferenças
praticadas hoje por Gol e TAM. A nova empresa vai trabalhar
fortemente com o chamado "yield management" (gerenciamento
de receita). Com base em uma série de dados, o sistema
permite definir os preços e a estratégia de
vendas que geram a maior receita possível. Todas
as companhias aéreas já o utilizam, mas Neeleman
garante que a administração da JetBlue desenvolveu
"truques" muito eficientes. Neeleman afirma que,
tirando o combustível, os custos operacionais entre
as empresas brasileiras e americanas são parecidas.
As companhias nacionais, por outro lado, costumam dizer
que a carga tributária, taxas de aeroporto e itens
de manutenção inflacionam os custos no Brasil.
É
por meio da combinação de serviços
cômodos e algumas tarifas mais baixas que Neeleman
pretende fazer o "bolo crescer" e atrair os 150
milhões de passageiros que ainda utilizam o ônibus
em viagens interestaduais. "Uma análise do tamanho
do PIB do Brasil em relação ao número
de viagens aéreas mostra que há espaço
para um mercado três ou quatro vezes maior no país",
afirma. Em 2001, a Gol surgiu com um discurso semelhante
e conseguiu fomentar demanda.
A chave para realizar os objetivos da empresa é o
avião escolhido, considerado por Neeleman o equipamento
"perfeito" para o mercado brasileiro. Enquanto
os Embraer 195 da nova empresa terão 118 assentos,
os Boeings e Airbus usados por Gol e TAM, respectivamente,
têm no mínimo 140 poltronas e um máximo
de cerca de 180. Com aviões menores, a nova companhia
poderá fazer rotas diretas com uma demanda não
tão elevada sem precisar concentrar tráfego
em "hubs".
Existe no mercado, porém, uma dose de ceticismo sobre
a capacidade de o jato da Embraer ter custos competitivos
em relação aos aviões maiores, cujos
gastos são melhor diluídos à medida
que mais passagens podem ser vendidas. Ou seja, empresas
como TAM e Gol poderiam oferecer preços mais baixos
nas rotas em que competissem com a nova empresa. Neeleman
e a Embraer, entretanto, defendem que o E195 tem plenas
capacidades de competir. De acordo com Mauro Kern, vice-presidente
de aviação comercial da Embraer, o jato tem
um custo por assento "um pouco maior", mas seu
custo por viagem "é de 15% a 20% menor"
e permite que a operação seja mais rentável
com menos passageiros.
Para decolar, a companhia ainda precisa obter sua concessão
junto à Agência Nacional de Aviação
Civil e prevê consegui-la em seis meses. Por enquanto,
foram recrutados profissionais que trabalharam ou trabalham
na JetBlue e o brasileiro Gianfranco Beting como direto
de marketing. A empresa deve contratar 400 funcionários
até janeiro e pretende ter cerca de seis mil até
2013.
Valor
Econômico
28/03/2008
Aérea negocia financiamento
com o BNDES
De São Paulo
A companhia de David Neeleman está negociando o financiamento
dos aviões Embraer com o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) e instituições
estrangeiras. "Temos confiança de que não
haverá qualquer problema", disse.
Os 36 Embraer 195 encomendados pela nova empresa aérea
representam, pelo valor de tabela, US$ 1,4 bilhão.
Os jatos começarão a ser recebido em 2009
até o fim de 2011. A companhia tem ainda 20 opções
(com data limite para exercício) e mais 20 direitos
de compra (sem prazo definido) do mesmo modelo que complementariam
a frota até 2015. Se exercidas, elevam o valor do
negócio para US$ 3 bilhões.
O Embraer 195 é o maior avião produzido pela
fabricante nacional e pode ter até 122 assentos,
embora a companhia de Neeleman tenha optado pela configuração
com 118 poltronas. "É um avião perfeito
para o Brasil", disse Neeleman, ontem. Ele já
havia dado mostras de seu entusiasmo pelo produto da Embraer
em 2003, quando a JetBlue anunciou a compra de cem jatos
do modelo 190 e tornou-se a primeira cliente do equipamento.
Desta vez, a escolha foi pelo E195. Segundo a companhia
aérea, ele oferece 18% mais assentos do que o E190
com um custo por viagem apenas 6% maior.
Apesar da apertada linha de produção da Embraer,
foi possível encaixar as encomendas da nova empresa
nos espaços que antes estavam reservados para os
pedidos da BRA. Como esta entrou em recuperação
judicial em novembro passado, as encomendas foram postergadas
até que a situação da companhia se
defina. "Não existe, porém, nenhuma ligação
entre os contratos da BRA e da empresa de Neeleman",
afirmou Frederico Fleury Curado, presidente da Embraer.
(RC)
Valor
Econômico
28/03/2008 - 14:01h
Boeing não quer jato regional,
mas vê competição de fabricantes desse
segmento sobre o 737
SÃO
PAULO - A Boeing reiterou enfaticamente hoje que não
tem nenhuma intenção de investir no desenvolvimento
de um avião regional, para competir com aeronaves
da Embraer. Apesar de avaliar em US$ 110 bilhões
o mercado para esses aparelhos nos próximos 20 anos,
a empresa acredita que, por representar apenas 4% do faturamento
total da indústria, não seria uma boa escolha
por conta da concorrência.
"Se
iremos desenvolver um avião regional? Não,
não vamos", afirmou o vice-presidente de Marketing
da divisão de Aviação Comercial da
Boeing, Randy Tinseth. "É um mercado já
muito competitivo para quem está nele e nosso foco
está em outros segmentos", acrescentou.
Além
disso, o esforço seria contraproducente para a companhia.
"Criar a estrutura para fabricar jatos regionais demandaria
muito investimento em capital e em recursos", diz o
vice-presidente de Vendas da empresa, John Wojick. "Se
tivéssemos recursos ilimitados, poderia ser. Mas
não temos", completou.
Para
a Boeing, porém, há a possibilidade de os
fabricantes de aviões regionais começarem
a competir com ela por espaço no que chama de mercado
de aviões de corredor simples e mais de 100 assentos.
Atualmente, a maioria dessas empresas já tem aviões
que transitam no limite entre o que a Boeing chama de aeronaves
regionais e aparelhos de corredor único. Exemplo
desses é o EMB 195, da Embraer, que tem capacidade
para até 122 passageiros, capacidade próxima
à de algumas versões do 737.
"Fundamentalmente
o que essas empresas querem é entrar nesse mercado
(de aviões de corredor único). Mas temos convicção
de que temos um bom produto para enfrentar essas investidas",
disse Tinseth. "Vamos continuar investindo na redução
do custo do avião e nos posicionar melhor. O 737
é muito importante para nós, e não
temos nenhuma intenção de abandonar um mercado
de US$ 1,2 trilhão (em 20 anos)", completou.
Apenas
na América Latina, a Boeing projeta demanda por 1.730
novas aeronaves até 2026, sendo que, desse total,
apenas 8% será atendido por jatos regionais, contra
79% de jatos de corredor único. Isso, dizem os executivos,
é suficiente para concentrar esforços no segundo
segmento. Até mesmo os aviões maiores, de
fuselagem larga, devem ter fatia maior em unidades que os
regionais: 13%.
Valor
Econômico
28/03/2008 - 14:01h
Embraer diz quebrar "paradoxo"
com venda de aviões para nova empresa aérea
nacional
SÃO
PAULO - A Embraer, que fornecerá os aviões
para a nova companhia aérea brasileira, lançada
hoje pelo empresário norte-americano David Neeleman,
afirma que o negócio quebra o "paradoxo"
de não ter nenhuma de suas aeronaves em operação
por uma empresa do país. A fabricante também
fará as manutenções programadas dos
aviões e o treinamento de pilotos e tripulação.
Segundo
o presidente da companhia, Frederico Fleury Curado, "é
um orgulho como brasileiros" fechar o negócio.
Para ele, a iniciativa não é uma "curiosidade,
mas um plano muito bem estruturado" para ter sucesso.
"Não
ter, hoje, aviões nossos no Brasil é um paradoxo
que inclusive surpreende clientes de fora do país",
diz Curado. "Isso, porém, é um efeito
normal das particularidades do mercado. Depois de 800 aviões
vendidos, não temos mais que provar nada, e o EMB
195 é muito eficiente para uso no Brasil", acrescenta.
"A
manutenção será feita pela Embraer.
Afinal, quem melhor que o fabricante para fazer isso?",
afirma Neeleman. Segundo ele, porém, a manutenção
diária, após treinamento de funcionários
na Embraer, será feita pela própria companhia,
todas as noites.
"Os
aviões que vamos fornecer à nova empresa são
equipados com sistemas muito avançados de segurança,
hoje presentes em muito poucas companhias aéreas
do mundo", diz Curado, se referindo ao sistema de aproximação
HUD (Heads Up Display), que oferece dados importantes sobre
o vôo ao piloto - e, no caso dos EMB 195 da nova empresa,
também ao co-piloto - sem que precise deixar de olhar
para a pista de pouso.
Segundo
Curado, essas aeronaves não são, exatamente,
as que seriam vendidas à brasileira BRA, que deixou
de operar no fim do ano passado e tinha contrato de compra
de 20 aviões da Embraer. Ele admite, porém,
que "indiretamente", são os mesmos aviões.
"Com a renegociação dos contratos com
a BRA e seu adiamento, pudemos antecipar a entrega de algumas
aeronaves a outros clientes e encaixar novas vendas na fila
de produção", explicou.
O
Globo
28/03/2008
Jornal
de Turismo
28/03/2008
O perigo de virar Carmen Miranda Airlines
Começa a maratona para
David Neeleman conquistar a concessão pública
para formar uma nova empresa aérea para o transporte
de passageiros no Brasil
Cláudio Magnavita
Um
perigoso ar de exagerado otimismo tomou conta do lançamento
do que poderá ser a mais nova empresa aérea
do Brasil e a quarta idealizada pelo empresário David
Neeleman. Com uma maquete do Embraer 195 descoberta ao ritmo
de “Aquarela do Brasil”, o modelo foi patrioticamente
pintado com as cores da bandeira brasileira. Na concorrida
coletiva de imprensa realizada no Bar des Arts, em São
Paulo, tentou-se mostrar a brasilidade festiva de uma empresa
que terá capital norte-americano e diretoria formada
por Trey Urbahn, Gerald Lee e mais uma meia dúzia
de “gringos”. Todos com larga experiência
em gestão de companhias aéreas americanas
e que foram transplantados para solo brasileiro a bordo
do passaporte verde-amarelo de David Neeleman, que teve
a sorte de nascer em São Paulo. Descontando este
detalhe, a sensação seria muito parecida com
o cenário que o mercado viveria se a legislação
brasileira tivesse sido alterada e permitisse que estrangeiros
pudessem abrir empresas aéreas no Brasil.
No lançamento, apesar do excessivo clima de “Brazil
para Gringos”, onde se esperava a cada momento a entrada
em cena de Carmem Miranda ou do Zé Carioca, era impossível
deixar de pensar no recente estrago promovido na aviação
brasileira pelo furacão de dólares do fundo
de investimentos norte-americano Matlin Peterson na aquisição
da Varig e da VarigLog. As brigas dos controladores do capital
estrangeiro e os seus sócios brasileiros estão
tendo efeitos nefastos sobre a saúde da maior empresa
de carga do país. A roupa suja lavada em público
foi assustadora e resultou na intervenção
judicial da empresa de carga.
A voracidade junto à ferocidade do Matlin Peterson
para recuperar o dinheiro investido após a operação
de venda da Varig para a Gol, não tem levado em conta
os interesses nacionais de ter uma companhia aérea
de carga sadia e capaz de auxiliar o país nas suas
exportações. Foram promovidos os bloqueios
de receitas no exterior e até a apreensão
de aeronaves com a paralisação de frota e
colapso dos serviços, tudo isso em uma empresa que
opera como concessionária de um serviço de
transporte público.
Na roupa suja lavada em público, os três sócios
brasileiros, que foram indispensáveis para legalizar
as operações de compra e depois a de venda,
foram colocados no pelourinho como verdadeiros bandidos
e o norte-americano Lap Chan, quase nascido no Brasil, cuspiu
no modelo e nas pessoas que escolheu, confirmando publicamente
que o seu objetivo maior era recuperar o capital investido,
mesmo que isso resultasse na quebra da maior empresa brasileira
de carga, a VarigLog.
A Nova Varig, quando recém-comprada pelo fundo, quase
colapsou quando um grupo de canadenses foi trazido da Air
Canadá e, trabalhando ilegalmente no Brasil, fez
um festival de asneiras.
Agora, os empregos de milhares de brasileiros e o colapso
da companhia aérea cargueira foram incapazes de sensibilizar
o Fundo Matlin Peterson, que queria receber de forma antecipada
o dinheiro emprestado em contrato e que venceria só
em 2011, já que a venda da Varig gerou caixa e o
capital, protegido pelo empréstimo, seria utilizado
para capitalizar a VarigLog.
Tendo estas feridas ainda abertas, o mercado brasileiro
começa a questionar quais as garantias que uma operação
como a que agora é desenhada terá para enfrentar
o humor volátil dos donos dos 150 milhões
de dólares que prometem ser investidos no Brasil.
Neeleman foi afastado do cargo de CEO da JetBlue pelos investidores.
E se isso vier a se repetir no Brasil?
O mercado lembra ainda um cenário confuso com outro
protagonista desta história: a Embraer. Em outra
solenidade, com menos cores verde-amarelas, até o
presidente da República acabou involuntariamente
exposto pela empresa a um dos maiores fiascos da indústria
da aviação. O presidente Lula passou pelo
constrangimento de participar de um ato solene ao lado do
controverso empresário Humberto Folegatti, proprietário
da finada BRA, e que anunciava uma negociação
com Fred Fleury Curado, presidente da Embraer. A compra
acabou revelando não ter lastros por conta de conflitos
com os investidores, não se concretizou e a BRA quebrou
no meio do caminho. O perfil operacional e de rota que pretendia
a finada companhia com os Embraer 195 é muito próximo
ao que a nova empresa de Neeleman pretende montar agora
no Brasil.
Alguns cuidados precisam ser tomados para que histórias
como a da Matlin Peterson e da BRA não se repitam.
A origem do capital deve ser controlada, da mesma forma
que procedimentos comedidos devem ser incorporados aos novos
pronunciamentos da empresa. Algo do tipo: “achamos
que... esperamos que... provavelmente poderemos...”,
principalmente no que se refere ao vôo inaugural.
Marcar a data da estréia (foi anunciada para janeiro
de 2009) antes mesmo de ter o Cheta outorgado pela Anac
é no mínimo passar a idéia de pressão
pública sobre as nossas autoridades aeronáuticas.
Um outro cuidado importante é sobre o anúncio
dos nomes do staff de diretores estrangeiros em solenidades
públicas. Fazer isso só depois das permissões
de trabalho concedidas pelo Ministério do Trabalho.
Nos Estados Unidos este ritual seria obrigatório
para os brasileiros que fossem trabalhar por lá.
O maior cuidado, porém, é para não
se exagerar no culto ao mito de Midas de David Neeleman,
que teve na vida uma coleção de sucessos,
mas também de fracassos. No negócio aviação
até o super-homem deve aprender a voar, quietinho,
a bordo dos jatos comerciais. Ele é um gênio,
bom chefe de família e uma pessoa do bem, mas não
é nenhum super-herói que irá resolver
o problema da aviação brasileira, que hoje
é muito mais de infra-estrutura do que de competência
de gestão das empresas aéreas.
O tiroteio vai começar em breve, pelo acirramento
precoce da concorrência antes que os tortuosos caminhos
da burocracia fossem cumpridos para a conquista da concessão
pública para, só depois, legalmente entrar
no negócio chamado transporte aéreo.
Quando nasceu, a Gol foi, por sorte, solenemente desdenhada
pelas grandes empresas do mercado. Hoje, no comando da Tam,
o comandante David Barioni Neto sabe o que é transformar
um plano de negócios em realidade. Na nova sede da
Gol, Constantino Júnior sabe que, se os obstáculos
que veio a enfrentar no segundo ano de vida tivessem aparecido
antes de conquistar do Cheta, ele teria enfrentado dificuldades
para decolar em céu de brigadeiro; o que só
encontrou por ter agido mineiramente.
O mercado brasileiro é hoje formado por empresas
sadias financeiramente e sem o ônus de passados turbulentos.
A entrada de uma nova empresa, que traga capital sólido
e experiência, será aplaudida! Só que
isso deve ocorrer dentro de normas e rituais que precisam
ser observados, até para evitar o efeito nefasto
que foi causado pelo excesso de liberalidade que permitiu
a livre operação do fundo norte-americano
Matlin Peterson, com subterfúgios para driblar a
legislação e que, ao serem revelados pelos
próprios autores, agora colapsa a maior empresa aérea
de carga do País.
Cláudio
Magnavita é diretor geral do Jornal de Turismo, presidente
da Associação Brasileira de Jornalistas de
Turismo (Abrajet) e membro do Conselho Nacional de Turismo.
Jornal
de Turismo
28/03/2008
Flex realiza vôo inaugural entre
Rio e Salvador
A
nova companhia Flex (parte da antiga Varig – Nordeste
Linhas Aéreas), lança um vôo inaugural,
neste sábado, Rio de Janeiro/Salvador, partindo da
capital fluminense às 10h e chegando no Aeroporto
Internacional de Salvador ao meio-dia.
A
bordo estarão o ministro da Previdência, Luiz
Marinho (ligado ao processo de recuperação
judicial da Varig), a presidente da Embratur, Jeanine Pires,
dentre outras autoridades. Depois da chegada do Boeing 737-300
(único da frota), os 130 passageiros seguem para
um almoço no Gran Stella Maris Resort. A volta para
o Rio está marcada para as 16h.
A Bahiatursa prepara um receptivo especial com baianas,
fitas do Bonfim e camisetas Viver Bahia. O secretário
de Turismo Domingos Leonelli discutirá, durante o
almoço, a possibilidade de ampliação
de vôos.
No início, essa conexão Rio/Salvador será
feita através de vôos charters (fretados),
com possibilidade de regularização. O representante
da Flex, Jorge Pinto, disse que a empresa já encomendou
oito aeronaves modelo Boeing 737-300, com capacidade para
136 pessoas, e espera recebê-los até o final
de dezembro. Segundo Jorge, os serviços oferecidos
aos futuros clientes serão de primeira classe, relembrando
os bons tempos da antiga Varig.
Mercado
e Eventos
28/03/2008
Flex faz vôo inaugural para
Salvador amanhã
A
companhia aérea Flex (antiga Varig - Viação
Riograndense) realiza amanhã (29/03) seu vôo
inaugural entre o Rio de Janeiro e Salvador, partindo às
10h e chegando no Aeroporto Internacional Luis Eduardo Magalhães,
às 12h. Entre os convidados deste primeiro vôo
estarão o ministro da Previdência, Luiz Marinho,
a presidente da Embratur, Jeanine Pires, o juiz da 8ª
Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de
Janeiro, Luiz Roberto Ayub, responsável pelo processo
de recuperação judicial da Varig, entre outras
autoridades.
Depois
da chegada do único da frota, o Boeing 737-300, os
130 passageiros seguem para um almoço no Gran Stella
Maris Resort. A volta para o Rio está marcada para
as 16h.
A
Bahiatursa prepara um receptivo especial com baianas, fitas
do Bonfim e camisetas Viver Bahia. O secretário de
Turismo, Domingos Leonelli discutirá, durante o almoço,
a possibilidade de ampliação de vôos.
Inicialmente a linha será feita através de
vôos fretados, com possibilidade de regularização.
O
representante da Flex, Jorge Pinto, diz que a empresa já
encomendou oito aviões, modelo Boeing 737-300 com
capacidade para 136 pessoas, e espera recebê-los até
dezembro.
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