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O
Estado de São Paulo
28/03/2007
Gol negocia a compra da Varig, mas
a chilena LAN continua no páreo
Segundo fontes próximas
às negociações, a família Constantino,
dona da Gol, está mais perto de levar a companhia
Mariana Barbosa
Estão bastante avançadas
as negociações da Gol com o fundo Matlin Patterson
para a aquisição da Nova Varig. Segundo fontes
do mercado financeiro próximas à negociação,
a venda está “praticamente fechada”.
“As negociações estão no nível
dos detalhes, de garantias”, afirmou a fonte.
Para evitar riscos de contaminação
da Gol, que tem ações nas bolsas de Nova York
e São Paulo, o negócio seria fechado por uma
empresa chamada Águia, pertencente à família
Constantino, dona da Gol.
A Gol, no entanto, não está
sozinha. A chilena LAN, que no dia 31 de janeiro anunciou
um empréstimo de US$ 17,1 milhões à
Nova Varig, valor passível de ser convertido em ações,
continua na disputa. A empresa chegou a fazer uma ‘due
dilligence’ (análise de dados financeiros)
na Varig, mas estaria analisando a receptividade de sua
proposta junto ao governo brasileiro. Pelo contrato do empréstimo,
a LAN tem preferência na venda e terá de ser
ressarcida caso o Matlin decida realmente vender sua participação
para a Gol.
Tanto a Gol quanto a LAN encontram apoio
a suas propostas junto a diferentes autoridades graduadas
do governo. Fontes em Brasília revelam que o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva já encomendou a
redação de uma Medida Provisória aumentando
de 20% para 49% o limite de participação de
empresas estrangeiras em companhias aéreas brasileiras.
A idéia de fortalecer uma terceira empresa que faça
frente ao duopólio de Gol e TAM tem grandes defensores
dentro do PT.
O Matlin tem pressa em se desfazer do negócio.
O prejuízo mensal da nova Varig, que detém
hoje apenas 4,57% do mercado doméstico, é
de cerca de US$ 20 milhões, segundo fontes do setor.
O maior rombo vem das operações internacionais,
sobretudo Frankfurt, onde a taxa de ocupação
é de 54%. Sem aviões para cumprir com as concessões
de vôos a que tem direito, a Varig precisa de uma
injeção imediata de capital para manter seu
valor, sob risco de perdê-las.
A empresa tem hoje 18 aviões, sendo
que dois deles (modelo MD-11, usados em rotas de longo curso),
serão devolvidos nas próximas semanas. Para
não perder a concessão da rota de Frankfurt,
hoje atendida com os MD-11, a Varig está fazendo
uma verdadeira ginástica operacional. A empresa negocia
com a Varig antiga o subarrendamento de dois Boeings 767,
pertencentes à espanhola EuroAtlantic e usados em
operações de fretamento. Para realizar o vôo
sem escalas, dado que o novo avião tem menor autonomia,
a empresa não poderá levar muita carga no
porão, diminuindo sua receita.
Para analistas do setor aéreo, o
interesse da Gol na Varig se dá tanto no mercado
internacional quando no doméstico. No doméstico,
o interesse é pelos slots (vagas para pousos e decolagens)
no Aeroporto de Congonhas. “Ninguém tem tantos
slots quanto a Varig em Congonhas e está é
a única chance de a Gol aumentar sua presença
no aeroporto, que é o mais rentável do País”,
afirma o analista Paulo Bittencourt Sampaio. A Varig tem
hoje 4,57% do mercado doméstico e quase a totalidade
desse tráfego passa por Congonhas.
No mercado internacional, a Gol manteria
a bandeira Varig, que hoje voa para 4 destinos: Frankfurt,
Caracas, Bogotá e Buenos Aires. Para garantir as
demais freqüências, o novo comprador tem até
meados de julho para retomá-las. Caso contrário,
a Varig perde as concessões. Para tanto, a Gol já
estaria negociando com três empresas de leasing 5
Boeings 777 que pertenciam à Varig.
Questionada pela CVM sobre o negócio,
após o vazamento de informações, a
Gol não negou a informação. Limitou-se
a dizer, em comunicado, que “investiga e considera
as diversas oportunidades de aquisições, joint-ventures
e combinações de negócios (...). Nesse
contexto, a companhia até o presente momento não
tomou decisão no sentido de efetuar uma aquisição.”
HISTÓRICO
Leilão: Em julho do ano passado,
com um lance de US$ 24 milhões, a VarigLog arrematou
em leilão a “nova” Varig, conseguindo
assim a marca e as rotas da empresa. O passivo de R$ 8 bilhões
ficou com a “velha” Varig
Busca: Sem conseguir recuperar mercado,
a Varig tenta atrair investidores. Em outubro, as informações
eram que a companhia canadense Air Canada havia demonstrado
interesse em entrar na empresa
Empréstimo: No final de janeiro,
a LAN Chile fez um empréstimo de US$ 17 milhões
à Varig, com a opção de converter essa
dívida em participação acionária
na empresa - o que, segundo analistas, daria 5% da empresa
Candidata: Segundo fontes, a mais forte
candidata à compra da Varig agora é a Gol,
que teria interesse principalmente nas rotas internacionais
da empresa. A compra seria feita por uma outra empresa da
família Constantino.
Valor Econômico
28/03/2007
Gol e Varig
Após ter sido acionada pela Comissão
de Valores Mobiliários (CVM) para se manifestar acerca
das notícias de que comprará a Varig, a Gol
Linhas Aéreas enviou ontem um comunicado à
Bovespa onde afirma que "a companhia permanentemente
investiga e considera as diversas oportunidades de aquisições,
joint-ventures e combinações de negócios
que possam gerar valor a seus acionistas. Nesse contexto,
a companhia até o presente momento não tomou
decisão no sentido de efetuar uma aquisição".
Este foi o primeiro posicionamento da Gol para o mercado
desde que surgiram os rumores de que a empresa estaria negociando
a compra da Varig, no início de fevereiro.
O Globo
28/03/2007
Ancelmo Góis
Revista VEJA
28/03/2007
A tortura do apagão aéreo
A infra-estrutura precária,
o descaso do governo e a ganância das companhias tornaram
o ato de viajar de avião um tormento sem fim
Chega. Basta. Passou de qualquer limite.
O viajante brasileiro, que já não conta com
estradas decentes e ferrovias dignas desse nome, agora também
pena para viajar de avião. Tomar uma simples ponte
aérea entre o Rio de Janeiro e São Paulo,
que consumia no máximo cinqüenta minutos, agora
pode ser uma tortura que dura até quatro horas. Atrasos
e cancelamentos de vôos entraram para a rotina dos
passageiros de todos os quadrantes do país. A crise
iniciada com a trombada entre o Boeing da Gol e o jato Legacy,
em setembro do ano passado, tornou-se crônica –
fato inadmissível para um país que se pretende
civilizado. Há vários culpados para o que
se convencionou chamar de apagão aéreo: a
precariedade da infra-estrutura do setor, a falta de ação
do governo, da qual a primeira decorre, e a ganância
das companhias. Para não falar da corrupção
oficial, sempre ela, como se verá nas páginas
62 e 63.
O quadro abaixo é a visualização
mais límpida do descalabro. Ele mostra que a pontualidade
dos aviões brasileiros, antes em padrões internacionais,
despencou para níveis abissais. As justificativas
para isso beiram o ridículo. Na segunda-feira passada,
depois de mais um fim de semana em que um terço de
todos os aviões partiu com atraso e os aeroportos
voltaram a registrar cenas de passageiros revoltados com
a desinformação, a desculpa foi uma queda
no sistema de comunicação do Cindacta 1, que
monitora os aviões em vôo no Centro-Oeste e
no Sudeste. É impressionante como os sistemas nacionais
passaram a cair depois da queda do avião da Gol.
E o mais intrigante é que os controladores de vôo
já planejam uma "nova queda de sistema"
para as vésperas dos Jogos Pan-Americanos, em julho
(veja a reportagem). Pois é.
Aeroporto
de Congonhas: 6 milhões a mais de passageiros do
que poderia suportar
Até o ano passado, os brasileiros
confiavam em sua aviação comercial, sem saber
que ela estava corroída por dentro e já não
suportava o aumento exponencial do número de usuários.
Há três anos, a quantidade de passageiros cresce
em níveis chineses – só no ano passado,
o aumento foi de 12% –, mas o investimento no setor
segue em padrões africanos. O governo federal reduziu
praticamente à metade os gastos, paga mal aos controladores
e mantém equipamentos de monitoramento obsoletos.
As companhias também não demonstraram agilidade
– nem interesse – suficiente para se adequar
à nova realidade. Entre 2000 e 2006, enquanto o número
de passageiros transportados anualmente subiu de 41,7 milhões
para 57,6 milhões, a frota de aviões despencou
de 366 para 230, uma queda de 37% ( veja quadro). Em parte,
isso se deve à crise da Varig, até então
a principal companhia do país. No período
de um ano, de 2005 para 2006, a empresa perdeu 73 aeronaves
(tinha 88 e hoje opera com somente quinze). "Na era
Varig, apenas 5 milhões de brasileiros tinham dinheiro
para voar. Hoje, com o barateamento das tarifas, calcula-se
que esse número tenha triplicado", diz Gianfranco
Beting, consultor em aviação.
Diante do colapso da Varig e do aumento
de passageiros, a TAM e a Gol, atualmente as duas principais
companhias brasileiras, passaram a operar no limite –
inclusive para manter suas margens de lucro na estratosfera.
Como o crescimento do número de assentos não
acompanhou o aumento de passageiros, os aviões, que
no passado chegaram a voar com apenas metade de sua capacidade,
hoje têm 72% de ocupação, em média.
Esse índice ainda está dentro dos padrões
internacionais, mas as projeções indicam que,
num futuro bem próximo, a taxa poderá subir
a até 89% ( veja quadro) O risco é o aprofundamento
do colapso do sistema e a repetição de cenas
ainda piores do que as que foram vistas em dezembro do ano
passado. Bastou a parada de seis aeronaves para que a TAM,
em meio a seu ganancioso overbooking natalino, deixasse
340.000 passageiros sem embarcar.
Como a TAM é responsável
por 48% dos vôos domésticos no Brasil, qualquer
irresponsabilidade ou problema da companhia tem efeitos
em cascata sobre todo o sistema. A alta concentração
de mercado tornou-se, desse modo, outro fator de preocupação.
Juntas, a TAM e a Gol respondem por 86% das vendas de bilhetes.
Esse duopólio tem proporcionado às empresas
ganhos espetaculares, justamente em um dos períodos
mais traumáticos para os usuários da aviação
comercial brasileira. Em 2006, a margem de lucro da Gol
foi de 15%, e a da TAM, de 7,6%. Para se ter uma idéia
do que isso representa, no mercado internacional margens
de lucro entre 3% e 5% são comemoradas pelas empresas
aéreas. No momento, boa parte das companhias americanas
e européias enfrenta sucessivos prejuízos.
Lucros exorbitantes assim só acontecem em ambientes
de pouca concorrência – nos quais os passageiros
só têm a perder em matéria de qualidade
de serviços, como demonstra o caso brasileiro.
A aviação comercial sempre
foi uma operação de alta complexidade, e as
companhias sabem que atrasos e cancelamentos aumentam o
risco do negócio. A diferença é que,
onde há maior competição, descuidar
desses fatores pode significar perdas incomensuráveis.
No mês passado, uma tempestade de gelo que fechou
o Aeroporto John F. Kennedy, em Nova York, provocou a maior
crise já enfrentada pela empresa americana JetBlue.
Os 100 passageiros do vôo 755 da companhia, que deixaria
a cidade, ficaram presos por nove horas no avião,
sem comida nem informação e com os banheiros
quebrados. Os problemas causados pelo mau tempo foram agravados
pelo comportamento da própria JetBlue. A empresa
levou para o pátio outros aviões, a fim de
que decolassem assim que a tempestade acabasse. Mas alguns
equipamentos congelaram e entraram em pane. Com o pátio
do aeroporto lotado pelos aparelhos da JetBlue, outros 1.000
vôos foram atrasados. Seu presidente, David Neeleman,
pediu desculpas em público. Mas muitos analistas
acreditam que levará um bom tempo para a JetBlue
reparar o dano à sua imagem.
Neeleman,
dono da JetBlue: após atrasos, pedido de desculpas
No Brasil, não. Nas atuais circunstâncias,
por falta de concorrência, se uma companhia pratica
overbooking, deixa de investir na ampliação
e modernização de sua frota (para aumentar
a margem de lucro) ou maltrata os passageiros, tratando-os
como gado, nada ocorre com ela. Pelo simples fato de que
o cliente não conta com opções. O mais
dramático é que a infra-estrutura aeroportuária
é tão precária que não agüentaria
a entrada de novas empresas no mercado. Um exemplo é
o grau de saturação a que chegou o Aeroporto
de Congonhas, em São Paulo, o mais movimentado do
país. Sua capacidade ideal é de 12 milhões
de passageiros por ano. Mas, em 2006, passaram por seus
corredores 18,5 milhões de pessoas (veja quadro na
pág. 56). Como Congonhas não foi projetado
para suportar tanto movimento, ele se tornou o gargalo mais
apertado da aviação brasileira. Não
há solução para o caos aéreo
que não passe, primeiro, pelo desafogamento do aeroporto
paulistano. VEJA consultou especialistas, a fim de que sugerissem
saídas para Congonhas. São elas:
• Transferir para o aeroporto de
Guarulhos, já nas próximas semanas, todos
os vôos de longa duração, como os provenientes
do Norte e do Nordeste. "Os aviões que fazem
essas viagens carregam muitos passageiros e lotam o aeroporto",
explica Cláudio Jorge, professor do Instituto Tecnológico
de Aeronáutica (ITA). A medida diminuiria em 6 milhões
o número de passageiros no aeroporto.
• Num período de dois anos,
deixar em Congonhas apenas os vôos da ponte aérea
e de pequenas companhias. O aeroporto receberia 10 milhões
de passageiros por ano, 2 milhões menos do que a
sua capacidade máxima.
• Construir um terceiro aeroporto
nos arredores de São Paulo. Alguns estudos já
estão sendo feitos, mas os técnicos ainda
não encontraram o lugar ideal para a edificação.
Os especialistas advertem, porém,
que qualquer dessas modificações implica a
construção de linhas de metrô e trem
que liguem a capital paulista a esses aeroportos mais distantes.
Seria preciso que o governo, em nível municipal,
estadual e federal, fizesse um trabalho coordenado. Mas
coordenação não é exatamente
uma qualidade da administração pública
brasileira.
MAIS
CONCORRÊNCIA NOS CÉUS
A duração de uma viagem aérea
internacional entre Nova York e Londres equivale ao tempo
do vôo doméstico entre Houston (Texas) e Anchorage
(no Alasca) – 7 horas e 45 minutos. Mas custa três
vezes mais – 1.800 dólares, em média,
contra 600 dólares. A diferença entre as tarifas
explica-se por um único fator: competição.
Enquanto a concorrência na aviação doméstica
americana pegou fogo nos últimos trinta anos com
o surgimento das companhias aéreas de baixo custo,
as rotas internacionais permaneceram largamente protegidas
da concorrência devido a um acordo internacional,
de 1944, que limita muito o número de vôos
entre países. Como resultado, o preço das
passagens regionais desabou e o das rotas transatlânticas
pouco se alterou. Mas isso pode estar prestes a mudar. Na
semana passada, depois de anos de negociações
frustradas, os Estados Unidos e a União Européia
conseguiram finalmente chegar a um novo tratado que, ao
entrar em vigor, em março de 2008, deverá
injetar mais competitividade no setor.
Pelo acordo, chamado open skies ("céus
abertos", na tradução literal do inglês),
empresas aéreas européias poderão voar
de qualquer cidade do continente para qualquer destino nos
Estados Unidos – e vice-versa. Até agora, seus
aviões só podiam decolar de aeroportos de
seus respectivos países. Já as companhias
americanas terão acesso a qualquer trecho entre os
27 países da União Européia. Ou seja,
ganharam mais direitos do que as européias. O sucesso
do open skies dependerá, obviamente, da existência
de espaço (slot) disponível nos aeroportos
dos dois lados do Atlântico. Para isso, eles terão
de ser reformados e novos aviões, comprados. O fim
das restrições deverá gerar pelo menos
26 milhões de passageiros adicionais em cinco anos,
criar 72.000 empregos e reduzir drasticamente o preço
das passagens. Companhias européias continuarão
proibidas de competir na aviação doméstica
americana ou de comprar o controle acionário de empresas
aéreas dos Estados Unidos. Essas e outras barreiras
remanescentes deverão ser objeto de um novo acordo,
a ser negociado nos próximos cinco anos. Se a infra-estrutura
da aviação brasileira fosse aperfeiçoada,
um acordo semelhante poderia ser feito com outros países.
Com mais competição nos céus,
os viajantes brasileiros sairiam ganhando.
Eles estão
quase fora de controle
Suspeitos de sabotagem, os controladores
de vôo ameaçam parar na semana do Pan
e submeter o país a um vexame mundial
O futuro ministro da Defesa,
Aldo Rebelo (à esq.), já faz gestões
para debelar a crise. Mas os controladores seguem irredutíveis.
Desde a tragédia com o Boeing da Gol, na qual os
controladores Jomarcelo dos Santos e Lucivando de Alencar
(à dir.) estavam diante do radar, eles vivem dando
demonstrações de que podem parar o país.
A crise parece não ter fim
Os controladores de vôo já
deram demonstrações de que podem parar o país.
Desde a tragédia com o Boeing da Gol, em setembro,
que matou 154 pessoas e deflagrou a crise aérea que
parece não ter fim, a categoria iniciou um jogo de
pressão e ameaças que lembra a tática
das guerrilhas. Ela é formada por uma tropa de 2.500
pessoas, que têm idade média de 30 anos, ganham
2.000 reais por mês e têm a imensa responsabilidade
de zelar pela segurança aérea em condições
precárias. Esse exército mal treinado e mal
remunerado faz hoje uma greve branca cujos efeitos são
percebidos quase todas as semanas nos aeroportos, expondo
ainda mais a falta de infra-estrutura da aviação
nacional. Os controladores exigem aumento salarial, menor
jornada de trabalho e a contratação imediata
de novos profissionais. Como a maior parte da categoria
é composta de militares, impedidos de fazer greve,
eles confabulam nas sombras, fazem reuniões secretas
e nunca assumem a autoria de seus atos. Eles assustam não
apenas porque já pararam o tráfego aéreo,
mas porque podem voltar a fazê-lo a qualquer momento.
Há até uma data marcada para a próxima
demonstração de força. Os controladores
planejam paralisar o Brasil na véspera dos Jogos
Pan-Americanos, em julho. A ameaça é tão
perturbadora que, na semana passada, eles conseguiram tirar
Lula do sério. Já não era sem tempo:
até então, o presidente insistia em dizer
que o apagão já havia sido solucionado.
Ameaças precisam ser recebidas com
cuidado em qualquer negociação. Mas é
recomendável que o governo não trate a maquinação
para o Pan como mera bravata. No mês passado, pouco
antes do Carnaval, os controladores também ameaçaram
cruzar os braços. Não o fizeram – embora
os vôos para os principais destinos tenham apresentado
alguns atrasos – apenas porque o ministro da Defesa,
o sempre aéreo Waldir Pires, prometeu acelerar o
projeto que desmilitariza o controle do tráfego de
aviões. Além de desobrigá-los das rígidas
normas da caserna, como o impedimento de fazer greve, a
desmilitarização é sinônimo de
melhores salários para a maior parte dos controladores
de vôo. Os 2.100 militares recebem o equivalente à
metade do salário dos 400 civis que integram a categoria.
A desmilitarização voltou a galvanizar a atenção
dos controladores graças ao anúncio de que
a Argentina, seguindo recomendações dos órgãos
internacionais de aviação, transferiu a civis
o controle de seu tráfego aéreo. Nos Estados
Unidos, para citar outro exemplo, a transferência
ocorreu há exatos 67 anos. No Brasil, apesar da promessa
de Waldir Pires, o projeto está emperrado. "A
decisão é do presidente", afirma o ministro.
Lula já deu sinais de que não
pretende ceder à pressão dos controladores
de vôo pela desmilitarização do setor.
Para tentar pôr fim à crise, contudo, o presidente
decidiu substituir Waldir Pires pelo ex-presidente da Câmara
Aldo Rebelo, que começou a trabalhar antes mesmo
de tomar posse. Na semana passada, Apolinário Rebelo,
irmão do futuro ministro da Defesa e um dos integrantes
da cúpula do PCdoB em Brasília, esteve na
Infraero, em missão informal, discutindo uma saída
para a crise. Pela proposta de Aldo, os controladores continuariam
submetidos à hierarquia militar, mas receberiam uma
gratificação da estatal que controla os aeroportos.
O ministro Waldir Pires não foi consultado. Lula
está irritado com a falta de pulso do governo sobre
os homens que zelam pelo espaço aéreo. O presidente
chegou a responsabilizar os controladores pela pane da última
semana. "Só pode ser sabotagem. Estão
fazendo isso para prejudicar o meu governo e criar a CPI",
disse o presidente, referindo-se à CPI que a oposição
briga para instalar no Congresso Nacional.
Ainda não se sabe se os controladores
de vôo estão por trás da bagunça
da semana passada. Mas é curioso que, toda vez que
eles ficam insatisfeitos, o caos se instala nos céus
do país. O apagão aéreo ganhou os saguões
dos aeroportos um mês após a queda do Boeing
da Gol, exatamente quando as investigações
começaram a apontar para uma possível negligência
dos controladores. Os sargentos Jomarcelo dos Santos e Lucivando
de Alencar, que estavam diante das telas do radar no momento
da tragédia, foram afastados de seus cargos. Exatamente
um dia depois, os controladores iniciaram uma operação-padrão.
Em vez de controlar até vinte aviões ao mesmo
tempo, como era comum, passaram a monitorar apenas catorze,
como determinam os padrões internacionais. A estratégia
resultou no atraso de 600 vôos num único fim
de semana e em esperas monumentais de até vinte horas.
Para segurar o caos, o governo prometeu se empenhar pela
desmilitarização e garantiu que o comandante
da Aeronáutica, Luiz Carlos Bueno, seria trocado.
O comandante foi trocado, mas a desmilitarização
não decolou.
As condições de trabalho
dos controladores brasileiros são mesmo espantosas.
Um controlador americano recebe em média 10.000 dólares
por mês. A remuneração média
de um profissional brasileiro é de apenas 2.000 reais,
no caso dos militares (1.000 dólares), e de 3.200
reais (1.600 dólares), no caso dos civis. Trabalham
oito horas por dia submetidos a um monumental nível
de stress. Sem treinamento adequado, falam um inglês
primário e têm dificuldade para entender as
informações que recebem de pilotos estrangeiros.
Logo depois da operação-padrão, diante
da ameaça de reeditarem o movimento, a Aeronáutica
confinou cinqüenta controladores em Brasília,
epicentro da insurreição aérea, em
duas oportunidades. Eles tiveram de trabalhar por até
48 horas contínuas. É essa insatisfação
represada que, mais uma vez, ameaça transbordar.
Se apenas observando regras internacionais eles já
causaram tanta turbulência, é arrepiante imaginar
o estrago que produzirão se, de fato, cruzarem os
braços. O Pan do Brasil viraria um pandemônio.
A Infraero
não informa...
A empresa responsável pela
administração dos aeroportos é um antro
de corrupção e desvio de dinheiro
Desde sua criação, em 1972, a Infraero, estatal
responsável por administrar os aeroportos brasileiros,
foi gerenciada por técnicos. Em 2003, logo após
tomar posse, o presidente Lula rompeu essa tradição
e nomeou um político para o cargo – o hoje
deputado federal Carlos Wilson. Amigo do presidente do PTB,
Roberto Jefferson, o parlamentar seguiu à risca o
manual de instruções do partido e transformou
a empresa em um gigantesco centro de captação
de recursos eleitorais. Auditorias do Tribunal de Contas
da União já detectaram irregularidades em
praticamente todas as obras realizadas nesse período
nos aeroportos brasileiros. Há denúncias no
atacado envolvendo a companhia em superfaturamento, licitações
dirigidas, desvio de dinheiro e fraudes variadas que ultrapassam
a cifra do bilhão. Há também corrupção
no varejo protagonizada por dirigentes da empresa. Na semana
passada, o atual presidente da Infraero, o brigadeiro José
Carlos Pereira, abortou uma operação irregular,
da qual participavam funcionários de sua confiança,
que renderia 160 milhões de reais a um grupo de especuladores
imobiliários. O negócio é exemplar
e revela como parcerias político-público-privadas
continuam sendo feitas clandestinamente em Brasília.
Os deputados Gabeira e Jungmann
fazem campanha no aeroporto de Brasília para tentar
instalar CPI que o governo se esforçou para enterrar
Há vinte anos a Infraero administra
um terreno de 25 hectares nas redondezas do aeroporto de
Brasília. O local é alvo da cobiça
de grandes construtoras e companhias de aviação.
Apesar de estar cedido à Infraero, o imóvel
pertence ao governo do Distrito Federal. No fim do ano passado,
o assessor especial da presidência da Infraero, Josenvalto
Reis, que é filiado ao PTB, iniciou um processo para
que a estatal comprasse o terreno. Os detalhes da operação
foram acertados diretamente entre Reis e o senador Joaquim
Roriz, do PMDB. O plano era o seguinte: o governo de Brasília
venderia o terreno à Infraero por 40 milhões
de reais. Algum tempo depois, a Infraero alegaria que não
tinha mais interesse no imóvel e repassaria o terreno
para uma empresa, que assumiria a dívida. Seria um
daqueles casos inacreditáveis em que ninguém
sai perdendo. O empresário poderia usar um terreno
abandonado para um grande projeto imobiliário. A
Infraero se desvencilharia de um patrimônio inútil
e de uma dívida gigantesca. O senador Joaquim Roriz
poderia se vangloriar de ter contribuído para o desenvolvimento
do país. O funcionário Josenvalto poderia
ganhar uma medalha por se revelar um funcionário
aplicado. Interessante, se não tivesse cara de golpe.
Segundo cálculos da própria
Infraero, o terreno vale 200 milhões de reais. Ou
seja: a operação renderia 160 milhões
de lucro ao comprador final. O presidente da Infraero mandou
cancelar o processo de compra do terreno. "Eu nem sabia
que isso existia", disse o brigadeiro José Carlos.
Seu assessor especial, Josenvalto Reis, explicou que, como
ainda era um projeto, nada disse ao chefe. Disse ainda ter
procurado Joaquim Roriz em casa apenas para pedir que ele
usasse sua influência para agilizar o processo de
venda. Roriz, por sua vez, contou outra versão. Segundo
ele, Reis foi à sua casa reclamar do preço
do imóvel. Na sexta-feira, Reis informou que pediria
demissão. Dois dirigentes da Infraero ouvidos por
VEJA revelaram que o negócio era parte de um acerto
político fechado com o PMDB.
A Infraero tem um orçamento anual
de 890 milhões de reais para gastar em obras e manutenção
dos aeroportos, o que a transformou em objeto de cobiça.
Primeiro foi o PTB, depois chegaram os peemedebistas. Nas
últimas semanas, o PT tentou de todas as formas transferir
a gestão da empresa para a nova ministra do Turismo,
Marta Suplicy. Não é, certamente, apenas interesse
em resolver os problemas da aviação. VEJA
teve acesso a documentos confidenciais produzidos pelo controle
interno da estatal. Eles mostram que não é
exagero classificar a Infraero como um antro. Eis alguns
exemplos. No ano passado, a companhia gastou 26 milhões
de reais, sem licitação, na compra de um software
para "gerenciar" as propagandas dos aeroportos.
O software nunca funcionou. Descobriu-se que a empresa vendedora
havia sido criada apenas um mês antes do negócio
e emitira uma única nota fiscal, número 001,
referente ao software. O posto de combustíveis do
aeroporto de Brasília, uma concessão da estatal,
pertencia a uma empresa ligada ao ex-dono da Vasp, Wagner
Canhedo. Até aí, nada demais. O problema é
que o posto foi fechado por vender gasolina adulterada e,
mesmo assim, o contrato, em vez de ser rescindido, foi prorrogado
por mais oito anos.
O ex-presidente Carlos Wilson
e o atual, José Carlos: mesquinharias e negócio
suspeito
Não é de surpreender que
parentes dos dirigentes da Infraero ou pessoas afins também
tenham sido flagrados querendo participar da festança.
Nos quase quatro anos que dirigiu a estatal, o deputado
Carlos Wilson, generoso com empreiteiras e prestadores de
serviço, não se esqueceu dos parentes. A ATP
Engenharia, empresa de Mônica Coimbra Loyo, prima
de sua ex-mulher, tem contratos com a Infraero superiores
a 11 milhões de reais para fiscalizar as obras nos
aeroportos. A cunhada de Carlos Wilson explora a concessão
de uma lanchonete no aeroporto do Recife, o mesmo que foi
decorado com pinturas compradas do sogro dele, o artista
pernambucano Francisco Brennand. Dono de uma fábrica
de cerâmica, Brennand também forneceu os azulejos
que revestem as paredes de três aeroportos reformados
durante a presidência do genro: o da capital pernambucana,
o de Maceió e o de Congonhas. "São coisas
pequenas, mesquinhas", defende-se Wilson. Na semana
passada, apesar do empenho do deputado Fernando Gabeira,
a bancada do governo não permitiu a instalação
da CPI que poderia descobrir a exata dimensão das
mesquinharias da Infraero.
Caos aéreo
Antes considerados isolados, os episódios
dos apagões aéreos vividos em todo o país
em novembro e dezembro de 2006, quando cancelamentos de
vôos e atrasos nos embarques de até 20 horas
aterrorizaram multidões furiosas de passageiros,
não deixarão a rotina dos viajantes tão
cedo. Quem quiser pegar um avião no Brasil, por enquanto,
não está livre de enfrentar situações
parecidas. Aqui, o meio mais rápido e seguro de viajar
transformou-se no mais demorado e inseguro.
1. Quando começou a crise no setor
aéreo do país?
O choque entre um jato Legacy americano
e um Boeing da Gol em setembro de 2006, que derrubou o último
na selva de Mato Grosso e matou as 154 pessoas a bordo,
foi o episódio que chamou definitivamente a atenção
da população brasileira para a precariedade
do setor de transporte aéreo do país. No entanto,
o acidente, junto da greve branca dos controladores de vôo
que gerou o apagão aéreo original, foram só
dois dos estopins de um colapso que já estava anunciado.
Enquanto o movimento de passageiros no país cresceu
em ritmo acelerado nos últimos três anos -
19% só em 2005 - , o investimento oficial em infra-estrutura
de controle aéreo, equipamentos e formação
de equipes seguiu o caminho inverso - foi reduzido quase
à metad
2. Quais são as causas caos aéreo em que o
país mergulhou?
O caos e a incerteza que dominam o setor
aéreo são resultado de uma série de
problemas interligados. Os recursos da área são
mal administrados; os aeroportos não têm estrutura
para atender a atual demanda; faltam controladores de tráfego
aéreo, e os que estão aí não
têm boas condições de trabalho; os radares
têm zonas cegas; as comunicações por
rádio falham. Basta que um desses elos da corrente
não funcione para que todos os outros sejam comprometidos.
Como estão todos na iminência de falhar, a
vulnerabilidade do sistema - que há muito ultrapassou
o seu limite - é enorme.
3. Quem administra o transporte aéreo
no país?
A aviação está sob
responsabilidade direta do Ministério da Defesa,
e é comandada pela Força Aérea Brasileira
(FAB). A Aeronáutica, no entanto, não gerencia
o setor sozinha. Junto dela estão a Empresa Brasileira
de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), estatal
responsável pela administração dos
67 aeroportos do país; e a Agência Nacional
de Aviação Civil (Anac), que tem a finalidade
de regular e fiscalizar as atividades de aviação
civil e de infra-estrutura aeronáutica e aeroportuária.
A Anac, como o próprio nome explica, é o único
dos três órgãos comandado por uma autoridade
civil.
4. Como funciona o sistema de controle de tráfego
aéreo no Brasil?
O controle de tráfego aéreo
é comandado por um conjunto de quatro unidades de
monitoramento que se integram para cobrir todo o território
nacional. Cada unidade regional do sistema leva o nome de
Cindacta - Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle
do Espaço Aéreo. São órgãos
subordinados ao Departamento de Controle do Espaço
Aéreo (Decea), que por sua vez responde diretamente
ao comando da Aeronáutica. No Brasil, optou-se nos
anos 1970 por criar um sistema único para controlar
tanto a aviação civil quanto a militar, ao
contrário do que acontece em outros países.
Em Brasília, fica o Cindacta 1; em Curitiba, o Cindacta
2; em Recife, o Cindacta 3; e em Manaus, o Cindacta 4, baseado
na estrutura do Sistema de Vigilância da Amazônia
(Sivam). A rede de controle aéreo brasileira é
frágil. Está sujeita a problemas que começam
na falta de manutenção dos equipamentos e
vão até as recentes greves dos operadores
– cujo contingente é insuficiente
5. Os equipamentos utilizados no controle do tráfego
aéreo no Brasil são confiáveis?
Não. Os problemas começam
nas comunicações por rádio. O Brasil
tem mais de cinqüenta freqüências de rádio
para a comunicação entre os centros de controle
em terra e os aviões. No Cindacta 1, por exemplo,
nenhuma das freqüências funciona com 100% de
clareza o tempo inteiro. O trecho entre Brasília
e Manaus possui "áreas de silêncio",
em que as comunicações de voz ficam inoperantes
por até quinze minutos. Além disso os radares
têm zonas cegas. Mesmo na área do Cindacta
4, que utiliza a rede do Sistema de Vigilância da
Amazônia, o Sivam, de custo estimado em 1,4 bilhão
de dólares, há zonas na região amazônica
em que os radares não conseguem detectar os aviões
no céu. Como se não bastasse, os aeroportos
são deficientes. Segundo especialistas, a avaliação
de um aeroporto é feita com base em três itens:
pista, pátio de estacionamento de aeronaves e terminal
de passageiros. Nove dos vinte maiores aeroportos brasileiros,
que concentram 90% dos vôos no país, têm
problemas graves em um ou mais desses quesitos
6. Qual é o papel dos controladores de vôo
no atual caos da aviação civil?
Acuados pela suspeita de que o acidente
da Gol foi motivado por negligência do controle aéreo,
os trabalhadores do setor iniciaram no fim de 2006 um movimento
por melhores salários e passaram a denunciar suas
precárias condições de trabalho. Há
2.700 operadores de tráfego aéreo no Brasil,
na maioria militares - seriam necessários mais 800
para que o monitoramento dos aviões fosse feito de
forma segura. A conseqüência disso é que
esses profissionais ficam sobrecarregados e controlam mais
aviões do que o regulamento prevê. No final
de 2006, os controladores não precisaram fazer greve
de fato. Bastou-lhes apenas seguir os regulamentos de segurança,
diminuindo o número de aeronaves sob responsabilidade
de cada um, para que o caos se estabelecesse nos aeroportos
7. A desmilitarização do controle de tráfego
aéreo seria a solução para os problemas
dos operadores?
Uma das reivindicações dos
controladores de tráfego aéreo é justamente
a desmilitarização de sua função,
colocada em debate pelo ministro da Defesa Waldir Pires
após o início da crise. Fora das mãos
da Aeronáutica, o controle deixaria de ser a caixa
de segredos que é hoje. Alegando questões
de segurança nacional, os militares relutam em prestar
contas sobre um serviço que influi na vida de milhões
de brasileiros. Sob comando da Aeronáutica, também
não existe transparência sobre o destino das
taxas cobradas das companhias aéreas pelo serviço
de controle de tráfego. Taxas que, em última
análise, influem nos preços das passagens.
Para os operadores, a desmilitarização traria
benefícios imediatos. Como militares, eles estão
sujeitos às leis e à rotina do quartel. Não
podem questionar ou contrariar ordens superiores, sob risco
de punição. No entanto, tirar o controle aéreo
das mãos da Aeronáutica não é
bem visto entre comandantes militares e especialistas. Para
eles, a troca de chefia pode ser perigosa, pois facilitaria
a ocorrência de greves de fato, direito assistido
pela Constituição
8. Faltam recursos para administrar o setor de transporte
aéreo?
Não, eles são mal gerenciados.
O dinheiro para equipar melhor o tráfego aéreo
não depende de recursos orçamentários.
As taxas de embarque pagas pelos passageiros nos aeroportos
somam uma dinheirama que, em 2006, chegou a cerca de 950
milhões de reais. O Brasil tem a terceira tarifa
aeroportuária mais cara do mundo. Só que,
por determinação dos ministérios da
Fazenda e do Planejamento, a maior parte desse dinheiro
fica retida nos fundos Aeronáutico e Aeroviário,
a fim de aumentar o superávit primário nas
contas oficiais. Do Fundo Aeronáutico, que acumulava
até o fim de 2006 1,9 bilhão de reais, somente
17% foram efetivamente usados. Os erros de gestão
financeira são agravados por outras decisões
administrativas, como um acordo entre a Infraero e as companhias
aéreas feito no começo do apagão aéreo,
que passou a considerar atraso somente os vôos que
demoravam mais de uma hora para decolar.
9. As companhias aéreas também têm culpa
pela crise aérea?
Sim. Em primeiro lugar, porque junto dos
órgãos que administram o tráfego aéreo,
elas falham ao não garantir nem mesmo o mais elementar
dos direitos dos passageiros: ser informado sobre os problemas
e ter alguma previsão sobre os atrasos. Em segundo,
porque desrespeitam novamente seus consumidores ao insistirem
em vender mais passagens do que seus aviões podem
comportar
10. A crise aérea afeta somente o setor turístico
e os passageiros em férias?
Não, o turismo é um dos setores
menos prejudicados. Cerca de 70% dos passageiros da aviação
comercial brasileira viajam a trabalho. Além disso,
num país das dimensões do brasil e com estradas
lastimáveis, o transporte de mercadorias por avião
é vital para o bom funcionamento da economia. Por
último, mas não menos importante, deve-se
registrar que o caos nos aeroportos afeta diretamente a
classe média brasileira, da qual provém a
maior parte dos passageiros
11. Por que sempre que se fala em atrasos nos vôos,
o aeroporto paulistano de Congonhas recebe atenção
especial?
Congonhas é o maior aeroporto do
país em número de passageiros - 18,4 milhões
em 2006 - e de vôos - 600 por dia. Quando não
é o causador das ondas nacionais de atrasos de vôos,
o aeroporto localizado no meio do caos urbano de São
Paulo é o mais afetado por elas, e acaba refletindo
isso nos outros terminais do país. Ele trabalha há
anos acima de sua capacidade - poderia receber, no máximo,
12 milhões de passageiros por ano. Para piorar, desde
24 de janeiro de 2007, toda vez que a chuva forma uma lâmina
d'água sobre as duas pistas do aeroporto de 3 ou
mais milímetros de profundidade (a espessura de uma
moeda de 50 centavos), os pousos e as decolagens são
suspensos por questões de segurança. Cumbica,
em Guarulhos, e Viracopos, em Campinas, têm capacidade
imediata de absorver, respectivamente, 20% e 2% das operações
de Congonhas, mas em breve também precisariam ser
ampliados.
12. Qual seria o objetivo de instalar uma CPI do Apagão
Aéreo?
Deputados e senadores da oposição
lutam com os governistas pela abertura de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito para investigar a crise
no setor aéreo, deflagrada pelo acidente com o Boeing
da Gol no ano passado. A CPI tem o potencial de se transformar
em um importante instrumento de mobilização
política para finalmente resolver o caos aeroportuário.
Enquanto parlamentares se dedicarem diretamente ao assunto,
chamando também a atenção da população,
a crise tem mais chances de ser superada
13. Como solucionar o caos aéreo?
Não há soluções
prontas, mas existem medidas que poderiam ter sido adotadas
antes da crise estourar. Um bom começo seria a criação
de um plano aeroviário nacional que estabelecesse
uma política clara de reformulação
e reorganização da infra-estrutura aeroportuária.
Para isso, o governo precisa gastar menos em obras vistosas
como reformas milionárias de aeroportos - que são
sim necessárias, desde que conduzidas de forma transparente
- e mais no setor do tráfego aéreo que o público
não enxerga - como os centros de controle de vôo.
No caso dos rádios problemáticos,
uma saída para fugir das interferências é
substituir a comunicação via rádio
pela via satélite, solução que tem
funcionado até em países como a Costa Rica.
Sobre os controladores, desmilitarizados ou não,
é preciso formar e manter mais profissionais do que
exige a demanda no dia-a-dia dos aeroportos. Para além
das soluções pontuais que já foram
apontadas por diversos especialistas, o que falta mesmo
é agilidade do governo em reconhecer o desastroso
desempenho administrativo que ocasionou a leva de problemas
aeroportuários, e corrigi-los de forma a encerrar
este tormento rapidamente.
O Globo Online
27/03/2007 às 18h51m
Lula: após quebra da Varig,
aéreas não estão dando conta do recado
Geralda Doca, Chico de Gois e Luiza Damé
- O GloboO Globo Online, Reuters
BRASÍLIA - O presidente Lula deu novas explicações
para a crise no setor aéreo: depois de afirmar que
as autoridades não trabalharam em conjunto para resolver
o problema, ele disse que a maior parte do caos é
de responsabilidade das companhias aéreas . Segundo
Lula, o crescimento do setor de turismo e a crise da Varig,
resultou no controle do mercado por "duas empresas
(TAM e Gol)" que não têm dado conta do
atendimento de todos os passageiros
O presidente demonstrou irritação
com a crise aérea e disse ter cobrado das autoridades
envolvidas 'prazo, dia e hora' para solução
do caos aéreo. Antes das declarações
de Lula, no entanto, o presidente da Infraero, brigadeiro
José Carlos Pereira, afirmou que não sabe
o que originou os problemas no setor aéreo e que
não tem previsão para uma solução
.
- Já estou lendo muita coisa na
imprensa e vi que um fica culpando o outro - declarou Lula,
que admitiu a desarticulação do setor.
Em solenidade no Palácio do Planalto,
depois de um encontro com o primeiro-ministro da Itália,
Romano Prodi, Lula afirmou, durante entrevista, que cobrou
do Ministério da Defesa e das áreas envolvidas
com os aeroportos "prazo, dia e hora para anunciar
ao povo brasileiro que não vai ter mais problemas
nos aeroportos brasileiros".
O presidente detectou, sem dar nomes, uma
"culpabilidade das pessoas que tomavam conta dos aeroportos".
A Infraero é responsável pela administração
dos aeroportos, a Aeronáutica cuida, em grande parte,
do tráfego aéreo, e a Agência Nacional
da Aviação Civil (Anac), das empresas aéreas.
- Na reunião de hoje (terça-feira),
exigi um diagnóstico preciso - afirmou o presidente,
referindo-se à audiência no Palácio
com o ministro da Defesa, Waldir Pires, e os responsáveis
pelo setor.
- Não existe mais explicação
para a sociedade a não ser a solução.
Para Lula, o governo tem de dar tranqüilidade
aos passageiros, sejam brasileiros ou estrangeiros.
O presidente observou que quando se está
a dez mil metros de altura há que se ter tranqüilidade
de que quem está na terra "cuidando da gente
está fazendo o melhor porque tem bons equipamentos
e condições de trabalho".
Antes da entrevista de Lula, o presidente
da Infraeroa já tinha afirmado que os vôos
que saem do chão são seguros para os passageiros:
– Avião decolado é
avião seguro. Agora a solução final
passa para isso (atrasos), quando nós vamos realmente
voltar àqueles tempos pré-acidente, isso aí
passa por um trabalho bem mais extenso - afirmou o brigadeiro
José Carlos Pereira, que disse ainda que, antes do
acidente da Gol, em setembro do ano passado, não
havia atrasos.
Nesta terça-feira, os aeroportos
tiveram uma manhã tranqüila depois de um fim
de semana com muitos atrasos.
O Globo Online - Aviação
Enviado por Ancelmo Gois
27.3.2007 -| 15h04m
Tá quente
Voltou a esquentar o negócio da compra da Nova Varig
pela Gol. A idéia é só usar a marca
da Varig nas linhas internacionais.
Para não contaminar as contas da
empresa da barra de cereal, a aquisição seria
feita por outra companhia da família Constantino,
dona da aviadora.
O anúncio da venda deve sair em
uma semana.
O Dia Online
27/3/2007 14:17h
Lula cobra 'dia e hora' para o fim
da crise nos aeroportos
Brasília - O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva cobrou hoje um diagnóstico completo
da crise do sistema de aviação brasileiro.
"Quero prazo, dia e hora para anunciar ao Brasil que
não vai ter mais problema nos aeroportos brasileiros",
disse o presidente, em entrevista coletiva, no Palácio
do Planalto, ao lado do primeiro-ministro da Itália,
Romano Prodi.
De manhã, Lula havia convocado uma
reunião, que ainda está sendo realizada no
Palácio Planalto, para tratar da crise no sistema
aéreo. Participam da reunião o ministro da
Defesa, Waldir Pires, e os presidentes da Empresa Brasileira
de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), José
Carlos Pereira, e da Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac), Milton Zuanazzi.
O presidente Lula participou da primeira
parte da reunião, antes de cumprir compromissos de
trabalho com o primeiro-ministro italiano.
Nesta segunda, José Carlos Pereira
se reuniu com Waldir Pires para entregar relatório
detalhando as conclusões da sindicância aberta
pela estatal, que controla os aeroportos, sobre as falhas
ocorridas no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP), durante
o fim de semana. Pereira disse que o documento relata “minuto
a minuto” os problemas ocorridos no aeroporto e isenta
a Infraero de qualquer responsabilidade.
Em 25 de fevereiro, o sistema ILS Cat 2
(que permite aos controladores de tráfego aéreo
trabalhar com pouca visibilidade) foi atingido por um raio.
Os equipamentos foram consertados, mas não puderam
entrar em operação, já que o avião
da FAB que faria o teste, no dia 5 de março, teve
o trem de pouso quebrado. Com isso, um nevoeiro em Guarulhos,
no fim de semana, causou atrasos que repercutiram em todos
os aeroportos do País.
Com informações da Agência Brasil
O Tempo
Terça-feira, 27 de Março de 2007, 00h01
PAULO NAVARRO - Março agitado
CURTAS & FINAS
• Fonte da coluna, diretamente ligada a Constantino
Jr., revelou-nos que o martelo já foi batido. O amigo
jura de pés juntos que a compra da Varig, pela Gol,
aconteceu no fim de semana.
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