::::: RIO DE JANEIRO - 27 DE JULHO DE 2007 :::::

 

Coluna Claudio Humberto
27/07/2007
Os assentos sumiram

O apagão aéreo resulta de grave crise de gestão, mas sua origem está nos 17 milhões de assentos anuais que desapareceram da tela com a finada Varig. Mesmo com todos os problemas, muitos deles criados por ela mesma, a Varig puxava a excelência dos serviços em terra e no ar. E o que restou, depois dela, foi ganância e imprudência das empresas, incompetência e omissão do governo, e prejuízo e mortes de passageiros.

 

 

Tribuna da Imprensa
27/07/2007
E, no entanto, as nuvens continuam carregadas
"O homem que cometeu um erro e não o corrige comete um erro ainda maior". (Confúcio, pensador chinês - 551 a.C a 479 a.C)
Pedro Profírio

Se não fosse pelas vítimas fatais, pelo clima de consternação e dor que cortou o País como um raio flamejante, eu diria simplesmente: bem feito - o governo está colhendo o que plantou. Essa crise aérea, que está longe do fim, é a mais deprimente pantomima de uma ópera bufa, cujos atores leram o script, mas, por aprendizes de feiticeiros, renderam-se ao improviso de "cacos" de mau gosto.

Agora que qualquer emenda será pior do que o soneto, porque as mãos atadas não lhes permitirão sequer alcançar a perspicácia da jornalista Tereza Cruvinel, que foi às raízes da crise na captação do depoimento sereno do comandante Élnio Borges, uma enciclopédia viva da aviação comercial brasileira, tudo leva a crer que o máximo que conseguem fazer é trocar seis por meia dúzia, como bem sentenciou Fernando Gabeira.

Pelo que temos escrito aqui nesta TRIBUNA DA IMPRENSA, a partir de Helio Fernandes, testemunha ocular da história, nada nos surpreendeu. E, o que é mais doloroso, pelo que intui o caminho já percorrido, a observação aguda de cada gesto e cada palavra, do abuso crônico da ignorância, lamento ter de alertar: o pior está por vir.

Ministro da Defesa? Para quê? Para triturar homens da estatura moral de um Waldir Pires, jogado fora como um bagaço de laranja? Começa por aí: a criação desse ministério fantasma é muito mais do que "uma vingancinha do então presidente Fernando Henrique Cardoso contra os militares", que me perdoe o caro colega Carlos Chagas.

É a execução de uma encomenda diabólica, urdida nas cartolas dos capachos de David Rockfeller e sua mega ONG, o tal "Diálogo Interamericano", gerada em 1982 para repensar a dominação do Hemisfério Sul num kit que inclui a desnacionalização da Amazônia e o rebaixamento das Forças Armadas Nacionais a um nível de subordinação e amesquinhamento paralisantes.

O que o polifacético gaúcho fará que o baiano sonhador não ousou fazer? Já não basta a ignomínia da sagrada comenda colada ao peito de quem mais contribuiu para nos arrastar ao submundo de ares nunca dantes navegados? A quem convence esse blefe de novo premier quando o "afilhado" da poderosa companheira já fez o estrago e ganhou uma prebenda que desce redondo na garantia de um doce mandato de cinco aninhos intocáveis?

Medo das nuvens

Não me surpreende igualmente que o nosso estadista tenha confessado o seu medo das nuvens, coisa que muitos já diziam com o acréscimo de fofocas maldosas. Tanto que ele tratou de comprar o seu avião de estimação novinho em folha, aliás, por inocente coincidência, do mesmo torno da frota que já transporta os barbudinhos em seus deleites e conclaves.

No seu panegírico ao novo titular, ainda nesse clima pesado em que corações sangrando percorrem o calvário da identificação dos seus mortos, nosso presidente recorreu a sua fleugma inconfundível, buscando seguir o inesquecível ensinamento da boa burguesa de sua plêiade.

Ora, por que essa palrice? Isso me dá até calafrio e, de repente, num sopro andino, alcança-me a lembrança da greve dos caminhoneiros que forneceu o veneno para o golpe que tirou do poder Salvador Allende, outro sonhador de moral inatacável.

Exagero na dose? Talvez, faz parte. Puseram asas nos caminhões e engendraram um padrão de segurança tão precário que o próprio presidente da República entrega a alma a Deus toda vez que fecha a porta do seu bem cuidado Airbus (que afinal, dizem, também pousa em Congonhas).

E sabe por que todo esse clima que está despejando muitos vips na estrada? Aí é que está. Helio Fernandes já descreveu e repetiu com todas as letras a crônica dessa farra lúgubre que nos faz apelar ao pai nosso que está no céu. Esse aparelho que perdeu os freios em Congonhas já era sambado, com fartas vinte mil horas de vôos, antes mesmo de vestir a camisa da companhia brasileira que entende mais dos mapas da mina do que das cartas aéreas.

Só com a Varig de volta

O que vou dizer agora é definitivo, sem sombra de dúvidas, sem titubear: se o governo quiser reabilitar a confiança nos transportes aéreos, que representam uma demanda de 57 milhões de passageiros por ano, tem de pôr os pés no chão e refazer tudo.

Não dá para repetir a mise-en-scène que entregou o ouro ao bandido e a nossa sorte a Deus com a desfiguração do vôo comercial. Remunerar o investimento é de lei e isso não se discute no regime capitalista. Mas fazer dessa busca a única razão de ser de uma atividade que mete medo até no presidente, aí é abusar da sorte.

A salvação da lavoura está nos 80 anos da Varig e da comprovada competência e exemplar escrúpulo de seus profissionais, de longe, sem menoscabo dos colegas, indispensáveis à sobrevivência da competitividade estrutural das asas brasileiras.

Se o governo quiser realmente resgatar o sistema que já foi modelar, precisa trazer de volta o pessoal da Varig, que acumulou o devido saber para uma gestão própria e racionalizada, sem prejuízo dos itens essenciais da aviação comercial.

E para tanto, pasmem, não carece fazer mágica. Basta pagar o que deve, conforme decisão do STJ após 15 anos de processo. E isso não importa em meter a mão no bolso de cara. Os trabalhadores do Grupo Varig, através de suas lideranças, entregaram nas mãos do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, na minha frente, uma fórmula simples, rápida e juridicamente sustentada, que asseguraria em semanas o fim dessa macabra diáspora, que já nos fez sumirem mais de 400 pilotos, desgarrados mundo afora.

É isso, saibam todos: só com o reagrupamento do mais exigido plantel da aviação brasileira teremos reconstituídos os parâmetros essenciais de um sistema que não pode ser degenerado com o predomínio de ônibus que voam.

Não há como pegar um avião onde as comissárias tiveram seu padrão salarial nivelados aos de empregadas domésticas e os pilotos, também equiparados por analogia a barras de cereal, são obrigados a serem dublês de si mesmos, carregando na consciência o peso de centenas de vidas que dependem unicamente de sua perícia e sorte ao precipitar do primeiro chuvisco.

A mais, cabe cair na real e refazer também as colunas institucionais. Num regime democrático de direito, mais do que um ministério para diletantes, é preciso fortalecer as instituições sólidas, como as Forças Armadas, arcabouços da independência nacional, repondo-as no patamar de onde poderão oferecer o melhor de sua engenharia.

Tanto como no caso da demolição dos pilares da aviação comercial, não se faz um país como o Brasil continental sem o reforço motivado de suas fardas.

 

 

O Estado de São Paulo
27/07/2007
Sem poder para demitir, Lula pede aos 5 diretores da Anac que saiam
Pela lei, mandatos na agência são fixos, mas presidente considera afastamento essencial para arrumar setor aéreo


Sem poder legal para afastar a diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez avisar aos cinco diretores da agência, donos de mandatos fixos, que gostaria de que eles pedissem demissão. Segundo assessores do Palácio, Lula não vai passar por cima da legislação, mas já mandou recado que ''''espera um gesto'''' da diretoria, uma vez que a Anac virou uma protagonista da crise aérea.

Caso a renúncia coletiva da direção não ocorra, Lula vai discutir com o novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, o que poderá ser feito, na tentativa de facilitar a reorganização do setor aéreo. Depois de se referir à Anac como um ''''problema legal'''', Jobim assumiu o cargo ontem afirmando que o modelo da agência engessa o setor. Ele defende a tese de que não se pode universalizar o conceito de agência reguladora e está disposto a discutir com o Congresso eventuais mudanças.

''''Vou examinar, estudar e ver se a modelagem da Anac serve para a aviação brasileira. Se precisar alterar, vamos alterar'''', afirmou o ministro. ''''Não podemos ficar engessados.'''' O governo, no entanto, ainda não está decidido a articular com o Congresso uma modificação na lei que criou a Anac para permitir a demissão dos dirigentes.

Para o ministro, existe uma ''''generalização'''' na questão das agências, embora, a seu ver, o modelo genérico de órgão regulador pode não servir para todos os setores da economia. ''''Eu me pergunto se o modelo de agência deve ser igual para todas as áreas. Não tenho noção clara, mas terei'''', disse Jobim, que quer se encontrar, nos próximos dias, com o presidente da Anac, Milton Zuanazzi - cujo mandato vai até 2011.

Na entrevista de ontem, o novo ministro evitou críticas à indicação de Zuanazzi, que é afilhado político da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia. Jobim adiantou apenas que não aceitará indicações com origem em interesses partidários.

Enquanto as mudanças na agência não acontecem, a determinação de Lula é de que o Conselho Nacional de Aviação Civil (Conac) se reúna pelo menos uma vez por semana para acompanhar a execução, pela Anac, das medidas que o governo considera fundamentais para a melhoria do setor aéreo. A próxima reunião já está marcada para segunda-feira. No fim de semana, o presidente Lula já deverá receber do novo ministro a primeira radiografia do setor.

Nas conversas com auxiliares e interlocutores, o presidente Lula mostrou-se ''''aliviado'''' e ''''muito agradecido'''' a Nelson Jobim por ter aceito o cargo no momento mais grave da crise. Por isso mesmo, já avisou, terá ''''carta branca'''' e ''''autonomia'''' para agir e não será pressionado. Lula mostrou-se, também, ''''muito preocupado'''' com a forma como Waldir Pires saiu do governo. Há uma possibilidade até de ele ser aproveitado no governo da Bahia, comandado pelo petista Jacques Wagner.

Lula pediu a Jobim que vá hoje ao Instituto Médico-Legal de São Paulo, onde está sendo feito o reconhecimento dos corpos do acidente com o Airbus da TAM. O presidente mostrou-se, segundo interlocutores, ''''consternado'''' com o sofrimento dos familiares das vítimas. Ele confidenciou que gostaria de entender exatamente por que está demorando tanto o trabalho de identificação das vítimas. Para ele, isso leva a um ''''segundo sofrimento''''.

AÇÃO DA OAB

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) iniciou ontem estudo para ingressar na Justiça com ação civil pública pedindo a exoneração da diretoria da Anac por improbidade administrativa. O presidente da instituição, Cezar Britto, aguarda parecer da Comissão Especial de Defesa do Consumidor do Conselho Federal da OAB para tomar a medida.

Em fase de elaboração pelo presidente da comissão, Winston Neil Alencar, o parecer deverá estar pronto até segunda-feira. ''''A ação deve ser baseada no descumprimento da lei que instituiu a Anac e no desconhecimento técnico da área por seus diretores, conforme demonstra o caos aéreo'''', disse.

Autor da proposta, ele argumenta que a ação civil pública tem fundamento, principalmente, porque os diretores da Anac, incluindo seu presidente, não têm embasamento técnico para a função, conforme determina a lei que criou o órgão.

O Estado publicou reportagem ontem mostrando que apenas um dos cinco principais diretores da Anac é do setor aéreo. Os outros cargos foram preenchidos por indicação política ou apadrinhamento.

Segundo Alencar, outra agravante é que a Anac também não vem cumprindo suas funções. ''''Se for bem observado o depoimento de Zuanazzi à CPI do Apagão Aéreo, ele sustenta que a Anac apenas homologa o serviço de verificação da pista do aeroporto pela Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária), mas não faz a liberação, que é decidida pela Infraero'''', observou. ''''Essa revelação é um absurdo, uma confissão de afronta à lei que criou a agência. O poder de fiscalizar é da Anac. Ela tem de fiscalizar para prevenir a ocorrência de fatos graves, como o acidente da TAM'''', afirmou.

 

 

Jornal do Brasil
27/07/2007
Enquanto a Anac não age...
Kayo Iglesias

A falta de atitude da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) nove dias depois da maior tragédia da aviação brasileira fez o governo e o Ministério Público do Trabalho passarem por cima do órgão e iniciarem uma devassa nas empresas do setor. Ontem, o ministro da Justiça, Tarso Genro, determinou que a Polícia Federal (PF) apure o desrespeito das companhias aos direitos do consumidor. Enquanto isso, a procuradora-geral do Trabalho, Sandra Lia Simón, montou uma força-tarefa para investigar a não-obediência às leis trabalhistas.

Na prática, o excesso de trabalho somado ao medo fez com que funcionários da TAM abandonassem o avião e o emprego. Uma comissária de bordo que se demitiu esta semana, depois de seis meses na TAM, é categórica:

- Na TAM, está todo mundo muito cansado. Pedi demissão porque não estava agüentando o ritmo de trabalho, e não vou esperar acontecer outra tragédia.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) também começa a enviar representantes para vasculhar documentos em três aéreas: TAM, Gol e BRA. A força-tarefa foi montada devido ao aumento do volume de denúncias depois da tragédia.

Procuradores reuniram-se ontem com representantes dos sindicatos dos aeronautas e dos aeroviários, a fim de confirmar denúncias de desrespeito às leis trabalhistas.

De acordo com Marco Reina, diretor do Sindicato Nacional dos Aeronautas, as jornadas de pilotos e comissários, que, pela lei, devem ser de 11 horas, chegam a durar 18. Há até relatos de que empresas obrigam tripulantes a assinar o livro de bordo com horário errado, sem contar o tempo extra, conta ele.

- Quando as companhias compraram aeronaves e passaram a operar mais vôos, mas não contrataram profissionais com a velocidade suficiente, passaram a forçar a barra com os tripulantes que tinham - disse.

O desrespeito ao consumidor também é visível nos aeroportos. Cansados de esperar nas filas, passageiros que pediam reembolso do bilhete recebiam a mesma resposta.

- Fiquei sabendo agora que meu vôo foi cancelado, que só vou receber meu dinheiro em 30 dias e que a empresa não dá uma ajuda pra gente voltar de ônibus - reclamava um deles, em Guarulhos.

O Código Brasileiro de Aeronáutica prevê, em caso de atraso de mais de quatro horas, reembolso imediato do valor da passagem e que a empresa providencie transporte e hospedagem a suas custas.

A mando da Secretaria Nacional de Direito Econômico - subordinada à pasta de Tarso Genro - a PF realizou ontem operação-padrão em Guarulhos e no Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília, para pressionar oito empresas a cumprir o Código de Defesa do Consumidor e garantir direitos dos passageiros.

- O ministro Tarso Genro entendeu que as medidas tomadas pela Anac foram insuficientes. Ele decidiu ser mais enérgico. O sistema nacional de defesa do consumidor está inserido no âmbito da pasta dele - disse Mariana Tavares, secretária nacional de Direito Econômico.

Desde 20 de julho, a secretaria investiga a TAM. Na devassa, outras sete empresas entraram na lista: Gol, BRA, Varig, Ocean Air, Pantanal, Total e Passaredo. Segundo Mariana, as companhias que descumprirem o código podem receber multa de até R$ 3 milhões.

 

Jornal do Brasil
27/07/2007

OAB pede a demissão de diretoria da agência de aviação
Luiz Orlando Carneiro, Brasil Digital

BRASÍLIA. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Cezar Britto, informou ontem que a entidade vai ingressar na Justiça federal com ação civil pública para que seja exonerada toda a diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), presidida por Milton Zuanazzi, por "improbidade administrativa". A medida foi proposta pelo presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB, conselheiro Winston Neil Bezerra de Alencar, e terá como fundamento o "descumprimento da lei que instituiu a Anac e o desconhecimento técnico da área por seus diretores, conforme demonstra o caos aéreo dos últimos 10 meses, que culminou com a tragédia do avião da TAM, em Congonhas".

O conselheiro Winston Neil lembra que a Lei 11.182/05, que criou a Anac, no artigo 12, exige que os diretores da agência - além de "reputação ilibada e formação universitária", tenham "elevado conceito no campo de especialidade dos cargos para os quais serão nomeados pelo presidente da República". O artigo 14 da mesma lei dispõe que os diretores "somente perderão o mandato em virtude de renúncia, condenação judicial transitada em julgado, ou de pena demissória decorrente de processo administrativo disciplinar".

Para o conselheiro da OAB Winston Neil, a Anac também não vem cumprindo suas funções, se confrontada a legislação que disciplina as agências reguladoras com os fatos ocorridos na crise aérea, especialmente no que se refere ao acidente com o vôo 3054.

- No depoimento de Milton Zuanazzi à CPI do Apagão Aéreo, ele sustenta que a Anac apenas homologa o serviço de verificação da pista do aeroporto pela Infraero, mas não faz a liberação, que é decidida pela Infraero - ressaltou ainda o presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB. - Trata-se de uma confissão de afronta à lei que criou a agência. Quem tem o poder de fiscalizar é a Anac. Assim, ela não pode deixar liberar a pista, sem verificar se ela está realmente em condições.

O presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB salientou, ainda, que há precedentes nessa linha de ação civil pública. Recentemente, segundo ele, o Ministério Público ingressou com sucesso com ação civil, pública contra dirigentes do Procon de Governador Valadares, Minas Gerais, por improbidade administrativa, "porque eles não cumpriam aquilo que a lei determina".

 

 

Jornal do Brasil
27/07/2007
Opinião: A Lei dos Ventos
José Sarney, ex-presidente da República, senador e integrante da Academia Brasileira de Letras

Voar é uma antiga e sedutora ambição do homem. Deus tinha dado asas aos anjos e as tinha negado a Adão.

Na mitologia criamos deuses alados e até o nosso pequeno Eros, deus do amor, tinha uma flecha na mão, para dizer do seu poder de romper corações, mas, também, pequeninas asas, para mostrar que era fugidio e podia locomover-se como os pássaros e pousar em qualquer lugar.

Ícaro é uma das mais belas lendas criadas pela imaginação humana. O Livro VIII das Metamorfoses de Ovídio conta como Dédalo, o arquiteto que tinha feito o labirinto para aprisionar o Minotauro (aquele monstro touro-homem), caiu em desgraça com Minos, um rei que dominava o mar e a terra, mas não tinha poder sobre o ar. Dédalo fez para si e seu filho Ícaro asas com penas de todos os tamanhos e de todas as aves. E ganhou os ares, como os pássaros. Pediu a Ícaro que o seguisse, voasse baixo. Atraído pela beleza do infinito, este desobedeceu o pai e voou mais alto. Aproximando-se do sol, Ícaro viu derreter a cera que sustentava suas penas, e caiu. Ficou o símbolo da ânsia de voar e o perigo de não ser ave.

O homem tornou realidade esse sonho e um brasileiro, Santos Dumont, foi bandeirante dessa transformação. Criaram-se máquinas cada vez mais seguras e potentes e fez-nos capazes de andar por todos os ares e resistir àquela Lei dos Ventos (correntes em grandes altitudes com velocidades incríveis) que Leonardo da Vinci, na sua genialidade, descobrira somente com a imaginação. Os pilotos conhecem bem esses ventos que ajudam quando são de popa e prejudicam quando são de proa.

Mas, no Brasil de hoje, não são os aviões nem os ventos que nos devolvem os receios de voar, não são as nuvens nem as turbulências, mas o que ocorre aqui em terra. Construíram-se shopping centers nos terminais de embarque e desembarque, mas nos esquecemos de que avião pousa é em pista e não nas lojas de tax free. Que eles são orientados e navegam com a ajuda de aparelhos sofisticados, radares, ILS e outros. Mas nos esquecemos de comprá-los. Deixamos morrer algumas companhias aéreas e ficamos reduzidos a duas, novatas, sem vivência maior do setor. Os órgãos públicos afrouxaram a fiscalização e controle, descuidando da segurança. O fim do DAC, antes que estivéssemos preparados para isso, talvez tenha sido um erro. Mal com ele, pior sem ele.

E nesse caos nasce uma esperança concreta: o espírito público de Nelson Jobim aceitando o Ministério da Defesa e segurando Ícaro, para que ele não se aproxime do sol. Comando é a palavra chave. E ele tem pulso e experiência para isso.

 

Folha de São Paulo
27/07/2007
Mecânico fez última vistoria em 15 minutos
Técnico que fez a última inspeção no Airbus da TAM não identificou problemas, a não ser o fato de um reversor estar inoperante
Com 12 anos de experiência no ramo, profissional se exime de culpa no acidente: "Meu trabalho tinha sido feito de forma correta"

KLEBER TOMAZ DA REPORTAGEM LOCAL

A última inspeção no Airbus-A320 da TAM no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre (RS), durou 15 minutos. O único mecânico responsável por vistoriá-lo verificou mais de seis áreas contendo cerca de 80 itens -esses e os 20 restantes foram analisados pelo computador da aeronave. Segundo especialistas, uma inspeção dura de 15 a 40 minutos.

Localizado pela Folha, ele aceitou falar, por telefone, sob a condição de que seu nome não fosse publicado. A conversa foi gravada.

Com 12 anos de experiência em manutenção de aviões, o mecânico de 36 anos não identificou nenhum problema nas asas, no trem de pouso, nos freios, no motor, nos pneus nem qualquer vazamento -exceto o fato de o reversor direito estar inoperante, o que, segundo o fabricante, não compromete a decolagem ou o pouso.

Também não ouviu queixas dos pilotos. Eles conversaram sobre combustível -10 mil litros de querosene foram colocados no tanque.

A autorização para liberação da aeronave é assinada pelo co-piloto Kleyber Aguiar Lima, 54, e pelo mecânico -o documento foi obtido pela reportagem.

O mecânico ainda se despediu do comandante Henrique Stephanini Di Sacco, 52, que lhe disse: "Até logo. Boa noite!".

Piloto e tripulação, a quem ele já conhecia, estavam preocupados com o atraso. O vôo JJ 3054 deveria ter partido às 16h45, segundo o mecânico, mas só decolou às 17h16 do dia 17, uma terça-feira com chuva em Congonhas, aeroporto de São Paulo, destino do Airbus.

"Todos choramos"

Casado há 11 anos, o mecânico, que gosta de montar maquetes de aviões, terminou seu turno às 18h, pegou o carro e foi buscar os dois filhos -uma menina de 5 anos e um garoto de 7- que participavam de uma festa para os avós na escola.

Duas horas e 44 minutos após ter visto o jato partir, o homem que já perdera dois amigos pilotos em acidentes aéreos recebeu o telefonema de um colega mecânico.

O amigo perguntou se ele dirigia e sugeriu que estacionasse o carro. Então, disse: "A aeronave que você inspecionou caiu em cima de um posto de gasolina em São Paulo e morreu todo mundo". O mecânico foi à casa da mãe. Viu o noticiário pela TV. Ela estava desesperada na sala. Ali mesmo, ele a abraçou com os filhos e a mulher.

"Chorei. Todos choramos", contou. "Entrei em choque."

O profissional está há um ano e meio na TAM e recebe R$ 2.047 de salário. Contou ter sido afastado por tempo indeterminado pela empresa. "Atualmente não tenho condições [psicológicas] de voltar ao trabalho." Afirmou ter acompanhamento psicológico e tomar calmantes. A TAM disse que todos os funcionários do dia da inspeção no Airbus trabalham.

O mecânico se exime de qualquer suposta culpa no acidente. "Meu trabalho tinha sido feito de forma correta", disse ele, que tirou brevê de piloto em 1996 e já foi engenheiro de vôo da Varig Rio Sul. "Já conjeturei umas 300 possibilidades. Para mim, foi aquaplanagem."

 

 

Folha de São Paulo
27/07/2007

Com problemas, Airbus-A320 da TAM não decola
DA AGÊNCIA FOLHA

Problemas detectados em um Airbus-A320 da TAM impediram a decolagem da aeronave, anteontem, no aeroporto de Aracaju (SE). O avião, que havia partido no fim da tarde de Maceió (AL) com destino a São Paulo, fazia escala na capital sergipana, de onde deveria decolar por volta das 20h30.

Segundo o professor André Lopes Loula, 33, que estava no avião, o argumento da companhia aérea para que o vôo não tivesse prosseguimento foi que os computadores de bordo estavam com problemas.

À Folha a TAM informou ontem que a aeronave teve que passar por "manutenção corretiva não programada". Não disse, entretanto, se os problemas estavam nos computadores.

De acordo com Loula, os passageiros ficaram apreensivos quando o comandante do vôo anunciou que, devido a problemas, a aeronave não teria "condições de voar".

O modelo do avião era o mesmo do acidente em Congonhas.

Segundo Loula, os passageiros que estavam em Aracaju já haviam embarcado, mas a aeronave continuou parada por aproximadamente uma hora.

"A gente começou a notar o movimento dos mecânicos embaixo do avião e percebeu que tinha algo estranho. Já estava escuro e ficamos apreensivos. Só ficamos sabendo que tinha um problema no avião depois de mais de uma hora", disse.

 

 

Mercado e Eventos
26/07/2007 - 16:10h
Varig cancela vôos por tempo indeterminado

Atendendo à determinação das autoridades, a Varig está reduzindo o volume de pousos e decolagens no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. A companhia confirmou hoje (26/07) a suspensão de alguns vôos visando diminuir os transtornos vividos nos últimos dias pelos passageiros. A partir da próxima segunda-feira (30/07) será liberada a venda de bilhetes de e para Congonhas para vôos com embarques.

Confira a seguir os vôos suspensos:

RG 2052 - São Paulo (Congonhas)/ Belo Horizonte (Confins) - 9h40/10h45
RG 2055 - Belo Horizonte (Confins)/ São Paulo (Congonhas) - 11h20/12h33
RG 2409 - São Paulo (Congonhas)/ Rio de Janeiro (Santos Dumont) - 8h35/9h25
RG 2412 - Rio de Janeiro (Santos Dumont)/ São Paulo (Congonhas) - 9h55/10h55
RG 2447 - São Paulo (Congonhas)/ Rio de Janeiro (Santos Dumont) - 19h10/20h10
RG 2450 - Rio de Janeiro (Santos Dumont)/ São Paulo (Congonhas) - 20h35/21h30

 

Mercado e Eventos
26/07/2007 - 14:23h
Mais de 65% dos passageiros pretendem voltar a voar pela Nova Varig

Segundo pesquisa feita pela Nova Varig, 68% dos passageiros pretendem voltar a voar pela empresa. A frota atual de 18 aviões da companhia ganhará mais oito 767-300 e cinco 737-800 NG até dezembro. Outros seis 737-300 serão incorporados no próximo ano.