Jornal
do Brasil
27/03/2007
CPI: Campanha diária nos aeroportos
Duilo Victor
Deputados fluminenses favoráveis
à criação da CPI do Apagão Aéreo
estiveram ontem nos aeroportos do Rio, São Paulo
e Curitiba para promover um abaixo-assinado entre passageiros.
No Rio, o deputado federal Otavio Leite (PSDB-RJ) foi ao
saguão do Aeroporto Santos Dumont.
- A justificativa dos deputados governistas
para evitar a CPI é que não existe fato determinado
a ser investigado, mas hoje mesmo há vários
vôos atrasados. Há uma fartura de problemas
que precisam ser expostos e explicados.
Leite criticou também a execução
orçamentária do Fundo Aeronáutico nos
três primeiros meses do ano. Segundo informou o JB
em reportagem do dia 21, apenas 1% do dinheiro para a rubrica
Segurança de Vôo e Controle do Espaço
Aéreo Brasileiro. Para o ano todo, o caixa disponível
é de R$ 550 milhões:
- Há carência de planejamento
de recursos e falta de manutenção de equipamentos
- afirmou Otavio Leite.
Em Curitiba, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR)
comandou a campanha de recolhimento de assinaturas. E o
deputado tucano Wanderley Macris fez o abaixo-assinado em
São Paulo.
Entre os passageiros que assinaram o manifesto,
o técnico em telecomunicações Alexandre
Pedro Nepomuceno, 48 anos, usou um exemplo prático
para explicar por que participa do movimento:
- Voltava de Salvador para o Santos Dumont,
mas, depois de chegar no Aeroporto Tom Jobim, tive de fazer
uma escala em São Paulo para, finalmente, chegar
ao aeroporto. Há um excesso de conexões para
poucos recursos.
A crise
interminável
- 29 de setembro - Cai o avião da
Gol matando 154 pessoas
- 27 de outubro - Depois de a Polícia
Federal convocar controladores de vôo a depor sobre
o acidente, a categoria começa a fazer Operação
Padrão
- 2 de novembro - Feriado de caos em aeroportos
de todo o país. Mais de 600 vôos atrasam
- 5 de novembro - Para impedir que o caos
se instalasse na volta do feriado, a Aeronáutica
aquartela todos os controladores de vôo de Brasília
- responsáveis por mais de 75% dos vôos de
todo o país. Os atrasos acabam
- 13 de novembro - Na antevéspera
do feriado da Proclamação da República,
controladores fazem nova operação-padrão.
A Aeronáutica volta a aquartelar controladores durante
o feriado
- 21 de dezembro - Começa o suplício
dos clientes da TAM. A empresa vendeu mais passagens do
que a capacidade de seus aviões permitia. A situação
se agrava depois de seis aeronaves da empresa entrarem em
manutenção ao mesmo tempo. Vôos da TAM
atrasam, em média, três horas nos dias que
antecedem o Natal
- 22 de dezembro - A Força Aérea
Brasileira (FAB) transporta passageiros da TAM retidos em
aeroportos de todos o país. A Agência Nacional
de Aviação Civil (Anac) proíbe a venda
de passagens da TAM
- 28 de dezembro - Depois do caos do Natal,
a Anac tira da manga um plano de emergência para impedir
atrasos no reveillon. A agência auditou o sistema
de venda de passagens de todas as companhias, para evitar
overbooking, e proibiu mudanças de rotas e horários
de vôos durante o feriado. Além disso, exigiu
que as empresas deixassem aviões de reserva em aeroportos
estratégicos
- 31 de dezembro - Os atrasos diminuem
na véspera de ano novo
- 13 de janeiro - Pane no sistema de comunicação
do Centro de Controle de Curitiba atrasa 30% dos vôos
do país
- 17 de janeiro - Infraero fecha Aeroporto
de Congonhas depois de derrapagem de avião da Varig.
Aeronáutica determina fechamento do aeroporto toda
vez que chover
- 20 de fevereiro - Para evitar nova Operação-Padrão
dos controladores de vôo durante o Carnaval, o ministro
da Defesa promete à categoria desmilitarizar o setor
em um mês. Com isso, evita atrasos no feriado
- 18 de março - Com o prazo dado
pelo ministro perto do fim, os atrasos voltam a ocorrer.
Dessa vez, uma pane no sistema de comunicação
de Brasília é apontada como a responsável
pelo apagão
- 21 de março - Centro de controle
de Curitiba sai do ar. Aeronáutica não informa
as causas
- 24 de março - Aeroporto de Cumbica,
em Guarulhos, fecha por seis horas depois de o equipamento
que auxilia pousos e decolagens pifar. O problema continua
por três dias.
O Estado de São Paulo
27/03/2007
Cumbica ficou 1 mês sem poder
receber pousos sob nevoeiro
Pelo 3.º dia, aeroporto teve
atrasos; motivo: equipamento para aterrissagens estava inoperante
desde 25 de fevereiro
Bruno Tavares, Camilla Rigi e Tânia
Monteiro
O Aeroporto Internacional de Cumbica, em
Guarulhos, na Grande São Paulo, ficou quase um mês
sem um dos equipamentos que auxiliam os aviões a
aterrissarem sob neblina. Danificado por um raio em 25 de
fevereiro, só ontem à tarde o ILS (sigla em
inglês para Sistema de Pouso por Instrumenomento)
voltou a funcionar. Mais cedo, o nevoeiro levou ao fechamento
do aeroporto por pouco mais de duas horas, provocando, pelo
terceiro dia consecutivo, atrasos nos vôos. Só
em Cumbica, foram afetadas 90 das 450 operações
previstas para ontem. No País, houve registro de
15% de atrasos superiores a uma hora.
Inconformado com o fato de a crise aérea
apresentar, a cada dia, novos ingredientes, o presidente
da República, Luiz Inácio Lula da Silva, convocou
o ministro da Defesa, Waldir Pires, para dar explicações.
Ouviu de Pires que, desta vez, a causa foi a queima do ILS
instalado na pista 9 direita de Cumbica. Embora o aeroporto
possua similares, o equipamento defeituoso é o único
capaz de auxiliar o pouso de aeronaves em condições
mais críticas de visibilidade (teto de 30 metros).
Oficialmente, a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura
Aeroportuária (Infraero) - estatal que administra
os aeroportos - e a Aeronáutica - responsável
pela homologação dos equipamentos aeronáuticos
- apresentaram versões diferentes para o mesmo fato.
A Infraero informou que, após o raio, fez os reparos
no equipamento em três dias e solicitou a vinda do
Grupo Especial de Inspeção em Vôo (Geiv),
órgão ligado ao Departamento de Controle do
Espaço Aéreo (Decea).
A equipe esteve em Cumbica entre os dias
3 e 5 março de março e, segundo a Infraero,
constatou novas falhas no ILS. Durante os testes, no entanto,
o trem de pouso do avião-laboratório modelo
HS-800 utilizado pela Aeronáutica quebrou. “Quando
isso acontece, as aeronaves iguais a essa têm de passar
por uma revisão. É norma internacional”,
diz um oficial da Força Aérea Brasileira (FAB).
Os demais aviões-laboratório - são
quatro HS-800 e cinco Bandeirante - não possuem,
em tese, instrumentos capazes de fazer a aferição
do ILS defeituoso.
O relatório técnico feito
pela Infraero e entregue ao presidente Lula mostra ainda
que, após novos ajustes, o equipamento foi liberado
para inspeção no último dia 13. “Para
nós, o ILS estava funcionando, mas não podia
ser usado antes da homologação. E eles (o
Geiv) têm uma programação para fazer
esses testes. É muito difícil dar um jeitinho
de apressar”, justificou o superintendente da Regional
Sudeste da Infraero, Edgard Brandão Júnior,
reafirmando por que a liberação “só
dependia da Aeronáutica”.
Em nota oficial, a FAB alegou que, este
mês, tentou inspecionar o ILS de Cumbica duas vezes.
O equipamento não foi aprovado nos primeiros testes
e teve de passar por novos reparos. Numa terceira tentativa,
o HS-800 teve problemas em seu trem de pouso e foi substituído
pelo Bandeirante. A Aeronáutica conclui o comunicado
dizendo que “condições meteorológicas
desfavoráveis para esse tipo de avião impediram
a realização do trabalho na semana passada”.
Com isso, desviou o avião-laboratório para
o Sul do País.
A versão apresentada pela FAB não
esclarece dois pontos importantes: se os cinco aviões
Bandeirante podiam fazer o trabalho do HS-800, por que não
foram deslocados antes para São Paulo? Por ser o
principal aeroporto internacional do País, Cumbica
não deveria ter prioridade?
“Foi mais um azar, uma conjunção
de fatores”, justificou um oficial da Aeronáutica,
ao explicar que Guarulhos tem duas pistas, que são
usadas nos dois sentidos, dependendo de vários fatores,
inclusive o vento. Por azar, disse ele, o nevoeiro ocorreu
justamente quando a Infraero precisou fechar uma das pistas
para manutenção e a que permaneceu aberta
estava com o ILS em apenas em uma das direções,
já que o outro aguardava homologação.
O Aeroporto de Cumbica possui quatro equipamentos
ILS - dois de categoria 2 (auxiliam pousos com teto de 30
metros) e dois categoria 1 (para teto de 90 metros). Segundo
controladores de vôo ouvidos pelo Estado, os nevoeiros
registrados nos últimos dias exigiam a utilização
de ILS categoria 2. “Um está inoperante por
causa da obra e o outro por falta de liberação
da FAB. Ficamos sem opção”, diz um profissional
da torre de Cumbica.
PRESSÃO
A nova crise deixou o ministro Waldir Pires,
que vem sendo atacado por diversos setores, ainda mais fragilizado.
Mesmo assim, o presidente Lula não trata abertamente
do afastamento de Pires. Diz apenas que está em busca
da verdadeira razão para tantos problemas seguidos.
Lula marcou para hoje uma nova reunião com Pires.
Mas, desta vez, exige a presença de toda a cúpula
aérea. A maior preocupação do governo
é evitar que episódios como esse reforcem
o pedido de instalação da CPI do Apagão.
Folha de São Paulo
24/03/2007
Avião cai 3.700 m e faz pouso
de emergência
Piloto perdeu controle de aeronave
da Pantanal que ia de Bauru a Congonhas; incidente foi há
10 dias
LEILA SUWWAN DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Há dez dias, os 48 ocupantes do
vôo 4769 da Pantanal Linhas Aéreas passaram
por momentos de terror. O avião em que estavam, um
turboélice ATR-42, despencou quase 12 mil pés
(3,7 km) e o piloto só conseguiu controlar a aeronave
a 5.200 pés (1,6 km) do solo.
O avião aguardava permissão para pousar em
Congonhas, vindo de Bauru (SP), e as condições
meteorológicas eram boas naquela altitude, 17 mil
pés (5,2 km). Mas ao realizar uma curva, o aparelho
"guinou" para a esquerda e começou a cair.
O piloto perdeu o controle e teria sido auxiliado pelo rádio
para reverter a queda de bico.
A tripulação conseguiu pousar no aeroporto
em Campinas e foi necessário acionar o trem de pouso
de forma emergencial porque esse equipamento também
falhou. Não está claro se houve pane em algum
equipamento de navegação.
O incidente foi classificado como "grave" pela
Aeronáutica e uma investigação completa
será realizada, nos mesmos moldes da efetuada na
colisão do vôo 1907 da Gol com o jato Legacy
em 29 de setembro de 2006, que deixou 154 mortos.
Os relatórios preliminares, com o relato da queda
e sem especificar a pane, já foram concluídos.
O documento final será divulgado pelo Cenipa (Centro
de Investigação e Prevenção
de Acidentes Aeronáuticos). A tripulação
foi ouvida e os dados de voz e cabine já foram recuperados.
O avião voava com 16.613 kg -seu peso máximo
de decolagem é 16.700 kg.
A Pantanal foi procurada cinco vezes ontem para confirmar
o incidente. No início da noite, a assessoria de
imprensa informou apenas que as informações
contidas no relatórios não são verdadeiras
e que esse vôo não sofreu queda nem pane.
Segundo a empresa, havia apenas "forte turbulência"
por causa de um "temporal" e o avião voava
normalmente.
A Anac (Agência Nacional de Aviação
Civil) informa que o certificado de aeronavegabilidade do
avião de matrícula PT-MFV está suspenso
por "situação técnica irregular".
À passageira que se queixou, a empresa afirmou que
o piloto fez "diversas e consecutivas manobras"
para se afastar de "área de turbulência
compacta e duradoura" para "garantir o conforto
dos passageiros".
"De
repente, o avião virou na vertical"
"De repente, o avião virou
literalmente na vertical. As pessoas começaram a
berrar e eu rapidamente percebi que a coisa era grave e
que íamos morrer", disse a passageira Goya Cruz,
que estava no assento 1A do vôo 4769 no dia 16 de
março.
De acordo com ela, os passageiros viveram momentos de "terror"
e "certeza da morte". Goya contou que o avião
estava lotado e ela se sentou com uma amiga em duas poltronas
viradas "de costas" para o piloto.
"Estava de frente para todos os passageiros, vendo
o pavor deles, e tentava consolar porque sabia que era só
uma turbulência. Para minha infelicidade e equívoco,
não era nada disso."
"Lembranças da vida me tomaram a mente, os motivos
e o que eu ia sentir na queda do avião", disse,
sobre o tempo em que o avião despencava. "Comecei
a rezar o pai-nosso em voz alta e os homens gritavam de
pavor."
Segundo Goya, antes da queda o avião girou e parecia
estar fora de controle. No total, entre quedas e giros,
ela acha que o avião perdeu o controle por cerca
de dez minutos. "O piloto foi um bravo", disse.
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