IstoE
Dinheiro
27/01/2008
Os pousos forçados da United
Três aviões da
empresa apresentam falhas no ar em quatro dias e causam
pânico aos passageiros. O que está por
trás disso?
LANA PINHEIRO
Terça-feira,
22 de janeiro. Chovia em São Paulo. Apesar
do tempo ruim, o aeroporto de Cumbica, em Guarulhos,
funcionava normalmente quando às 23h20
os 175 passageiros do vôo 860 da United
Airlines foram convidados a embarcar.
Iam
rumo à capital dos Estados Unidos em
uma viagem que deveria durar dez horas. Aos
50 minutos de vôo, tudo mudou. “O
comandante anunciou um problema no sistema de
comunicação e disse que precisávamos
retornar a São Paulo”, relatou
à DINHEIRO um passageiro que preferiu
não se identificar.
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Terça-feira,
22 de janeiro. Chovia em São Paulo. Apesar do
tempo ruim, o aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, funcionava
normalmente quando às 23h20 os 175 passageiros
do vôo 860 da United Airlines foram convidados
a embarcar. Iam rumo à capital dos Estados Unidos
em uma viagem que deveria durar dez horas. Aos 50 minutos
de vôo, tudo mudou. “O comandante anunciou
um problema no sistema de comunicação
e disse que precisávamos retornar a São
Paulo”, relatou à DINHEIRO um passageiro
que preferiu não se identificar.
O
avião deu meia-volta. Já seria grave se
fosse um caso isolado, mas não foi. Em quatro
dias este era o terceiro avião da companhia a
passar pelo mesmo procedimento, tornando uma pergunta
inevitável: o que está acontecendo com
a United? Àquela altura, o pesadelo do vôo
860 estava só no começo. Na hora do pouso,
sem explicações, a aeronave voltou a subir
e passou a sobrevoar o aeroporto de Guarulhos por duas
horas. O piloto avisou que agora o problema era nos
flaps, o que forçaria um pouso de emergência.
Com o trem de pouso abaixado, a cabina trepidava. A
tensão, já grande, foi agravada pelo anúncio
de que bombeiros esperavam a aeronave na pista “por
precaução” e que após o pouso
todos deveriam desembarcar imediatamente, sem levar
nenhum pertence. Ninguém falava, alguns rezavam
em voz baixa. Ao tocar a pista, o Boeing jogou para
a direita, mas o curso foi corrigido a tempo. O corpo
de bombeiros seguiu a manobra. “Quando paramos,
todos vibraram”, lembra o passageiro.
Duas
horas antes do vôo 860 fazer o pouso de emergência,
outro avião da United passou pelo mesmo procedimento,
também em São Paulo. O vôo 842 retornou
à terra com 154 pessoas a bordo duas horas depois
de ter decolado rumo a Chicago. Um dia depois este mesmo
vôo tentou decolar, mas ficou em terra por problemas
mecânicos. No Rio de Janeiro, na madrugada do
dia 20, passageiros sentiram cheiro de queimado em um
Boeing com destino a Nova York, pediram para descer
e foram agredidos por uma aeromoça. Dez pessoas
desembarcaram e quando o avião decolou o piloto
retornou para um pouso de emergência. Apesar da
gravidade do problema, a United Airlines se limitou
a divulgar uma nota oficial afirmando que por “razões
mecânicas” os “aviões pousaram
em segurança”. O presidente da empresa
no Brasil, Laurence Hughes, se calou. A solicitação
de entrevista pedida pela DINHEIRO foi negada. No documento,
a United diz: “A equipe de manutenção
da United, que fica em Guarulhos, está inspecionando
as aeronaves para consertar os possíveis problemas
mecânicos.” E só.
O
presidente do Instituto Brasileiro de Estudos e Políticas
Públicas em Transporte Aéreo, Respício
do Espírito Santo, diz que é difícil
saber a causa dos incidentes, mas admite que ele mesmo
passou por essa situação há um
ano, quando um avião da United que ia para Chicago
retornou por “falhas hidráulicas”.
Um analista que pediu para não ser identificado
foi taxativo ao dizer que “falta manutenção”.
Após quatro anos sob proteção da
lei de falência americana, a empresa voltou a
andar sozinha em 2007 e amargou queda de 98,2% nos lucros.
Agora há indícios de que a companhia possa
ser vendida para a Delta Airlines. A companhia não
comenta o asunto.
Após
os incidentes, Anac e Aeronáutica não
entram em acordo sobre fiscalização
O
caso da United recoloca o foco de luz sobre o setor
aéreo brasileiro. Desta vez, o descaso das autoridades
foi absoluto. Na Anac, a informação oficial
é que “as providências serão
tomadas depois que o Centro de Investigação
e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos
emitir os laudos sobre os aviões”. Já
a Aeronáutica informa que nesta situação
“não caberia uma investigação
formal, pois não houve acidente aéreo”.
Enquanto, no Brasil, não se assume responsabilidade
sobre a fiscalização, nos Estados Unidos
a United aprovou uma distribuição especial
de US$ 250 milhões aos acionistas. “Competimos
pelos acionistas, como competimos pelos nossos clientes”,
declarou Glenn Tilton, CEO da United. Os passageiros,
no entanto, estão apreensivos.
O
Estado de São Paulo
27/01/2008
Média de atraso em vôo
chega a 71 min
Pesquisa feita nos últimos
dois meses com 104.215 vôos domésticos
mostra que 55,6% deles atrasaram
Bruno Tavares
Nem
a substituição de toda a cúpula
do setor aéreo ou mesmo os alardeados investimentos
previstos no PAC foram capazes de reverter a falta de
pontualidade da aviação brasileira. Um
ano e quatro meses depois do acidente com o Boeing da
Gol, marco inicial da crise aérea, passageiros
ainda são obrigados a aturar atrasos médios
de 1 hora e 11 minutos. O dado foi extraído de
um estudo inédito feito pela consultoria Visagio,
que monitorou durante 24 horas por dia 104.215 vôos
domésticos realizados entre 19 de novembro e
16 de janeiro.
A
pesquisa revela que, nesse período de aparente
calmaria, só 44,4% dos vôos partiram ou
chegaram nos horários programados. Na Inglaterra,
que há três anos enfrentou uma das piores
crises aéreas de sua história, esse índice
chegou a 35%.
A
TAM teve o melhor desempenho entre as oito empresas
analisadas pelo estudo - e, ainda assim, registrou 44%
de atrasos. A Gol foi a campeã de atrasos, com
60%. A média geral foi de 55,6%.
A
Visagio fez o acompanhamento dos pousos e decolagens
a partir do site da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura
Aeroportuária (Infraero), estatal que administra
a maioria dos aeroportos. Mas, ao contrário da
Infraero, que desde o início da crise aérea
só contabiliza os atrasos superiores a 1 hora,
a pesquisa incluiu em seu relatório todos os
vôos que chegaram ou partiram 15 minutos depois
do horário previsto.
“Resolvemos
adotar 15 minutos por ser o padrão mundial”,
diz o pesquisador Rodrigo Lang, um dos autores da pesquisa.
“Embora as empresas tenham diferentes perfis e
focos de negócios, concluímos que todas
elas abriram mão da qualidade do serviço
em prol do lucro.”
São
Paulo e seus dois maiores aeroportos - Cumbica, em Guarulhos,
e Congonhas, na zona sul da capital - estão no
centro de boa parte dos atrasos e cancelamentos. A rota
Salvador-Cumbica foi a que mais sofreu com atrasos no
período analisado: 61%. Logo depois vem Cumbica-Salvador
(54%), seguido por Brasília-Congonhas (48%),
uma das principais rotas de negócios do País.
O
porcentual médio de atrasos na ponte aérea
foi de 30% entre Congonhas e o Santos Dumont e de 36%
entre o Santos Dumont e Congonhas. Em compensação,
as rotas figuram em segundo lugar no ranking de cancelamentos,
atrás apenas de Curitiba-Congonhas e Congonhas-Curitiba,
que tiveram 11%. Os números são reflexo
de uma prática usual das companhias: a reserva
de mercado. “Como vôos da ponte aérea
saem a cada 15 minutos, empresas têm o hábito
de consolidar dois vôos em um só para reduzir
custos e tapar algum buraco em suas malhas”, diz
Lang.
O
Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea)
alega descompasso entre os horários das autorizações
de vôo (hotrans) usadas no site da Infraero, feitas
com base em médias históricas, e o atual
tempo médio das viagens, o que teria distorcido
as medições.
O
Estado de São Paulo
27/01/2008
Passageiro
incorpora atraso à rotina
Há quem encurte feriados
e aproveite demora no embarque para trabalhar; outros
preferem viajar de ônibus
Vitor Hugo Brandalise
Ao
que parece, os passageiros já estão acostumados
com os constantes atrasos nos aeroportos. Tem quem mude
os planos, quem marque compromissos já sabendo
que só poderá chegar horas depois e quem
troque os assentos apertados dos vôos comerciais
por confortáveis poltronas dos ônibus-leito.
O
analista de sistemas Gláucio Dias, de 27 anos,
vai e volta de Joinville (SC) a São Paulo ao
menos uma vez por mês e abomina os chás-de-cadeira
do Aeroporto de Congonhas. Prefere viajar os 520 quilômetros
que separam as cidades dormindo no ônibus a ficar
à mercê do tráfego aéreo
ou da manutenção de aeronaves - as duas
justificativas mais comuns das companhias, quando os
passageiros resolvem reclamar. “Às vezes
é impossível, mas sempre que tenho tempo
viajo de ônibus para escapar dos atrasos”,
diz.
Diferentemente
de Dias, o empresário carioca Alessandro Baldoni
decidiu, simplesmente, encurtar seus feriados. A sexta-feira
de carnaval, por exemplo, já está riscada
do calendário. “Procuro sempre viajar um
dia depois, como fiz no Natal. Dessa vez, sacrifiquei
um dia do carnaval, mas pelo menos não fico esperando
no saguão”, diz o empresário, de
27 anos, na fila da passagem. “Pego a ponte aérea
ao menos uma vez por mês e não tem dia
que não atrase 30, 40 minutos.”
A
reação de Baldoni - de adaptação
à desordem - é a mais comum entre os que
aguardam nas cadeiras, cafeterias e livrarias dos aeroportos.
O comerciante Antônio Carlos Lima, cujo vôo
para Passo Fundo (RS) atrasaria 2h15 segundo previsão
da companhia, aproveitou para marcar uma última
reunião de negócios logo que soube do
“reagendamento”, como lhe disseram. “Tive
de tentar usar esse tempo de forma útil, vamos
fazer o quê?”
Outro
passageiro que decidiu se adaptar à situação
é o contador José Figueiredo, de 50 anos.
Até mais do que isso. Ele passou a aceitá-la
como regra - e se conformou. “Melhorou bastante
em termos de pontualidade. Atraso de meia hora já
dá pra aceitar, considerando que antigamente
você ficava uma, duas, três horas esperando”,
diz Figueiredo, que mora no Rio e viaja a São
Paulo uma vez por semana.
Desesperançada
mesmo estava a relações-públicas
baiana Marina Marinho, de 23. Seu vôo do Aeroporto
de Cumbica para Salvador já tinha previsão
de atrasar 30 minutos na quinta-feira. “Mas vai
atrasar mais, com certeza, como ontem (anteontem).”
No dia anterior, sua mãe embarcara no mesmo vôo.
O avião, que deveria ter saído às
19 horas, deixou a pista do aeroporto por volta das
23 horas e chegou a Salvador de madrugada. “Só
acredito vendo que isso não vai acontecer de
novo.”
O
Estado de São Paulo
27/01/2008
No Galeão, goteiras
e 68% de embarques fora do horário
Para especialista, falta de
ônibus para pegar passageiros agrava problemas
Clarissa Thomé
O
escrevente Leandro Valente, de 30 anos, ficou surpreso
na quinta-feira com a reclamação do filho,
quando passava pelo saguão do Aeroporto Internacional
Tom Jobim. “Pai, está chovendo no aeroporto”,
reclamou Pedro, de 5 anos. Foi então que Valente
percebeu uma goteira no setor de embarque. Mais para
a frente, na entrada do corredor entre os Terminais
1 e 2, deparou-se com dois baldes verdes, insuficientes
para aparar a água, que escorria pela rampa.
“O
Sergio Cabral tem razão. Isso aqui virou uma
espelunca”, disse o escrevente, referindo-se à
declaração do governador do Rio, que defende
a privatização do aeroporto - já
negada pelo governo federal. “O pior é
o atraso sem explicação. Na ida, esperamos
por mais de duas horas. Deu tempo até de almoçar”,
comentou a escrevente Juliana Monerat, de 30 anos, mulher
de Valente.
Pesquisa
feita pela consultoria Visagio coloca o Tom Jobim na
desconfortável posição de pior
aeroporto do País, com 68% das partidas atrasadas.
Entre os problemas, apontam os consultores, está
a distância entre as duas pistas principais e
o Terminal de Cargas (Teca), de 7 quilômetros.
As operações de carga e descarga estariam
atrasando os vôos, acreditam.
O
professor de transporte aéreo da Escola Politécnica
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Respício
do Espírito Santo Junior, não acha que
a distância seja a causa dos atrasos. “Outros
aeroportos do mundo têm terminais de carga tão
ou mais distantes. Mas é preciso que se investigue
como é feito o processamento da carga.”
Felipe
Soares, ombudsman do Fórum Contato Radar, que
reúne pilotos e estudiosos de aviação,
credita os atrasos a outro fator - a falta de veículos
para buscar e levar passageiros de aviões que
não são acoplados aos portões de
embarque. “Depois do acidente em Congonhas, as
empresas passaram a fazer vôos diretos para o
Rio. Com o número maior de aviões, não
há gates para todos que pousam. Os aviões
‘operam em remota’, ou seja, param na pista.
Só que não há ônibus para
buscar e levar todos os passageiros.”
Ainda
de acordo com Soares, nem todos os portões de
embarque estão funcionando. Há ainda portões
duplos, que deveriam ser usados por dois aviões
ao mesmo tempo. “Mas não há espaço,
por exemplo, para dois Airbus pararem ao mesmo tempo.
Então, um deles terá de operar em remota.”
Soares
também cita a burocracia como causadora de atrasos.
“Os aeroportos brasileiros exigem dos passageiros
em conexão duas vistorias de raio X, mesmo quando
operando de aeroportos como Galeão, Congonhas,
Guarulhos e Brasília, que são da mesma
empresa, a Infraero. Um passageiro que já sofreu
vistoria no Galeão, se for para Brasília
fazer uma conexão para Palmas, precisa de nova
vistoria em Brasília, retardando o processo.
Isso não ocorre nem nos Estados Unidos.”
Para
Ademir Lima de Oliveira, diretor do Sindicato Nacional
dos Aeroportuários (Sina-RJ), o problema do Tom
Jobim é a “falta de estrutura crônica”.
“Simplesmente não se conserta. Os sanitários
estão com defeito, há vazamentos e goteiras,
nem mesmo lâmpadas são trocadas”,
afirma.
Na
quinta-feira, as rampas com esteiras rolantes no corredor
que une os dois terminais estavam quebradas. As pessoas
eram obrigadas a andar com bagagens por mais de 200
metros. A vendedora Helenice Oliveira, de 30 anos, equilibrava
as malas e o filho Samuel, de 2 anos, num carrinho,
enquanto tentava subir a rampa. “Moro em Lisboa
e costumo viajar a partir de Brasília ou São
Paulo. É a primeira vez que viajo desse aeroporto
e estou decepcionada”, disse.
O
presidente da Associação Brasileira de
Turismo Receptivo (Bito), Roberto Dultra, lembra que
as “impressões cruciais para os turistas
são a primeira e a última”. “Depois
de pelo menos oito horas de viagem, ele encontra um
aeroporto com goteiras, elevador quebrado e com longas
filas”, lamenta Dultra.
Além
disso, ele lembra que o Terminal 2, mais novo e maior,
está ocioso, enquanto o Terminal 1 está
sobrecarregado de empresas. “Mas acredito que
seja um dos mais seguros do mundo, com duas pistas longas,
apto a receber aeronaves de todos os tamanhos, sem construções
próximas.”
A
Assessoria de Imprensa da Infraero não contestou
os dados da Visagio sobre atrasos. Em nota, disse que
“menos de 5% são causados por questões
relativas à infra-estrutura do aeroporto”.
Informou que a distância do Terminal de Cargas
não é entrave para a operação
da empresa e o número de ônibus “atende
perfeitamente” aos vôos programados para
o Galeão.
Ainda
de acordo com a Assessoria de Imprensa da Infraero,
a revitalização do Terminal 1 e do Terminal
de Cargas está prevista no PAC do governo federal.
“Algumas obras fora desse plano já estão
em andamento e incluem, entre outros itens, recuperação
dos banheiros e elevadores.”
O
Estado de São Paulo
27/01/2008
'Tem
algo errado com o sistema', diz expert
Para professor da UFRJ, números
indicam falhas na infra-estrutura
Bruno Tavares e Rodrigo Brancatelli
Problemas
pontuais - como chuvas, obras de emergência ou
excesso de passageiros - podem ter causado atrasos nos
vôos e agravado ainda mais a situação
já pouco confortável de alguns aeroportos
brasileiros no ano passado. Ainda assim, segundo o professor
de transporte aéreo da UFRJ Respício do
Espírito Santo Junior, os dados do estudo da
consultoria Visagio revelam pelo menos uma certeza -
o problema não se concentra em uma companhia
aérea ou outra, mas sim no próprio setor
aéreo, o sistema como um todo.
“Se
levar em conta que a melhor empresa atrasou 44% e a
pior alcançou 60%, você percebe que não
há muita diferença. Todas atrasam, e muito.
É inadmissível. A culpa não é
delas, tem algo errado com o sistema”, diz Respício.
“Isso significa falhas na infra-estrutura aeroportuária
e no controle do espaço aéreo.”
O
professor da UFRJ também chama a atenção
para o fato de que o Brasil não sofre tanto com
problemas imprevisíveis, como condições
meteorológicas desfavoráveis. “Não
temos neve como nos Estados Unidos ou na Europa.”
Em 2006, por exemplo, o pior aeroporto americano em
pontualidade, o de Newark (Nova Jersey), teve 43% de
atrasos - isso com a pior temporada de nevascas em 137
anos. A média brasileira de atrasos é
de 55%.
As
três primeiras posições do ranking
de aeroportos campeões em pontualidade da Visagio
são ocupadas por terminais com baixo movimento
- Joinville (29,6%), em Santa Catarina, Macaé
(31%), no Rio, e Navegantes (31,3%), em Itajaí,
também Santa Catarina. Congonhas, em São
Paulo, ficou em 8º lugar. Os outros aeroportos
considerados hubs (pontos de distribuição
de vôos) nacionais estão em colocações
intermediárias. O de Cumbica, em Guarulhos, aparece
na 29ª posição, seguido por Brasília,
o 30º, com 30% de atrasos. O Galeão teve
a pior avaliação entre os 48 terminais
pesquisados. No período analisado, 68% das partidas
ocorreram fora do horário previsto.
“Acho
que 90% dos problemas do setor aéreo do País
são técnicos, administrativos, e só
10% são políticos”, afirma Respício.
“O problema é que esses 10% estão
tentando resolver os 90% e, me desculpe, isso é
impossível. Além disso, não é
um pepino que vai ser solucionado em dois, três
anos. Sofremos com o contingenciamento de recursos há
sete anos e temos péssima administração
da Infraero há um tempo bem maior.”
Para
o diretor-executivo da Associação Brasileira
de Aviação Geral (Abag), Adalberto Febeliano,
é preciso analisar os dados com mais cuidado.
“Até a Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil) tem dificuldade em conseguir
o horário real de partida e chegada dos vôos,
não sei então como essa entidade chegou
a esses resultados”, diz. “Sempre viajo
para Brasília e não acredito nesses números,
nunca vejo mais de uma hora de atraso. Estamos em uma
situação muito melhor que há 12
meses.”
Para
dar mais transparência à coleta e divulgação
de dados relativos a atrasos e cancelamentos de vôos,
setores do governo estudam a criação de
uma agência independente, ligada eventualmente
ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo
(Decea). O modelo seguiria o adotado pela FAA, a agência
de aviação dos Estados Unidos.
O
Estado de São Paulo
27/01/2008
Empresas
só admitem parte da responsabilidade
Bruno Tavares
O
Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea)
até reconhece parte de responsabilidade das empresas
pelo elevado índice de atrasos nos vôos
do País, mas atribui o problema à desatualização
dos horários das autorizações de
vôo. Conhecido como hotran, o documento especifica
os horários de partidas e chegadas dos vôos
baseado em médias históricas que, segundo
o Snea, tornaram-se irreais.
“No
passado, a ponte aérea durava 45 minutos. Só
que hoje, por uma série de fatores que vão
do tamanho das pistas de taxiamento até a falta
de controladores, a viagem dura pelo menos uma hora”,
exemplifica o diretor de Segurança de Vôo
do sindicato, Ronaldo Jenkins. “Como as empresas
não conseguem cumprir mais essas metas, dá
a impressão de que seus vôos estão
sempre atrasados.”
Segundo
Jenkins, a Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac) e as empresas aéreas já estão
atualizando os horários para que as hotrans saiam
de acordo com as novas estimativas de tempo das viagens.
Na
avaliação do diretor do Snea, contribuiu
para os atrasos de fim de ano o redesenho da malha aérea.
“O governo e as autoridades aeronáuticas
mudaram as regras no meio do caminho e fomos obrigado
a mudar as malhas duas vezes às vésperas
do período de alta temporada”, argumenta
Jenkins. “Leva um tempo para que as empresas possam
se adequar.”