Folha de São Paulo
26/07/2007
Sindicato argentino tenta evitar
fim de vôos da Varig
Sem autorização,
empresa anunciou demissões
RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES
O Ministério do Trabalho argentino iniciou um
procedimento de crise para evitar que a Varig deixe de
atuar no país. O procedimento foi pedido pelo sindicato
dos aeroviários após a velha Varig -que
ainda opera os vôos na Argentina- anunciar que demitiria
todos os seus 104 funcionários no país.
A velha Varig continua operando na Argentina porque a
VRG, que opera a marca Varig desde o ano passado, ainda
não obteve autorização para voar
no país. Se a negociação no Ministério
do Trabalho não chegar a bom termo, os vôos
da Varig para a Argentina nas próximas semanas
poderão ser cancelados.
A velha Varig decidiu demitir os 104 funcionários
porque, segundo sua gerente jurídica na Argentina,
Marisa Donadio, não tinha mais dinheiro para pagar
seus salários. Como a VRG não reconhece
como suas as dívidas trabalhistas da velha Varig,
os empregados recorreram ao sindicato da categoria, que
pediu o início de um procedimento de crise no ministério.
O procedimento prevê que, em até dez dias
úteis, empregador e empregado devem chegar a um
acordo para permitir que a empresa continue funcionando.
Se nesse período as partes não chegarem
a um acordo, o empregador fica livre para demitir os empregados,
e a questão passa a ser decidida na esfera da Justiça.
O prazo para o encerramento do procedimento de crise da
Varig na Argentina é o dia 6 de agosto.
O acordo parece difícil, porque a VRG, controlada
pela Gol, não aceita incorporar os funcionários
da velha Varig com os direitos adquiridos pelos anos trabalhados
na empresa.
"Por trás da VRG está sua nova dona,
a Gol, a quem não importa cancelar as operações
da Varig", afirmaram em nota os funcionários
na Argentina.
Procurada, a Gol informou, por meio de sua assessoria,
que "reafirma a sua disposição em contratar
colaboradores que forem desligados do quadro da Viação
Aérea Rio-Grandense" . "Esclarecemos
que a VRG Linhas Aéreas S.A. não tem nenhum
vínculo com a Viação Aérea
Rio-Grandense", afirma.
Diariamente, a Varig opera dez vôos entre os aeroportos
internacionais de Guarulhos e do Rio de Janeiro e o aeroporto
de Ezeiza, em Buenos Aires.
Folha de São Paulo
26/07/2007
Federação de pilotos
diz que já fazia alerta sobre Congonhas
Problema no aeroporto foi "demonstrado
claramente", diz entidade internacional
Entidade diz que alerta autoridades brasileiras há
20 anos sobre riscos de pista curta e ausência de
área de segurança no aeroporto
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há 20 anos, a Ifalpa (Federação
das Associações Internacionais de Pilotos
de Companhias Aéreas, na sigla em inglês)
diz aconselhar as autoridades brasileiras sobre os riscos
da pista curta e da falta de uma área de escape
no aeroporto de Congonhas. As recomendações
nunca foram levadas em conta, diz a Ifalpa. Elas foram
referendadas pela Icao (Organização Internacional
da Aviação Civil) -órgão regulatório
do setor aéreo ligado à ONU (Organização
das Nações Unidas). De Londres, o diretor
e porta-voz da federação, Gideon Ewers,
falou à Folha sobre o acidente com o Airbus-A320
da TAM e analisou as condições de segurança
em Congonhas.
"O problema em Congonhas é o fato de não
haver áreas de segurança para escapes. E
o porquê dessa necessidade foi demonstrado claramente
na semana passada", avalia. Leia os principais trechos:
FOLHA - Como os pilotos europeus receberam a notícia
desse acidente?
GIDEON EWERS - Obviamente nenhum piloto ficou feliz. A
questão é a situação específica
de Congonhas, sem pista e área de segurança.
Não dá para fugir disso. Sei que há
outras questões na aviação brasileira
neste momento, mas, deixando isso um pouco de lado, não
é um problema apenas do Brasil. [As pistas curtas]
São problemas que existem em inúmeros aeroportos
de todo o mundo.
FOLHA - Que tipo de recomendações a Ifalpa
tem dado a Congonhas nos últimos anos?
EWERS - Fazemos campanhas incisivas para implantação
de várias medidas, e entre elas está a idéia
de que as recomendações para pista e área
de segurança tornem-se exigências. Ou, se
não for possível, que se tenham alternativas
que garantam o mesmo nível de segurança.
Por exemplo, falamos do Emas [sigla para Engineered Materials
Arresting System, um tipo de concreto especial colocado
no final da pista que pára a aeronave].
FOLHA - A federação considera Congonhas
um aeroporto seguro?
EWERS - Essa é uma boa pergunta. Qualquer aeroporto
sem uma pista longa e sem área de escape ou alternativas
que compensem o mesmo nível de segurança
é seguro enquanto possa ser. Há certos aeroportos
ou áreas que definimos como deficiente ou criticamente
deficiente. E basicamente qualquer aeroporto que tenha
uma pista extremamente curta nós o definimos assim.
FOLHA - Essa é a situação de Congonhas
e do Santos Dumont, no Rio, que tem a pista ainda mais
curta?
EWERS - Não precisamos nos deter ao tamanho da
pista e explico o porquê. Há a definição
do tamanho mínimo de pista que cada aeronave exige
em determinadas condições. Então,
embora a pista de Congonhas seja mais curta do que o ideal,
os aviões ainda podem operar dentro do mínimo
necessário. Há outros elementos, como a
situação do aeroporto, a vizinhança,
a natureza das aproximações. O comprimento
da pista em si não é o único fator.
FOLHA - A proximidade dos edifícios não
é insegura para a aviação?
EWERS - Basicamente o problema em Congonhas é o
fato de não haver áreas de segurança
para escapes. E o porquê dessa necessidade foi demonstrado
claramente na semana passada.
FOLHA - E qual seria essa área?
EWERS - Uma área segura seria de ao menos 300 metros,
mas isso requer um trabalho preciso de engenharia.
FOLHA - O que um piloto pode fazer numa situação
crítica como a da semana passada?
EWERS - É difícil dizer. É como um
quebra-cabeça. Temos apenas algumas peças,
então não dá para ver a figura completa.
FOLHA - O sr. concorda com a Ifatca (a federação
internacional dos controladores) de que é necessária
uma intervenção internacional na aviação
brasileira?
EWERS - Eles falam de questões mais amplas. É
um ponto de vista. Estamos preocupados em promover o maior
nível de segurança. E segurança deve
ser aplicada igualmente em todas as partes do mundo.
FOLHA - Há quem peça o fechamento de Congonhas.
É o caso?
EWERS - É um caso a considerar. A investigação
tem que considerar esses pontos. Vai levar um certo tempo,
e talvez não seja do jeito que os políticos
queiram. E essas recomendações podem pedir
o fechamento do aeroporto, não sei.
O Estado de São Paulo
26/07/2007
Jobim assume Defesa, ataca a Anac
e diz que falta comando
Assumindo com ‘carta branca’,
novo ministro afirma que ‘as instituições
foram feitas para ter resultados’
Leonencio Nossa, BRASÍLIA
O novo ministro da Defesa, Nelson Jobim (PMDB), de 61
anos, disse ontem, após tomar posse como substituto
de Waldir Pires (PT), que o problema no setor aéreo
é de comando. A mudança na pasta só
ocorre depois de dez meses de crise aérea, pontuada
pelos dois maiores acidentes da história da aviação
civil brasileira - só o desastre com o vôo
3054, em Congonhas no dia 17, deixou pelo menos 199 mortos.
Em entrevista no Palácio do Planalto, Jobim afirmou
ter “carta branca” para começar as
mudanças no setor, atacando a cúpula da
Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac). “As instituições foram feitas
para ter resultados”, afirmou. “Quero perguntar:
esse poder (a Anac) funciona?”
Jobim mesmo respondeu à pergunta, dizendo que
a solução para a Anac virá “no
momento oportuno”. Ele classificou como “problema
legal” os mandatos fixos e com estabilidade dos
diretores da agência, aprovados pelo Senado. O ministro
adiantou que o governo avalia a possibilidade de incluir
no projeto de reestruturação de agências,
em tramitação na Câmara, uma forma
de demitir diretores. “Vamos examinar exatamente
essa linha.”
O ministro ainda criticou indiretamente a composição
atual do órgão, presidido por apadrinhados
do ex-ministro José Dirceu e dos atuais ministros
Dilma Rousseff (Casa Civil) e Walfrido dos Mares Guia
(Relações Institucionais). “Em qualquer
circunstância, e nessa circunstância, só
nomes técnicos deveriam ocupar cargos”, afirmou.
“E uma coisa quero deixar bem claro: se forem feitas
mudanças - e pelas circunstâncias devem haver
-, não serão partidarizadas.”
Ele disse que até o final de semana tomará
decisões em relação ao novo presidente
da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária
(Infraero). Hoje, o ministro pretende avaliar toda a estrutura
da Defesa para começar o processo de mudanças
da pasta. “Vou me dedicar ao enfrentamento da emergência
atual, a questão aérea.”
A uma pergunta específica se caberia ao comandante
da Aeronáutica, ao ministro ou ao presidente apresentar
as informações da caixa-preta do avião
da TAM que explodiu em Congonhas, Jobim tentou demonstrar
que comandará sozinho a área. “Aqui
a parte é do ministro, quem manda é o ministro.”
Ele ressaltou que ações díspares
do governo na área só complicaram a situação.
O ministro só não propôs um prazo
para acabar com o caos. “Não posso estabelecer
cronologia, pois aprendi com o doutor Ulysses Guimarães
que o tempo não perdoa o que a gente faz sem ele.
Essa será a regra do jogo.”
CONSTRANGIMENTO
Em tom de descontração, o novo ministro
disse que aceitou o cargo após o aval da mulher.
“A minha mulher achou que eu deveria aceitar”,
disse. Foi uma forma de se desvencilhar da pergunta sobre
o motivo de ter recusado duas vezes o convite para assumir
o cargo. “Recebi algumas notícias de que
poderia vir a integrar o governo. Mas agora, face às
circunstâncias, acabei ingressando.”
Jobim rebateu críticas por não ser um profissional
da área. “Uma coisa é fazer a execução,
a outra é o comando. Evidentemente não tenho
condições de fazer ações técnicas.
Quanto à estruturação do comando,
não há necessidade de você conhecer
a forma da execução das questões
técnicas”, afirmou.
E lembrou o amigo José Serra, sem citá-lo
diretamente. “Tivemos um ministro da Saúde
que não tinha (conhecimento) de saúde e
foi um grande ministro.” A menção
ao governador paulista do PSDB causou constrangimento
entre assessores diretos de Lula. O ministro admitiu ainda
que, na noite de terça-feira, conversou com Serra
e com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab
(DEM), sobre Congonhas, embora só ontem o Planalto
falasse da saída de Pires. Por fim, o ministro
informou que virá a São Paulo e visitará
o aeroporto e o laboratório que auxilia na identificação
das vítimas do Airbus A320.
FRASES
“Aqui a parte é do ministro, quem manda
é o ministro” (ao ser indagado sobre quem
dará informações sobre o acidente
com o vôo 3054)
“Não posso estabelecer cronologia (para
o fim da crise aérea). O tempo não perdoa
o que a gente faz sem ele”
“Temos de estabelecer um sistema que funcione,
e não um sistema que depende de pessoas que funcionem.
Se forem feitas Mudanças (na Anac), e deve haver,
não serão partidarizadas”
“Evidentemente não tenho condições
de fazer ações técnicas. Quanto à
estruturação do comando, não há
necessidade de conhecer a forma da execução
das questões técnicas”
Nelson Jobim
Ministro da Defesa
O Estado de São Paulo
26/07/2007
Anac só tem um diretor do
setor aéreo
Outras três diretorias
e a presidência da agência são ocupadas
por apadrinhados políticos e aliados do Planalto
Ana Paula Scinocca e Christiane Samarco,
BRASÍLIA
Apenas uma das cinco diretorias da Agência Nacional
de Aviação Civil (Anac) é ocupada
por profissionais do setor. Os outros três diretores
e o presidente, Milton Zuanazzi, são apadrinhados
políticos de ministros e aliados do Palácio
do Planalto e foram escolhidos também para atender
ao lobby das companhias aéreas.
Como na Infraero, os postos-chave da agência criada
no governo Lula para regular o setor, fiscalizar empresas
e proteger os usuários foram loteados. Com o comando
da Anac nas mãos de um economista, uma advogada,
um ex-deputado, um engenheiro mecânico e só
um aviador, o setor enfrenta sua maior crise depois de
ter crescimento médio de quase 12% ao ano e um
lucro que saltou da faixa dos 3% para mais de 15%. Dez
meses e 350 mortos depois, esse loteamento é apontado
como fator agravante da crise.
Não é por acaso que Leur Lomanto, sete
vezes deputado federal, foi o único diretor aprovado
por unanimidade no Senado. Foi ele que, ainda deputado,
relatou o projeto de lei que criou a Anac, negociado com
as empresas aéreas. Rejeitado pelas urnas em 2002,
Lomanto foi acomodado na assessoria parlamentar da Infraero
e, de lá, transferido para a Anac.
Desde que assumiu, seu feito de maior repercussão
foi a festa que promoveu no casamento de sua filha, em
março. O evento, que teve a participação
da cúpula do setor aéreo, ocorreu no mesmo
dia do motim dos controladores de vôo. Ficou conhecido
como o Baile do Apagão.
Zuanazzi foi secretário de Turismo do Rio Grande
do Sul. Sua maior credencial para garantir a presidência
da Anac foi a amizade com a ministra-chefe da Casa Civil,
Dilma Rousseff, antiga companheira de partido e de secretariado.
A relação é ainda anterior ao PT:
os dois militaram juntos no PDT.
O ex-ministro José Dirceu, antecessor de Dilma,
garantiu uma diretoria para sua ex-assessora Denise Abreu.
Ela apareceu nos jornais em duas ocasiões: a primeira,
na festa de Lomanto. A outra foi na semana passada, três
dias após o acidente da TAM. Denise, Lomanto, Zuanazzi
e o diretor José Barat foram condecorados pelo
comandante da Aeronáutica, Juniti Saito. O único
diretor não homenageado é justamente Jorge
Luiz Brito Velozo, coronel aviador especialista em segurança
de vôo e foi indicado pela Aeronáutica para
a vaga. Sua escolha também agradou as companhias.
‘NA BERLINDA’
Um especialista do setor aéreo que acompanha a
Anac desde o início não tem dúvidas
de que, com a troca no Ministério da Defesa, “a
agência, que já nasceu torta, entrou na berlinda”.
Ele diz que, antes de a Anac sair do papel, ainda no governo
Fernando Henrique (1995-2002), Lomanto já estava
escolhido como diretor, com a bênção
do Planalto, do PMDB, do então PFL (que virou o
DEM) e das companhias aéreas. Até a Força
Aérea acatou a escolha.
“A Anac só não foi criada no governo
tucano porque o Planalto considerou o relatório
de Lomanto muito favorável às empresas e
decidiu engavetá-la”, diz. A idéia
de substituir o Departamento de Aviação
Civil (DAC) por uma estrutura mais moderna e eficiente
só vingou no governo do PT, mas a avaliação
é de que prevaleceu o “espírito favorável”
às companhias. A questão técnica
foi relegada a tal ponto que o DAC não foi procurado
pela nova agência para fazer a transição.
O Estado de São Paulo
26/07/2007
Airbus que ia a Curitiba faz pouso
não programado em Londrina
Aeronave da TAM teve problemas
na tampa da turbina direita e passageiros tiveram de seguir
viagem em ônibus
Evandro Fadel, CURITIBA
Um Airbus A320, da TAM, prefixo PR-MBO, semelhante ao
que explodiu no Aeroporto de Congonhas, fez um pouso não
programado, por volta das 21h30 de segunda-feira, no Aeroporto
de Londrina. O avião ia de Salvador para Curitiba
e depois de uma escala em Cumbica, parou em Londrina.
Embora o Aeroporto Afonso Pena, na região metropolitana
de Curitiba, estivesse fechado naquele momento e a parada
fosse necessária, o avião também
apresentou um problema com o deslocamento da tampa da
turbina direita.
O problema foi comunicado por e-mail ao procurador da
República em Londrina, João Akita Omoto,
vindo de um passageiro que não quis se identificar.
Uma vistoria na aeronave foi feita a pedido do procurador.
Segundo a assessoria do Ministério Público
Federal, a TAM comunicou que o problema na carenagem poderia
ser corrigido preliminarmente com o uso de uma fita de
alumínio, permitindo o retorno a São Paulo
para o conserto definitivo.
O procurador, no entanto, pediu que o conserto fosse
realizado no local e a recomendação foi
aceita pela TAM. Muitos dos passageiros que estavam no
vôo, e chegariam em 30 minutos a Curitiba, tiveram
de enfrentar seis horas de estrada em ônibus.
A TAM informou, por meio de nota, que o Airbus continuava
em Londrina ontem à noite para substituição
do capô da turbina. A peça, segundo a companhia,
apresentou defeito após o avião ter pousado
na cidade por causa do fechamento do aeroporto de Curitiba.
Havia 148 passageiros.
FAB
Um avião da Força Aérea Brasileira
(FAB) com estudantes do Projeto Rondon perdeu o revestimento
de sua turbina durante vôo no Acre. A aeronave teve
de retornar ao aeroporto de onde havia partido.
O Estado de São Paulo
26/07/2007
Anac autorizou redução
de sessões de treinamento
TAM ganhou o direito de diminuir
de 4 para 3 horas período em que pilotos utilizam
simuladores de vôo
Rosa Costa, BRASÍLIA
Antes rejeitado pelo extinto Departamento de Aviação
Civil (DAC), o pedido da TAM de reduzir as sessões
de treinamento dos pilotos em simulador de vôo de
três modelos de Airbus - entre os quais o A320 -
foi atendido pela Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac). É o que mostra o ofício 1002/SSO-ANAC,
de 16 de agosto do ano passado, assinado pelo superintendente
de Segurança Operacional da agência, Marcos
Tarcísio Marques dos Santos. No comunicado dirigido
a Guilherme Gmach, diretor de treinamento da TAM, Santos
afirma que a autorização vale por dois anos.
Ou seja, estará em vigor até agosto do próximo
ano.
No ofício, o superintendente diz que nesse período
os pilotos de aeronaves Airbus A319, A320 e A330 ficam
autorizados a realizar “sessões mínimas
de três horas para treinamentos em simulador”
e não mais quatro horas, como ocorria antes. Santos
deixa transparecer dúvidas sobre o efeito da medida,
ao relatar a necessidade de “estudo estatístico”
para que a Anac se certifique do acerto em diminuir as
horas de treinamento.Ele também trata do programa
de instrução da aeronave Fokker 100, com
a adoção de um prazo de 180 dias, a contar
da data do ofício, para que a TAM faça a
revisão do atual programa “e demais ações
pertinentes, com vistas a alocar sessões de treinamento
inicial e periódico de quatro horas de duração”.
O superintendente da Anac disse ainda que a redução
das horas de treinamento foi adotada para atender às
recomendações da Airbus. Sobre a adoção
do prazo de dois anos, alegou tratar-se de um procedimento
corriqueiro. “Toda vez que implementamos algo novo,
adota-se esse tipo de procedimento, que obriga, quando
o prazo estiver vencendo, alguém a se manifestar.”
A recusa do extinto DAC em atender ao pedido da TAM foi
entendida por ele como uma demonstração
“conservadora” do órgão, diante
de uma aeronave “com muita modernidade”.
APROVEITAMENTO
A TAM admitiu que o treinamento de pilotos em simuladores
foi alterado, mas, segundo a empresa, para melhorar o
aproveitamento dos profissionais. A redução
na carga horária no simulador, porém, foi
compensada pelo aumento no número de dias de treinamento.
Com isso, o número total de horas no aparelho passou
de 40 - exigidas por lei - para 41.
A companhia informou que a alteração foi
feita com base em um estudo da Universidade de São
Paulo, em que foi apontado que em sessões mais
curtas há maior aproveitamento dos pilotos nos
simuladores.
O Globo
26/07/2007
Ancelmo Góis
Valor Econômico
26/07/2007
Lula conversa com pilotos e ouve
queixas sobre a pista
Pista principal do aeroporto
de Congonhas, onde ocorreu o acidente com o Airbus A-320,
da TAM: segundo os pilotos, a pista sempre causou desconforto
Claudia Safatle
Valter Campanato/ABr
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve, ontem,
reunião com três pilotos para ouvir um relato
técnico sobre a pista de Congonhas. Lula pediu
ao ex-presidente do Sindicato dos Aeronautas, José
Caetano Lavorato Alves, de quem é amigo, que convidasse
pilotos experientes e sem ligação com o
movimento sindical para encontro em seu gabinete. Estiveram
no Palácio do Planalto, além de Lavorato,
os comandantes Sérgio Quito, da Gol, especialista
em segurança de vôo, José Stuppiello
e Ricardo Rodrigues Amares, ambos da TAM e pilotos de
Airbus. Estava presente, também, o novo ministro
da Defesa, Nelson Jobim.
Os pilotos deram ao presidente um elemento novo na apuração
sobre as causas do acidente com o vôo 3054 da TAM.
Quito falou sobre os sucessivos recapeamentos da pista
35 - pista principal, que, segundo Lavorato, sempre causou
desconforto nos pilotos. Segundo ele, quando há
o recapeamento de asfalto, é preciso um prazo de
maturação até que se possa fazer
as ranhuras ("grooving"). Durante esse período
de maturação, a água, quando chove,
se infiltra no asfalto, que começa a soltar uma
oleosidade, tornando a pista extremamente escorregadia.
Isso o exame da lâmina d'água não
detecta.
Há um equipamento, usado nos aeroportos de vários
países, inclusive o Ezeiza, em Buenos Aires, que
faz o "break-action" (ação de
freagem). É um veículo que mede, na pista,
a capacidade de freagem naquele momento e repassa as informações
para os pilotos. "Todos sabem disso, os pilotos,
a Infraero", comentou Lavorato, ao que o presidente
reagiu: "Ninguém nunca me falou disso antes
aqui".
Foi essa oleosidade, não detectada na medição
da lâmina d'água, que foi reportada pelos
pilotos à partir do dia 16, antes do acidente com
o vôo da TAM, exatamente quando começaram
as chuvas. Até então, a pista havia sido
reaberta há duas semanas e não havia relato
de problemas.
Lula contou que perguntou ao brigadeiro Jose Carlos
Pereira, presidente da Infraero, por que a Infraero havia
optado pelo recapeamento com asfalto e não com
concreto, que seria bem mais seguro. Ele respondeu que
não fez, porque é mais caro e demoraria
mais. Ao que Lula conta que indagou: "Não
era preferível esperar um pouco mais?" A concretagem
evitaria o aparecimento da oleosidade, conforme informação
dos pilotos.
Os pilotos, segundo relato de Lavorato, descreveram
para o presidente as peculiaridades da pista principal
de Congonhas. Diferentemente da maioria das pistas, a
pista 35 tem, no início da cabeceira, pequeno aclive
seguido de suave declive. No topo dessa elevação
está a área de toque, onde o piloto deve
iniciar o pouso. Se a aeronave toca numa área posterior,
o pouso tende a se alongar mais do que deveria. "Todo
piloto sabe que é preciso ter mais atenção
quando o pouso é na pista 35. Se tenho uma pista
molhada e ela é a 35, há certo desconforto
por parte dos pilotos", explica Lavorato.
Ele conta que essa pista sempre foi problemática.
Em 1981 o Sindicato dos Aeronautas fez um movimento exigindo
que se fizesse o "grooving". Aquelas foram as
primeiras ranhuras da pista de Congonhas. Ao longo dos
anos, o aeroporto intercalou períodos em que havia
"grooving" com outros em que a pista era lisa.
De lá para cá, porém, as aeronaves
mudaram e os parâmetros de segurança também
foram se alterando.
Também ontem os ministros do Planejamento, Paulo
Bernardo, e da Casa Civil, Dilma Rousseff, reuniram-se
com os presidentes Marco Antônio Bologna, da TAM,
e Constantino Júnior, da Gol). No encontro, foi
discutida a implementação das medidas anunciadas
sexta-feira pelo Conselho de Aviação Civil
(Conac).