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Revista
IstoÈ - Dinheiro
26/03/2007
É hora de passar
o quepe
O Aerus, fundo de pensão
dos funcionários da Varig e Transbrasil, agoniza
e deixa órfãos milhares de beneficiários.
A única saída é o governo assumir
o problema
Por daniel leb sasaki |
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Visualize uma terceira idade tranqüila,
com a mente despreocupada e o corpo assistido por médicos
de um bom plano de saúde. Pensou? Agora, imagine
a viagem dos seus sonhos, aquela que quer realizar ainda
na juventude, mas sabe que só poderá lá
na frente. Milhares de idosos no País terão
que repensar esse futuro. É que eles são participantes
do Aerus, o fundo de previdência privada dos trabalhadores
da Varig e Transbrasil, em liquidação desde
o ano passado. No início do mês, os pensionistas
receberam a pior das notícias: com o caixa esgotado,
o instituto só teria dinheiro para pagar, no dia
3 de abril, uma última parcela, relativa aos benefícios
de março. Houve muita pressão, até
que na quarta-feira 21 uma comissão formada por dirigentes
do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), aposentados
e juristas conseguiu, junto a Brasília, uma extensão
provisória desse prazo para mais alguns meses. Mas
o problema continua: expirada a prorrogação,
os assistidos podem ficar à própria sorte.
Graziella Baggio, a presidente do SNA, soa o alerta. “Temos
70% deles acima de 60 anos, sem condições
de voltar ao mercado. E, além dos 15 mil participantes
dos Planos I e II do Aerus, devem ser levados em consideração
os 55 mil dependentes.” Um caos social está
prestes a se instalar e o drama dessas famílias,
que contribuíram com boa parcela dos salários
durante décadas para viver uma aposentadoria tranqüila,
parece estar apenas no início.
Fernando Vieira Dutra precisou se desfazer
da casa e do carro para fazer economia no orçamento
familiar. Sua esposa era comissária de vôo
da Varig, demitida sem receber verbas rescisórias
e com o salário atrasado cinco meses. “A coisa
ficou muito feia. Devemos ao cheque especial, ao cartão
de crédito, ao condomínio, ao colégio
de nossa filha, aos parentes e amigos”, desabafa.
Os mais velhos devem sofrer ainda mais, em virtude dos altos
preços dos planos de saúde. É o caso
de Theophilo Abreu, 85 anos, mecânico de vôo
aposentado pela companhia. “Vou ficar só com
o INSS e ele não cobre minhas despesas”, diz.
Já a aeromoça Eliana Alf, demitida da Varig
na casa dos 50 anos, enfrenta ao mesmo tempo o preconceito
das empresas por causa da idade e o fato de ser nova demais
para se aposentar: “Muitos, como eu, contribuíram
por mais de 20 anos no valor máximo. Fomos roubados,
ficamos sem salários, sem emprego, sem verbas rescisórias,
sem direito à restituição daquilo com
que contribuímos e ainda sem poder pleitear sequer
a aposentadoria do INSS. Isso, sim, é tragédia.”
O que deu errado? Como um dos maiores fundos
de previdência privada do País quebrou? O SNA
atribui a responsabilidade às autoridades, por permitir
e até incentivar a inadimplência das patrocinadoras.
“Não se trata apenas de omissão. É
ação concreta da União”, afirma
Luiz Antônio Castagna Maia, advogado que acompanha
as ações na Justiça. Segundo ele, é
longa a lista de ilegalidades praticadas que resultaram
no dreno das contas do Aerus. Algumas delas, decisões
unilaterais, lembram os tempos da ditadura militar. O primeiro
ato veio em 1991, quando o antigo Departamento de Aviação
Civil (DAC) suspendeu o repasse de 3% sobre os preços
das tarifas aéreas domésticas, estabelecido
como terceira fonte de custeio do fundo (as outras duas
eram as patrocinadoras e os participantes). A suspensão
ocorreu apenas nove anos depois da criação
da taxa, embora a lei estipulasse sua continuidade por três
décadas. “O Aerus mandou uma carta ao DAC,
pedindo que enviasse os estudos atuariais em que baseou
a decisão. Eles responderam que não havia
estudo algum”, revela Odilon Junqueira, ex-presidente
do Instituto Aerus.
FUNCIONÁRIOS APOSENTADOS
DA VARIG 70% deles têm mais de 60 anos e não
possuem condições de trabalhar
A Secretaria de Previdência Complementar (SPC),como
órgão fiscalizador, nada fez a respeito. Pelo
contrário. Em 1995, autorizou a criação
irregular do Plano II do fundo. Irregular, pois reduzia
a contribuição no primeiro plano, configurando
quebra de contrato. “O governo cria órgãos,
mas não lhes dá estrutura. O grande responsável
pela situação a que chegou o Aerus é
a própria SPC”, afirma um consultor ouvido
por DINHEIRO. “Tanto a Varig como a Transbrasil usavam
dessa fraqueza para usar o capital do fundo para se sustentar
na crise financeira. Resultado: não repassavam o
dinheiro e ficava por isso mesmo.” Segundo ele, ações
mais graves aconteceram, como tentativas de silenciar funcionários
do governo que apuravam os problemas. “Em 2001, Solange
Paiva Vieira, que ficou oito meses à frente da Secretaria,
foi afastada porque investigou irregularidades no fundo.
Foi uma polêmica muito grande”, diz outro analista.
Castagna aponta que nesse meio tempo a União autorizou
as patrocinadoras a contribuir quando, como e se quisessem.
“Nunca mais houve contribuição. Se o
Hugo Chávez tivesse praticado isso, seria destaque
em todos os jornais. Mas estamos falando de Brasil.”
A outra parte responsabilizada pelo drama
são as aéreas, principalmente a Varig, maior
patrocinadora. Ao deixar de honrar as dívidas assumidas
com o fundo, a empresa renegociou irregularmente os pagamentos
nada menos que 21 vezes. Parou de pagar em fevereiro de
2006, com um débito acumulado de R$ 2,3 bilhões.
Quando a crise se agravou e os funcionários na ativa
tentaram usar o dinheiro do Aerus para capitalizar a companhia,
a SPC interveio com a liquidação e, aí,
todos – empregados e aposentados – ficaram a
ver navios. Houve desespero, polêmica e mais um escândalo:
enquanto idosos perdiam suas pensões, nota na imprensa
revelou que Emo Dionízio Brentano, o primeiro interventor,
recebia honorários de até R$ 29 mil. Ele foi
afastado do cargo em janeiro. DINHEIRO procurou o atual
liquidante do Instituto Aerus, José da Silva Crespo
Filho, para comentar o assunto. Mas uma atendente disse
que ele não concede entrevistas. Na SPC, vinculada
ao Ministério da Previdência Social, a resposta
foi parecida. “A SPC não tem opinado sobre
o Aerus porque é um caso específico”,
alegou a assessoria de Leonardo Paixão, que assumiu
o cargo de secretário após a intervenção.
Aos beneficiários, resta esperar
que a boa vontade do Executivo e a simpatia do Judiciário
acabem com sua agonia. Na Justiça, tramitam duas
ações responsabilizando a União pelo
pagamento imediato dos benefícios. Além delas,
há a expectativa em relação ao depósito
dos R$ 4,5 bilhões devidos à Varig pelo congelamento
das tarifas no período Collor. “Estão
usando instrumentos jurídicos protelatórios,
porque no fim serão obrigados a pagar à empresa
e, conseqüentemente, ao Aerus”, afirma Graziella.
Com a prorrogação dos pagamentos, o benefício
do Plano I da Varig, que já está em 40% do
valor, será estendido mais um mês. O Plano
II, por mais três meses. E, no caso da Transbrasil,
os depósitos irão até dezembro. “Esperamos
que seja cumprida uma liminar que garante 100% dos benefícios
para todos e que encontremos uma solução definitiva
com o governo”, diz a presidente do sindicato. Castagna
está confiante. Acha que a mobilização
sensibilizará o STF, por conta da gravidade e da
urgência do assunto. “Do contrário, o
Supremo estará admitindo que qualquer ladrão
pode ser nomeado representante da União. Aí,
será a barbárie.”
O DRAMA DOS AERONAUTAS
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Previdência
Rombo no Aerus chega a R$ 2,3 bilhões
"A
União autorizou a inadimplência com o
fundo. Se Hugo Chávez tivesse feito isso, seria
destaque em todos os jornais"
Luiz António Castagna,
advogado que representa os interesses
dos beneficiários
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É
uma vergonha
Trabalhadores aceitam sacrifícios
e o governo
vira as costas
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"Esperamos
que seja cumprida uma
liminar que garante 100% dos benefícios
e que encontremos uma solução com
o governo"
Graziella Baggio,
presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas |
Jornal do Brasil
26/03/2007
Rombo do Aerus vai acabar
com a União
Tudo pronto para que os empregados da Varig
deixados na chuva pelo fundo previdenciário Aerus
cobrem a conta da União: na semana passada, a Associação
dos Mecânicos entrou na Justiça Federal para
garantir os beneficios que ele está reduzindo por
falta de dinheiro em caixa.
Quando os empregados ganharam a Varig
no primeiro leilão do ano passado, o fundo ainda
não tinha se desmanchado no ar. Eles até pretendiam
injetar na empresa 20% das contribuições ali
depositadas, R$ 150 milhões.
O governo não queria os empregados
no controle, tanto que em 12 horas determinou intervenção
e liquidação do fundo.
O primeiro resultado da medida foi deixar
8.532 aposentados sem cobertura, além de raspar as
contribuições dos nove mil ativos. E a Justiça
deu o segundo golpe, anulando o leilão - no qual
eles perderam para o fundo MP.
Ninguém notou que o Aerus e a Varig
estavam em rota de colisão e que a cia aérea
cairia nas mãos dos americanos ?
Os pilotos notaram. Um dos primeiros foi
o comandante Marcelo Duarte, uma vez chamado de "piloto
do apocalipse". Ele acusou a direção
da empresa de gestão fraudulenta, em 2002.
Resultado: a empresa e o fundo o processaram
por calúnia.
O tempo voou e o que se viu foi que os
pilotos tinham razão. "Nós notamos o
golpe de criação de novas empresas para esconder
a parte boa da Varig. A Varig demitia, recontratava na RioSul
e Nordeste,por salários menores".
Próxima parada ? Hoje às
16hs na Câmara de Vereadores de Niterói vai
se discutir o Aerus. E na quinta a CPI da Alerj quer ouvir
o presidente do fundo em desgraça, Odilon Junqueira
- se ele for.
Jornal do Brasil
26/03/2007
Chinês não sabe quanto
Varig custou
Renan Antunes de Oliveira Especial para o
JB
Os novos donos da Varig não dão
muita bola para a CPI da Assembléia Legislativa do
Rio de Janeiro que investiga a compra feita no ano passado.
Eles demoraram três meses para dar
depoimento. E quando deram, em outubro e novembro, enrolaram
legal.
Tudo o que eles disseram foi reexaminado
pelos parlamentares quinta-feira, para preparar a próxima
sessão, dia 29.
Mesmo com o negócio fechado desde
julho, o ponto que mais pegou até agora foi saber
exatamente quanto o chinês Lap Chan, testa-de-ferro
do grupo de investidores americano Matlin-Patterson, pagou
pela companhia que no ano anterior tinha faturado US$ 2,4
bilhões.
O presidente da CPI, deputado Paulo Ramos
(PDT), perguntou a Chan. Nos anais, está a resposta
do chinês: "Senhor deputado, eu poderia fazer
um esclarecimento antes de responder essa pergunta"?
Não respondeu e começou
a contar a história de sua vida.
"Sou chinês, mas meus pais
são brasileiros, naturalizados aqui. Eles continuam
morando no Brasil. Meus irmãos também. Eu,
infelizmente, decidi há 17 anos estudar lá
fora, onde fui fazer minha faculdade. Minha carreira profissional
é dirigida ao fundo de investimentos . Trabalhei
fora 20 e poucos anos. E só recentemente que fui
trazido para explorar a oportunidade da Varig".
No "explorar a oportunidade da Varig"
está uma declaração normal de um empresário
legítimo fazendo um negócio feio: terminar
de esgoelar uma empresa nacional em dificuldades - sepultando
com ela 11 mil empregos.
Chan disse que o fundo "tem quase
US$ 4 bilhões". E aí deu uma explicação
complicada tão repetitiva e escorregadia que faz
qualquer um duvidar que ele tenha feito faculdade fora.
Eis o argumento:
"É um fundo no qual investimos
dinheiro de terceiros, que na maioria são fundos
de pensões que rendem para o nosso fundo para investir
em companhias, que o nosso foco são companhias que
entrem em processo de recuperação e a gente
tenta investir nessas companhias e trazê-las de volta
dentro desse processo de recuperação. O nosso
fundo tem um longo período de gestão. Então,
o fundo tem um período de quase sete, nove anos,
no qual os nossos investimentos são feitos; e a média
dos nossos investimentos são desse tipo de período.
O foco, claro, é em investimentos em empresas de
recuperação, essa é a estratégia
do fundo; e esse é o foco que o fundo faz".
A frase foi enorme. Pior: revelou que
são fundos sem rosto, investindo num fundo de investidores,
que investe em companhias que estão quebradas.
O único personagem simpático
desta raça de tubarões foi Richard Gere no
filme Pretty Woman - no fim ele se arrependeu do que fazia,
mas em troca ficou com Júlia Roberts.
.O depoimento já durava horas e
nada de se saber quanto foi. Aí o presidente Ramos
recomeçou a apertar: "O senhor estava comprando
uma empresa ou estava criando uma nova" ?
Chan enrolou de novo: "Dentro do edital,
dentro da lei de recuperação...dentro da lei
de recuperação... chama-se unidade produtiva,
dentro da lei de recuperação". Ou seja,
gaguejou.
O deputado: "Afinal, o senhor estava
ou não criando uma nova empresa"?
Chan: "A gente estaria comprando essa
unidade produtiva, que é criada dentro da lei de
recuperação. Criada dentro da lei de recuperação,
a gente compraria essa empresa chamada unidade produtiva".
Patético.
Tribuna da Imprensa
Coluna do Pedro Porfírio
26/03/2007
Revelações de uma CPI
à margem do poder
"O objetivo deliberado desde
o início era entregar a companhia aérea ao
fundo de investidores americano Matlin-Patterson."
(Élnio Borges, presidente
da Associação dos Pilotos da Varig)
Enquanto uma solitária CPI da Assembléia
Legislativa do Rio de Janeiro começa a mostrar um
pouco do jogo de cartas marcadas para inviabilizar a maior
companhia aérea brasileira, no front, os nossos distintos
parlamentares só têm olhos para as benesses
do poder.
Aqui, o incansável deputado Paulo
Ramos, à frente da CPI, faz das tripas coração
para desvendar um dos maiores desastres de nossa aviação
comercial. Lá, onde não canta o sabiá,
os deputados aumentam em 27% seus próprios subsídios
e enxertam um "por fora" de R$ 5.000,00, enquanto
perseguem de olho grande todos os escaninhos do poder.
Na capital federal, já não
se fala mais em CPI do apagão aéreo. Ou por
incompetência dos seus formuladores, que jogam muito
mais para as arquibancadas, ou por medo pânico do
governo, que quer controlar todos os movimentos do jogo,
vamos permanecer na incerteza sobre o próximo vôo.
Cartas
marcadas
Curioso: como relatou Renan Antunes de
Oliveira, no "Jornal do Brasil", "a sessão
da CPI (da Alerj) não rendeu uma linha sequer na
imprensa do dia seguinte, cujo noticiário estava
ocupado com o sucesso do governo federal em evitar a instalação
da CPI do Apagão Aéreo".
No entanto, Paulo Ramos, guerreiro teimoso
e obstinado, junto com alguns colegas, está fazendo
o que seria atribuição de um Congresso Nacional
que já teve até uma frente parlamentar em
defesa da Varig, presidida pela atual governadora do Rio
Grande do Sul, Yeda Crusis.
"A decisão política
de extinguir a Varig já estava tomada, para que um
resultado adrede preparado fosse alcançado"-
afirmou o parlamentar pedetista, ao exibir documentos trazidos
à CPI por João Raymundo Cysneiros Vianna,
primeiro administrador judicial da empresa, ainda em 2005,
quando haviam muitas esperanças no ar quanto à
possível recuperação da companhia octogenária
e do Aerus, seu fundo de pensão.
Vianna, aliás, deixou meio mundo
perplexo ao declarar e assinar embaixo: os diretores da
Varig não davam a mínima importância
às determinações da Justiça,
que ele queixou-se disso ao Judiciário por escrito
e que os juízes não só ignoraram as
queixas como ainda o afastaram do cargo.
Isso levou Renan Antunes de Oliveira a
escrever: "O apoio do governo federal à companhia
em crise foi enganação; a administração
profissional por um colégio de supostos notáveis
só afundou mais a companhia; a intervenção,
a recuperação judicial, os leilões
públicos e, finalmente, o desmonte da Varig foram
um jogo de cartas marcadas".
Pelo o que eu saiba, só a Assembléia
fluminense está interessada na sorte de uma "empresa-escola",
que bem poderia estar sendo recuperada por seus próprios
funcionários, se a proposta do TGV - Trabalhadores
do Grupo Varig - tivesse sido homologada a tempo e se o
governo federal tivesse a mesma atitude que teve com empresas
privatizadas, como a Ferrovia Ferro-Oeste e até a
multinacional AES (dona da Eletropaulo) que tiveram mais
do que o carinho do BNDES.
Mesmo assim, a mais bem preparada das corporações
de aeronautas e aeroviários ainda tem a mesma esperança
do comandante Élnio: sonhar com a reversão
do quadro não é coisa de doido. Afinal, o
próprio ministro Mares Guya, que comandou o Turismo
até agora, reconheceu que toda essa celeuma nos aeroportos
tem a ver com o esvaziamento da empresa, com o sacrifício
perverso de 9 mil profissionais da ativa e outros 9 mil
aposentados e pensionistas do Fundo Aerus.
E por
falar em aposentados
Enquanto Lula vai chegando ao fim da estressante
tarefa de montar seu segundo governo (o primeiro foi um
fiasco), enquanto recorre a casuísmos para atender
à gula de seus aliados (O PSB quer porque quer dois
ministérios), vamos tomando conhecimento de um massacre
em escala gigantesca - o dos aposentados e pensionistas
de nossa Previdência Social.
Valéria Maniero, do jornal "Extra",
calculou que nos últimos 11 anos (o apogeu do neoliberalismo)
o poder de compra dos aposentados e pensionistas que ganham
acima do mínimo caiu em média 55,78% (mais
da metade). Ela cita Gilberto Braga, professor de finanças
do Ibmec (e não o novelista): "Isso ocorreu
porque, de 1995 para 2007, o reajuste acumulado do mínimo
foi de 280%, enquanto o dos benefícios previdenciários
atingiu 143%".
A repórter conversou com o aposentado
Ivan Assis Cardoso, de 75 anos, e chegou a um número
ainda mais alarmante: ele se aposentou há 27 anos
com o equivalente a 8,37 salários mínimos
e hoje recebe 1,66 SM. Isso comprova a previsão do
ex-deputado Sérgio Miranda de que, muito em breve,
as aposentadorias serão achatadas de tal forma que
todo inativo terá que sobreviver com o piso, a menos
que o novo ministro da Previdência convença
o governo a revisar a Lei 8.213/91, da lavra de Collor,
que criou o indigno fator
previdenciário. A respeito, aliás, tramita
no Congresso projeto do senador petista Paulo Paim, que
poderá ser um aliado na defesa dos direitos dos aposentados
e pensionistas.
Em contrapartida, como informou Ana Cecília
Santos, em "O Globo", a alta de correção
da tabela do Imposto de Renda pela inflação,
a partir de 1996, provocou um forte aumento da carga tributária
para os aposentados. Um estudo da consultoria Ernst &
Young mostra que o peso do IR é hoje quase dez vezes
maior do que era há 11 anos para aposentados com
menos de 65 anos que recebem o benefício máximo
do INSS.
Para demonstrar o impacto do congelamento
da tabela do imposto, a consultoria calculou quanto representou
a mordida do Leão a cada ano no benefício
desses aposentados. Ou seja, a alíquota efetiva.
Em 1996, o aposentado que ganhava o teto máximo,
de R$ 957,56, pagava 15% de IR sobre a sua renda. Mas a
alíquota efetiva era de menos de 1%. Hoje o mesmo
aposentado, cujo benefício máximo está
em R$ 2.801,82, passou para a faixa de tributação
mais alta, na qual o imposto incidente é de 27,5%,
e a alíquota efetiva, de 8,76%. Quer dizer, em 11
anos o peso do IR no benefício deu um salto de 871%
(9,7 vezes).
Zero Hora
26/03/2007
Dirigentes são suspeitos de
irregularidades
Um levantamento do Conselho de Controle
de Atividades Financeiras (Coaf), ligado ao Ministério
da Fazenda, identificou movimentações atípicas
em contas de dirigentes e ex-dirigentes da Infraero.
Os documentos foram entregues à
Controladoria Geral da União (CGU), que abriu investigação
e apura possíveis casos de enriquecimento ilícito
e de uso indevido do cargo. Na CGU há, ainda, outra
investigação sobre a Infraero, pedida em 2006
pelo ministro da Defesa, Waldir Pires, para averiguar as
condições de contratação de
um software a ser usado na organização da
publicidade nos aeroportos.
As suspeitas de irregularidades dentro
da gestão da Infraero também envolvem um terreno
a 15 quilômetros do aeroporto de Brasília.
O assessor da presidência da estatal Josenvalto Reis
é suspeito de tentar negociar a compra da área,
de 240 mil metros quadrados, para repassar a imobiliárias.
A denúncia foi publicada pela revista Veja deste
final de semana.
Com a concessão de uso do terreno
até 2012, a Infraero tem prioridade em adquirir o
imóvel. Em nota divulgada em sua página na
Internet sobre o assunto, a Infraero afirma que "em
hipótese alguma a empresa poderia devolver uma cessão
a que tem direito legal e que no futuro poderá servir
aos interesses da União". A revista Veja informou
que o assessor Josenvalto Reis pediu demissão na
última sexta-feira. O presidente da Infraero, brigadeiro
José Carlos Pereira, foi procurado para esclarecer
a reportagem da revista, mas não foi localizado.
Jornal do Brasil
25/03/2007
Varig: jogo de cartas marcadas
deixa 9 mil órfãos
Conspiração:
A história de uma empresa fundada há
80 anos que acabou nas mãos de testas-de-ferro de
investidores internacionais, lesando o Estado, os trabalhadores
e 20 mil credores.
Renan Antunes de Oliveira
Um senhor grisalho, amparado pelo filho, sentou à
esquerda do deputado Paulo Ramos, presidente da CPI da Varig,
na quinta-feira, às 11h, na sala de comissões
da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. Jurou
dizer toda a verdade, somente ela, nada mais do que ela.
Por garantia, os deputados ainda o fizeram assinar um papel,
rubricado por eles e anexado aos autos da CPI que investiga
uma das maiores armações da economia brasileira:
o rombo de US$ 5 bilhões que liquidou a Varig.
O senhor era João Raymundo Cysneiros Vianna, ex-administrador
judicial da companhia aérea, o primeiro homem a quem
o Judiciário confiou os segredos da empresa enquanto
ainda se tentava salvá-la, em junho de 2005.
O que ele disse surpreendeu até gente acostumada
com escândalos: que os diretores da Varig não
davam a mínima importância às determinações
da Justiça, que ele queixou-se disso ao Judiciário
por escrito e que os juízes não só
ignoraram as queixas como ainda o afastaram do cargo.
O deputado Ramos reagiu com um gesto às câmeras
da TV Alerj e aos representantes das quase nove mil famílias
de ex-empregados que ocupavam a galeria: exibiu documentos
trazidos por Cysneiros e garantiu que a CPI vai provar que
"a decisão política de extinguir a Varig
já estava tomada, para que um resultado adrede preparado
fosse alcançado".
Tradução da polida linguagem legislativa:
o apoio do governo federal à companhia em crise foi
enganação; a administração profissional
por um colégio de supostos notáveis só
afundou mais a companhia; a intervenção, a
recuperação judicial, os leilões públicos
e, finalmente, o desmonte da Varig foram um jogo de cartas
marcadas.
- O objetivo deliberado desde o início era entregar
a companhia aérea ao fundo de investidores americano
Matlin-Patterson - disse o comandante Elnio Borges, presidente
da Associação dos Pilotos, representante dos
empregados, em entrevista no mesmo dia.
Borges espera reverter a decisão do leilão,
tomando a Varig boa para os trabalhadores. E acredita que
a CPI vai abrir a caixa-preta da companhia, desmascarando
os envolvidos. No momento, o fundo MP só tem para
bater as caras dos empresários Lap Chan, sino-americano-paulista,
e Marco Audi, ex-dirigente de uma insolvente indústria
nacional de solventes.
A sessão da CPI não rendeu uma linha sequer
na imprensa do dia seguinte, cujo noticiário estava
ocupado com o sucesso do governo federal em evitar a instalação
da CPI do Apagão Aéreo.
Sobre o tema, apenas a fala do novo ministro das Relações
Institucionais, Walfrido dos Mares Guias. Ele botou mais
um prego no caixão da Varig dizendo que foi a saída
da companhia do mercado uma das causas do caos nos aeroportos.
Das galerias da Alerj saíram frustrados dezenas de
ex-funcionários e aposentados cujos benefícios
foram cortados na semana passada pelo Aerus, o quebrado
fundo de previdência complementar dos aeroviários.
Nova sessão foi marcada para 13 de abril, com a mesma
missão: descobrir como a poderosa empresa aérea
fundada por um imigrante alemão no Rio Grande do
Sul há 80 anos acabou nas mãos de testas-de-ferro
de investidores internacionais, lesando os cofres públicos,
9 mil trabalhadores e 20 mil credores.
Os lances certeiros de Lap Chan
A Varig faturou 4 bilhões de dólares em 2004.
Chegou a ter 27 mil empregados. Manejava com eficiência
450 vôos diários.
E com tudo isso, quebrou. A crise começou nos anos
90, quando ainda tinha 100 aviões e US$ 2,4 bi em
caixa.
Em uma década voando sem rumo, vendeu a frota e alugou
aviões. Queimou a gordura e abriu um rombo de 2,5
bilhões. Gordura e rombo somados, foram-se US$ 5
bilhões.
No final de 2005, a Varig vendeu sua subsidiária
VarigLog para o fundo MP por US$ 42 milhões, uma
barbada considerando que a comprada faturava US$ 1 bilhão
e devia US$ 153 milhões à própria Varig.
Chan viu a Varig se enforcando e apertou mais: começou
a comprar dela seus créditos futuros, o dinheiro
bom das vendas por cartões Visa e Mastercard.
Quando o caixa ficou vazio, Chan fez uma oferta de US$ 100
milhões para comprá-la. O negócio só
não saiu porque os credores chiaram.
Entrou a Justiça e forçou um leilão
para evitar a quebradeira. Nele, Chan não fez oferta.
Os empregados ofereceram seus créditos trabalhistas
e venceram.
A Justiça não aceitou a vitória e exigiu
dinheiro vivo. Foram buscá-lo em Santiago do Chile,
com a LanChile e o banco suíço UBS, com quem
já negociavam em segredo.
Representantes dos empregados estavam com os parceiros quando
chegou a notícia de que a Justiça brasileira
anulara o leilão.
Entre um e outro leilão os empregados passaram 39
horas como donos, abrindo os livros.
A Justiça mandou fechá-los e determinou o
novo leilão. Vencido por quem? Pelo mesmo Lap Chan.
Num lance de apenas US$ 20 milhões. Bem menos do
que os US$ 100 milhões oferecidos antes.
A
queda livre de um império do ar
Os mais antigos varigólogos dizem que a Varig só
foi bem administrada no tempo do seu Otto. Otto Ernest Meier.
O imigrante durão que trouxe um avião da Alemanha
e plantou as raízes do império do ar, no Rio
Grande do Sul, em 1927.
O negócio parecia ir bem. Vapt vupt e Otto perdeu
tudo. Dizem historiadores gaúchos que ele tinha uma
queda por Hitler e por isso o presidente Getúlio
Vargas manobrou para tirá-lo do comando.
Empresários turbinados pelo dinheiro público
do Rio Grande assumiram o controle nos anos 30.
Na escala de 1945, a Varig sem Otto estava quase quebrada.
Os gaúchos endinheirados optaram por doar o patrimônio
para os empregados.
Sob inspiração do primeiro faxineiro, então
alçado a top executivo, Ruben Martin Berta, foi criada
uma fundação para gerenciar a companhia. Era
para ser uma inovação democrática.
O homem profetizou que a Varig gerenciada pela fundação
só poderia quebrar se os empregados quisessem - quando
ele morreu, em 1966, ela foi rebatizada com seu nome, na
sigla FRB.
A fundação só existe para dar benefícios
sociais aos empregados da Varig. Quando não mais
o fizer deve ser extinta - está no estatutos e na
Lei das Fundações.
Até a quebradeira, a FRB era um INSS com dinheiro.
Tinha a companhia aérea para tirar dela lucro para
pagar benefícios médicos, suplementar aposentadorias
e financiar casa ao pessoal.
Atenção: os empregados nunca foram donos da
Varig. E também não eram donos da FRB. A fundação
é que era dona de tudo.
Sem patrão, quem mandou na Varig nos últimos
52 anos ? O Colégio Deliberante da FRB. E depois
dele o Conselho Curador da FRB, escolhido pelo Colégio,
que por sua vez indicava o Conselho...bem, é mais
fácil explicar como a Santa Sé escolhe o colégio
cardinalício e os papas.
Alheio às lutas pelo poder do Colégio e do
Conselho, e também aos atos da diretoria da Varig,
os empregados viviam felizes com a garantia de amparo vitalício
pelo seu fundo de pensões, o Aerus, fundo este resultado
de aplicações financeiras das épocas
de vacas gordas.
Por três décadas foi quase tão seguro
e confortável ser da Varig quanto ser empregado do
Banco do Brasil ou da Petrobras.
Aí a FRB inventou de se modernizar. Dividiu a Varig,
criou um cipoal de empresas, abriu regionais, comprou hotéis.
Foi a mesma coisa do que implantar asas num porco e fazê-lo
voar.
Quando a Varig quebrou em março do ano passado 11
mil empregados ficaram na chuva. Mais da metade deles até
hoje não conseguiu trabalho.
O generoso fundo de pensão acabou sob intervenção
do governo, com um rombo de 3 bilhões, maquiado na
contabilidade: na prática, criou 19 planos para confundir
os segurados - mas não está pagando ninguém.
Seu futuro tem a mesma segurança de uma caixa de
fósforos vazia na sarjeta em dia de enxurrada. Na
semana passada pensionistas e aposentados que tiveram benefícios
cortados se preparavam para uma maratona de protestos na
frente da Alerj.
Por que na Assembléia do Rio? Por que o Legislativo
carioca virou a única tribuna interessada no futuro
da companhia ?
É que o Rio também tomou um calote da Varig.
O Estado pagou R$ 240 milhões em ICMs recolhido indevidamente
para que a empresa mantivesse os empregos no Estado - aí
ela quebrou, vendeu a parte boa para o fundo americano e
se mudou para São Paulo, num calote dentro do calote.
Os empregados demitidos sofreram também uma pequena
humilhação: em entrevista a uma revista, os
novos controladores disseram que só estavam levando
para a nova Varig "aqueles empregados que tratavam
bem os passageiros" - parece que dois em cada três
da turma usavam uniforme só para destratar viajantes.
Quem se deu bem até agora foram advogados, consultores
e auditores, numa farra de honorários. Na CPI, o
administrador judicial João Cysneiros admitiu que
ganhava 147 mil por mês - e que entre suas funções
pagou R$ 2,5 milhões para Lap Chan apenas por que
ele participou de uma proposta de compra rejeitada.
Esta Varig saqueada, quebrada e mudada para Sampa é
hoje menor do que na época em que era comandada pelo
faxineiro, cuja profecia se cumpriu: "Os próprios
empregados vão acabar com ela".
Sonhos jogados
por terra
Algumas das nove mil histórias parecidas, em quatro
personagens ex-Varig que estavam na Alerj:
A loira magra é Flávia Krahenhofer, da turma
dos "inservíveis". Depois de 24 anos como
comissária de bordo, foi posta na rua sem receber
os direitos trabalhistas.
Ela participou da CPI e tentava organizar protestos dos
colegas. Agitava com aquela disciplina de aeromoça,
pedindo licença e agradecendo pela atenção,
mas genuinamente furiosa.
Queria fazer um acampamento na praça, amarrar-se
na estátua de Tiradentes, puxar greve de fome, qualquer
coisa para chamar atenção sobre o drama que
vive.
Cláudia Alves, outra comissária de bordo desbordada,
27 anos no ar, chutada sem pára-quedas no meio da
crise.
Edson Cardin chega à escadaria da Alerj ofegante,
veste uma camiseta de protesto contra o Aerus e desfia seu
rosário de queixas: deixaram de pagar os benecícios
dele justo agora durante seu tratamento contra um câncer.
Cardin dá um sorriso resignado, recebe o conforto
dos amigos e sobe para a sala da CPI. É o coordenador
dos aposentados:
- Somos 8.532. Pararam de pagar nossas pensões em
abril de 2006. Às vezes, pagam um pouco. Por exemplo,
eu ganhava 4.600, eles foram baixando até 1.500.
O mesmo acontece com todos. Dá para viver assim?
- perguntou.
Em seguida, ele toma ânimo e rosna um "vamos
à luta", baixinho, para não incomodar
os seguranças da CPI.
Outra trouxa indignada é Edi Oliveira, 28 anos de
Varig, passageira de um mico. Ela ambarcou num plano incentivado
de aposentadoria.
- Acreditei neles e peguei promissórias. Tenho R$
60 mil para receber e não me pagam.
Estadão
24 de março de 2007 - 15:33
Nova Varig consegue liminar contra
taxa extra sobre as tarifas
Cobrança era o equivalente
a 1% sobre a venda de todas as passagens aéreas
Sueli Campo
SÃO PAULO - A VRG Linhas Aéreas
S/A, conhecida como Nova Varig, conseguiu na sexta-feira,
23, uma liminar na Justiça Federal suspendendo a
cobrança de um adicional tarifário - equivalente
a 1% sobre a venda de todas as passagens aéreas -
pela Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac). A decisão foi proferida pela juíza
Raquel Soares Chiarelli, da 21ª Vara Federal de Brasília.
Para a juíza, "mostra-se clara,
pois, a natureza tributária da exação
e a sua flagrante infringência ao princípio
da legalidade tributária na sua instituição".
A VRG impetrou mandado de segurança contra a cobrança
por entender que ela infringe o princípio da legalidade
tributária e que só poderia ter sido instituída
por lei, e não por decreto. A cobrança está
prevista nos Decretos 76.590/76 e 98.996/90.
O advogado da Nova Varig, Cristiano Zanin
Martins, afirma que é a primeira vez que a Anac é
questionada na Justiça a respeito da cobrança
desse Adicional Tarifário. As decisões anteriores
envolviam o extinto Departamento de Aviação
Civil (DAC). "A decisão é relevante porque
confirma os precedentes sobre a matéria e, ainda,
desonera uma companhia aérea nova, como é
o caso da VRG, do pagamento de um tributo manifestamente
indevido", diz o advogado.
O adicional de 1% sobre as tarifas aéreas
foi criado para subsidiar as rotas regionais, de menor demanda
de tráfego, que geralmente não são
atraentes economicamente pelas companhias aéreas
por serem deficitárias. O adicional gera uma suplementação
tarifária, que é acumulada no Fundo Aeronáutico,
e depois distribuída em favor das empresas de transporte
aéreo regional.
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