Folha de São Paulo
25/07/2007
Governo pressionou a TAM por "saída
honrosa", diz Cesar Maia
DA SUCURSAL DO RIO
O prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), acusou ontem o governo
federal, em texto divulgado na internet, de ter pressionado
a TAM a apontar possíveis problemas técnicos
no avião que se acidentou em Congonhas.
"Posso afirmar -pois sou testemunha- que um alto
personagem do governo contatou a alta direção
da empresa (TAM) dizendo que ou eles davam uma boa saída
ao governo ou ele (alto personagem) garantia que, baixada
a poeira, o governo iria quebrar a TAM", diz a nota
de seu boletim diário, transcrevendo versão
que afirma ter recebido do dirigente. Ainda de acordo
com Maia, a empresa hesitou temendo problemas com seguros.
Segundo o prefeito, "a saída encontrada foi
dar uma explicação que, do ponto de vista
técnico e do mercado segurador, não muda
nada. O governo com isso teria garantida uma saída
"honrosa" e a TAM ficaria coberta, pois o não
uso eventual de um dos reversos é fato regular.
Afirmo mais: o top, top, top do senhor Marco Aurélio
Garcia não foi pela surpresa. Ele sabia que viria
a matéria e simplesmente fez os gestos como se
confirma uma operação. Tradução
do top, top: "É isso aí. F... eles'",
afirma o prefeito, em referência ao gesto obsceno
feito pelo assessor especial da Presidência quando
o noticiário do "JN" revelou supostos
problemas no avião.
Procurado pela Folha, o prefeito confirmou o teor do texto.
Planalto
No final da tarde, a assessoria da TAM afirmou que "as
afirmações não procedem, e são
consideradas um absurdo". Antes, às 14h, a
empresa havia informado que não comentaria o caso.
O Palácio do Planalto negou as acusações
e afirmou que, se o prefeito do Rio faz acusações,
deveria divulgar nomes.
O chefe-de-gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho,
também classificou a história como sendo
"uma enorme bobagem", e completou: "Só
ele [César Maia] poderia falar uma bobagem dessas",
disse.
Marco Aurélio Garcia passou cerca de um hora e
trinta minutos no Aeroporto Santos Dumont, no Rio, durante
a tarde de anteontem por conta da crise aérea,
segundo o jornal "O Globo". Ele conseguiu embarcar
para Brasília apenas hoje.
No aeroporto, Garcia leu "Os Farsantes", livro
de 1966 do inglês Graham Greene sobre o Haiti durante
a ditadura de François Duvalier. O escritor resumiu
o país como uma "república de pesadelos".
O Estado de São Paulo
25/07/2007
Na batida, velocidade era de 175
km/h
Segundo dados da caixa-preta,
avião desacelerou antes do choque
Patrícia Campos Mello, WASHINGTON
As primeiras informações técnicas
da caixa-preta de dados indicam que o Airbus A320 estava
a 175 quilômetros por hora quando bateu e explodiu
no prédio da TAM Express na Avenida Washington
Luís no último dia 17. De acordo com os
registros da caixa-preta, a aeronave aterrissou em velocidade
padrão - entre 220 e 240 km/h. Especialistas ouvidos
pelo Estado observam que, apesar de atravessar quase 2
mil metros de pista, ter batido em uma barreira e mudado
a trajetória, houve redução pequena
da velocidade final.
Isso leva a três hipóteses: o avião
não conseguiu frear; o avião teve frenagem
insuficiente; o avião passou por um processo de
aceleração na pista (por motivos ainda ignorados).
Um dos controladores de pista que testemunhou o acidente
afirma que o avião ganhou velocidade na pista.
Em Brasília, o chefe do Centro de Investigação
e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos
(Cenipa), brigadeiro Jorge Kersul Filho, confirmou as
informações sobre a velocidade do avião.
O coronel Fernando Camargo, também do Cenipa, que
participa da extração de dados nos Estados
Unidos, deu explicações sobre o caso aos
deputados Marco Maia (PT-RS) e Efraim Filho (DEM-PB).
Os políticos acompanham a extração
de dados das caixas-pretas pelo técnicos do Conselho
Nacional de Segurança dos Transportes (NTSB, na
sigla em inglês). A investigação ainda
conta com representantes da TAM, da Airbus e do fabricante
das turbinas, Pratt & Whitney.
“A caixa-preta mostra que o avião pousou
com velocidade maior que a registrada no momento da colisão
com o prédio - e ele bateu de lado, não
de frente, isto é, foi deslizando no final da pista”,
explicou Efraim. Segundo os deputados, esse foi o único
parâmetro técnico do gravador de dados a
que tiveram acesso. A caixa de voz começou ontem
a ser transcrita para o inglês, uma das línguas
oficiais da Organização Internacional da
Aviação Civil (Icao, na sigla em inglês).
Mas os deputados federais afirmaram que não tiveram
acesso a trechos da transcrição dos 30 minutos
de conversas na cabine.
Para o engenheiro Eno Siewerdt, especialista em sistemas
de aviação, ainda é prematuro dizer
se o Airbus não conseguiu frear ou se voltou a
acelerar ao tocar o solo. “É mais ou menos
como um navio. Se ele não começa a frear
bem antes, é muito difícil que consiga parar”,
comparou.
O engenheiro lembra, no entanto, que as imagens captadas
pelas câmeras da Infraero sugerem que o piloto cruzou
a pista com o reverso (freio aerodinâmico) esquerdo
funcionando. “Se, isso ocorreu, não faz sentido
o avião ter passado tão rápido, o
que pode indicar que estava acelerando. O mistério
agora é saber se o comandante acionou as turbinas
ou se elas ganharam potência involuntariamente.”
O oficial da reserva Luiz Alberto Bohrer, especialista
em segurança de vôo, concorda, mas admite
a hipótese de “uma aquaplanagem por um longo
período”. “Apenas o atrito do avião
com o solo, com o ar e o choque com a mureta teriam sido
significativos para fazer essa velocidade cair mais do
que isso (175 km/h).”
Simulação feita pelo professor de Física
da USP Cláudio Furukawa mostra que o avião
diminuiria de velocidade naturalmente apenas com o atrito
dos pneus no solo e a resistência do ar. “Se
houvesse só a resistência do ar, a aeronave
reduziria de 240 km/h para 200 km/h no final da pista”,
diz. Segundo um experiente piloto, em uma aterrissagem
normal, um Airbus A320 com o speedbreak (outro freio aerodinâmico)
armado e o procedimento de frenagem normal, a velocidade
cairia para cerca de 60km/h até o final do segundo
terço da pista.
O coronel Camargo afirmou que os trabalhos nos Estados
Unidos devem estar concluídos amanhã ou
sexta-feira. “Já extraímos 100% dos
dados. Estamos terminando a validação, para
determinar a confiabilidade das informações.”
Foram escolhidos entre 50 e 60 dos 580 parâmetros
para análise detalhada. Após confirmação
de que os dados estão corretos, é feita
a confrontação das informações.
CONFIDENCIALIDADE
Camargo quer garantir confidencialidade de dados e depoimentos
de testemunhas durante as investigações.
Ele pediu aos deputados que proponham legislação
para garantir sigilo. Hoje, segundo o coronel, muitas
testemunhas de acidentes ficam intimidadas porque podem
ser forçadas a dar declarações públicas,
intimadas pelo Ministério Público ou a polícia.
Questionado se o avião arremeteu após o
pouso, o deputado Maia desconversou. “Essa é
uma questão controversa, precisarão aprofundar
as informações sobre a velocidade para determinar
se houve ou não tentativa de arremeter.”
Segundo o parlamentar, a Convenção de Chicago
determina sigilo sobre trechos da caixa de voz até
que se conclua a investigação.
O Estado de São Paulo
25/07/2007
Visita à oficina da TAM frustra
CPI
Deputados queriam ver como manutenção
é feita, mas não acharam nenhum Airbus
Bruno Paes Manso, SÃO CARLOS
A visita dos integrantes da CPI do Apagão Aéreo
da Câmara ao Centro Tecnológico da TAM ontem,
em São Carlos (SP), até que prometia. A
idéia era conhecer in loco a superoficina de manutenção
e colher subsídios para o depoimento do vice-presidente
técnico da TAM, Ruy Amparo, à CPI, marcado
para hoje em Brasília.
“Queremos ver como é a manutenção
do Airbus e conseguir detalhes sobre suas condições”,
disse Eduardo Campos (PMDB-RJ). “Precisamos aprender
para não fazer perguntas de leigo”, completou
Ivan Valente (PSOL-SP). “Já sei que se freia
um avião pisando em pedal.”
Logo no início da visita, porém, a frustração:
nenhum dos 60 Airbus
da TAM estava em manutenção. “É
muita coincidência não ter nem um sequer.
Veja se não esconderam entre as árvores”,
ironizou Valente. Sem Airbus, os deputados aproveitaram
para aprender sobre a oficina.
O guia foi justamente Amparo. Os deputados o bombardearam
com perguntas sobre o risco de manter voando um avião
com reverso - freio aerodinâmico - inoperante. Ele
voltou a dizer que o manual permite isso e passou a repetir
a frase que se tornou o mantra da visita. “Tenho
plena convicção de que a aeronave estava
segura para pousar, mesmo com as pistas nas condições
em que estavam.”
Na visita, os deputados captaram contradições,
que guardaram para o depoimento hoje. Uma é a ênfase
com que os engenheiros diziam que o reverso tinha papel
secundário na frenagem. Em uma pista com espelho
d’água, explicaram, ele consegue impedir
o avião de seguir por só mais 55 metros
- a pista principal de Congonhas tem 1.939 metros. “Mas
quem garante que isso não seria suficiente para
evitar o acidente?”, retrucou Valente. “A
dúvida é saber se não estavam deixando
as aeronaves trabalharem no limite da segurança”,
disse Campos.
Jornal do Brasil
25/07/2007
Pista "ensaboada" influiu
em acidente, diz investigação
Vasconcelo Quadros, Brasil Digital
Peritos da Polícia Federal concluíram ontem
o levantamento de dados sobre as condições
da pista principal do Aeroporto de Congonhas, mas aguardam
a transcrição das informações
técnicas da caixa preta do Airbus A320 para definir
as causas do maior acidente aéreo brasileiro. Embora
seja cedo para qualquer interpretação consistente,
os rumos das três investigações em
curso - Polícia Civil, Federal e Centro de Investigação
e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos
(Cenipa) - apontam para a possibilidade de uma sucessão
de erros, que começou com as péssimas condições
de pouso na pista principal em dias de chuvas. Dois pilotos
ouvidos ontem na Polícia Civil de São Paulo
confirmaram que, sem as ranhuras, que faziam parte do
projeto das obras e começam a ser construídas
hoje, a pista ficava bem mais ensaboada e isso dificultava
a frenagem das aeronaves, especialmente as de grande porte
como o Airbus A-320.
O principal sintoma de que o Cenipa também trabalha
com essa suspeita acabou surgindo ontem pelo brigadeiro
Jorge Kersul Filho, durante entrevista em Brasília,
ao explicar que o órgão dirigido por ele
, recomendou, após o acidente, que os pilotos evitassem
descer em Congonhas pela pista principal em dias de chuva.
- Ainda estamos fazendo medições sobre
as condições da pista. Pode ter sido isso
(...), mas nunca há um único fator - disse
Kersul.
Em vez de falar em causas, Kersul prefere usar "fatores
que contribuíram", mas frisa que só
a transcrição dos áudios e dos dados
técnicos sobre a aeronave - que estão na
caixa preta em análise nos Estados Unidos - vão
dizer ao certo o que levou o Airbus A320 a se espatifar
contra o prédio da TAM em Congonhas. Ele acrescentou
um dado que pode conduzir também para uma falha
mecânica: o avião bateu a 175 quilômetros
por hora, tocou no ponto certo da pista, mas não
desacelerou o suficiente, sugerindo que o freio também
falhou.
Segundo Kersul, o avião manteve a mesma velocidade
ao chocar-se, de lado, contra o prédio, mas antes
bateu o trem de pouso contra uma caixa de concreto que
separa a cabeceira da pista da Avenida Washington Luís.
O delegado Antônio Carlos Menezes Barbosa, da polícia
paulista, ouviu ontem os depoimentos de dois funcionários
da Infraero e de dois pilotos da TAM. Os pilotos confirmaram
as péssimas condições da pista principal
em dias de chuva. A dúvida da polícia, levantada
ontem a partir do depoimento dos funcionários da
Infraero, é se o comandante do vôo 3054,
Henrique Stephanini Di Sacco, recebeu as informações
corretas sobre as condições da pista. Os
dois funcionários disseram que fizeram a verificação
por volta das 17h e informaram à torre que, embora
caísse uma chuva leve e contínua, não
havia poças na pista, o que daria condições
de pouso. O avião tentou aterrissar, no entanto,
às 18h45, portanto cerca de uma hora e meia depois.
A suspeita é de que essa informação
pudesse estar defasada.
- O piloto que pousou um dia antes com o mesmo avião
disse houve derrapagem e que teve de usar muita força
para fazer funcionar também o freio manual. Ele
contou que ficou tenso e assustado. Mas também
não consegue entender como seu colega não
conseguiu segurar o avião - disse o promotor Mário
Luiz Sarrubo, que acompanha as investigações
da Polícia Civil.
Folha de São Paulo
25/07/2007
Anac fuzila mortos
SÃO PAULO - Não sei se resolve ou não
o caos aéreo (e terrestre) brasileiro a sugestão
da associação internacional dos controladores
de vôo de chamar os gringos para pôr ordem
no que os tapuias não estão conseguindo.
Mas está evidente que qualquer um com ao menos
um neurônio não pode confiar nas autoridades
do setor, pela catarata de incoerências e contradições
em que caem, dia sim, outro também.
Para começar, temos uma certa Denise Abreu, diretora
da Anac, que se recusou em entrevista à Folha a
"linkar" acidente com sistema aéreo,
porque, segundo ela, "o acidente não tem nada
a ver com o número de vôos em Congonhas".
Aí, vem o governo que a nomeou e diz que, sim,
a segurança tem a ver com o número de vôos
em Congonhas, tanto que vai reduzi-los em nome da segurança
mesmo ao custo de eventual aumento no preço das
passagens.
Depois, o presidente da Infraero, José Carlos Pereira,
descobre, 200 mortos depois, que "segurança
tem que vir em primeiro lugar". E ainda insiste que
não está dizendo que o aeroporto estava
inseguro.
Apenas que "chegou a hora de tomar medidas cautelares".
O que autoriza qualquer um que saiba ler a acreditar que,
antes, não havia essa margem de cautela adicional,
que é o mínimo que se pede nessa como em
tantas outras matérias de que o governo (sucessivos
governos, aliás) descuidaram.
Completa o quadro a criminosa irresponsabilidade da Anac
ao apontar "falha humana ou de operação"
no acidente, em ofício à Justiça,
sem que tenha nem sequer começado a apuração
das causas. É um órgão do governo,
responsável pela segurança do vôo,
adotando fuzilamento sumário. Pior: está
fuzilando mortos. É uma covardia que, em qualquer
país com um mínimo de civilização,
resultaria em demissão sumária. Mas é
o Brasil, primitivo.
O Dia
25/07/2007
Aviao volta ao Rio sem pousar
Rio - Pelo quinto dia seguido, houve longa espera nos
aeroportos. Nesta terça o vilão foi o mau
tempo, que fechou três vezes o Aeroporto de Congonhas,
resultando no cancelamento de 49,7% dos vôos até
as 19h. Os reflexos foram sentidos no Rio: no Santos Dumont,
até as 18h30, dos 136 vôos programados, 76
foram cancelados, e 37 atrasaram em mais de uma hora.
No Tom Jobim, até as 19h, houve 61 atrasos —
44,2% dos 138 vôos —, além de 17 cancelamentos.
Em todo o País, foram 590 vôos com atraso,
37,4% dos 1.576 programados, além de 298 cancelamentos.
Houve situações inusitadas, como o retorno
de um avião ao Santos Dumont depois de já
estar em São Paulo. Com partida prevista para 9h05,
o vôo 3911 da TAM decolou às 10h. Durante
a viagem, Congonhas fechou para pousos, o que obrigou
a aeronave a retornar. Segundo a TAM, os passageiros foram
alocados em vôos para Campinas e Guarulhos.
Depois de dois dias de tentativa, a levantadora de peso
Eldy Nair Salazar, que participou do Pan, conseguiu vaga
num vôo para as 16h10, mas uma hora antes do embarque
foi avisada sobre atraso de quatro horas.
O Globo
25/07/2007
Coluna Claudio Humberto
25/07/2007
Flanando no shopping
Araponga da Agência Brasileira de Inteligência
informa que terça passada (17) o ministro e general
Jorge Félix (Segurança Institucional) passeava
no Brasília Shopping enquanto o avião da
TAM se consumia em chamas. Sinal de que a área
de Inteligência do governo andava atenta ao caos
aéreo.
Aos pedaços
São inúmeros os relatos sobre problemas
de manutenção com aviões da TAM.
Passageiros do velho MD-11 para Milão se queixam
de poltronas quebradas, vídeo e som sem funcionar,
sanitário fora de operação etc.
Tá feia a coisa
Na escala de Salvador do vôo 3492 da TAM (Recife-Brasília),
domingo, o comandante Tércio encerrou um bate-boca
de overbooking assim: "Quem quiser que se sente,
vou decolar!" Passageiros viajaram no colo de outros.
O Globo - Ancelmo.com
24/07/2007 - 14:01h
Caos Aéreo
Quando a seleção brasileira decidiu fazer,
em 2004, um jogo para ajudar às vítimas
da guerra civil no Haiti, com a presença do presidente
Lula, surgiu um problema durante as negociações
com o governo federal: como chegar naquele país?
O então chefe da Casa Civil, José Dirceu,
resolveu na hora a questão:
– Avião não é problema, pode
deixar comigo que eu consigo um da TAM.
E assim foi feito: a delegação brasileira
desembarcou em Santo Domingo (República Dominicana)
e Porto Príncipe (Haiti) nas asas da TAM.
Portanto, deve ser por pura maldade que dizem que havia
lobby em Brasília para quebrar a Varig e favorecer
a TAM. Deve ser também por inveja que dizem que
a diretora da Anac, Denise Abreu (ex-assessora de Dirceu
na Casa Civil), é conhecida como representante
informal da TAM dentro da agência.
O pessoal no Brasil é muito invejoso.