::::: RIO DE JANEIRO - 24 DE NOVEMBRO DE 2007 :::::

 

Jornal do Brasil
24/11/2007
Saída de indicado é sinal da primeira crise
Kayo Iglesias

Uma faísca de crise já foi acesa na recém-anunciada diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O Ministério da Defesa informou ontem que o engenheiro civil e professor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) Cláudio Jorge Pinto Alves não vai mais ser indicado ao Senado para ocupar uma das cinco cadeiras. Na versão do ministério, ele teria manifestado a desistência à futura presidente da agência, a economista Solange Paiva Vieira. Pessoas ligadas ao professor, entretanto, garantem que em nenhum momento ele teve vontade de não assumir o posto. Cláudio, contam, teria sido pego de surpresa com a notícia e vem se mostrando constrangido com a situação.

O engenheiro, de 52 anos, tem um perfil técnico: graduação em Infra-estrutura Aeronáutica pelo ITA, mestrado em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo, doutorado em Engenharia Aeronáutica pelo ITA e pós-doutorado na França. A antiga diretoria colegiada da Anac era criticada justamente pelo excesso de critério político nas indicações.

Antes de ser convidado a assumir uma diretoria da Anac, Cláudio Jorge contestou a indicação de Solange Vieira para a presidência da agência.

- Por melhor que Solange seja em matéria de gestão, é complicado colocar alguém que desconhece completamente o setor - comentou, à época.

Dias depois, ao saber que comandaria a diretoria de Infra-estrutura Aeroportuária, o professor do ITA fez uma declaração que vai contra a postura do ministro e jurista Nelson Jobim - que decretou 15 de março de 2008 como o último dia da crise aérea.

- Não existe solução imediata para o que se convencionou chamar de crise aérea ou apagão aéreo. A situação do setor é bastante complexa e demanda soluções a médio e longo prazos - destacou.

Na versão do Ministério da Defesa, o engenheiro teria alegado razões pessoais para voltar atrás na decisão de aceitar o convite feito em outubro por Solange, atual chefe da Secretaria de Aviação Civil (SAC).

Segundo a assessoria do ministério, Cláudio Jorge teria comunicado a Solange sua decisão há duas semanas. Jobim teria sido informado, mas a assessoria não soube dizer porque a informação não foi divulgada antes. Para o lugar do professor, Jobim procura um especialista em regulação internacional.

Desde agosto, cinco diretores que integravam o colegiado da Anac pediram demissão em meio às críticas de ineficiência do órgão para lidar com a crise no setor aéreo.

Os ex-diretores Denise Abreu, Leur Lomanto, Jorge Veloso e Josef Barat renunciaram aos cargos, deixando o então presidente Milton Zuanazzi isolado e a agência engessada - só podia tomar decisões com quorum de pelo menos três diretores. Zuanazzi deixou a Anac no dia 31 de outubro.

Para substituí-los, foram indicados, além de Cláudio Jorge, outros três nomes: o do brigadeiro-engenheiro Allemander Pereira Filho; o do economista Marcelo Pacheco dos Guaranys e o do engenheiro civil Alexandre Gomes de Barros.

Segundo o ministério, Guaranys e Barros tomaram posse na semana passada e já estão participando da tomada de decisões da agência. Allemander foi empossado no dia 29 de outubro. (Com agências

 

 

O Estado de São Paulo
24/11/2007
Jovem morre em vôo da TAM

O adolescente Baltazar José Gonçalves Bicalho, de 16 anos, morreu na noite de anteontem durante um vôo da TAM entre Cuiabá (MT) e São Paulo. Ele foi vítima de um enfarte.

O vôo chegou a fazer escala em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, mas o jovem já chegou morto à cidade. Segundo informações da Polícia Militar, o adolescente estava em companhia da mãe, Maria Gonçalves de Souza, e do tio e seguiria até a cidade de Barretos, onde fazia tratamento contra câncer.

A TAM informou que foi dada toda a assistência à família do jovem, o que incluiu transporte e hospedagem. O traslado do corpo e o transporte dos parentes serão feitos pelo governo de Rondônia, onde mora a família, segundo informações da companhia.

 

 

O Estado de São Paulo
24/11/2007
Bimotor cai e destrói casas em Manaus
Piloto, três passageiros e os 26 moradores dos imóveis atingidos pelo Seneca 2 nada sofreram; queda foi a 10 metros da pista do aeroporto
Liege Albuquerque

Um avião bimotor Sêneca 2 caiu nos fundos de uma faculdade, destruindo duas casas - e atingindo parcialmente outras quatro, por volta das 9h30 de ontem, no bairro União, na zona centro-oeste de Manaus. Nenhuma pessoa ficou ferida e o Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa-7) anunciou que vai investigar as causas do acidente.

O piloto do avião, o paulista Marco Antonio Melchior Costa, de 42 anos - e 20 anos de vôo -, disse que viveu um milagre. “Quem vê como ficou o avião e as casas não acredita que todos saíram ilesos. No avião não houve pânico, mas chegamos a ouvir os gritos desesperados das pessoas que tiveram suas casas atingidas e da vizinhança que viu tudo”, contou.

Segundo ele, ao ligar o trem de pouso, três luzes vermelhas que deveriam acender no painel permaneceram apagadas. “Percebendo a avaria, tentei arremeter, mas naquele momento o motor esquerdo pifou e fomos caindo rápido em cima das casas, a segundos da cabeceira da pista.”

De acordo com o relato do proprietário da empresa de transportes aéreos Lassir, Pedro Teixeira, o bimotor caiu a menos de 10 metros da pista de pouso. O Sêneca, segundo o proprietário, tinha seguro obrigatório e ainda será avaliado se houve perda total.

CASAS

De acordo com a assessoria da Defesa Civil Municipal, os 26 moradores das seis casas atingidas devem ser encaminhados a abrigos municipais ou ficar em casas de parentes. O proprietário da empresa afirmou que um funcionário já teria feito contato com as famílias para providenciar indenizações - que o seguro obrigatório deverá cobrir.

“O barulho foi grande e não parecia que ia acontecer o milagre de ninguém se machucar. Eu vi o avião caindo rápido e, cada vez mais perto do chão, ele parecia maior”, disse o pedreiro João de Deus Santana, de 46 anos, vizinho de uma das casas atingidas. Segundo ele, alguns moradores tinham saído cedo para o trabalho.

O estudante Janderson Cardoso Ferreira, de 12 anos, estava no piso inferior de uma das casas atingidas, com a mãe, Vânia, e os dois irmãos. “Foi Deus que nos abençoou, porque meus irmãozinhos Brian (de 8 anos) e Jordan (de 3), tinham acabado de acordar e descer para tomar café quando o avião caiu e a asa dele levou todo o andar de cima.”

As casas estão todas isoladas. A família de Janderson deverá ficar na casa de um vizinho. O garoto disse ter esperança de encontrar seu cofrinho, que estava no piso superior, que foi destruído pelo avião. O piso superior era de madeira e o inferior, de tijolo aparente, não foi derrubado pelo impacto. “Os bombeiros isolaram nossa casa, mas queria pelo menos pegar o cofrinho onde eu fazia uma poupança para comprar o presente de Natal de minha mãe”, contou.

Segundo o dono da empresa de transportes aéreos, Pedro Teixeira, o bimotor havia feito uma viagem para o interior do Estado e deixado quatro passageiros no Aeroporto Internacional Eduardo Gomes. Ali, embarcaram três funcionários da empresa, com outro piloto, Marco Antonia. Ele levaria a aeronave até o Aeroclube de Manaus, que fica a menos de cinco minutos de vôo do aeroporto.

 

 

Folha de São Paulo
24/11/2007
De vôos e de esperas
WALTER CENEVIVA

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Há mais dúvidas que certezas, mas o ministro Jobim
terá capacidade para enfrentar o problema

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EMBORA NÃO PAREÇA , a legislação brasileira sobre aviação civil (ligada às leis gerais sobre transporte aéreo) é suficientemente atualizada e cheia de pormenores regulamentares. O Código Brasileiro de Aeronáutica, no artigo 1º, dá noção de sua amplitude: "O direito aeronáutico é regulado pelos tratados, convenções e atos internacionais de que o Brasil seja parte, por este código e pela legislação complementar".

Com isso, a cidadania fica sabendo que o transporte aéreo no Brasil não é um mar de rosas, mas não precisa de mais leis. Desiludido, o cliente das empresas aéreas deve pensar, na intimidade: "Bela droga! Tanta lei e tão pouca aplicação".

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, tem a tarefa de providenciar a boa aplicação da lei. Seu retrospecto é qualificado: foi parlamentar competente, foi ministro da Justiça, esteve no Supremo Tribunal Federal, até sua presidência. Repetiria o mesmo padrão se o Ministério da Defesa não incluísse a aviação civil, se considerarmos apenas o que se viu de suas primeiras medidas. Supôs que resultaria algo de bom afastando os vôos de Congonhas (tarefa quase impossível); desenhando uma área de escape no chão da pista (não funciona); alargando o espaço entre as poltronas das aeronaves (falta viabilidade econômica). Festejou com Lula a compra de aviões pela BRA (deu no que deu).

Teve coragem, porém, para reformular seu rumo. Vai enfrentar a situação crítica da fiscalização da manutenção de aeronaves, algumas com certificados vencidos de navegação, conforme a Folha noticiou nesta semana. Partiu para o combate a cancelamentos e atrasos, o que será mais fácil se compreender o crescimento de Congonhas nestes últimos 30 anos de operações e se entender por que os vôos internacionais concentraram-se em Cumbica e o transporte da carga em Viracopos. Será prudente pesquisar as causas da polarização da nossa aviação comercial neste Estado.

Desastres com aviões e helicópteros chamaram a atenção do povo de tão repetidos. Um lado da questão foi bem focalizado pelo Crea-SP, em sua revista, quanto à tragédia da TAM, ao perguntar como a pista foi liberada, por quem e com que autoridade, "para uso, mesmo não estando totalmente concluída a obra de sua recuperação?". Por outro lado devemos saber, se for necessário aumentar as duas pistas de Congonhas, quais os planos existentes? Ouvir opiniões de fora do governo ajudará.

O fechamento da BRA está parcialmente remendado. A Anac disse ter mandado centenas de advertências à BRA. Quem se omitiu na adoção de medidas mais sérias? Em lugar da BRA entrou a Ocean- Air. OceanAir? Dias depois se dispunha a substituir seu avião por uma van, no trecho Vitória da Conquista (BA) para Belo Horizonte, a 852 quilômetros!

Há mais dúvidas que certezas, mas Jobim terá capacidade para enfrentar o problema, aplicando medidas que o direito lhe assegura, sem pensar, ao menos por ora, em jogadas de efeito político. Aliás, esperar que o ministro seja bem-sucedido não é opção política. É a expectativa de quem, em 2007, já ficou muitas horas esperando seus vôos, em várias partes do Brasil, algumas das quais sentado no chão do aeroporto de Brasília. Coisa estranha para qualquer ministro.

 

 

Folha de São Paulo
24/11/2007
Congonhas pode passar a fechar mais cedo
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

O Ministério da Defesa estuda antecipar o fechamento de Congonhas, das 23h para as 22h30. A medida, segundo o ministério, é para "dar mais segurança" ao passageiro. Hoje, o último vôo pode decolar às 22h59. Com a mudança, o limite será 22h30 - não há prazo para a medida entrar em vigor.

A idéia faz parte do pacote que a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) divulgou na quinta-feira. Está prevista ainda a diminuição de slots (permissões para pousos e decolagens) no aeroporto de Congonhas (zona sul de São Paulo).

Das atuais 33 operações por hora, só 30 serão liberadas para a aviação comercial. Outros dois slots continuarão com a aviação geral (táxi aéreo e jatos particulares). É a terceira redução em três meses.

Antes do acidente com o avião da TAM, eram 64 pousos e decolagens/hora. Depois, o governo cortou para 35 operações, com a justificativa de que o aeroporto estava saturado.
Outra decisão foi liberar os slots de oportunidade (quando aeronaves aproveitam "buracos" de horário deixados por outros vôos), proibidos desde o acidente e que voltam a vigorar neste sábado, somente na pista auxiliar e para a aviação geral.

A agência também estuda obrigar as empresas a configurar as aeronaves para pista molhada, mesmo que ela esteja seca. Por conta disso, os aviões poderão ter que chegar em Congonhas com menos peso e menos passageiros.

O ministro Nelson Jobim (Defesa) disse ontem que o governo vai criar um mecanismo para punir com multa as empresas aéreas no caso de atrasos e cancelamentos de vôos. A penalidade é parte de um pacote para o setor que deve ser anunciado na próxima semana.

"Vamos caminhar para formas que estimulem economicamente as companhias a cumprirem os horários e evitar os cancelamentos de vôos", disse o ministro, em visita a São José dos Campos (91 km de SP).

 

 

Folha de São Paulo
24/11/2007
Em crise aérea, funcionários da Infraero têm aulas de tai chi para combater estresse
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois do estresse, o relaxamento. Para reduzir o nível de estresse, os funcionários da Infraero fazem aulas de dança, ioga e tai chi chuan no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (Grande São Paulo). Somente em Guarulhos há cerca de 1.600 funcionários.

Segundo a Infraero, os funcionários já vinham tendo essas aulas dentro de um programa de qualidade de vida para o pessoal desde 2004, com bons resultados, inclusive para reduzir as faltas.

Os funcionários de Cumbica terão pelo menos duas horas de tai chi chuan e dança por semana, durante um ano. Antes, já haviam sido aplicadas também atividades como coral.

A assessoria da Infraero (estatal que administra aeroportos) disse que não existe relação entre as aulas de relaxamento e a crise aérea. O objetivo é aprimorar a saúde do trabalhador.

Freqüentam as aulas não só funcionários da administração, mas também os controladores de vôo, considerados entre os profissionais com funções das mais estressantes do mundo.

O edital do pregão aberto para contratar os professores prevê gastos de até R$ 142 mil com a contratação da empresa durante um ano, ou R$ 11,8 mil por mês.

Rock e gafieira

São exigidas habilidades específicas dos professores que vão monitorar as aulas. Eles devem ter, por exemplo, capacidade de ensinar bolero, samba de gafieira, rock anos 60, zouk, ritmos latinos (salsa, mambo, merengue, chachachá), forró, country, valsa e tango. Outra exigência é que eles utilizem durante o serviços "vestuários adequados" à profissão de professor.

Os funcionários terão ainda aulas para melhorar as condições físicas com professores dentro da academia criada pela estatal dentro do aeroporto, com equipamentos para musculação e esteiras.

Os professores de educação física terão de ficar disponíveis por pelo menos 30 horas por semana, além de ministrar palestras de orientação.

 

 

Folha de São Paulo
24/11/2007
Queda do dólar é "ameaça à vida" da Airbus, diz executivo
Enders afirma que serão tomadas "medidas radicais"
DA REDAÇÃO

O diretor-executivo da Airbus, Tom Enders, afirmou que a crescente desvalorização do dólar em relação ao euro é uma "ameaça à vida" da fabricante de aviões. Segundo relatos dos jornais alemães, ele disse que a empresa deve ter perdas expressivas com a perda de força da moeda americana.

"Devemos revisar nosso modelo industrial, ele deixou de ser sustentável", afirmou o executivo em uma reunião da Airbus em Hamburgo (Alemanha). "Serão medidas radicais", completou, indicando que todos os gastos serão revisados.

A maior parte da produção da empresa está concentrada na Europa, com custos em euro, mas suas vendas são em dólar, que é a moeda de referência nas transações do setor aeronáutico -uma vantagem para a principal rival da Airbus, a norte-americana Boeing.

O euro já se valorizou em mais de 10% em um ano em relação ao dólar e ontem chegou a superar pela primeira vez a barreira do US$ 1,49, porém recuou no final do dia.

Há aproximadamente um mês, a moeda européia esteve cotada pela primeira vez acima de US$ 1,43.

De acordo com Enders, a Airbus não poderá mais realizar os investimentos que planejava para o ano que vem. A empresa pretendia, em 2008, aumentar em 25% os seus gastos anuais com pesquisa e desenvolvimento, de 2 bilhões. No entanto, um executivo da companhia que pediu para não ter o seu nome revelado disse ao "Financial Times" que esse plano está descartado e que esses gastos podem ficar abaixo dos 2 bilhões.

A Airbus vem passando por um processo de reestruturação, que inclui a demissão de 10 mil trabalhadores até 2010, após os sucessivos atrasos na fabricação do A380, que começou a voar comercialmente só no mês passado. E há pouco espaço para novos cortes, já que a empresa vem batendo recorde de vendas e pedidos.

Recentemente, a EADS, o consórcio europeu dono da Airbus, disse que seu plano de reestruturação não estava preparado para lidar com a queda do dólar. Ela afirmou que a companhia terá que economizar mais 1 bilhão do que o planejado até 2010-2011.

Louis Gallois, o diretor-executivo da EADS, afirmou que cada queda de US$ 0,10 no dólar custa 1 bilhão para a companhia.