Zero Hora
23/07/2007
Candiota devolve medalha recebida
Em carta ao comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro
Juniti Saito, o presidente da Associação
Nacional em Defesa dos Direitos dos Passageiros do Transporte
Aéreo, Cláudio Candiota Filho, afirma que
devolverá a Medalha Santos Dumont. O motivo é
a concessão da mesma distinção a
diretores da Agência Nacional de Aviação
Civil. Segundo ele, "assim procedo em respeito à
memória das vítimas das tragédias
da Gol e da TAM".
Mercado e Eventos
23/07/2007
Congonhas amanhece sem pousos da
Tam e Gol
Com a chuva da manhã de hoje (23/07) em Congonhas
(SP), pilotos da Tam e da Gol não estão
pousando no aeroporto e as aeronaves seguem para Guarulhos.
Pilotos das duas companhias aéreas firmaram um
acordo e decidiram que não vão pousar no
aeroporto em dias de chuva, enquanto a pista principal
não receber o 'grooving', que são pequenas
ranhuras destinadas a drenar a água.
A pista principal de Congonhas foi reaberta em 29 de
junho depois de 45 dias de reforma, mas a previsão
era de que o grooving só estivesse pronto em setembro.
Por volta das 6h35 de hoje, quando teve início
uma chuva forte e rápida em Congonhas, um avião
da Tam arremeteu antes de pousar na pista sentido Campo
Belo-Jabaquara. Na última quinta-feira (19/07),
um Fokker 100 da Tam havia arremetido antes de pousar
em Congonhas.
De acordo com meteorologistas, há previsão
de chuva durante toda a semana e isso deve adiar ainda
mais a reabertura da pista principal, fechada desde o
acidente com o Airbus 320. De acordo com meteorologistas,
o tempo ficará instável até o início
de agosto.
Além de pista seca, a Agência Nacional de
Aviação Civil (Anac) condicionou a retomada
das operações em Congonhas à redução
de peso das aeronaves e, conseqüentemente, do número
de passageiros. Isso poderá causar overbooking
(venda de bilhetes acima da capacidade do avião)
em Congonhas, principal aeroporto do país.
Como as passagens já foram vendidas e os aviões
terão que pousar e decolar de Congonhas com o peso
reduzido - em média em 20%, dependendo do tipo
da aeronave - muitos passageiros deverão ser transferidos
para outros vôos e aeroportos.
Ontem (22/07), até às 21h, 54 vôos
foram cancelados e 67 tiveram atrasos de mais de uma hora
em Congonhas. A Infraero diz que esse número é
reflexo da pane do Cindacta 4 no sábado (21).
Em Guarulhos, por conta da transferência de vôos
que deveriam pousar em Cumbica, 40% dos vôos tiveram
atrasos ontem superiores a uma hora. Durante esta madrugada,
o mau tempo no Sul do Brasil causou a transferência
de vários vôos para Guarulhos.
Valor Econômico
23/07/2007
Com lei defasada, Anac patina sem
credibilidade
Daniel Rittner
Vítima da crise aérea ou co-responsável
pelo apagão? Nenhum órgão regulador
no Brasil teve um começo de vida tão tumultuado
quanto a Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac), posta em funcionamento na mesma semana em
que um avião da BRA com 115 passageiros derrapou
na pista principal do aeroporto de Congonhas, em março
de 2006, dando o primeiro alerta da tragédia que
ainda estava por vir.
Os críticos da Anac dizem que a agência
não tem independência decisória, foi
loteada politicamente e abrandou o rigor técnico
do antigo Departamento de Aviação Civil
(DAC), subordinado à Aeronáutica. Seus defensores
ponderam que houve ganho de transparência nas decisões
e que a agência pouco pôde fazer enquanto
lidava com uma inclemente seqüência de crises:
a quebra da Varig (com reestruturação do
mercado e o estabelecimento de um duopólio no setor),
a queda do Boeing da Gol, a operação-padrão
dos controladores e o acidente com o vôo da TAM.
"As agências precisam de um tripé:
corpo técnico livre de indicações
políticas, independência decisória
e autonomia financeira. A Anac não tem nada disso",
observa o advogado Pedro Dutra, especialista em regulação.
Ele afirma que a falta de experiência da maioria
dos diretores prejudica o funcionamento do órgão.
Quando a lei que criou a agência foi aprovada
no Congresso, em setembro de 2005, alguns nomes foram
ventilados para presidir o órgão. Os militares
queriam a manutenção do brigadeiro Jorge
Godinho, o último diretor-geral do DAC, no comando
do setor. O Palácio do Planalto recusou a indicação,
alegando que prejudicaria a transição para
a gestão civil. Sindicatos filiados à CUT
pressionaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
pela nomeação de representantes da categoria,
mas não fracassaram em suas tentativas.
Na reta final, dois nomes entraram na disputa pelo comando
da Anac. Leur Lomanto, ex-deputado pelo PMDB por sete
mandatos, foi relator do projeto de lei da agência
e tinha sinal verde da cúpula do partido. Milton
Zuanazzi, então secretário de Políticas
do Turismo, foi levado ao Planalto com dois trunfos: cartas
de dezenas de entidades da indústria do turismo
e o aval de Walfrido dos Mares Guia, ministro que ganhava
espaço.
Zuanazzi contou com uma aliada fundamental para prevalecer:
Dilma Rousseff, da Casa Civil, de quem era próximo
no Rio Grande do Sul. Ambos trocaram, na mesma época,
o PDT pelo PT.
Passados quase dois anos, hoje há quase um consenso:
a Anac não conquistou a credibilidade necessária
para regular o setor de forma eficaz. Apesar dos transtornos
aos passageiros, ela só conseguiu receber, até
hoje, R$ 90 mil em multas aplicadas às empresas.
Opôs-se à reorganização da
malha de vôos de Congonhas e causou polêmica
ao redistribuir rotas da Varig.
"O problema é que a Anac está trabalhando
com um Código Brasileiro de Aeronáutica
totalmente defasado", observa Anchieta Hélcias,
secretário-geral do Sindicato Nacional das Empresas
Aéreas (Snea), citando o marco regulatório
do setor, promulgado em 1986. Desde aquele ano surgiram
a Constituição, o Código de Defesa
do Consumidor, o Novo Código Civil, a Lei das Sociedades
Anônimas e a própria lei de criação
da Anac.
Hélcias lembra que agências como a Anatel
e ANP nasceram junto com novos marcos regulatórios
- a Lei Geral de Telecomunicações e a Lei
do Petróleo. Já a legislação
vigente para o setor aéreo não trata de
assuntos atuais, como o "overbooking", e prevê
indenizações para vítimas de acidentes
em um valor de referência, a OTN, que nem existe
mais. "A regulação ficará difícil
enquanto não houver uma nova Lei Geral de Aviação",
acrescenta o secretário do Snea.
Um executivo de uma grande companhia aérea relatou
dois dos problemas que mais o afligem na Anac. O primeiro
é a renovação de brevês para
pilotos. "Há complicações desnecessárias
e atrasos sem explicação", critica
o executivo. O segundo problema é na concessão
de "hotrans", as autorizações
para horários de vôos. O prazo para resposta
da Anac é de 30 dias após a apresentação
de pedido. "Mas hoje em dia isso não se faz
em menos de 60 dias. Às vezes demora até
120 dias. Para o planejamento de malha, isso pode ser
fatal."
Diferentemente do DAC, em que as decisões eram
assinadas por um único diretor-geral, tudo na Anac
tem de passar pelo colegiado de cinco diretores. Os críticos
da agência reconhecem que isso tornou as decisões
mais transparentes - se a nova lei geral das agências
for aprovada, as reuniões serão públicas.
Segundo o mesmo executivo, o DAC impunha às companhias
até o tipo de aeronave que devia ser usado em cada
rota. Desde o ano passado, a distribuição
de "hotrans" em aeroportos congestionados, como
Congonhas, são feitos por sorteio entre as companhias
, em substituição à total discricionariedade
do DAC.
Na lei 11.182 de 2005, que cria a Anac, dois princípios
foram oficializados: a liberdade tarifária, em
que o poder público não controla o valor
dos bilhetes aéreos, e a liberdade de explorar
qualquer rota. Quando a empresa detém o Cheta,
certificado de concessionária de transporte aéreo,
e tendo cumprido os requisitos de capacidade econômica,
técnica e operacional (aviões seguros),
ela depende só de espaço aeroportuário
e no controle de tráfego para operar.
O Estado de São Paulo
23/07/2007
Um acidente previsível
Antonio P. Mendonça
O acidente com o Airbus da TAM se enquadra entre os acidentes
lamentáveis, principalmente porque poderia ser
evitado, bastando para isso um pouco de autoridade e bom
senso na gestão da aviação civil
brasileira.
Ainda é cedo para se determinar as causas desse
acidente, mas, desde a queda do Boeing da Gol, o governo
federal transformou o controle dos vôos num enorme
saco de gatos, aonde a única certeza é a
completa inaptidão dos envolvidos. Retenção
de dinheiro destinado a ampliação e modernização
dos sistemas de controle de vôo, declarações
infelizes, posições contraditórias
e explicações sem sentido são o retrato
da inabilidade federal para tratar de um assunto onde
a incompetência pode levar à morte.
Em menos de um ano o governo conseguiu a façanha
de ser responsável por dois dos maiores acidentes
aéreos da história nacional. Nos dois, independentemente
de outras causas, a união, por ação
e omissão de seus órgãos, está
diretamente ligada aos fatos determinantes dos respectivos
desfechos.
Mais que isto: o governo federal tem a responsabilidade
original pelos acidentes. Em acidentes dessa natureza
não existe apenas uma causa. Normalmente a conjunção
de uma série de fatores simultâneos acaba
conduzindo ao final trágico. Tanto que já
se fala em problema no reverso de uma das turbinas do
Airbus. Todavia, há situações em
que é possível se determinar uma causa que
precede as outras e que direta ou indiretamente dá
origem ao acidente. É a responsabilidade original.
No acidente com o avião da Gol a responsabilidade
original foi do controle de vôo. Outras causas podem
ter contribuído para a tragédia, mas não
foram a origem. Cabe ao controle de vôo o monitoramento
dos vôos em território brasileiro. Sem as
falhas do controle, o acidente não aconteceria,
sendo indiferente os aviões estarem equipados com
transponders e estes estarem ligados. É bom lembrar
que a maioria das aeronaves em operação
no Brasil não tem transponder e nem por isso se
chocam diariamente no ar.
Depois da queda do avião da Gol a aviação
civil entrou em parafuso. A situação transformou-se
numa bomba-relógio, alimentada por atrasos dos
vôos, caos nos saguões dos aeroportos, ameaças
e chantagens de gente interessada em aumentar a temperatura
do fogo, e pela constatação de que nos corredores
da Infraero havia mais coisa do que compreende a vã
filosofia. Entre elas a deterioração das
pistas, enquanto as reformas dos aeroportos consumiam
milhões de reais, em ações sem o
menor significado para a segurança dos vôos.
Congonhas transformou-se no paradigma. Quando chovia,
alguém descia com um pauzinho para medir o nível
de água na pista principal! A reação
popular exigiu uma reforma que não foi concluída
e o aeroporto foi reaberto 'meia boca'. O resultado está
aí, plasmado na morte de perto de 200 pessoas,
a bordo de um avião que derrapou na pista, bateu
num prédio e explodiu.
A responsabilidade original também é do
governo. Pela pista inacabada e pela autorização
para o pouso em condições de uso ruins.
Existe seguro para esse sinistro. São eles: responsabilidade
civil, que cobre os danos causados a terceiros, passageiros
ou não; o seguro da aeronave; e o seguro para o
prédio atingido. Não conheço as apólices
e as importâncias seguradas, mas devem ser suficientes
para fazer frente às indenizações.
A questão é como elas serão pagas,
já que, apesar de ser cedo para determinar as responsabilidades,
a TAM também é vítima da reforma
incompleta da pista, utilizada sem ressalvas em dia de
chuva, mesmo após outro avião derrapar nela,
um dia antes.
O Estado de São Paulo
23/07/2007
Pane provoca reação
no exterior
Entidade quer que País
aceite intervenção externa contra crise
JAMIL CHADE, ARIEL PALACIOS e MARCELO
GODOY
Autoridades, executivos de empresas aéreas brasileiras
e entidades internacionais ouvidos ontem pelo Estado já
dão como certa a reação de companhias
estrangeiras diante de mais um apagão no controle
de vôo no Brasil, ocorrido no sábado. Para
a Federação Internacional dos Controladores
Aéreos (Ifacta, na sigla em inglês), o Brasil
precisa, com urgência, aceitar uma intervenção
internacional para começar a resolver a crise.
A entidade insiste em que o governo “não
tem capacidade” de resolver a crise sem ajuda da
comunidade internacional, já que está “preso”
num debate político interno. “Chegou o momento
de o governo aceitar que o plano de reforma precisa ser
proposto e elaborado fora do Brasil. Muitos governos já
fizeram isso no passado, inclusive o da Suíça,
depois de um choque de aviões em 2003”, alertou
Marc Baumgartner, presidente da entidade, em Genebra.
“O Brasil precisa entender que apagão ocorre
num país a cada 15 anos. Não uma vez por
mês.”
Para Baumgartner, o tema já se tornou uma preocupação
internacional, já que empresas de todo o mundo
têm sua reputação colocada em risco
quando voam para o Brasil. “Uma empresa estrangeira
não se pode dar ao luxo de ter sua imagem arranhada
por um acidente.”
O presidente da Agência Nacional de Avião
Civil (Anac), Milton Zuanazzi, admitiu que espera reclamações
das companhias estrangeiras que tiveram seus vôos
afetados pelo blecaute no Cindacta-4, em Manaus. “Qualquer
prestação de serviço não completada
gera reclamação. Isso é natural”,
disse. “O que ocorreu não é incomum.
Isso ocorre até nos Estados Unidos. Quando eles
invadiram o Iraque houve cerceamento do espaço
aéreo, assim como depois do 11 de setembro. Sempre
se deve privilegiar segurança.”
O apagão ocorreu durante o horário de pico
de viagens entre Brasil e Estados Unidos. Por três
horas, controladores fecharam o espaço aéreo
e desviaram quase 20 vôos saídos de cidades
americanas, como Nova York, Miami e Dallas. Os aviões
tiveram de retornar aos pontos de origem ou fazer escalas
não previstas em lugares tão distantes como
San Juan (Porto Rico) e Santiago, Chile. Além deles,
um vôo saído da Colômbia teve de pousar
em Bogotá.
Não bastasse o efeito cascata internacional, a
pane provocou confusão em aeroportos dos EUA, por
causa dos passageiros retidos. “Estava num vôo
de Miami para o Rio na sexta-feira que teve que voltar,
e agora ficarei parada em Miami até terça
à noite”, disse, à Associated Press,
uma das prejudicadas, Lisa White.
Procuradas pelo Estado, empresas afetadas pela pane,
como American Airlines e Delta Airlines, não se
manifestaram sobre o assunto. Mas fontes de entidades
de aviação afirmaram que companhias que
operam no Brasil estão revendo normas de vôo.
Relatórios elaborados pelos pilotos que voaram
no País nos últimos dias apontam que praticamente
todos eles passaram a adotar procedimentos de segurança
equivalentes aos das rotas para a África, considerada
a região mais perigosa do mundo.
As medidas incluem a recomendação para
que pilotos não voem exatamente na rota determinada,
mas alguns metros ao lado esquerdo, para evitar choques
no ar. Os relatórios apontam vários riscos
- o mais citado é a comunicação precária
com centros de controle. Além da demora para receber
informações, outro problema mencionado é
a incapacidade dos controladores de prever o tempo de
permanência no ar de aeronaves até que elas
sejam autorizadas a pousar.
O apagão também provocou apreensão
em outros países sul-americanos. O jornal argentino
La Nación ressaltou que a falha no radar que cobre
o Amazonas “aumentou o pânico de voar no Brasil”.
O Clarín destacou que, com a pane, controladores
“choravam, desesperados”.
No Paraguai, o Departamento Nacional da Aeronáutica
Civil (Dinac) abriu processo contra a TAM por incidentes
registrados no Aeroporto Guaraní, em Ciudad del
Este. Segundo o relatório do Dinac, um avião
da TAM aterrissou no local sem autorização
da torre em 26 de março, enquanto o Guaraní
estava fechado por falta de visibilidade. No dia 29 de
junho, outro avião decolou do aeroporto sem autorização.
O jornalista do The New York Times Joe Sharkey, passageiro
do Legacy que se chocou com o Boeing da Gol em 2006, episódio
que marcou o início da crise aérea, citou
a pane ontem em seu blog. “Martelo na piora do caos
da aviação porque autoridades brasileiras
criminosamente escolheram para bodes expiatórios
dois pilotos americanos enquanto insistiam ridiculamente
em que o controle de tráfego aéreo e os
sistemas de aviação brasileiros são
seguros.”
“Chegou o momento de o governo aceitar que o plano
de reforma (do controle aéreo) precisa ser proposto
e elaborado fora do Brasil”
Marc Baumgartner
Presidente da Ifatca
“Qualquer prestação de serviço
não completada gera reclamação. Isso
é completamente natural.
Isso ocorre no mundo inteiro”
Milton Zuanazzi
Presidente da Anac
O Estado de São Paulo
23/07/2007
Torre de Congonhas registrou 6 queixas
de pilotos sobre pista
Reclamações foram
feitas na véspera e no dia do acidente; pista principal
será liberada amanhã
Eduardo Reina e Bruno Tavares
Pelo menos seis pilotos de aviões que pousaram
no Aeroporto de Congonhas na segunda-feira, dia 16, véspera
da tragédia com o avião da TAM, e no dia
do acidente, reclamaram à torre de controle sobre
a pista escorregadia. Foi formada uma cronologia que anunciava
a maior tragédia da aviação brasileira.
Às 18h50 do dia 17, cinco controladores estavam
na torre, além de dois funcionários da Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac).
A Infraero anunciou a liberação da pista
principal do Aeroporto de Congonhas para pousos e decolagens
a partir das 6 horas de amanhã. A via foi periciada
pela Polícia Federal nos últimos dias. Foi
colhido material de prova em vários pontos, para
análise do asfalto.
Dois controladores acompanharam visualmente o pouso do
Airbus A320 da TAM. Um relatou que a aeronave “acelerou”
após tocar a pista. Os dois funcionários
da Anac - Ricardo M. Possidente e Jaime F. dos Santos
Filho - faziam acompanhamento do movimento do aeroporto
desde que os aviões entravam na pista, até
chegar às pontes de acesso aos aviões (fingers).
Possivelmente tenham visto também o pouso acidentado.
Após a explosão, ambos deixaram a torre.
As reclamações do pilotos sobre a pista
lisa, segundo os operadores de Congonhas, começaram
na segunda-feira. Nesse dia, a chuva estava mais intensa.
Às 7h30, o piloto do vôo da Gol 1879 reportou
à torre após pousar que a “pista não
estava grande coisa”.
O controlador pediu para que fosse especificado o problema.
“Pouca aderência”, foi a resposta.Um
minuto depois, foi a vez do piloto do vôo 3020 da
TAM: “Pista levemente escorregadia.” O livro
de ocorrência também tem registros de reclamações
dos vôos 3461 da TAM e 1203 da Gol.
Como o Serviço Regional de Proteção
ao Vôo (SRPV) determinou para que, em qualquer reclamação
de piloto sobre irregularidades na pista, as operações
fossem suspensas para avaliação pela Empresa
Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (Infraero),
foi solicitada inspeção às 12h25.
Dezessete minutos depois um avião da Pantanal,
vôo 4763, rodou no final da pista, após deslizar.
Ainda na segunda-feira, às 13h48, o avião
da TAM, que fazia o vôo 3215, teve problemas. Só
conseguiu parar no final da pista, por causa da pouca
aderência, reportada à torre.
A fatídica terça-feira começou com
uma discussão na troca do turno. A equipe de controladores
que assumia o serviço relatou, durante a reunião
de briefing, preocupação sobre as condições
da pista e sobre as recorrentes reclamações
dos pilotos. A resposta da chefia imediata foi que o superior
(chefe do Destacamento de Controle do Espaço Aéreo
em São Paulo) seria informado. Uma reunião
para discutir o assunto estava marcada para o dia 18.
No final da tarde, às 17h05, o comandante do vôo
Gol 1697 reportou à torre que a pista se mostrava
escorregadia. A chuva estava mais branda que na segunda-feira,
e o nível de chuva entre 17 e 18 horas era de 1
mm, e de 0,6 mm entre 18 e 19 horas, segundo informações
da Força Aérea Brasileira (FAB). As operações
foram suspensas. Após a reclamação
do piloto da Gol, foi pedida inspeção na
pista. A verificação feita por técnicos
da Infraero durou 13 minutos. As operações
foram retomadas às 17h20.
Meia hora depois, o TAM 3054 se acidentou, matando quase
200 pessoas.
Jornal do Brasil
23/07/2007
Em Portugal, aterrissagem forçada
com 225 a bordo
Lisboa. Um Boeing 767 da BRA com 214 passageiros e 11
tripulantes que decolou de Lisboa com destino a Guarulhos,
São Paulo, teve de dar meia-volta em pleno ar e
realizar pouso forçado no Aeroporto da Portela,
na capital portuguesa, às 16h12 de ontem. Apesar
da gravidade do incidente, ninguém ficou ferido.
Segundo a empresa aérea, todos os passageiros
foram encaminhados para hotéis de Lisboa depois
do pouso de emergência. Até o início
da noite, aguardavam resposta da BRA para saber se tomariam
outros vôos para o Brasil ou aguardariam a chegada
de um avião exclusivo enviado pela companhia.
O vôo 7557 da BRA decolou de Lisboa e fez escala
no Aeroporto de Madri, na Espanha, por volta das 13h.
Minutos depois da nova decolagem, a turbina sugou um objeto,
e seu funcionamento ficou comprometido. Mesmo com a avaria,
o comandante do Boeing retornou e conseguiu realizar a
aterrissagem forçada na pista do Aeroporto da Portela.
A duração do trajeto da aeronave com o problema
na turbina não foi informada pela companhia aérea.
O Boeing 767 da empresa brasileira ainda faria escala
às 18h no Recife. Da capital pernambucana, seguiria
para o Aeroporto de Guarulhos. O pouso em São Paulo
estava previsto para as 22h.
Folha de São Paulo
23/07/2007
Diretores tentaram afastar
Anac da crise
Em entrevistas, presidente e
diretora eximiram a agência de responsabilidade
sobre a crise aérea e o acidente da TAM
Embora Denise Abreu tenha dito que Anac reduziu vôos
em Congonhas, agência leiloou novos vôos no
aeroporto após queda do Boeing da Gol
IURI DANTAS DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em suas primeiras declarações públicas
após a maior tragédia aérea do país,
a diretora da Anac (Agência Nacional de Aviação
Civil), Denise Abreu, e o presidente, Milton Zuanazzi,
foram imprecisos sobre as atribuições da
agência.
Em entrevistas publicadas ontem pela Folha, tanto Abreu
quanto Zuanazzi procuraram afastar da Anac não
apenas alguma responsabilidade sobre o acidente do vôo
3054 da TAM como também pelo caos aéreo
vivido no país desde a queda do Boeing da Gol em
setembro do ano passado.
Um exemplo: Abreu disse que a Anac vinha "reduzindo
os vôos desde a crise do apagão". Na
prática, porém, a Anac leiloou novos vôos
em Congonhas no dia 8 de novembro, 40 dias depois da queda
do vôo 1907. Mais: cedendo à pressão
das companhias aéreas, a agência lutava na
Justiça para distribuir os espaços e rotas
não utilizados pela Varig.
O diretor-presidente da agência foi além
e reclamou mais uma vez que vem recebendo cobranças
pela melhoria do sistema aéreo. "Não
consigo entender essa pressão sobre a Anac, como
se fosse sua a responsabilidade de tomar decisões,
quando não é."
A legislação, neste caso, é categórica.
"Cabe à Anac adotar as medidas para o atendimento
do interesse público e para o desenvolvimento e
fomento da aviação civil, da infra-estrutura
aeronáutica e aeroportuária", diz o
artigo 8º da lei 11.812, de 2005, que criou a agência.
O curioso é que, pela legislação
em vigor, o papel maior da Anac é manter a segurança
e o pleno funcionamento do sistema. A Anac começou
a funcionar na prática no ano passado: no período,
houve falência da Varig, queda do vôo 1907
matando 154 pessoas, caos nos aeroportos, overbooking
no Natal, motim de controladores e, finalmente, o acidente
da TAM.
Nos bastidores, tanto governo quanto representantes de
empresas criticam a diretoria da Anac por falta de conhecimento
técnico. Também há reclamações
de que os cinco diretores cedem demais aos pontos de vista
das companhias aéreas, que deveriam fiscalizar.
Na entrevista, Zuanazzi e Abreu também venderam
a idéia de que a medalha do Mérito Santos
Dumont, que receberam na sexta-feira, seria uma decisão
da Aeronáutica. Eles poderiam, porém, se
ausentar ou pedir a entrega em uma cerimônia fechada
em outro dia.
Sobre o acidente em si, os dois diretores da Anac disseram
que a agência não tinha "competência"
para investigar e que o reversor da turbina do Airbus
operava com base nas configurações do fabricante.
A lei que cria a Anac, porém, estabelece que a
agência faz parte do Sipaer (Sistema de Investigação
e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).
A legislação também deixa a cargo
da Anac a fixação de "padrões
mínimos de segurança de vôo".
Folha de São Paulo
23/07/2007
Em 2 acidentes, reversores não
funcionavam
DA REPORTAGEM LOCAL COLABORAÇÃO
PARA A FOLHA
Em pelo menos dois acidentes com Airbus-A320, a situação
foi muito semelhante à ocorrida na terça-feira
em Congonhas.
Em 1998, nas Filipinas, e em 2002, nos Estados Unidos,
modelos idênticos pousaram com um dos reversores
desligados e não conseguiram frear antes do fim
da pista.
Em 22 de março de 1998, nas Filipinas, um vôo
da Philippine Air Lines pousou às 19h42. O avião
passou direto pela pista e bateu em uma fila de cabanas
antes de parar. Três pessoas morreram.
O relatório do incidente narra que, aparentemente,
após pousar, a turbina cujo reversor estava desligado
não desarmou. Como o impulso para frente continuava,
não houve o acionamento automático dos freios
aerodinâmicos -cinco "spoilers" sobre
cada asa ajudam a frear o avião e a aumentar o
atrito dos pneus com a pista.
Nos EUA, em 2002, um A320 pousou em Phoenix, no Arizona,
às 18h44, com o reversor da turbina esquerda desligado.
O reversor da turbina direita funcionou com pressão
total e foi apontado como provável causa do desvio
da aeronave para a direita.
O professor Peter Ladkin, da Universidade de Bielefeld
(Alemanha), chamou o fenômeno de "incidentes
de pressão diferente" e acha que há
evidências de que isso ocorreu em Congonhas. O reversor
desligado era o direito, e o avião fez uma curva
à esquerda. "Isso definitivamente tem acontecido
mais de uma vez com a série A320." Para ele,
o manual da Airbus deveria detalhar como pousar em situações
adversas.