Valor Econômico
23/05/2007 08:38
Anac nega extensão de prazo
à Gol
SÃO PAULO - A diretoria da Agência Nacional
de Aviação Civil (Anac) rejeitou ontem interpretação
jurídica apresentada pela Gol Linhas Aéreas
para estender até meados de novembro o prazo para
a retomada dos vôos internacionais abandonados pela
Varig. Baseando-se em parecer elaborado pela procuradoria
jurídica da agência, os diretores confirmaram
o prazo de 18 de junho para a reabertura das rotas. Isso
abre caminho para que a TAM e outras empresas, como a
OceanAir, assumam linhas que ligam o Brasil à Europa
e à Cidade do México.
A própria Gol, no entanto, poderá pleitear
junto à Anac essas rotas para a Varig. A diferença
é que, em vez de garantir esse direito até
novembro, como queria, terá de disputar as linhas
em igualdade de condições com as demais
companhias aéreas. A TAM já anunciou interesse
em inaugurar vôos para Frankfurt e acrescentar um
vôo diária a dois destinos europeus: Paris
e Londres.
Na semana passada, a Gol já havia obtido slots
(espaços para pousos e decolagens) a serem operados
pela Varig em cinco aeroportos europeus (Londres, Paris,
Madrid, Roma e Frankfurt).
A Gol questionou em suas argumentações
a data a partir da qual a Anac começou a contar
os 180 dias - prazo estabelecido por portaria da agência
- que a Varig tem para reiniciar vôos internacionais
temporariamente interrompidos.
As concorrentes da empresa defendem que a data inicial
é 14 de dezembro, quando a VRG Linhas Aéreas
(empresa que sucedeu a antiga Varig e foi comprada pela
Gol em março) obteve o certificado de homologação
como concessionária de transporte aérea.
Para a Gol, entretanto, essa data simboliza apenas a transferência
de alocação de freqüências internacionais.
A companhia aérea defende que os 180 dias comecem
a ser contados a partir do momento em que o Itamaraty
envia notificação diplomática às
autoridades aeroportuárias estrangeiras.
Essa notificação só ocorreu em 11
de maio e, por isso, a Gol entende que teria até
meados de novembro para retomar os vôos.
Tribuna da Imprensa
23/05/2007
Aviões quase se chocam em
Brasília
BRASÍLIA - O presidente da Associação
Brasileira de Controladores de Vôo (ABCTA), sargento
Wellington Rodrigues, confirmou ontem em depoimento à
CPI do Apagão Aéreo na Câmara, a informação
dada pelo deputado Vic Pires Franco (DEM-PA) de que há
duas semanas dois aviões comerciais quase se chocaram
no espaço aéreo próximo à
Brasília. "Só não tenho o tipo
de aeronave. Aconteceu 15 dias atrás. A informação
que tenho é de que (as duas aeronaves) passaram
bem próximas", disse o sargento.
Segundo Vic Pires Franco, os dois aviões eram
um Boeing e um Airbus. "Tive a informação
de que eram um Boeing e um Airbus e que chegaram a raspar
tinta", disse Franco. A assessoria de imprensa do
Comando da Aeronáutica informou que não
existe nenhum registro de qualquer perigo de colisão
entre duas aeronaves no período e na área
citadas pelo deputado.
Falhas no software
Wellington Rodrigues disse que falhas no software do Cindacta
1, em Brasília, levaram os controladores de vôo
ao erro, no dia 29 de setembro, quando ocorreu o acidente
entre o Boeing da Gol e o jato Legacy.
Em seu depoimento, Rodrigues explicou que o software
usado nos Cindactas foi concebido para que os planos de
vôo das aeronaves entrem na tela, independentemente
da autorização dos controladores de vôo.
No dia do acidente com o avião da Gol, o plano
de vôo do Legacy previa que, depois de passar de
Brasília, o jato baixaria de 37 mil metros para
36 mil metros. A tela do Cindacta 1 detectou que o jato
desceu, mas na realidade ele continuava a 37 mil metros.
"O software foi concebido para o plano de vôo
entrar na tela, independentemente da autorização
dos controladores. Isso realmente levou os controladores
a acreditar que o jato estava a 36 mil metros", disse
o sargento.
No depoimento, Rodrigues defendeu como solução
para a crise a desmilitarização do controle
de tráfego aéreo e a diminuição
do número de operações controladas
por um único homem. No Brasil, um controlador tem
um setor com até oito aeronaves, em procedimentos,
portes e altitudes diversos. No exterior, afirmou Rodrigues,
é um por setor.
Rodrigues relatou ainda que o software também
cria imagens fantasmas e pistas falsas, que confundem
os controladores. O deputado Geraldo Thadeu (PPS-MG),
um dos autores do requerimento, afirmou que o presidente
da comissão da Aeronáutica que investiga
o acidente, coronel-aviador Rufino Ferreira, afirmou que
essas falhas duram segundos. Para o controlador, poucos
segundos bastam para um acidente e afirmou que há
episódios que comprovam as dificuldades.
Em resposta ao relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS),
o controlador afirmou que pesquisou programas utilizados
sobretudo na Europa e, segundo as informações
que obteve, eles não apresentam esse tipo de problema
senão quando há nevascas e acúmulo
de neve na base da antena, o que é resolvido com
a limpeza.
Buraco negro
Disse também que falhas nas comunicações
são comuns e confirmou a existência de um
"buraco negro" na região onde o Legacy
bateu no Boeing da Gol. Segundo ele, apenas a partir de
janeiro essa região passou a ser vista nas telas
do Cindacta 1, em Brasília. Antes, só era
visualizada nas telas do Cindacta 4, em Manaus. "Essa
era uma área em que quem via a aeronave não
a controlava e quem controlava a aeronave não a
via", resumiu o sargento.
Segundo o sargento, de janeiro a setembro de 2006 houve
340 registros de situações que envolveram
problemas técnicos no controle de tráfego,
somente no Cindacta 1. Entre eles, estão duplicações
de pistas de radar, falhas de freqüência, quedas
do sistema e falhas de visualização do radar.
Triste lembrança
No depoimento, Wellington quase chorou ao lembrar o dia
do acidente e garantiu que os controladores de vôo
não são nem terroristas nem bandidos nem
sabotadores. "Não somos sabotadores, terroristas,
não somos panos de chão. Somos homens honrados",
afirmou Rodrigues, ao citar falhas no sistema que levaram
ao caos aéreo.
Ele anunciou que a Associação vai processar
quem acusou os controladores de vôo de sabotagem.
No auge da crise do setor aéreo, o presidente da
Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac), Milton Zuanazzi, chamou os controladores de sabotadores.
Rodrigues foi obrigado por seus superiores a ir à
CPI fardado e teve de ficar cinco horas e meia em uma
sala da assessoria parlamentar do Comando da Aeronáutica,
antes de começar a depor.
Jornal do Brasil
23/05/2007
Controladores assumem cota de culpa
Leandro Mazzini
Brasília. Representantes de controladores de
vôo usaram a CPI do Apagão Aéreo da
Câmara, ontem, para protestar e contra-atacar. Em
discurso uníssono, criticaram a precariedade dos
aparelhos da Aeronáutica e acusaram a Força
Aérea Brasileira (FAB) de também ser responsável
pelo maior acidente da história da aviação
civil brasileira, em setembro do ano passado, que resultou
na morte de 154 pessoas.
Primeiro a depor, o presidente do Sindicato Nacional
dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo,
Jorge Botelho, reconheceu que os controladores podem ter
falhado no dia em que o Boeing da Gol se chocou com o
jato Legacy. Já o presidente da Associação
Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo,
sargento Wellington Rodrigues, disse que o software usado
pela Aeronáutica é ultrapassado. Prova disso
é que, segundo declarou, há 15 dias "duas
aeronaves de grande porte quase se chocaram próximo
a Brasília". A Aeronáutica, porém,
negou que haja esse registro. O sargento afirmou que o
sistema falho é o "x da questão"
e defendeu a desmilitarização do controle
- assim como Botelho:
- Ao meu ver, pode ter havido erros dos controladores.
Agora, não admito que, querendo punir os controladores,
não se queiram punir as autoridades que não
propiciaram a solução das deficiências
que poderiam ter levado os controladores a evitar o acidente
- disse Botelho.
No dia 15, no primeiro depoimento à comissão,
o delegado Renato Sayão - que presidiu o inquérito
sobre o acidente, no qual pediu o indiciamento por homicídio
culposo dos pilotos do Legacy, Jan Paul Paladino e Joseph
Lepore - disse que os controladores também deveriam
ser investigados, pois teriam de dividir a culpa pela
tragédia. Tal investigação é
de responsabilidade da Aeronáutica, que tem de
abrir um Inquérito Policial Militar específico.
Ontem, Botelho culpou a Força pelo despreparo
dos controladores.
- Se for detectado que estavam mal preparados, isso é
culpa dos gestores. Que se cobre daqueles que tinham o
dever de colocar condições confiáveis
para que os controladores trabalhassem.
Civil, Botelho discordou do brigadeiro Jorge Kersul e
do coronel Eduardo Raulino, do Centro Integrado de Defesa
Aérea e Controle de Tráfego Aéreo
(Cindacta 1), que negaram, em depoimento à comissão,
haver "zonas cegas" no controle do espaço
aéreo brasileiro. Declarou ainda que a categoria
ganha mal - entre R$ 1,2 mil e R$ 1,8 mil - e que, para
aumentar os ganhos, pelo menos 90% dos controladores fazem
"bico".
Além disso, acusou a Aeronáutica de não
investir nos profissionais, nem mesmo em curso de língua
inglesa, a fim de melhorar a comunicação
entre a base e os pilotos. O sargento Wellington Rodrigues
endossou o discurso de Botelho. Apesar de militar, também
apontou falhas no Cindacta 1 - onde atua como controlador
- e defendeu a desmilitarização do controle
de tráfego aéreo. Rodrigues rebateu as notícias
de que a categoria fez sabotagem em 31 de março,
data do motim que fechou os aeroportos do país.
- Não somos sabotadores ou terroristas. Diariamente
temos problemas de comunicação - afirmou
o sargento, diante de uma platéia de controladores.
- Todos os militares ganham mal. A questão é
estrutural. E vamos processar quem nos chamou de sabotadores.
Segundo o sargento, o software usado pela Aeronáutica
é falho e apresenta pistas falsas na tela do radar
- como alterar a altitude do avião monitorado,
automaticamente, segundo o plano de vôo inserido
no sistema, sem que o piloto realmente mude a altitude.
Tais falhas, acrescentou, ocorrem com frequência
e colocam em risco os passageiros.
Jornal do Brasil
23/05/2007
Senado pretende ouvir Saito
Enquanto a CPI do Apagão Aéreo da Câmara
ouvia revelações de controladores de vôo,
senadores realizavam a primeira reunião da comissão
da Casa e direcionavam as investigações
para outro lado. O relator Demóstenes Torres (DEM-GO)
disse que centralizará os trabalhos nos órgãos
do governo relacionados ao setor de aviação.
Entre eles, a Infraero, estatal que administra os aeroportos,
sobre a qual pesam suspeitas de realizar obras superfaturadas.
Demóstenes listou 35 nomes que devem ser convocados,
se requerimentos nesse sentido forem aprovados em plenário.
O principal é o comandante da Aeronáutica,
Juniti Saito. Antes que se inicie as investigações
das estatais e autarquias do governo, os senadores conseguiram
uma vitória no embate com odeputados que investigam
o maior acidente da história da aviação
civil do país. Começarão a ouvir
amanhã cinco controladores de vôo que trabalhavam
no dia da tragédia.
Três deles são do Cindacta e dois foram
citados: Roberto Freire, que trabalhava no Cindacta 4,
de Manaus, e João Batista da Silva, que atuava
em São José dos Campos (SP). Outro controlador
que atuava no Cindacta 1, em Brasília, não
teve o nome revelado. A proposta de Demóstenes
Torres inclui ainda pedidos de informações
a 19 órgãos ou instituições
envolvidas com as investigações sobre o
caos aéreo. Caso da Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac). (L.M.)
Estadão
22 de maio de 2007 - 22:26
Anac nega à Varig prazo para
retomar vôos internacionais
Atualmente com quatro destinos
fora do Brasil, companhia vendida para a Gol queria mais
tempo para operar internacionalmente, devido à
crise financeira
Alberto Komatsu
RIO - A Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac) negou nesta terça-feira à noite
a prorrogação do prazo para a Varig retomar
vôos internacionais que deixou de operar, por causa
de sua crise financeira. Atualmente, a companhia só
voa para quatro destinos fora do Brasil (Frankfurt, Buenos
Aires, Caracas e Bogotá), de um total de 26 cidades
que chegou a atender no exterior, em meados de 2005.
A Gol, nova controladora da Varig, foi procurada, mas
não retornou até o fechamento desta edição.
A Varig tem até o dia 17 de junho para poder voltar
a operar os vôos internacionais que abandonou em
meados de julho do ano passado, logo após seu leilão
judicial. No início de maio, a empresa solicitou
à Anac mais tempo para poder comprovar que pode
dar continuidade aos seus planos de expansão. No
documento, informou que voltaria a voar na rota Rio-São
Paulo-Londres e São Paulo-Paris-Roma a partir de
1º de novembro.
Em agosto, a companhia programou a retomada da rota São
Paulo-Madri. Até 1º de junho, a Varig planeja
voltar a operar para o México e quer oferecer o
segundo vôo diário para Frankfurt. O prazo
fixado pela Anac vem da portaria 569 do extinto Departamento
de Aviação Civil (DAC), agora Anac.
Por essa norma, uma companhia aérea tem 180 dias
para operar um vôo internacional a partir de sua
homologação como concessionária de
transporte aéreo. No caso da Varig, isso aconteceu
em dezembro do ano passado.
A 1ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça
do Rio, responsável pela recuperação
judicial da Varig, congelou os intervalos de pouso e decolagem
(slots) internacionais da companhia para impedir sua redistribuição
para a concorrência.
Dentro da Varig, porém, há o entendimento
de que o prazo não vale. Isso porque a Anac, após
a homologação da companhia, não teria
repassado os direitos de tráfego internacional
dos vôos que ela deixou de operar da Varig antiga,
em recuperação judicial, para a nova Varig.
O prazo, portanto, passaria a correr a partir dessa medida.
A Varig tem dificuldade para honrar o prazo da Anac por
causa da falta de aviões em todo o mundo.
Em recente entrevista, representantes da Gol, que comprou
a Varig no fim de março por US$ 320 milhões,
informaram a compra de 14 aviões - sendo nove para
o mercado internacional - para ampliar a atual frota de
17 unidades. No entanto, as aeronaves serão entregues
gradativamente até o fim do ano. Poucos aviões
chegarão a tempo de a Varig poder cumprir o prazo
determinado.