O Estado de São Paulo
22/07/2007
Comandante diz que nunca viu situação
igual
Vôo da American teve de
voltar a Miami por falta de contato com controle no espaço
aéreo brasileiro
Rafael Barion
Duas horas depois de ter saído de Miami, ontem,
à 0h30 (horário de Brasília), com
destino ao Aeroporto Internacional de São Paulo,
em Cumbica, Guarulhos, o comandante do vôo 995 da
American Airlines informou aos seus 245 passageiros que
iria fazer meia-volta e reconduzir a aeronave ao seu ponto
de partida. A decisão foi tomada depois que o piloto
americano tentou fazer contato com os controladores do
espaço aéreo brasileiro, mas não
obteve nenhuma resposta. “Ele disse aos passageiros
que, em 30 anos de profissão, nunca tinha visto
algo assim”, disse a psicóloga Fernanda Morandini,
de 41 anos, que esperava no aeroporto pela filha Bruna,
de 14 anos.
Após desfazer-se do seu combustível e pousar
de novo em solo americano, a aeronave (que também
levava passageiros do vôo C8103, da TAM) ficou uma
hora e meia em Miami até poder decolar novamente
- para chegar ao Brasil às 13h21 de ontem, com
quase cinco horas de atraso.
Pelo menos mais um vôo que partiu entre a noite
de anteontem e a madrugada de ontem dos Estados Unidos
com destino a Guarulhos foi afetado pela falha nos geradores
de energia do Cindacta-4. O vôo 981 da American
(que levava também passageiros do vôo C8163,
da TAM) partiu de Dallas, no Texas, e tinha chegada ao
Brasil prevista para as 5h40 de ontem. Teve que ser desviado
para Santiago. Segundo a companhia, o avião chegaria
ao Brasil só às 23h45 de ontem.
No vôo 995, a informação de que a
aeronave voltaria a Miami causou apreensão entre
alguns passageiros. “Pensei que tinha sido algo
sério e que todo mundo iria morrer”, disse
a estudante Amália Teixeira, de 15 anos, que estava
em um grupo de 40 adolescentes de Ponta Grossa, no Paraná,
que tinha ido de férias a Orlando. “Depois
que tudo se acalmou, achamos que a gente teria que dormir
no aeroporto.” Os passageiros tiveram de ficar no
avião enquanto ele ficou em solo, em Miami. Segundo
a companhia, quem descesse só teria chance de voltar
ao Brasil em três dias.
Mais nervosos ficaram os pais de 11 adolescentes de Ribeirão
Preto que também voltavam de Orlando, na primeira
viagem ao exterior. Eles haviam chegado em São
Paulo na noite de anteontem e se hospedado em hotéis,
esperando encontrar os filhos na manhã de ontem.
A informação de que o avião não
chegaria no horário veio às 2h30, quando
os adolescentes passaram a ligar para os pais, de dentro
do avião. Sem saber da pane dos geradores de Manaus
- e desconfiados de que o problema pudesse ser mais sério
-, vários pais tentaram contato com a Infraero.
Quando receberam a informação da estatal
de que estava “tudo normal” nos aeroportos
brasileiros, ficaram ainda mais preocupados. “Aí
pensei: é um problema no avião ou tem terrorista
ali”, disse Fernanda. A preocupação
só acabou quando o avião pousou nos Estados
Unidos - e quando as primeiras notícias sobre os
problemas no Cindacta-4 foram divulgadas.
Os adolescentes emocionaram-se ao reencontrar os pais,
em Guarulhos. “Quando o vôo chegou em Miami
outra vez, não sabíamos quanto tempo demoraria
para a gente voltar ao Brasil. Ficamos preocupadas. E
também estávamos com saudades”, explica
Bruna Morandini, sobre as lágrimas das colegas.
Os passageiros dividiam-se sobre os efeitos do vôo
em suas futuras viagens. “Infelizmente tenho que
viajar bastante. Estou com medo de voar sim”, disse
o diretor de marketing Alexandre Gibim, de 35 anos. O
cansaço, porém, era o que mais incomodava
os recém-chegados. “Embarquei em Miami depois
de uma viagem desde São Francisco”, disse
a bióloga Cecília Vergana, de 43 anos, que
estava com o marido e os dois filhos pequenos. Ela contou
que ficou constrangida com o comentário do comandante
sobre a falta de resposta dos operadores. “Deu uma
certa vergonha de ser brasileira.”
SALGADO FILHO
Os passageiros que transitaram pelo Aeroporto Internacional
Salgado Filho, em Porto Alegre, voltaram a conviver com
demoras intermináveis para embarcar e desembarcar.
A causa, mais uma vez, foi a neblina. A pista fechou para
pousos e decolagens às 6h38, reabriu para decolagens
às 7h41, voltou a fechar às 8h40 e só
foi totalmente reaberta às 10h55.
Alguns passageiros de um vôo para o Rio que a Gol
cancelou ficaram muito irritados e passaram às
agressões verbais contra os funcionários.
A Gol retirou os atendentes dos guichês por uma
hora e 15 minutos, período em que conseguiu vagas
em outros vôos para quem perdeu a viagem.
Marcado para sair às 20 horas para o Rio, o vôo
JJ 3414 da TAM teve overbooking e atraso. Após
anunciar um problema de manutenção técnica
no avião, a TAM mudou o horário do vôo
várias vezes. Os passageiros embarcaram às
22h57, mas até as 23h30 a aeronave não havia
saído do solo. A Assessoria de Imprensa da TAM
informou que o avião passou por uma manutenção
não programada.
O vôo também teve overbooking. A TAM pediu
dois voluntários para ficar e embarcar hoje ao
meio-dia. A empresa ofereceu hospedagem, alimentação
e R$ 300 em crédito de passagem. O balcão
da Anac no aeroporto informou que, devido a reclamações
de overbooking no vôo, foi aberto um procedimento
para apurar o caso.
O Estado de São Paulo
22/07/2007
Em vez do Rio, o avião pousou
em SP
Vítimas do caos, passageiros
ganham um cafezinho de consolo
Fausto Macedo
Solange de Alvoredo Fernandes, advogada, e Solange Góes,
farmacêutica, se conheceram ontem no vôo 1502
da Gol. A primeira queria chegar logo à Ipanema,
“enfiar um biquíni e pegar um bronzeado daqueles”.
A outra ia dar aula. O avião saiu de Congonhas
às 7h20, mas, quando se aproximava do Aeroporto
Santos Dumont, o piloto comunicou que “forte nevoeiro”
não permitia o pouso. Pouco mais de meia hora depois,
a aeronave estava chegando a....Congonhas! “Quando
o comandante avisou que iríamos retornar a São
Paulo foi uma revolta”, diz Solange, a advogada.
Solange, a farmacêutica, chegou a Congonhas na
sexta à noite. Seu vôo estava previsto para
20h50, mas foi cancelado. Ela se hospedou em um hotel
nas imediações, . “Paguei R$ 95 só
para passar a noite e foi do meu bolso, porque a Gol só
paga para quem faz conexão.”
Às 10 horas de ontem, as duas Solange receberam
como consolo da Gol um tíquete com direito a café
no Alvorada, antigo reduto de paulistanos que iam ali
apreciar o vaivém das aeronaves. Programa prejudicado
pela reforma de ampliação do aeroporto,
que acabou com a vista para as pistas. Sem previsão
de embarque, as duas aceitaram a cortesia.
Em outra mesa, Rebeca Diniz, cineasta, grávida
de Antônia, laptop aberto, tentava entender o que
ocorria. Era outra vítima do 1502. Impaciente,
teve diálogo ríspido com uma funcionária
da Gol:
- Quero saber porque estou aqui até agora -, cobrou.
- Todos os aeroportos estão fechados -, respondeu
a moça da Gol.
- Eu vejo aqui (no computador) que não é
bem assim, já estão voando para o Rio.
- Não posso falar por outras companhias.
- Então o quadro de informações
não serve para nada.
- Não sei o que colocaram no quadro. O vôo
1502 não partiu.
- Eu sei que não partiu porque estou aqui, não
estou?
Irritada, Rebeca fechou seu laptop e decretou: “Chega
de ser otária, não adianta só indignação”.
Foi ao check-in disposta a “fazer um baita escândalo”,
mas nem foi preciso, porque lá viu outra passageira,
tão irada quanto ela. Era Maria Brito de Miranda,
Gretchen para os fãs, toda de preto, outra vítima
do vôo fantasma. Exaltada, havia se recusado a deixar
o avião, mas os federais foram chamados. “Tomei
20 pontos na barriga”, gritava, mostrando os sinais
da abdominoplastia que fez na terça.
Até as 22 horas, os passageiros que iriam embarcar
pela Gol precisavam de muita paciência. A fila do
check-in da companhia serpenteava até chegar ao
saguão de Congonhas, com diversas pessoas revoltadas
com a demora.
Folha de São Paulo
22/07/2007
Caixa com vozes dos pilotos foi achada só ontem
ANDRÉ CARAMANTE
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
A caixa com os dados de voz do piloto e do co-piloto
do Airbus-A320 da TAM foi achada somente ontem pelos técnicos
do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção
de Acidentes Aeronáuticos), órgão
vinculado ao Ministério da Defesa e à FAB
(Força Aérea Brasileira) em meio aos destroços
da aeronave, em Congonhas.
Até a manhã de ontem, o comando da FAB (Força
Aérea Brasileira) e os responsáveis pela
investigação sobre as causas do acidente
acreditavam que os outros dois equipamentos retirados
dos destroços e levados quinta-feira para análises
no NTSB (National Transportation Safety Bureau) em Washington,
nos Estados Unidos, eram as duas caixas-pretas do avião:
uma com os dados do vôo, chamada de FDR, e outra
com as vozes, a CVR.
Segundo o comando da FAB, a descoberta de que um dos equipamentos
levados aos Estados Unidos não tinha as conversas
do comandante Kleyber Lima e do o co-piloto Henrique Stephanini
Di Sacco gravadas ocorreu quando as peças já
eram analisadas pelos técnicos americanos do NTSB.
O equipamento tratado inicialmente pelos técnicos
de investigação do Cenipa como o que tinha
as vozes dos dois responsáveis pelo Airbus-A320
da TAM estava muito danificado pelo fogo e pelo impacto
sofrido pela aeronave.
O equipamento que continha realmente as vozes do piloto
e do co-piloto do Airbus-A320 da TAM seguiu, ainda de
acordo com o comando da FAB, para os Estados Unidos na
tarde de ontem e deverá começar a ter as
transcrições das falas preparadas ainda
na tarde de hoje.
Todos os dados das operações realizadas
durante todo o período do vôo JJ 3054, de
Porto Alegre para São Paulo, na tarde de terça-feira,
já começaram a ser analisados pelos técnicos
do NTSB. Depois dos dados terem sido retirados integralmente,
um simulador de vôo receberá as informações
e o vôo JJ 3054 será recriado.
Calor de 60ºC
Alguns pedaços da aeronave ainda eram encontrados
ontem pelos bombeiros no prédio da TAM Express.
Ontem, cerca de 60 homens trabalhavam no local, que ainda
corre risco de desabamento e está muito quente
por dentro -cerca de 60ºC, segundo os bombeiros.
Um caminhão com um imenso alicate hidráulico,
que picota lajes, é usado para abrir caminho.
O prédio que abrigava a TAM Express só poderá
ser demolido depois que a Polícia Civil concluir
inquérito policial sobre o caso, mas o risco de
desabamento ainda é grande.
Folha de São Paulo
22/07/2007
Técnicos afirmam fazer revisões
sob pressão
Funcionários que fazem
manutenção dos aviões da TAM dizem
que aumento da demanda levou à cobrança
por rapidez
Para eles, exigência de velocidade nas avaliações
pode facilitar a ocorrência de falhas; Airbus-A320
é revisado em Congonhas
ANDRÉ CARAMANTE DA REPORTAGEM LOCAL
O aumento na demanda de vôos no Brasil nos últimos
anos contribuiu, segundo profissionais que fazem manutenção
em aeronaves da TAM em São Paulo ouvidos pela Folha,
para que a revisão nas aeronaves, principalmente
nos hangares dos aeroportos de Cumbica e Congonhas, fosse
feita sempre da maneira mais rápida possível.
Um engenheiro aeronáutico da TAM, que falou sob
condição de anonimato, disse que existe
uma pressão velada por parte da chefia para que
o trabalho de revisão nos aviões seja feito
o mais rápido possível.
Segundo ele, as ordens para que isso ocorra não
são diretas, mas os funcionários que liberam
os equipamentos mais rápido recebem o reconhecimento
dos seus superiores. Assim, afirma o engenheiro, alguns
detalhes da manutenção podem passar despercebidos.
Em média, ao passar pelo chamado nível de
verificação "check A", o mais
simples dos quatro níveis de revisão, cem
itens têm de ser obrigatoriamente analisados pela
equipe de manutenção. O tempo necessário
para isso seria, ainda segundo esses profissionais da
TAM, de "pelo menos seis horas", mas esse prazo
não estaria sendo respeitado por conta do alto
número de decolagens.
Quando precisam de verificações mais complexas,
por conta de defeitos intermitentes, como se acredita
ser o caso do Airbus-A320 que caiu na terça em
Congonhas, os aviões da TAM de todos os modelos
vão para os hangares do Centro Tecnológico
da empresa em São Carlos (231 km de SP).
É lá que ocorrem as manutenções
dos níveis "C", quando a aeronave tem
de ficar parada por no mínimo cinco dias, e o "D",
que pára o avião no hangar por cerca de
meio mês.
Uma das frentes de investigação do Cenipa
(Centro de Investigação e Prevenção
de Acidentes Aeronáuticos), órgão
vinculado ao Ministério da Defesa que apura os
acidentes aéreos no país, será descobrir
se o Airbus-A320 que caiu terça tinha passado por
essa manutenção nível "D"
nos últimos 15 meses, como a própria equipe
de mecânicos da empresa e a francesa Airbus, fabricante
da aeronave, recomendam.
Jornal do Brasil
22/07/2007
Curto em gerador afeta 717 vôos
Uma pane elétrica no Centro Integrado de Defesa
Aérea e Controle de Tráfego Aéreo
(Cindacta) 4 na madrugada de ontem impediu que Marilda
Ura Doná, mãe de Melissa e André,
sogra de Márcio e avó de Alanis, 2 anos
- mortos no acidente do vôo 3054 da TAM - chegasse
a tempo para o enterro da filha, do genro e da neta, em
Birigüi, São Paulo. Por falta de comunicação
com a torre ao sobrevoar a Amazônia, o avião
em que ela estava, vindo do Japão, onde mora, teve
de fazer escala inesperada no Chile. A cerimônia
foi remarcada para hoje.
A fragilidade do sistema de tráfego aéreo
fez com que, por três horas e 15 minutos, os controladores
das rotas que passam pela área do Cindacta 4 -
toda a região Norte, o Maranhão e parte
de Mato Grosso - ficassem sem contato com aeronaves. Alguns
aviões abortaram o trajeto e voltaram aos aeroportos
de origem, para evitar acidentes.
A Aeronáutica atribui o problema a um curto-circuito
durante o conserto de um dos geradores do Cindacta 4.
Em nota oficial, a FAB informou que 17 aviões sobrevoavam
a área no momento da pane. Oito deles tiveram de
desviar a rota.
Ainda na nota, o brigadeiro-do-ar Antonio Carlos Moretti
Bermudez afirma que uma equipe do Departamento de Controle
do Espaço Aéreo (Decea) foi enviada a Manaus
para investigar as causas do apagão, que começou
às 23h15 de sexta-feira. O controle só foi
retomado normalmente às 2h30 de ontem. A Aeronáutica
não descarta a possibilidade de sabotagem.
O novo capítulo da crise da aviação
fez mais da metade dos vôos serem cancelados ou
atrasarem mais de uma hora e mostrou que acabar com o
apagão aéreo que assola o país não
é tão simples como prometeu três horas
antes, em pronunciamento na TV, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Controladores do Cindacta 4 afirmam que,
pelo celular, evitaram uma colisão no ar.
Segundo a Infraero, estatal que administra os aeroportos,
da meia-noite às 18h30 de ontem 573 (44,7%) das
1.282 partidas programadas registraram atraso de mais
de uma hora. Outras 144 (11,2%) foram canceladas. O Aeroporto
de Belém foi o mais afetado: 92,5% dos vôos
estavam atrasados ou haviam sido cancelados no período.
A rota do Cindacta 4 é o principal caminho dos
vôos entre o Brasil e as Américas do Norte
e Central.
Dois aviões da American Airlines que saíram
de Guarulhos, em São Paulo, com destino a Miami
durante a madrugada tiveram de fazer pousos não
programados no Aeroporto Internacional Eduardo Gomes,
em Manaus. Um grupo de 30 crianças brasileiras
que vinha da Disney teve que voltar a Miami depois de
sete horas de vôo.
Segundo controladores, uma colisão em pleno ar
foi evitada durante o blecaute. Um avião ABSA Cargo
Airline teria entrado no sistema sem contato com os radares
e, a partir de Manaus, não trocou de altitude,
passando a voar na contramão.
- Só conseguimos fazer contato com a Venezuela
para avisar da situação, e eles que tiveram
que desviar as outras aeronaves do jato - relatou um controlador,
sem se identificar. - Tínhamos apenas dois telefones
fixos, que funcionam em casos de emergência. A maioria
dos contatos com órgãos de controle em Belém,
Manaus e Santarém foi feita pelos nossos celulares.
A Aeronáutica nega.
- Somos treinados para utilizarmos os meios disponíveis.
Isso é um procedimento comum. - disse o comandante
do Cindacta 4, coronel Eduardo Carcavalo, sobre a utilização
do sistema de comunicação High Frequency,
de menor alcance, como medida de emergência.
Jornal do Brasil
22/07/2007
Opinião: Desgoverno
e irresponsabilidade
Fritz Utzeri, jornalista
A nova realidade das empresas aéreas, decididas
a maximizar o lucro, reduzindo o custo de suas operações,
somada à incompetência e falta de comando
do setor aéreo, estão tornando o avião
perigoso no Brasil. Em apenas 10 meses estamos quebrando
nossos recordes de acidentes. Nunca antes neste país
tanta gente morreu, se atrasou, perdeu negócios
e a paciência ao viajar de avião. Só
no primeiro semestre deste ano já ocorreram 42
acidentes com 228 mortes, contra 48 e 215 mortos em todo
o ano passado, incluindo o desastre da Gol.
Gol e TAM são os nomes dessas empresas que têm
equipes sobrecarregadas de trabalho, usam ao máximo
suas frotas e - desconfia-se - levam a sua manutenção
ao limite da irresponsabilidade, confiando na modernidade
de seus aparelhos. Vários episódios, incidentes,
com aviões da TAM, como a recente abertura e queda
da porta de um avião em pleno vôo, falam
mal da manutenção, do preparo das equipes
da empresa e da fiscalização do governo.
A TAM protagonizou dois desastres de grandes proporções
nas cabeceiras de Congonhas e pelo jeito, nas duas vezes,
o culpado pode ter sido o reverso, um mecanismo que inverte
o fluxo da turbina, fazendo que o jato, projetado no sentido
contrário ao movimento do avião, acabe por
parar após a aterrissagem. No primeiro desastre
em 1996, o reverso fechou quando o Focker-100 estava decolando
e derrubou o avião, matando 99 pessoas. Agora,
segundo revelou a TV Globo, o reverso direito estaria
em pane, já acusada pelo computador do avião,
o mesmo que no dia anterior ao acidente só conseguira
frear quase na cabeceira da pista de Congonhas e, mesmo
assim, seguiu voando.
O fato é mais estarrecedor, quando se sabe que
o presidente da empresa e o seu diretor técnico
garantiram aos jornalistas, na tarde de quarta-feira,
que o avião estava em dia com suas manutenções
técnicas e não apresentava defeitos. Na
quinta-feira, após o furo do JN, os mesmos protagonistas
insistiram numa tese no mínimo estranha, admitiram
o defeito que inexistia no dia anterior, mas minimizaram
a sua importância e garantiram que nos manuais do
avião é dito que poderiam consertá-lo
"num prazo de 10 dias".
A TAM informa que o reverso não seria necessário
para deter o avião ao aterrissar. É possível
que esse seja o caso quando o Airbus opera em pistas adequadas,
modernas, como as do Charles De Gaulle, em Paris.
Aquele aeroporto tem quatro pistas (estão fazendo
a quinta). Há duas menores com 2.700 metros cada
e mais duas com 4.300 metros cada.
Se houver um pouso além do local ideal, com defeito
nos freios ou ainda sem reverso, a grande distância
a ser percorrida permitirá manobras e perda de
velocidade por atrito e até uma arremetida.
Além disso, no final dessas pistas não
há uma avenida de tráfego intenso com carros,
ônibus, caminhões, casas, negócios,
armazéns, postos de gasolina, mas grama e cascalho
que deterão o avião desgovernado.
Congonhas é um verdadeiro porta-aviões,
não admite o menor erro ou falha mecânica.
Sua pista principal tem meros 1.940 metros, adequados
para pousos e decolagens de brigadeiro, mas preocupante
ao menor sinal de anormalidade (chuva, por exemplo). Seria
adequado para receber vôos da ponte-aérea,
com aviões preparados para pistas curtas, como
o Boeing 737, série 800. Mas em lugar disso, transformou-se
num hub onde passageiros em trânsito trocam de avião,
enquanto o Galeão vive às moscas e começa
a cair aos pedaços, tendo duas pistas, uma com
4 mil metros e a outra com 3.180 metros. No mundo inteiro
não existe hub tão precário e perigoso
como Congonhas. O arranjo atual serve às empresas,
mas não aos usuários. Por que não
transferir muitos desses vôos de conexão
para o Rio?
Jornal do Brasil
22/07/2007
Editorial: O marketing do desrespeito
O país inteiro aguardou o pronunciamento do presidente
Lula sobre a tragédia do vôo 3054 em Congonhas.
Quando este foi exibido, descobriu mais uma vez que havia
esperado demais de um líder que tem medo de comandar.
A reação tardia, três dias depois
do acidente, não foi sublimada por ações
que a justificassem. O chá de sumiço foi
só a estratégia oportuna para impedir que
a revolta nacional fosse, de novo, colada à figura
presidencial. Como se isso já não estivesse
acontecendo: o novo colapso aéreo de ontem, agora
no Cindacta IV, três horas depois do pronunciamento,
responde ao presidente e a um país apavorado.
Bem orientado, Lula falou com emoção,
tentando tocar o coração dos enlutados pela
dor. Foi mais respeitoso que seu assessor direto, flagrado
festejando de forma obscena as revelações
sobre os defeitos na aeronave que a empresa aérea
manteria ocultos se a imprensa não os descobrisse.
Menos que as vidas ou cobrar responsabilidade à
companhia, falou mais alto a salvação política.
O novo apagão tornou o recado teatral do Planalto
ridículo diante das demandas que se propunha resolver
e não o faz. Deixou de aplacar o sentimento de
indignação alimentado pelas omissões
que conduziram a mais uma tragédia e por revelações
cujo contorno parece emoldurar a negligência quase
criminosa.
Para a população brasileira, o governo
simplesmente não agiu. E não age. Lula quis
transparecer o sentimento de pesar que não resiste
à comparação com as decisões
que anunciou. Afinal, para quem vai voar hoje, sejam passageiros
ou pilotos, a situação é rigorosamente
a mesma que culminou em 188 mortes. Ou até pior,
como se viu no grau de risco que envolveu a pane em Manaus.
O pesar presidencial faz parte da maquiagem.
A reorganização do tráfego aéreo
em Congonhas e em outros pontos saturados deveria ter
saído há muito tempo. Mas as empresas sempre
dominaram essas discussões. O resultado do veto
ainda está fumegante.
O maior desastre aéreo da aviação
brasileira equilibrou o contencioso. As empresas perderam,
mas nem por isso deixaram de ganhar algo essencial em
um setor que trabalha sete dias por semana, 24 horas por
dia: tempo. Serão mais dois meses, além
de todos os prazos, dias e horas que o presidente já
exigira desde o início do apagão aéreo.
E no qual a única mudança no céu
está nas almas que ali aguardam por uma explicação
que não virá tão cedo.
Da mesma forma, anunciar a construção
de um novo aeroporto em São Paulo foi outra medida
para empurrar a crise de emergência para um tratamento
à base de homeopatia. Como governar é contrariar
interesses, a melhor forma de evitar isso é dissimular
a falta de vontade em meio às brumas vagas dos
projetos de longo prazo. Como medida de ação,
ante à gravidade da hora, o anúncio do pacote
foi o benchmark de um mórbido marketing oportunista.
Deu a um governo omisso no assunto um caráter proativo
que jamais demonstrou. Os funerais em Porto Alegre tornaram
a manobra inócua e expuseram seu caráter
desrespeitoso.
O discurso presidencial também foi alvo de fogo
amigo. Ver o presidente da inepta Agência Nacional
de Aviação Civil sorrindo, ao ser agraciado
pelo comandante da Aeronáutica com a medalha do
Mérito Santos Dumont, foi como matar novamente
as 188 pessoas a bordo do Airbus.
O semblante orgulhoso dos homenageados diante da dor
de tantas famílias conspurcou o valor do prêmio
e de quem o concede, já que a honraria é
pregada no peito de brasileiros que prestam serviços
relevantes à aviação. Nesse caso,
deve ter sido outorgada pela tenacidade da Anac em bloquear
as mudanças em Congonhas que poderiam ter evitado
o horror.
O Globo
22/07/2007
Revista VEJA
25/07/2005
Chimpanzés patinadores
Diogo Mainardi
"O que um secretário de Turismo, uma procuradora
do estado e um deputado do interior da Bahia podem saber
sobre segurança aérea? Eu me sentiria mais
seguro se seus cargos na Anac fossem ocupados por chimpanzés
patinadores"
Onde está Lula? Lula está de cama. Duzentas
pessoas morreram no acidente da TAM. No dia seguinte,
Lula preferiu ficar em repouso, de olhos fechados, de
barriga para cima, depois de sofrer uma cirurgia cosmética.
Sobre os 200 mortos do acidente da TAM, ele se calou.
Ele se escondeu. Assim como se calou e se escondeu quando
foi vaiado nos Jogos Pan-Americanos. Pode-se argumentar
que Lula, o Churchill de Garanhuns, é melhor calado
do que falando. Mas é temerário ter um presidente
que sempre amarela na hora do aperto.
Ao ser reeleito, em outubro do ano passado, Lula declarou
que continuaria a governar para os mais pobres. No setor
aéreo, isso se traduziu num descaso criminoso que
culminou com os 200 mortos do acidente da TAM, independentemente
das falhas do aparelho. O eleitorado de Lula é
formado por gente que nunca voou. Quem morre em acidente
aéreo é aquela parcela minoritária
dos eleitores que sente ojeriza por ele. Na China, Mao
Tsé-tung puniu a burguesia obrigando-a a trabalhar
em fábricas e em campos de arroz. No Brasil, a
luta de classes lulista puniu a burguesia transformando
os jatos da Airbus em paus-de-arara.
Os pilotos apelidaram a pista principal do Aeroporto de
Congonhas de "Holiday on Ice". Isso significa
que os passageiros assumiram o papel de chimpanzés
patinadores. A Anac autorizou a reabertura da pista antes
que sua reforma fosse concluída. A Anac é
o retrato perfeito da pilhagem lulista. Milton Zuanazzi,
seu presidente, fez carreira como secretário de
Turismo do Rio Grande do Sul. A melhor credencial que
ele tem para ocupar o cargo é a carteirinha do
PT. Uma das diretoras da Anac, Denise de Abreu, era assessora
jurídica de José Dirceu na Casa Civil. Outro
diretor da Anac, Leur Lomanto, é ligado a Geddel
Vieira Lima e, alguns anos atrás, foi acusado de
negociar vantagens para se filiar ao PMDB. O que um secretário
de Turismo, uma procuradora do estado e um deputado do
interior da Bahia podem saber sobre segurança aérea?
Pergunte ao Lula, quando ele decidir sair da cama. Eu
me sentiria mais seguro se seus cargos na Anac fossem
ocupados por chimpanzés patinadores.
Em abril, sete meses depois do acidente da Gol, enquanto
os deputados do PT tentavam abafar a CPI Aérea,
Lula se reuniu sorrateiramente com Carlos Wilson num hotel
do Recife. Carlos Wilson presidiu a Infraero no primeiro
mandato de Lula e é lembrado por ter reformado
os aeroportos com os azulejos da Oficina Brennand, de
propriedade de sua mulher.
É o modelo de moralidade lulista: sobra dinheiro
para os azulejos, mas falta para os radares e o grooving.
Outro modelo de moralidade lulista é Luis Fernando
Verissimo. Ele disse que prefere ficar calado diante das
"mutretas" do lulismo porque teme ser confundido
com os reacionários. É o mesmo argumento
usado pelos stalinistas para acobertar os crimes do comunismo.
Pode roubar, desde que seja para combater o inimigo. Pode
matar? Pode, sim. Só uns 200 reacionários
de cada vez.
Site da ACVAR
22/07/2007
Ação de cobrança
da complementação da aposentadoria junto
à FRB
A advogada responsável pela ação,
dra. Dayse, informou nesta sexta-feira (20/07), que deu
entrada no primeiro lote. O mesmo será feito, até
o dia 30/07, com os demais lotes.
Tão logo o setor de distribuição
forneça os números dos processos, a dra.
Dayse entrará em contato com cada reclamante, para
informar seu número e encaminhar a cópias
do contrato e da procuração.
Plantão
Na próxima quinta-feira (26/07), a dra. Dayse
fará plantão na sede da ACVAR, das 15h às
16h. Na ocasião, receberá a documentação
de outros aposentados interessados na ação,
além de prestar todos os esclarecimentos necessários.
A ACVAR fica na Av. Franklin Roosevelt, 84 – Sl.
402 – Castelo – RJ.
O Dia
20/7/2007 13:12h
Avião com 136 passageiros
sofre pane e retorna ao Pará
Um Airbus A320 da TAM, mesmo modelo do acidente no Aeroporto
de Congonhas, na terça-feira, que vitimou pelo
menos 186 pessoas a bordo, sofreu uma pane na madrugada
desta sexta-feira, no Pará. A aeronave teve de
retornar ao Aeroporto Internacional de Belém cerca
de meia hora após a decolagem. Mais tarde, o vôo
foi cancelado. A aeronave levava 136 passageiros.
De acordo com a assessoria de imprensa da companhia aérea,
em São Paulo, a aeronave partiu à 0h45 com
destino a Manaus. O vôo teria escala na cidade de
Santarém, município do oeste paraense, mas
retornou à capital à 1h14.
Segundo a companhia aérea, foi necessária
uma manutenção preventiva não programada
na aeronave, mas o tipo de pane não foi informado.
O avião foi encaminhado para manutenção
em um galpão da TAM, localizado no aeroporto de
Belém. De acordo com a Agência Nacional de
Aviação Civil (Anac), mecânicos da
companhia aérea constataram um problema na aeronave
e o vôo teve que ser cancelado.
A TAM informou que todos os passageiros foram acomodados
em hotéis de Belém e serão recolocados
em outros vôos ao longo do dia.
As informações são de Lucy Silva,
do Terra
Informe TGV
Falecimento - M/V Paulo Pacheco
É com grande pesar que comunicamos o falecimento
do nosso amigo, M/V Paulo Pacheco.
O mesmo faleceu hoje, 22/07 e o sepultamento será
amanhã 23/07 no Jardim da Saudade em Sulacap –
RJ às 11:00hs.
A família informa que não haverá
velório.
Mais informações com a Ângela, Assistente
Social da AMVVAR: Tel: (21) 9254-4124.
A Diretoria da AMVVAR
ERRATA
Plano de saúde FRB
Alegando equívoco de sua funcionária, a
Amil não confirmou informação anterior,
prestada ao Serviço Social das Associações,
de que seu plano de saúde familiar absorveria a
carência do plano da FRB.
Portanto, pedimos aos leitores que desconsiderem a notícia
publicada no dia 19/07, neste Clipping.
De toda forma, os usuários que não estão
em tratamento médico, nem pretendem se submeter
a cirurgias programadas, devem procurar as Associações
e informar-se sobre os valores dos planos de saúde
oferecidos pelas entidades.
Em diversos casos, a economia compensa a mudança.