:::::RIO DE JANEIRO - 21 DE DEZEMBRO DE 2006 :::::

 
O Estado de São Paulo
21/12/2006
Investimento na BRA será investigado
Sindicato das empresas aéreas quer saber se operação está dentro da lei
Mariana Barbosa

O Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea) vai analisar a fundo a operação de compra de 20% do controle da BRA Linhas Aéreas por um grupo de fundos de investimento estrangeiros, anunciada na terça-feira. A operação, no valor de R$ 180 milhões, já recebeu o sinal verde da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

'Vamos analisar a operação para ver se ela se enquadra na legislação brasileira, que limita em 20% a participação de estrangeiros no capital de uma empresa aérea', diz o vice-presidente do Snea, Anchieta Hélcias. Segundo ele, o Snea é favorável ao aumento de participação estrangeira, mas defende que a mudança passe pelo Congresso. 'Não podemos passar por cima da lei para favorecer interesses de uma empresa.'

No mercado, especula-se que a entrada do Brazilian Air Partners do Brasil - que tem como sócios os fundos Goldman Sachs, o Gávea Investment Fund (do ex-presidente do BC Armínio Fraga) e o Darby Investments, entre outros - no capital da BRA teria por objetivo uma fusão com a Varig. 'Os fundos estão investindo US$ 80 milhões em uma companhia que não vale nada, que tem uma malha de vôos pouco atraente e uma frota velha', diz o consultor Paulo Sampaio. 'A Gol, por exemplo, foi criada com US$ 20 milhões.' Segundo ele, nos últimos dois anos a BRA teve prejuízos operacionais.

Para Sampaio, o mercado brasileiro comporta apenas três empresas fortes. 'A Varig vem com tudo no ano que vem, não tem espaço para uma quarta empresa.'

A nova Varig, que busca novos investidores por meio de um de seus sócios, o fundo Matlin Patterson, negou qualquer negociação com a BRA.

 

 

Valor Online
20/12 - 10:13
Estrangeiros compram parte da BRA por R$ 180 milhões

BRASÍLIA _ Dona de 3,2% do mercado doméstico de aviação e em expansão nas linhas internacionais, a BRA Transportes Aéreos acaba de acertar os últimos detalhes para a entrada de novos sócios no capital da empresa

A Brazilian Air Partners do Brasil, fundo constituído em território nacional com investidores majoritariamente estrangeiros, quase todos fundos de "private equity", passará a ter 20% do controle da companhia - o teto definido pela legislação do setor para o domínio de ações ordinárias.

O fundo deverá ter participação de 72% nas ações preferenciais, mas é certo que a BRA continuará nas mãos de sua fundadora, a família Folegatti.

Totalizando as ações preferenciais e ordinárias, os irmãos Folegatti terão 54% do capital.

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), sem fazer alarde, deu sinal verde à operação, na semana passada, na mesma reunião em que aprovou o Certificado de Homologação de Empresa de Transporte Aéreo (Cheta) da "nova" Varig.

O aporte na BRA chegará a cerca de R$ 180 milhões, divididos em três etapas, segundo informou a diretora da Anac, Denise Abreu: a primeira imediatamente (R$ 110 milhões), a segunda até 15 de janeiro (R$ 43 milhões) e a terceira até 15 de dezembro de 2007 (mais R$ 27 milhões).

Pelo acordo desenhado com os novos sócios, a empresa aérea deverá abrir seu capital e lançar ações em bolsa em um prazo de três anos - embora, informalmente, fale-se em cerca de dois anos.

Entrarão como novos sócios o Goldman Sachs, o Gávea Investment Fund (do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga), uma subsidiária do Bank of America, o Development Capital (que liderou a reorganização societária da United Airlines), o Darby Investments, o HBK e o Millenium Global.

O Valor apurou que a BRA tem um ambicioso plano de crescimento que inclui a aquisição de mais de duas dezenas de aviões da Embraer, dos modelos ERJ-175 (com capacidade para 78 passageiros) e ERJ-195 (que transporta até 118 pessoas).

Já foram iniciadas as conversas entre a companhia aérea e a fabricante de aeronaves.

Se concretizada, será a primeira grande aquisição de aviões da Embraer por uma empresa brasileira de aviação.

As negociações para a incorporação de novos sócios estão em curso desde agosto e o processo chegou à agência reguladora um mês e meio atrás.

"As reuniões foram extremamente produtivas e a BRA concordou com as nossas propostas", disse Abreu.

Segundo a diretora, a Anac obteve comprovação documental, via Banco Central, da origem legal dos recursos a serem aportados.

O órgão fez pequenos ajustes no contrato para garantir que o direito a veto nas decisões administrativas da aérea, por parte do fundo estrangeiro, não venha a significar perda de autonomia dos gestores nacionais.

Uma dúvida que intriga o mercado é a identidade dos investidores por trás do fundo registrado no Brasil.

Ele é controlado pela Brazilian Air Partners LLC, uma empresa constituída nos Estados Unidos.

O sócio-fundador e presidente da BRA, Humberto Folegatti, confirmou a operação, mas preferiu não entrar em detalhes.

De acordo com a Anac, todo o capital é proveniente do exterior, o que deixa 20% juridicamente nas mãos de estrangeiros, independente de quem são os sócios.

O novo conselho de administração será inicialmente composto por Humberto Folegatti, seu irmão Walter Folegatti, Paul Tierney Jr.

, Benjamin Heller, Jesse Rodriguez e Luiz Fraga.

Farão parte, como suplentes, Matthew Tierney, Peter Jones, e Lars Schonander.

Mais nomes serão definidos.

Com a concretização do negócio, a empresa ganha fôlego para acirrar a disputa com suas rivais TAM e Gol.

Em crescimento, mas ainda vista como figurante no mercado brasileiro de aviação, a companhia pretende tornar-se uma terceira força efetiva no setor.

O dinheiro novo será usado para expansão da frota e das linhas.

As autoridades aeronáuticas acreditam que a expansão consistente do transporte aéreo nacional, em um ritmo de dois dígitos, viabiliza a existência de três ou quatro concorrentes no setor, todos capazes de manter boa saúde financeira e sem "competição predatória".

O volume de passageiros deverá encerrar o ano com aumento perto de 12%.

Nascida como empresa especializada em vôos fretados (charter), a BRA cresceu com uma parceria com a Varig na antiga Varig Travel, hoje em liquidação.

Hoje, já atende mais de 30 destinos nacionais e inaugurou suas primeiras linhas regulares ao exterior em julho.

Com o forte encolhimento das operações da Varig, passou a ser a única brasileira nas rotas São Paulo-Lisboa e São Paulo-Madri.

Novos vôos para a Europa e para a América Latina estão nos planos da companhia.

Ela se prepara para estrear na ligação Brasil-Itália, com até sete freqüências semanais, das quais cinco operadas a partir do Nordeste, onde sua popularidade é maior.

Como charter, a BRA já teve vôos conectando o Brasil a cidades como Dusseldorf, Telaviv e Milão.

Hoje faz fretamentos entre Dortmund e o Rio de Janeiro, com um avião Boeing 767.

As rotas domésticas são operadas por modelos 737.

Desde o início, teve como objetivo fisgar passageiros que usavam preferencialmente o transporte rodoviário.

Para isso, adotou uma estratégia de preços mais baixos do que a concorrência, inclusive da Gol, na maioria das rotas.

Recentemente, a empresa tem buscado aumentar suas operações a partir de Congonhas e inaugurou novos vôos, com Rio e Brasília como destinos.

Chegou a ter mais de 5% do mercado em meados do ano, mas essa participação retrocedeu um pouco com o início das operações internacionais (que realocou vôos) e o retorno de parte das atividades da Varig.