Valor Econômico
21/06/2007
Com Varig, Gol reduz previsão
de lucro anual
José Sergio Osse, para o Valor Online
A Gol Linhas Aéreas rebaixou ontem suas previsões
de lucro e de faturamento para este ano. Segundo a empresa,
a medida foi tomada para refletir a incorporação
da Varig, adquirida por ela em maio deste ano. A companhia
também anunciou suas expectativas para o segundo
trimestre deste ano, indicando o resultado com e sem a
influência da Varig.
Para o fechado do ano, a Gol espera um lucro por ação
de entre R$ 3,70 e R$ 4,20, contra uma previsão
inicial entre R$ 4,20 e R$ 4,70 por ação.
Já o faturamento líquido, segundo a companhia
aéreas, deve ser de R$ 6 bilhões, R$ 100
milhões inferior ao inicialmente previsto. Com
a manutenção das expectativas de custo unitário
e de crescimento de capacidade, isso levou a empresa a
reduzir de 20% para 18% a previsão de margem operacional
para o ano. A Gol manteve em 80% sua previsão de
expansão na oferta unitária (medida em assentos
disponíveis por quilômetro), assim como sustentou
em 72% sua previsão de ocupação média
no ano. O custo operacional unitário também
foi mantido em R$ 0,081 para o fechado do ano.
De acordo com a Gol, no segundo trimestre deste ano,
a oferta unitária deve aumentar 60% em comparação
a igual período de 2006. Levando em consideração
a Varig, o aumento pode ser de até 100% no período.
Entre abril e junho, a Gol adicionou à sua frota
dois novos aviões Boeing 737. Já a Varig
deve encerrar junho com 19 aviões em operação,
sendo 16 modelos 737 e três 767, também fabricados
pela Boeing.
A receita unitária (medida pelo número
de passageiros pagantes por quilômetro voado) no
trimestre deve aumentar 50% em relação a
2006, com um crescimento de cerca de 80% se levado em
consideração a receita da Varig. Na média
de abril até junho, a Gol espera uma ocupação
de 71% em seus aviões, e de 68% se considerados
também os vôos da Varig.
Com isso, o yield (receita bruta em relação
à receita unitária) no segundo trimestre
é projetado em R$ 0,19 e em R$ 0,18, se considerada
a Varig. A receita operacional líquida por oferta
unitária é estimada em R$ 0,145; previsão
que cai para R$ 0,14 quando levada em consideração
a Varig.
A despesa operacional por oferta unitária, excluindo
gastos com combustíveis, deve cair 5% no trimestre.
Já o custo operacional unitário , sem combustíveis,
deve ser de R$ 0,085 (R$ 0,08 com a Varig).
O Estado de São Paulo
21/06/2007
Polêmicas cercam a origem
da empresa
Suposto favorecimento por executivos
da Varig virou motivo de processo
Até protagonizar a criação do que
vem sendo chamada de “terceira força”
da aviação comercial brasileira, junto com
a OceanAir, a BRA passou por diferentes fases desde a
sua origem, em 1999. Naquela época, os irmãos
Humberto e Walter Folegatti, donos da operadora de turismo
PanExpress, criaram a BRA Transportes Aéreos, com
apenas um avião. Como atrativo, anunciavam preços
mais baixos que suas concorrentes.
Em meados de 2000, lembra uma fonte do setor aéreo
que pediu para não ser identificada, o início
da crise da Varig contribuiu para o aumento da frota da
BRA. “Eles (Varig) foram transferindo aviões
progressivamente para a BRA”, afirma. Segundo essa
fonte, os arrendadores tomavam os aviões da Varig
e os repassavam para a BRA. A operação é
questionada por ter sido conduzida pelo principal executivo
da Varig na época. Ao todo, teriam sido quatro
aviões da Boeing.
PROCESSOS
Existem pelo menos duas ações na Justiça
relativas ao relacionamento da BRA com a Varig, por meio
da extinta agência de turismo Varig Travel. Em um
dos recursos, a Varig contesta o contrato firmado entre
a BRA e a Varig Travel, alegando ser lesivo à companhia.
Em resposta, a BRA entrou com processo contra a Varig,
segundo outra fonte do setor.
Em outubro de 2003, o fundador da Soletur, Carlos Augusto
Guimarães Filho, acusou a BRA de ter sido uma das
protagonistas da falência da sua agência de
turismo. Por meio de carta à Associação
Brasileira das Agências de Viagem (Abav), o empresário
- já falecido - lembra que a Varig Travel vendia
bilhetes da BRA e não das empresas do grupo Varig.
“Também por conta deste malogro da Varig
Travel, a BRA Transportes Aéreos conseguiu aumentar
espetacularmente a sua frota, após a falência
da Soletur. Em apenas 18 meses (de outubro de 2001 a julho
de 2003), a BRA passou de um para sete aviões”,
afirmou Guimarães Filho, em sua carta à
Abav. A BRA foi procurada para falar sobre o assunto,
mas nenhum dos principais executivos pôde se pronunciar
porque todos estavam na França.
Em dezembro, o fundo Brazil Air Partners, formado por
um grupo de investidores, adquiriu 20% da BRA por cerca
de R$ 180 milhões. O fundo, integrado por bancos
de investimentos e fundos de private equity (especializados
em comprar participações em empresas), como
a Gávea Investimentos, do ex-presidente do BC,
Armínio Fraga, passou a ter 72% dos papéis
preferenciais. O controle da companhia permanece com a
família Folegatti.
O Estado de São Paulo
21/06/2007
BRA compra 20 aviões da Embraer
Companhia também tem
opção de compra de outros 20 aviões,
em negócio que pode chegar a US$ 1,46 bilhão
Tania Monteiro
O presidente da BRA, Humberto Folegatti, anunciou ontem
a maior encomenda de aviões da Embraer feito por
uma companhia aérea nacional: 20 jatos da família
195, no valor de US$ 730 milhões, com opção
de compra de outros 20, perfazendo o total de US$ 1,46
bilhão. O anúncio foi feito durante o Salão
de Aeronáutica de Le Bourget, em Paris, do qual
participou também o presidente da Embraer, Frederico
Curado, que lembrou que essas são os primeiros
aviões da empresa a serem vendidas à companhia
de aviação nacional. 'Casa de ferreiro,
espeto de pau', brincou.
A BRA, que até um ano e meio atrás operava
apenas com vôos fretados (charter), iniciou esta
semana operação compartilhada com a OceanAir.
Ao divulgar a compra dos aviões - que quase dobrará
a atual frota das duas empresas, de 27 aviões -
Folegatti disse que o seu 'sonho' é chegar a uma
frota de cem aviões em cinco anos.
O reforço da frota deverá ser empregado
na ampliação das freqüências
de vôos diretos entre cidades brasileiras e futuramente
na aviação regional, disse o executivo.
Os primeiros aviões chegarão à BRA
entre março e abril de 2008. Segundo Folegatti,
o negócio foi possível porque uma medida
provisória assinada no ano passado reduziu a zero
a alíquota de imposto dos aviões, permitindo
que os produtos da Embraer fossem vendidos no mercado
nacional a preços competitivos.
A BRA já está em negociações
com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES) para obter um financiamento. O BNDES
informa que as condições do empréstimo
devem seguir o modelo usual do banco, que financia, em
média, 60% do valor total do investimento. Há
também a incidência da TJLP, de 6,5%, mais
1,5% a 2% de spread e taxa de risco de 0,8% a 1,8%.
A expectativa dos analistas é que, com novos aviões,
a BRA eleve significativamente a sua malha, principalmente
com vôos over hub (que não passam pelos grandes
aeroportos). O consultor da área de transportes
aéreos Paulo Sampaio lembra que essa é a
primeira demonstração de que os novos sócios
da empresa estão dispostos a investir pesadamente
na BRA.
'Eles mostraram que têm fôlego financeiro
e surpreenderam o mercado', disse. Sampaio lembra que
a parceria firmada com a OceanAir remodelou toda a malha
aérea da BRA, mas diz que o resultado ainda não
pode ser medido, já que é muito recente.
'Sabemos, no entanto, que atual malha é modesta
para a encomenda anunciada pela empresa.'
O consultor ressalta que a melhora da malha também
reflete a necessidade da empresa em melhorar sua distribuição
e alimentação dos vôos internacionais
que mantém para Lisboa, Madri, Milão e Dusseldorf.
O especialista em aviação e consultor da
Bain & Company, André Castellini, lembra, porém,
que os novos aviões, em conjunto com o aumento
de frota programada por outras empresas, podem significar
um excesso de oferta no mercado nacional, caso os problemas
de infra-estrutura impeçam o crescimento do mercado
doméstico. 'O Brasil tem uma demanda latente que
pode ser prejudicada pelos gargalos do setor', diz.
O Estado de São Paulo
21/06/2007
Star Alliance tenta atrair
a TAM
Maior aliança mundial
de empresas aéreas negocia adesão da TAM
em substituição à Varig, cortada
do grupo em abril
Alberto Komatsu
A Star Alliance está tentando atrair a TAM para
fazer parte da aliança global de empresas aéreas,
em substituição à Varig, que deixou
o grupo em abril. Segundo o presidente da Star Alliance
no Brasil, Carlos Antunes, a TAM 'está mais próxima'
da Star Alliance.
'Existe interesse da Star Alliance em ter um parceiro
no Brasil. Assim como existe interesse em trabalhar com
a TAM', diz Antunes. Segundo ele, a TAM reúne as
condições mais propícias para aderir
à Star Alliance por causa de sua atuação
internacional.
Além disso, ele disse que a empresa fechou recentemente
acordos de compartilhamento de assentos com a portuguesa
TAP, a americana United Airlines e a alemã Lufthansa,
todas integrantes da aliança.
A TAM informa que ainda não decidiu se vai aderir
a algum grupo global de companhias aéreas, mas
admite que foi 'flertada' por todos os existentes. A empresa
acrescenta que a sua estratégia tem sido a de firmar
acordos bilaterais. Em menos de um mês, foram quatro,
incluindo uma parceria com a chilena LAN, que pertence
à aliança oneworld.
'Vamos olhar e decidir sobre a entrada em uma aliança
no momento oportuno', disse o presidente da TAM, Marco
Antonio Bologna, em maio.
As parcerias internacionais são vistas por especialistas
como um sinal do interesse da TAM. 'Os acordos bilaterais
da TAM com empresas da Star Alliance são o primeiro
passo para a TAM entrar na aliança. Aliás,
ela já está com um pé lá',
afirmou o consultor aeronáutico Paulo Sampaio.
Segundo ele, a parceria com a LAN não atrapalha
uma eventual adesão da TAM à Star Alliance.
As concorrentes têm menos chances de entrar para
a Star Alliance por diferentes razões. 'A Varig
que foi parceria da Star Alliance não é
a mesma que opera hoje', diz Antunes, ao ser questionado
das chances de a Varig retornar à aliança.
A companhia foi forçada a sair do grupo em abril
deste ano.
A decisão da saída da Varig foi tomada
no final do ano passado em meio à profunda crise
que a levou ser vendida para a Gol em 2007. 'Infelizmente,
a 'velha' Varig não vai mais operar como uma rede
aérea e terá de desistir de sua filiação',
afirmou na época o executivo-chefe da Star Alliance,
Jaan Albrecht
Sobre a Gol, o presidente da Star Alliance no Brasil
disse que alguns limitadores impedem a imediata adesão
da empresa, a começar pelo fato que sua atuação
internacional está concentrada na América
Latina. Além disso, seu sistema de reservas não
se conecta com os dos membros da Star Alliance.
A Star Alliance comemora este ano uma década de
existência. São 17 empresas que reúnem
2.777 aeronaves, 351,7 mil funcionários e 405,7
milhões de passageiros transportados por ano. Juntas,
as companhias voam para 155 países e operam em
855 aeroportos, com 16 mil decolagens por dia. Esses números
deverão aumentar até o final deste ano,
já que a Air China está em processo de adesão.
De acordo com Antunes, a nova prioridade da aliança
é o serviço ao cliente. O objetivo é
fazer com que a pessoa viaje nos aviões de diferentes
empresas e sinta que os serviços e a qualidade
são padronizados, como se tivesse viajado em apenas
uma companhia. Antes o foco eram as conexões entre
as companhias. 'Hoje, a prioridade é como as companhias
se conectam com o passageiro', disse.
O Estado de São Paulo
21/06/2007
Nova operação padrão
afeta vôos; FAB manda prender controlador
Reação à
prisão de líder, segundo os próprios
sargentos, deve ser uma greve, como a realizada em 30
de março
Controladores de vôo fizeram ontem nova operação
padrão no centro de monitoramento de Brasília,
o Cindacta-1. Das 17h10 às 19h30, houve paralisação
parcial do sistema aéreo do País, que já
registrava atrasos em uma de cada quatro partidas, pelo
efeito cascata da greve branca de terça-feira e
por causa da neblina registrada no Sudeste pela manhã.
A FAB informou que os novos problemas no Cindacta-1 foram
causados pela “recusa de controladores em trabalhar
nos equipamentos e por falha no link de comunicação
provido pela Embratel”. A Assessoria de Imprensa
da empresa de telefonia, no entanto, não confirmou
o problema.
Em meio à crise, a Aeronáutica determinou
a prisão administrativa do sargento Carlos Trifilio,
presidente da Federação Brasileira das Associações
de Controladores de Tráfego Aéreo (Febracta),
e agravou o clima de tensão entre controladores
e o comando da Força Aérea Brasileira (FAB).
A reação à prisão, segundo
a categoria, deve ser uma greve, como a de 30 de março.
Na ocasião, um motim paralisou completamente os
vôos no País. A greve está sendo investigada
por um Inquérito Policial-Militar (IPM). A ampliação
de prazo do IPM em 20 dias, anunciada anteontem, e o temor
de punições severas são apontados
por fontes da FAB como motivos para a mobilização
dos controladores. Os operadores, por sua vez, denunciam
falhas de equipamentos.
Como já havia ocorrido na véspera, oito
dos nove consoles do Cindacta-1 precisaram passar por
reparos à tarde. “Os controladores adotaram
uma operação padrão, diminuindo pela
metade os vôos controlados, alegando problemas nos
monitores”, disse o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR),
da CPI do Apagão Aéreo. O diretor do Departamento
de Controle do Espaço Aéreo (Decea), brigadeiro
Ramon Cardoso, afirmou que a Aeronáutica já
havia planejado trocar monitores. “Era do conhecimento
de todos que esses consoles seriam retirados a partir
de hoje (ontem). Com a troca, não há mais
motivo para queixa.” No entanto, apenas um terminal
foi trocado.
Segundo pessoas próximas a Trifilio, a ordem de
prisão foi uma retaliação de oficiais
à entrevista dada por ele à revista Um,
com críticas aos superiores, e não à
operação padrão de terça-feira
no Cindacta-1. No início da noite, a categoria
voltou a cogitar greve geral. “Não tem mais
como segurar os meninos. Ainda vamos nos reunir para saber
o que fazer, mas pode se preparar”, disse um controlador.
Trifilio recebeu duas punições, que, somadas,
resultam em 20 dias de prisão. O período
de reclusão está marcado para começar
em 2 de julho. Há 20 anos no setor, o sargento
trabalha hoje na Base Aérea de Cumbica, em Guarulhos.
Nos próximos dias, deve recorrer à Justiça
comum para tentar anular a punição. “Da
última vez que ele fez isso, os oficiais aumentaram
a pena, por entenderem que era um gesto de desrespeito”,
comentou um sargento.
Com os problemas no Cindacta-1, as decolagens do Aeroporto
de Brasília foram suspensas às 17h14. Durante
1h15 nenhum avião saiu do chão. Dos 1.484
vôos programados de zero hora até 18h30 em
todo o País, 373 (25,1%) atrasaram.
Em São Paulo, todos os vôos que iriam para
Brasília e Goiânia foram suspensos por 20
minutos, às 17h20. “Depois disso, voltaram
a liberar as decolagens, mas com espaçamento de
30 em 30 minutos”, explicou o chefe do Serviço
Regional de Proteção ao Vôo (SRPV-SP),
coronel Carlos Minelli.
“Não dá para marcar compromisso.
A gente quer cumprir obrigações, mas a Aeronáutica,
a Infraero e as companhias, não”, dizia o
metalúrgico Francisco Pereira, ontem, às
21h30, na fila de check-in do Aeroporto de Cumbica, em
Guarulhos. Ele veio de Belém (PA) anteontem, durante
a primeira operação padrão. O avião
ficou uma hora sobrevoando a capital. Ontem, enfrentou
mais uma hora de fila para embarcar.
Site da Alerj
21/06/2007
CPI ouvirá responsável
pelo plano de recuperação dos trabalhadores
da Varig
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
que investiga o processo de venda da Varig, na Assembléia
Legislativa fluminense (Alerj), convidou o economista
Paulo Rabello de Castro para esclarecimentos sobre o cenário
financeiro da empresa e a proposta dos trabalhadores para
preservá-la. Paulo Rabello é o responsável
pelo plano de recuperação apresentado pelos
trabalhadores à Fundação Ruben Berta
e a setores do Governo, em diversas oportunidades, a partir
de 2002.
Os esclarecimentos sobre tal plano serão feitos
nesta quinta-feira (21/6), às 10h30, na sala 311
do Palácio Tiradentes.
Às 13h30, a CPI reabrirá os trabalhos para
ouvir os sócios representantes do grupo Volo do
Brasil, Marco Antônio Audi, Eduardo Gallo e Marcos
Haftel. Os empresários foram reconvocados após
faltarem, pela quarta vez, à sessão marcada
para ouvi-los. "Não vou desistir de trazê-los
à Alerj", ressaltou o presidente da comissão,
deputado Paulo Ramos (PDT).
Ramos garantiu, ainda, que a CPI não irá
mais fazer as convocações dos empresários
através de ofício. "Caso eles não
compareçam, vamos tentar trazê-los por meio
da Justiça. Também estamos na esperança
da quebra de sigilo fiscal dos três", disse
o parlamentar. Segundo o deputado, a CPI já tem
material suficiente para fazer o relatório final.
Ao término dos trabalhos, este relatório
será enviado à CPI do “Apagão
Aéreo” da Câmara dos Deputados, em
Brasília.
http://www.pdt-rj.org.br
20/6/2007
Apagão aéreo e entrega
do setor aéreo
Por: Sônia d´Azevedo e Marcelo
Duarte
Além da desorganização, em todos
os níveis, o que assistimos hoje, na aviação
civil brasileira, é o desrespeito, em grau máximo,
aos cidadãos-contribuintes – que pagam caro
pelos serviços que não recebem – e
aos trabalhadores do nosso setor aéreo –
cujos postos de trabalho têm sido paulatinamente
ceifados ou aviltados, num processo de desmonte jamais
visto anteriormente no país.
Ironicamente, tal ocorre quando temos um governo dos
Trabalhadores, cuja atenção deveria estar
focada na geração de empregos formais, no
bem-estar social dos cidadãos e no cumprimento
dos Direitos Trabalhistas.
Do desaparecimento da Varig, empresa 100% nacional, geradora
de milhares de empregos e fonte de captação
de divisas no exterior, à bagunça em que
se transformou o controle do tráfego aéreo
brasileiro, todas as etapas desse processo de degradação
nos levam a uma análise do que vem ocorrendo em
todos os setores industriais, a partir dos anos 70/80,
quando a “Nova Ordem Mundial” instituiu o
neoliberalismo econômico como filosofia e a desregulamentação
do mundo do Trabalho como ação estratégica.
Em sua essência, o neoliberalismo prega a “precarização”
do universo do Trabalho. Nesta corrente de pensamento,
trabalhadores são intitulados “colaboradores”
ou “parceiros”; salário é chamado
de “remuneração”; horas extras
vão parar num “banco de horas”, sendo
trocadas por brindes de final de ano; direitos e indenizações
trabalhistas desaparecem por meio de contratos de “terceirização”
ou, quando cobrados, esbarram em leis de última
hora que não apontam quem os pagará.
É o homem explorando o homem e agindo, deliberadamente,
para extinguir os últimos vestígios de Humanidade
e Justiça nos ambientes de produção
laboral. Desregulamentar os setores produtivos é
o passo principal deste processo.
Desregulamentação
No final dos anos 70, os Estados Unidos iniciaram a desregulamentação
de seu setor aéreo, estimulando o que chamavam
de “política de céus abertos”.
Permitiram, assim, a proliferação de companhias
low cost (baixas tarifas), a contratação
temporária da mão-de-obra de baixa qualificação,
por salários vis, e instituíram a concorrência
predatória numa indústria cujo objetivo
prioritário deve ser a segurança dos usuários.
Em menos de dez anos, surgiram e desapareceram dezenas
de companhias. E, com elas, dezenas de milhares de empregos.
Nada, porém, que intimidasse a “maior economia
do planeta”, visto que a mão-de-obra, já
em si não regulamentada, rapidamente era absorvida
por outros setores.
O Brasil, “aberto” desde sempre às
novidades globais, encantou-se com a política neoliberal
e elegeu a navegação para experimentar o
veneno. Ainda nos anos 80, enquanto ostentava o título
de “8ª economia mundial”, nosso país
entregava sua marinha mercante a preço vil, começando
pelo desmonte deliberado do Lloyd Brasileiro.
Empresa estatal centenária, da noite para o dia
o Lloyd foi transmutado, por ordem de nossos governantes,
num mamute a ser extinto a qualquer custo, para que empresas
privadas obtivessem mais lucro. Engano. O fim do Lloyd
significou, também, a abertura de nosso setor mercante
às companhias de navegação estrangeiras,
que já praticavam, há muito, a política
de “bandeira de conveniência” –
espécie de prima-irmã daquela imposta pelos
norte-americanos à aviação comercial.
De setor altamente regulamentado, produtivo, gerador
de empregos confiáveis e salários dignos,
a navegação mercante brasileira tornou-se
um arremedo de setor produtivo que, em vez de arrecadar,
passou a provocar a evasão de divisas do país.
Sem contar o prejuízo causado aos demais setores
que gravitavam em sua esfera – infra-estrutura dos
portos, construção naval, maquinária
especializada, estiva, entre outros.
Nos anos 90, a aviação
Se algo devemos ao governo Collor de Mello, além
da abertura de nossos portões à entrada
das grifes de luxo, sem dúvida, o começo
do desmonte da aviação civil brasileira
é fator inquestionável.
Sob a toada de que a (verdadeira) Varig, nossa companhia
“de bandeira”, monopolizava o mercado, o governo
Collor implantou a concorrência predatória
no setor, permitindo que a Vasp voasse as mesmas rotas
– e para os Estados Unidos!!!
Ora, na aviação existe um protocolo internacional
intitulado “acordo de reciprocidade”. Se uma
companhia de determinado país voar para outro,
este último tem o direito de manter o mesmo número
de vôos de volta, para o país do parceiro.
Ao “liberar” também para a Vasp, o
Brasil permitiu a vinda de gigantes norte-americanas da
aviação. E iniciou, em “grande estilo”,
nosso desmonte.
Decerto, já naquela época, abalar a estrutura
da Varig era uma clara intenção, embora
qualquer motivo para tal extrapolasse os limites do bom-senso.
Afinal, todos os paises cônscios de sua responsabilidade
social e da importância do setor aéreo para
a soberania econômica mantêm uma única
companhia “de bandeira” voando rotas internacionais.
O setor aéreo era, de fato, o último ainda
plenamente regulamentado neste país. E, ao longo
dos anos 90, foi paulatinamente desarranjado. Sob o governo
FHC o neoliberalismo, então florescente, enfim
frutificou. De Brasília, sucessivas canetadas desmontavam
parâmetros, permitiam transgressões, cassavam
fontes de arrecadação e meios indispensáveis
à sobrevivência do setor – como a possibilidade
de obter por preço mais em conta o combustível
o querosene utilizado pelos aviões (QAV-1), produto
nobre e caro, porém subsidiado por dez entre dez
governos preocupados em “pensar estrategicamente”
o fortalecimento, e não o enfraquecimento, de suas
economias nacionais.
A (verdadeira) Varig desapareceu no primeiro semestre
de 2006, afundada em dívidas, asfixiada pela indiferença
de nossos governantes para com uma verdade inquestionável:
de que um país só vale, no mercado econômico
mundial, aquilo que arrecada, em divisas e royalties.
Se os Estados Unidos, após a “invasão
chinesa” e a débâcle do dólar
frente ao euro, ainda são considerados uma economia
forte, é porque detêm o maior número
de patentes registradas no planeta. Com elas, arrecadam
royalties. Com sua movimentação, divisas.
A nós, resta meditar sobre uma impressão
antiga – mas recorrente e, portanto, atual -, firmada
por Eduardo Galeano em suas “Veias abertas da América
Latina”: nascemos para sermos colonizados e explorados.
O fim da (verdadeira) Varig parecia sinalizar, para as
concorrentes nacionais, o fim de um “monopólio”
nos céus e a possibilidade de novos mercados, lucros
maiores. Ilusão: não tinham nem estrutura,
nem conhecimento, nem sabedoria para herdar (ou abocanhar?)
os bens e produtos da “pioneira”. Até
o momento, só as concorrentes estrangeiras estão
lucrando (e muito, de forma até exorbitante). Enquanto
isso, o país perdeu milhares de postos de trabalho
estáveis, salários dignos, impostos pagos
e divisas certas. Em nome do quê? Satisfazendo aos
interesses de quem? Façam suas apostas, senhores!!!
CPIs do Apagão Aéreo
E eis que, logo após o “desaparecimento”
da (verdadeira) Varig, um acidente aéreo em território
nacional, envolvendo outra empresa brasileira, a Gol,
“detona” uma crise sem precedentes no segmento
do controle do tráfego aéreo nacional.
Até que ponto, porém, a tragédia
de setembro de 2006 não foi apenas um reflexo de
todo o desmonte que já vinha ocorrendo em nosso
setor aéreo? A investigação deve
ser profunda, sob pena de jogarmos para baixo do tapete
do esquecimento as falcatruas e “vistas grossas”
levadas a termo nos últimos anos – o câncer,
enfim, que vem corroendo as entranhas da nossa aviação
civil.
Que a CPI do Apagão não se apequene, não
se transforme apenas numa Comissão de Investigação
de Acidentes Aéreos. Que se investigue com profundidade
o “fatiamento” e venda da (verdadeira) Varig,
num leilão envolto em tanta suspeição
que motivou investigação parlamentar na
Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro!!! Que
a CPI do Apagão discuta e reveja o conceito de
“empresa nacional” e o aumento de capital
estrangeiro que vem sendo proposto, no Senado, para as
empresas de aviação.
O setor aéreo é vital para a integração
e o desenvolvimento de um país, principalmente
quando possui a dimensão territorial de um Brasil.
Por definição, o transporte aéreo
regular é um serviço de concessão
pública. Portanto, o Estado brasileiro tem o dever
de proteger a aviação comercial contra a
concorrência ruinosa e impatriótica, promovendo
seu indispensável e imediato reordenamento, além
de anular as vendas ilegais da Varig, da VarigLog e da
VEM a grupos estrangeiros, assumindo os serviços
concedidos ( CF, art 21- XII, “c”)
Para realizar um trabalho efetivo, condizente com seu
dever de zelar pelo bem-estar e segurança do povo
e respeitar os direitos do cidadão-contribuinte,
o Congresso Nacional precisa, apenas, ter em mente que
a corrente neoliberal, por meio do capital estrangeiro,
há muito prega a desregulamentação
dos setores produtivos das economias emergentes. Infelizmente,
o Brasil vem fazendo este jogo.
O que assistimos, hoje, é um processo que traz
somente prejuízos ao país e ao povo brasileiro.
Se o Congresso Nacional – única instituição
investida do poder suficiente – não estancar
agora esse curso, só restará às futuras
gerações de brasileiros uma colocação
precária, de meio expediente, em redes de fast
food ou drugstores, cujas marcas são fortes patentes
que geram bilhões de dólares em royalties...
mas não para nós.
Política que o Brasil precisa implementar no Setor
Aéreo:
- Conservar o mercado brasileiro de aviação
- Revitalizar a Indústria Nacional
- Manter e criar empregos
- Desonerar o Setor Aéreo
- Estimular uma indústria sadia e um Transporte
Aéreo Seguro
- Céus brasileiros para Trabalhadores brasileiros
Folha de São Paulo
20/06/2007
O cidadão relaxado e gozado
Há pelo menos dez anos
a carga tributária cresce como proporção
do PIB. O relaxado contribuinte assume a conta
PAULO RABELLO DE CASTRO
A RECOMENDAÇÃO da ministra do Turismo,
convidando os brasileiros ao gozo e ao relaxamento diante
do tormentoso desconforto das viagens aéreas, conduz
à indagação se não seria essa
mais uma vertente do programa de aceleração
de constrangimentos (sigla PAC). Não bastasse o
medo nos céus e o "suplicyo" (sic) nos
aeroportos, o tal "brasileiro" sofre maldades
oficiais, a ponto de fazê-lo um refém da
gozação, um louco pela próxima piada,
um viciado na gargalhada auto-expiatória. Não
fosse assim, como se justificaria o rosário de
brincadeiras oficiais de mau gosto, aceitas, dia-a-dia,
sem chiadeira, pelo gozado cidadão?
Enumero algumas, para não parecer detrator de tão
belos momentos por que passa a República, os melhores
desde que Deodoro resolveu desalojar o senhor de barbas
brancas do Palácio de São Cristóvão
e mandou-o à Europa... relaxar e gozar.
Dentre as brincadeiras permanentes, cito o sistema de
representação política, que elege
mensaleiros e cascateiros em profusão, e cuja programada
reforma -ora em curso- quer agora estabelecer listas fechadas,
onde apaniguados nelas inscritos não mais precisarão
do voto careta para se eleger e, depois, gozar nas delícias
do cargo.
Das brincadeiras, as melhores continuam sendo as que mexem
com o bolso do cidadão. Há pelo menos dez
anos a carga tributária, ou seja, o peso dos impostos
e contribuições cresce um palmo percentual
como proporção do PIB, todos os anos, desde
o pacote das "51 medidas" anunciado por FHC
em 1997.
O relaxado contribuinte assume essa conta desde então,
iludido com a idéia de que sacrifício hoje
o fará ter a satisfação de enxergar
o equilíbrio das despesas públicas com a
receita fiscal. Doce e gozada ilusão: é
que a despesa pública crescerá sempre tanto
ou mais que a receita. Para gozação geral,
quanto mais receita entra, mais despesa sai, de modo que
nunca haverá controle da despesa sem antecedente
corte dos impostos. Por brincadeira, entretanto, o governo
vem de pedir ao Congresso brincalhão, que lhe prorrogue
a CPMF por mais quatro anos...
Das brincadeiras permanentes para as recentes, é
um pulo, ou melhor, o tempo de uma espera de vôo.
Quando o discreto e desesperado contribuinte estiver lá,
no aeroporto, resignado na espera de duas ou três
horas para embarcar no seu vôo, deve procurar relaxar
e concentrar-se nos seguintes fatos: desde quando surgiu
o "apagão aéreo"? Segundo semestre
de 2006. Que fato marcante o antecedeu e o provocou? Um
desastre aéreo? Não! Um desastre da aviação
brasileira, a decapitação consentida da
maior empresa comercial do setor, seguida da devolução
de dezenas de aeronaves desta, não repostas pelas
demais aéreas, e pior, com a perda da organização
e do capital humano com que se mantinha regular a oferta
de vôos até então. A partir do encolhimento
da Varig, a oferta de assentos despencava, enquanto explodia
a demanda. Resultado: o apagão.
Gozado mesmo será quando o descansado contribuinte
receber o "contas a pagar" do citado desastre
da aviação nacional: terá que repor
o esvaído pecúlio dos aeronautas e aeroviários
descartados -cujo fundo de pensão acaba de morrer
de morte matada- e ainda, um dia, ter de cobrir as indenizações
devidas e não pagas aos gozados aeronautas os quais,
após voar décadas de brasileiros em total
segurança, foram despachados à conchinchina,
onde a vida rola com menos gozação. Se você,
como eu, não é relaxado nem gozado, talvez
um tempo na conchinchina nos faça bem.
PAULO RABELLO DE CASTRO, 58, doutor
em economia pela Universidade de Chicago (EUA), é
vice-presidente do Instituto Atlântico e chairman
da SR Rating, classificadora de riscos. Preside também
a RC Consultores, consultoria econômica, e o Conselho
de Planejamento Estratégico da Fecomercio SP. Escreve
às quartas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.
Estadão
20 de junho de 2007 - 21:13
Star Alliance quer negociação
com a TAM no mercado aéreo
Empresa busca companhia brasileira para substituir
a Varig no mercado
Alberto Komatsu
RIO - A Star Alliance busca uma empresa brasileira para
substituir a Varig e espera contar com a TAM em sua aliança
global de empresas aéreas, afirmou o presidente
do grupo no Brasil, Carlos Antunes. O executivo diz que
a líder do mercado brasileiro "está
mais próxima" da Star Alliance.
"Existe interesse da Star Alliance em ter um parceiro
no Brasil. Assim como existe interesse em trabalhar com
a TAM", afirma Antunes. Segundo ele, a TAM reúne
as condições mais propícias para
aderir à Star Alliance por causa de sua operação
no mercado internacional.
Além disso, ele destaca que contribui para a preferência
o fato de a empresa ter fechado recentemente acordos de
compartilhamento de assentos com a portuguesa TAP, a americana
United Airlines e a alemã Lufthansa, todas integrantes
da aliança.
A TAM informa que ainda não decidiu se vai aderir
a algum grupo global de companhias aéreas, mas
admite que foi "flertada" por todos os existentes.
A empresa acrescenta que a sua estratégia tem sido
a de firmar acordos bilaterais. Em menos de um mês,
foram quatro, incluindo uma parceria com a chilena LAN,
que pertence à aliança Oneworld.
"Sem dúvida os acordos bilaterais da TAM
com empresas da Star Alliance são o primeiro passo
para a TAM entrar na aliança. Aliás, ela
já está com um pé lá",
afirmou o consultor aeronáutico Paulo Bittencourt
Sampaio. Segundo ele, a parceria firmada com a LAN não
atrapalha uma eventual adesão da TAM à Star
Alliance.
Varig
"A Varig que foi parceria da Star Alliance não
é a mesma que opera hoje", diz Antunes, ao
ser questionado das chances de a Varig retornar à
aliança. A companhia saiu desse grupo em abril
deste ano.
Sobre a Gol, o executivo diz que alguns limitadores impedem
a imediata adesão da empresa, que concentra sua
atuação internacional na América
latina. Além disso, o sistema de reservas da Gol
não se conecta com os dos membros da Star Alliance,
diz Antunes.
A Star Alliance comemora este ano uma década de
existência. São 17 empresas que reúnem
2.777 aeronaves, 351,7 mil funcionários e 405,7
milhões de passageiros transportados por ano. Juntas,
as companhias voam para 155 países e operam em
855 aeroportos, com 16 mil decolagens por dia. Esses número
deverão aumentar até o final deste ano,
já que a Air China está em processo de adesão.
Prioridade ao passageiro
De acordo com Antunes, o novo foco da aliança é
a prioridade ao passageiro. Ele diz que o objetivo é
fazer com que a pessoa viaje nos aviões de diferentes
empresas do grupo e sinta que os serviços e a qualidade
são padronizados, como se tivesse viajado em apenas
uma empresa aérea. "Antes o foco era como
a Terra se conecta. Hoje, a prioridade é como as
companhias se conectam com o passageiro", diz.