::::: RIO DE JANEIRO - 21 DE MAIO DE 2007 :::::

 

Tribuna da Imprensa
21/05/2007
Light tem a ajuda que foi negada à Varig

"A história do sistema elétrico brasileiro nos últimos anos é a história da luta dos governos brasileiros contra as nossas vantagens comparativas e contra o conhecimento técnico que acumulamos. É a história de uma destruição, a destruição do Brasil." (Cesar Benjamin, economista e escritor, em "Descaminhos do Setor Elétrico ou Hospício Brasil" - com Rômulo Tavares Ribeiro).

Essa não dá para entender mesmo: o BNDES anuncia como um ato de afirmação positiva sua decisão de transformar 90% da dívida da Light em ações - ou seja, dos R$ 726 milhões emprestados em 2005, R$ 713 milhões viraram papéis, sendo que, aos valores atuais, essa dívida estaria em R$ 809 milhões.

E mais: ao tempo em que passa a deter 31,4% do capital da empresa, na condição de sócio minoritário e, portanto, sem peso nas decisões, o mesmo BNDES estuda um novo pedido de empréstimo da concessionária, desta vez de R$ 660 milhões de reais. Por que tanta generosidade não aconteceu no episódio da Varig, que, com um reforço de menos de R$ 1 bilhão não teria sido submetida a toda essa novela de que tenho falado e que é uma das grandes causas do caos aéreo nos dias de hoje?

Dois pesos e duas medidas

Logo com a Light, que, privatizada em 1996, conseguiu a proeza de piorar seus serviços nas 32 cidades do Estado do Rio à qual serve, principalmente na capital, onde os cariocas estão tendo que se acostumar com apagões crônicos? Por que essa tremenda colher de sopa para uma empresa que, privatizada, demitiu 40% dos funcionários, cerca de 5.000 de um total 11.300, a maior parte ligada à manutenção, deixando os consumidores de luz na dependência de um socorro precário a cada apagão?

Cada vez que o BNDES injeta recursos e converte em ações dívida de concessionárias privatizadas a gente vê o quanto de injusto foi o governo com os profissionais da aviação, ao contrário do que aconteceu em todos os países do mundo, inclusive nos Estados Unidos, matriz do pensamento econômico dominante.

Como já decidiu o STJ, Varig, Transbrasil e Vasp foram à lona em conseqüência de uma desastrosa política de congelamento tarifário numa área que operava segundo as regras do mercado internacional. Hoje, há uma estimativa de que o governo federal deva só à Varig mais de R$ 6 bilhões, valores que, se serviram como garantia para a dívida de R$ 3,2 bilhões da empresa com o fundo de pensão Aerus, poderiam igualmente ser usados para um financiamento de emergência a uma empresa que tem a marca de maior prestígio no setor e havia conquistado o mercado internacional com uma presença que representava um faturamento anual superior a R$ 1,2 bilhão só nas linhas internacionais.

Se o BNDES decidiu ser acionista da Light, que teve tratamento tarifário privilegiado desde sua privatização, por que o governo não securitizou a dívida da Varig ou mesmo não fez uma intervenção direta, considerando sua importância estratégica dentro de uma economia voltada para o mercado externo.

Um mau exemplo

A Light, diga-se de passagem, tem sido uma grande vilã na relação com a sociedade brasileira desde a sua privatização.

Um estudo assinado pelo economista César Benjamin, www.historianet.com.br em abril de 2004 mostra que essa concessária não teve o menor respeito pela economia dos seus consumidores: "Na última vez em que negociou no mercado de geração, encontrou a oferta de Furnas, uma empresa estatal que opera usinas hidrelétricas; Furnas se propôs a entregar energia à Light pelo preço de R$ 50,00 o megawatt-hora (MWh). Encontrou também a oferta da Norte Fluminense, uma empresa privada que opera uma usina termelétrica; para entregar o mesmo megawatt-hora, a Norte Fluminense cobrou R$ 150,00.

A Light optou por comprar energia da Norte Fluminense. Primeiro motivo: para ela, essa opção é indiferente, pois as regras da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) permitem que as distribuidoras repassem aos consumidores 100% do preço que pagam às geradoras. Segundo motivo: a Norte Fluminense é do grupo Light. Assim, nós, consumidores, somos forçados a comprar a energia mais cara".

Cesar Benjamin mostrou que a manipulação entre compra de energia às geradoras e venda ao consumidor final foi muito mais indecente ainda: "A eletricidade que estamos consumindo está sendo colocada na rede por Furnas, por ordem do Operador Nacional do Sistema (ONS), que coordena a operação física do sistema. O ONS tomou essa decisão porque viu que a eletricidade de Furnas é muito mais barata. Furnas, porém, não foi contratada pela Light, de modo que sua energia está sendo remunerada pelo preço do mercado livre, o qual está excepcionalmente baixo - apenas R$ 18,00 -, pois há sobra de energia no País.

Quando minha conta de luz chegar, eu pagarei à Light um valor que tem como base aqueles R$ 150,00 que ela contratou da Norte Fluminense, ou seja, de si mesma. A Norte Fluminense, que permaneceu desligada, repassará R$ 18,00 a Furnas, que produziu a energia. A diferença será inteiramente embolsada pelo grupo Light".

Em 2003, o deputado Aldo Rebelo também fez um libelo contra os danos causados pela Light ao País: "Graças à redução de custos e à recuperação das tarifas os lucros subiram. A Light pagou em média R$ 33,42 às geradoras e cobrou R$ 82,52 o MW/h, uma diferença de quase 150%. Esse diferencial de tarifa, extremamente elevado, foi inteiramente apropriado pelos investidores, sem qualquer benefício para os usuários finais de energia.... Em 1996, ano no qual foi privatizada, a Light, obteve um lucro de R$ 173,3 milhões e distribuiu integralmente esse resultado entre seus acionistas".

Mesmo com todo esse apoio, a Light recorreu ao BNDES porque estava com uma dívida líquida de R$ 2,1 bilhões. E olhe que em março do ano passado a concessionária foi vendida pelo grupo que a arrematou (EDF - Elétricité de France - Houston Energy, AES e CSN) ao consórcio Rio Minas Energia (Cemig, Andrade Gutierrez, Pactual Energia e o fundo de Investimentos Luce).

Isso não fez diferença nenhuma e só serviu para levar o BNDES a adotar a um tratamento camarada, que negara à Varig. A propósito, ler coluna de Helio Fernandes de sábado.

 

 

Folha de São Paulo
21/0055/2007
Corretora recomenda papéis da Gol, apesar de crise aérea
DA REPORTAGEM LOCAL

Após mais uma semana de recordes na Bolsa, as corretoras participantes da seção "Dicas" do FolhaInvest fizeram pequenas alterações em suas recomendações de compra de ações. A Ágora Senior elevou sua projeção de preço-alvo para a ação PN da Klabin, de R$ 6,50 para R$ 7,65.

Já a Prosper Gestão de Recursos substituiu sua recomendação de compra da ação ON da João Fortes pelos papéis PN da Gol, que teve preço-alvo fixado em R$ 70. "Apesar da atual crise no controle de tráfego aéreo, o setor de aviação segue apresentando crescimento. A compra da Varig agrega pessoal com larga experiência e novas rotas, ampliando a capacidade de crescimento da empresa", avalia a Prosper.

Na semana passada, o Ibovespa bateu a marca dos 52.077 pontos, novo recorde do mercado acionário brasileiro, e acumulou alta de 2,31%. No ano, a valorização da Bolsa já chega a 17,1%. "A semana foi positiva para os principais mercados acionários do mundo, com destaque para as bolsas americanas e para a Bovespa. Expectativas para a próxima reunião do Copom mantêm um cenário favorável para as empresas voltadas ao mercado interno", diz a Coinvalores.

A expectativa do mercado é que o Ibovespa chegue a 55 mil pontos até o final do ano. Operadores, no entanto, temem um período de ajustes após os sucessivos recordes. "Com dados relevantes para serem divulgados nos EUA só no fim da semana, o mercado brasileiro pode manter a alta volatilidade percebida nos últimos dias", prevê a Prosper Gestão de Recursos.