::::: RIO DE JANEIRO - 20 DE SETEMBRO DE 2007 :::::

 

O Estado de São Paulo
20/09/2007
Gol diz que pode fechar capital e ações disparam na Bolsa de Valores
Queda de US$ 2,6 bi no valor das ações leva família Constantino a pensar em recomprar os papéis na Bolsa
Patrícia Cançado

O fundo de investimento Asas, da família Constantino, informou ontem que pode recomprar parte das ações da Gol no mercado e até fechar o capital da companhia aérea na Bolsa da Valores. A família, que detém 70% das ações da Gol, ainda não decidiu qual alternativa adotar. A decisão foi motivada pela queda contínua das ações da companhia desde o começo da crise aérea.

No dia anterior ao anúncio, o valor de mercado da Gol era de US$ 4,3 bilhões. Um ano antes, a empresa valia US$ 6,9 bilhões. Analistas calculam que a recompra das ações custaria aos controladores pelo menos US$ 1,6 bilhão (ou R$ 3 bilhões). A notícia fez as ações da Gol dispararem 10,67% ontem. Na Bolsa de Nova York, onde ela também é listada, a alta foi de 11,01%, a quarta maior valorização do dia entre todas as ADRs.

Segundo a analista do Goldman Sachs, Daniela Bretthauer, a manobra será relativamente simples, pois 60% das ações negociadas na Bolsa estão nas mãos de 10 investidores. As conseqüências da decisão, porém, podem ser graves. 'A principal desvantagem seria a perda do acesso ao mercado para futuros financiamentos. Desde o IPO (sigla em inglês para oferta inicial de ações), a Gol acessou o mercado três vezes para financiar agressivos planos de expansão de frota.'

A analista vê outros dois motivos para a saída da Bolsa: 'Manter as informações longe do seu competidor (TAM) num mercado que opera como um duopólio virtual e o desejo de ter um comportamento mais reservado no ambiente problemático da aviação brasileira.'

A decisão divide os analistas de mercado. Para alguns, ela significa um retrocesso. Em 2004, quando a Bovespa estava abandonada, a Gol foi uma das primeiras empresas de porte a abrir capital e indicar um modo diferente de financiar os negócios no Brasil. 'Empresas listadas tendem a valer mais porque têm mais transparência e atraem investidores do mundo inteiro, o que ajuda a elevar o preço das ações', diz o analista de aviação do Banco Santander, Caio Dias.

Para outros, a decisão é coerente. 'Enquanto o clima de incertezas rondar a aviação brasileira, a empresa fechada pode valer mais que a aberta. O potencial de crescimento da companhia existe, mas fica nebuloso diante das indefinições da infra-estrutura aérea', diz o analista da corretora Calyon, Ray Neidl. 'Se os controladores puderem levantar o dinheiro, o que eu acredito ser possível, seria lógico recomprarem as ações e vendê-las mais tarde quando a situação clarear e eles puderem demonstrar o valor da aquisição da Varig.'

A compra da Varig teve um impacto negativo nos resultados da Gol no segundo trimestre do ano. O prejuízo da Varig entre abril e junho foi de R$ 94 milhões.

NÚMEROS

US$ 4,3 bilhões era o valor de mercado da Gol no dia anterior ao anúncio da intenção de fechar o capital

US$ 6,9 bilhões era o valor de mercado da Gol há um ano, quando a crise da aviação não tinha começado

10,67% foi a valorização das ações da Gol na Bovespa ontem, após a divulgação do comunicado da companhia

R$ 3 bilhões é quanto os controladores da Gol devem gastar se recomprarem todas ações no mercado.

 

 

O Estado de São Paulo
20/09/2007
Coronel vê demora de pilotos em frear Airbus
Comandantes levaram 9 s para acionar freio, diz assessor de CPI
Luciana Nunes Leal

Conforme a caixa-preta, 26 segundos separam a chegada do Airbus A320 da TAM no Aeroporto de Congonhas da batida com o prédio da TAM Express, em 17 de julho, no maior acidente da história da aviação civil brasileira, com 199 mortos. Mas o freio mecânico, acionado nos pedais, foi usado só 9 segundos depois do toque na pista. 'Quer dizer, 630 metros foram jogados no lixo. Perderam-se 630 metros preciosíssimos.' A afirmação é do coronel aviador Antônio Junqueira, contratado pela CPI do Apagão Aéreo da Câmara para analisar os dados recolhidos pela Aeronáutica.

Vice-diretor do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) - na época em que se investigou o acidente com o Fokker-100 da TAM, em 1996 -, ele destacou 'uma série de fatalidades' que levaram à tragédia e procurou não culpar os pilotos. Mas, ao fim de seis horas de explicações, deixou nos deputados a sensação de que a principal causa do acidente foi falha humana.

Essa avaliação contraria o que o relator da CPI, Marco Maia (PT-RS), pretende colocar no relatório final. 'Continuo na convicção de que o equipamento do Airbus mostrou falhas. A lógica do Airbus é complexa, os pilotos queriam parar e o avião não parou.'

A primeira falha que resultou no acidente, na avaliação do coronel, foi o fato de apenas o manete esquerdo (espécie de marcha acionada na hora do pouso) ter sido recuado para a posição idle (ponto morto) e depois para reverse (retardar), enquanto o direito ficou na posição climb (subida). Outra falha teria sido o fato de os pilotos não terem percebido que os manetes estavam fora do lugar. Nesse ponto, Junqueira fez duras críticas ao sistema de automação dos Airbus. 'Os pilotos da TAM nem olham para o manete até pousar. No Boeing, o manete tem de ser usado o tempo todo', comparou o coronel. 'A Airbus esquece que quem comanda é um ser humano.'

LAPSO

Para o técnico, o piloto, por um lapso, esqueceu de colocar o manete direito na posição correta. O avião acidentado voava com o reverso (freio localizado na turbina) direito travado, porque apresentara defeito quatro dias antes, mas, mesmo nesta condição, o manete deveria ser levado para ponto morto.

Segundo Junqueira, os pilotos podem não ter percebido a gravidade da situação logo que o avião pousou e não notaram que os spoilers (freios localizados nas asas) não funcionaram. O coronel disse que a simulação do acidente feita na última sexta-feira pela CPI, em São Paulo, tinha o objetivo de encontrar outros motivos para o acidente, mas não foi possível detectar nenhuma falha recorrente no sistema automatizado. 'Não é admissível que a tripulação, com aquela experiência, com aquela quantidade de vôos, tivesse deixado de reduzir os manetes. Mas outros acidentes com reverso travado mostram a mesma coisa (falha humana)', afirmou Junqueira.

Outra das conclusões de Maia no relatório, a de que a pista de Congonhas não foi fator determinante, mas apenas 'contribuiu' para o acidente também foi questionada pelos deputados, a partir da exposição de ontem. Junqueira calculou que, nas mesmas condições de pouso e com a mesma dificuldade, o Airbus A320 conseguiria parar no limite de uma pista de 3.218 metros. Ou seja, poderia frear na pista maior do Aeroporto de Guarulhos, que tem 3.700 metros, ou na de Viracopos, com 3.240 metros. Junqueira ressalvou que não poderia garantir que o acidente não teria ocorrido nesses dois aeroportos porque o avião saiu do eixo e pendia para a esquerda ao ultrapassar a pista e explodir.

 

 

O Estado de São Paulo
20/09/2007
Zuanazzi definiu saída da Anac há 20 dias
Vera Rosa, Tânia Monteiro e Ana Paula Scinocca

A saída de Milton Zuanazzi da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) foi acertada há 20 dias. Apesar de manter o discurso oficial de que permanecerá na diretoria, ele já foi convencido a deixá-la e disse a amigos que pretende trabalhar como consultor de turismo. Em reunião na noite de ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, indicou a economista Solange Paiva Vieira para presidir a Anac.

Solange é assessora especial de Jobim e já foi secretária de Previdência Complementar no governo Fernando Henrique Cardoso. Auxiliar de confiança do ministro, foi cogitada, inicialmente, para ocupar a Secretaria de Aviação Civil. Diante da dificuldade em encontrar um substituto para Zuanazzi, no entanto, Jobim decidiu indicá-la para o comando da Anac e aguarda aval de Lula.

O acerto prevê que Zuanazzi só renuncie à presidência da agência após a nomeação de três diretores. Afilhado político dos ministros Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) e Dilma Rousseff (Casa Civil), o atual presidente da Anac tem mandato até 2011. Desde que Jobim assumiu a Defesa, em julho - após a tragédia com o avião da TAM - , três dos cinco diretores da Anac já caíram, sob intensa pressão do governo: Denise Abreu, Jorge Luiz Velozo e Leur Lomanto. O próximo da lista será Josef Barat.

Até agora, não há substitutos para as cadeiras vagas de Denise Abreu e de Lomanto. O brigadeiro Allemander Jesus Pereira Filho já foi escolhido para o lugar de Jorge Velozo e só espera a sabatina do Senado para ser efetivado no cargo.

 

 

Jornal do Brasil
20/09/2007
Zuanazzi com os dias contados na Anac
Fernando Exman

BRASÍLIA. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, fechou o cerco contra o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi. Indicou ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva Solange Vieira, sua assessora especial, para ocupar uma vaga na diretoria da agência. Na noite de terça-feira, Jobim revelou que pretende vê-la no lugar de Zuanazzi. O presidente decidirá se aceita a sugestão e envia o nome de Solange para a apreciação do Senado, o que é dado como certo devido à carta branca que Jobim recebeu de Lula para administrar o setor de aviação civil.

Desde 25 de julho, quando assumiu o comando do Ministério da Defesa, Jobim trava uma guerra com a Anac. Acusa a agência de ser culpada por parte do colapso do sistema aéreo nacional. Tem pressionado os diretores da Anac - que detêm mandatos fixos e não podem ser demitidos - a deixarem o cargo. Três já sucumbiram. Restam Zuanazzi e Josef Barat. Este já confidenciou a interlocutores que aceita renunciar. Zuanazzi resiste. Primeiro, disse que era mais fácil Jobim cair do que ele sair da agência. Agora, negocia. Tenta trocar a presidência da Anac por sua permanência na diretoria da instituição.

- Isso que é apego ao cargo - ironizou o senador Pedro Simon (PMDB-RS).

Para o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), integrante da CPI do Apagão Aéreo da Câmara, a declaração de Jobim de que Solange Vieira se tornará a presidente da Anac é uma forma de pressionar Zuanazzi.

- O governo já deu todos os sinais possíveis e imagináveis para a diretoria da Anac. Esse foi mais um, mas alguns diretores têm uma capacidade de entendimento maior do que outros - concordou o relator da comissão, deputado Marco Maia (PT-RS).

Zuanazzi foi indicado para o cargo pelos ministros Walfrido Mares Guia (Relações Institucionais) e Dilma Rousseff (Casa Civil). Mantém ainda estreitas ligações com ambos, o que lhe garante uma maior sobrevida à frente da Anac durante a gestão de Jobim no Ministério da Defesa. O mesmo não aconteceu com três diretores da agência. Denise Abreu, Leur Lomanto e Jorge Velozo renunciaram. O último foi Lomanto, que deixou a direção no dia 6. Desde então, a diretoria da Anac não tomou nenhuma decisão. Só medidas administrativas foram executadas.

Como a lei que criou a agência (11.182/05) exige um quorum mínimo de três pessoas para que a diretoria colegiada da Anac se reúna, o setor, que desde setembro do ano passado enfrenta um apagão, na prática não conta mais com um órgão de regulação e fiscalização. Os cinco diretores costumavam se reunir uma vez por semana. Neste mês, no entanto, só houve uma reunião. Foi realizada dia 4, dois dias antes de Lomanto anunciar sua renúncia. Nos demais dias do mês, Zuanazzi ocupou o seu tempo com despachos internos, solenidades e encontros com autoridades.

A solução está nas mãos dos senadores. Consta da pauta da Comissão de Infra-Estrutura do Senado a sabatina do major-brigadeiro Allemander Jesus Pereira Filho, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ocupar a vaga de Velozo, o primeiro diretor da agência a renunciar. A expectativa dos integrantes da comissão é de que a sabatina seja realizada hoje. Por se tratar de um técnico, a bancada governista acredita que o brigadeiro será aprovado pela comissão e depois receberá o aval do plenário da Casa.

A nomeação de Allemander Jesus Pereira Filho pode, entretanto, demorar a sair. A fim de forçar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a deixar o cargo devido às acusações que enfrenta, a oposição decidiu tentar impedir a votação de projetos de interesse do governo.

 

 

Jornal do Brasil
20/09/2007
Solange pode enfrentar resistência

BRASÍLIA. A indicação de Solange Vieira, assessora especial do ministro da Defesa, Nelson Jobim, para uma vaga na diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) pode enfrentar resistências da oposição no Senado. Parlamentares do DEM e do PSDB querem evitar a nomeação de quem não tiver experiência no setor.

- Sou contra a nomeação de quem não é do ramo - ressaltou o líder da minoria no Senado, Demóstenes Torres (DEM-GO). - Votarei contra ela ou qualquer outro que não entenda de aviação.

O governo, no entanto, acredita que a influência política de Jobim em segmentos da oposição facilitará a aprovação da indicação pelos integrantes da Comissão de Infra-Estrutura e pelo plenário do Senado. Para a líder do PT na Casa, senadora Ideli Salvatti (SC), o fato de Jobim ser padrinho de Solange Vieira dá força à indicação.

- Quero só ver se a oposição mantém o discurso. Há coisas que eles dizem que não se mantêm por duas horas - provocou Ideli.

A economista Solange Vieira é funcionária de carreira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No início do mês passado, deixou o BNDES para se tornar assessora especial de Jobim. Foi contratada para estudar como o governo pode acabar com o duopólio de TAM e Gol no mercado de aviação civil nacional.

Solange foi secretária de Previdência Complementar do Ministério da Previdência no governo de Fernando Henrique Cardoso. À época, tinha o apelido de musa da Esplanada dos Ministérios. Era conhecida pela firmeza no trato com os dirigentes de fundos de pensão. Criou o fator previdenciário, estímulo ao adiamento da aposentadoria para que o benefício seja maior.

Depois de deixar o Ministério da Previdência, Solange trabalhou na Advocacia-Geral da União (AGU) e dirigiu o Telos, fundo de pensão dos funcionários da Embratel. (F.E)

 

 

Folha de São Paulo
20/09/2007
Técnico vê erro de piloto em acidente da TAM
Coronel contratado pela CPI do Apagão Aéreo também considera que a Airbus foi negligente por não instalar alerta em aeronave
Avaliação de especialista, que trabalhou no centro de investigações de acidentes aeronáuticos, será usada no relatório final da comissão

LEILA SUWWAN DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A avaliação técnica do acidente do vôo 3054 da TAM, pedida pela CPI do Apagão Aéreo na Câmara, indica que foi uma falha humana, do comandante Kleyber Lima, que impediu a desaceleração do avião na pista de Congonhas em 17 de julho -mas a Airbus, fabricante do modelo, foi considerada negligente por não instalar obrigatoriamente o alerta para evitar o erro previsível no acionamento dos manetes no pouso.

A análise foi feita pelo coronel da reserva Antonio Junqueira, contratado pela CPI para analisar os dados da caixa-preta e elaborar um relatório.

Ele trabalhou no Cenipa (Centro Nacional de Investigações e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) e explicou os dados do acidente da TAM por seis horas ontem na CPI -sua avaliação será usada como base no relatório final da comissão.

Apesar das explicações, a falha mecânica dos manetes (alavancas de controle de potência da turbina) não pode ser totalmente descartada. Segundo Junqueira, o pedestal dos manetes será analisado na França.

Mas ele lembrou que em dois acidentes quase idênticos de Airbus-A320, o modelo que explodiu em Congonhas, com reversor inoperante -em Taiwan (2004) e Filipinas (1988)- nenhum problema mecânico foi detectado e foram os pilotos, treinados e experientes, que cometeram a mesma falha ilustrada na caixa-preta do vôo 3054: o manete da turbina com reversor inoperante foi deixada em ponto de aceleração.

Isso desativou a frenagem automática e a abertura dos spoilers, os freios aerodinâmicos nas asas. "O sistema é impecável. Mas quem estava no comando era um ser humano, falível", disse o coronel. Para ele, a automação da Airbus está "próxima da perfeição".

Isso, porém, não convenceu o relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS). "Estou resistindo a essa possibilidade de erro humano. Não consigo conceber que o piloto não realizou uma manobra tão normal."

O próprio coronel considerou esse tipo de erro um "desatino", mas disse que questões psicológicas podem ter influenciado. "A psicologia pode explicar com a idéia da "projeção futura". Há um deslocamento da atenção para o futuro, o piloto fica preocupado com o que vai acontecer", disse, em referência à preocupação de que um reversor estava inoperante e a pista de Congonhas, escorregadia. Citou ainda que o vôo 3054 foi o primeiro feito por Kleyber Lima após as férias.

Além disso, lembrou que no Airbus a potência de turbina é regulada automaticamente de acordo com as etapas de vôo programadas. "O manete é algo decorativo, até no pouso."

O procedimento correto é acionar ambos manetes para "idle" (ponto-morto ou baixa aceleração) pouco antes de tocar a pista. Depois, acionar ambos reversos, inclusive o da turbina afetada. Junqueira mostrou que até pelo menos 2003 a norma era não acionar o reverso inoperante para evitar uma pequena propulsão.

Segundo ele, a norma anterior ainda é adotada por alguns pilotos -caso do pouso dessa mesma aeronave em Congonhas por outra tripulação horas antes do acidente- para poupar 55 metros de pista.

Uma preocupação em não acionar o reverso direito, poderia, em tese, ter influenciado o esquecimento do manete da turbina direita, segundo ele.

Junqueira avaliou que é "injustificável" que a Airbus não tenha considerado o alerta de manete um item obrigatório, após prometer desenvolver esse aviso por conseqüência do acidente de Taipei.

 

 

Folha de São Paulo
20/09/2007
CPI vai propor em relatório que governo retire da Anac o poder de conceder vôos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com aval do ministro da Defesa, Nelson Jobim, a CPI do Apagão Aéreo irá propor no relatório final que o governo retire o poder de concessão de vôos da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), deixando a agência com poderes apenas de fiscalização e regulação do setor. A mudança tem o apoio da indicada para a presidência do órgão, Solange Vieira, cujo nome foi levado ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A economista esteve ontem negociando com deputados da CPI as mudanças para a agência, como a devolução para o âmbito do Ministério da Defesa das tratativas internacionais e os estudos estratégicos e de planejamento do setor. A expectativa é que as sugestões sejam aprovadas com facilidade, já que a Anac caiu em descrédito na CPI e o governo quer consenso político para mudanças.

"A Anac perde o poder de outorga por incompetência de seus diretores", disse Rocha Loures (PMDB-PR), presidente da subcomissão da CPI que trata das mudanças na lei.

O relator da CPI, Marco Maia (PT-RS), estuda ainda o pedido de indiciamento dos diretores, mas adianta que considera que o colegiado agiu em "conluio" com as empresas aéreas.

Um dos pontos espinhosos é o atual presidente da agência, Milton Zuanazzi, petista. Ele deu sinalizações de que não irá renunciar, apesar das fortes pressões de Jobim para que se retire. Ontem, em reunião no Planalto, o ministro Walfrido dos Mares Guia, que apoiou a indicação de Zuanazzi para a Anac, foi escalado para negociar a saída pacífica dele.

A Folha apurou que Mares Guia teria acertado com Zuannazzi a renúncia para os próximos dias, após a aprovação pelo Senado da indicação do brigadeiro Allemander Pereira para uma diretoria técnica da Anac, hoje com apenas uma das quatro vagas de diretoria ocupada. A sabatina de Pereira ainda não tinha sido marcada até ontem.

Se não conseguisse um acordo com Zuannazzi, cujo mandato vai até março de 2011, Jobim avaliava usar medida de força, como um processo administrativo, se for necessário.

Outra mudança que a CPI irá propor na legislação aérea é o aumento de capital estrangeiro nas empresas aéreas para 49% e maior proteção aos consumidores em casos de atrasos e cancelamentos, por meio de projeto de lei. (LEILA SUWWAN)

 

 

O Globo
20/09/2007

 

 

Coluna Claudio Humberto
20/09/2007
Dia do controle

Hoje é o Dia do Controlador de Tráfego Aéreo, categoria cuja importância só foi percebida após o apagão aéreo que impôs ao País por nove meses.

Tiro no pé
Com as ações da GOL valendo um terço, após o apagão e a tragédia da TAM, Nenê Constantino decidiu recomprá-las na baixa e, daí, fechar o capital. Esqueceu de publicar como "Fato Relevante", como mandam as leis brasileira e americana. Vai dar rolo nas bolsas de São Paulo e Nova York.

 

 

Mercado e Eventos
19/09/2007 - 10:51h
Varig pretende retomar vôos para Argentina

A Varig poderá retomar seus vôos para Buenos Aires até o final do mês, informou o secretário geral da União Pessoal de Aeronavegação de Entes Privados (Upadep), Jorge Sansat. Desde o dia 9 de agosto, a empresa está proibida de voar para a cidade por causa de problemas de registro e questões trabalhistas.

Em recuperação judicial no Brasil, a antiga Varig tem cem funcionários na Argentina. No Brasil, a Gol, dona da Varig, tem buscado apoio na justiça para sustentar que não é herdeira das dívidas nem dos problemas trabalhistas da velha Varig, separada da nova empresa num leilão realizado no ano passado.

A Gol assinou acordo com os empregados da Varig na Argentina, pelo qual aceitou dar garantias de estabilidade trabalhista por dois anos e reconhecer direitos dos trabalhadores argentinos mais antigos que continuam na companhia. Também aceitou pagar indenizações aos que optarem por deixar a empresa. Dos cem empregados no país, cerca de 50 deverão aceitar essa alternativa.

Segundo Sansat, a retomada das operações na Argentina não será automática porque a Secretaria de Transportes da Argentina terá que autorizar os vôos e a companhia precisa reorganizar suas atividades, as quais estão paralisadas desde o dia 08 de agosto passado. A paralisação das operações da Varig foi baseada em supostas irregularidades detectadas nos vôos que saíam do Brasil com o VRG e eram anunciados na Argentina como Varig e utilizava pilotos da Gol. Além disso, a companhia não contava com os certificados técnicos e de seguros em dia, segundo a Secretaria de Transportes.