O Estado de São Paulo
19/11/2007
BRA quer bancos como acionistas
Empresa negocia com bancos
como ABN e Santander a conversão de uma dívida
de US$ 76 milhões em ações
Mariana Barbosa
A companhia aérea BRA, que suspendeu as operações
no dia 7 e acumula dívidas de US$ 100 milhões,
negocia com bancos credores uma saída para sua
crise. Dentre os principais bancos credores estão
o ABN Amro e o Santander, segundo fontes do mercado
financeiro.
Uma outra fonte próxima à companhia revela
que o modelo financeiro que está em negociação
consiste na transformação de uma dívida
de US$ 76 milhões com os bancos em participação
acionária. Os bancos se tornariam sócios
por meio de um fundo de investimentos, com a perspectiva
de vender essa participação em uma oferta
pública inicial de ações.
A empresa deve ainda US$ 20 milhões para empresas
de leasing, Shell, BR Distribuidora e Infraero e tenta
renegociar o pagamento dessas dívidas em três
ou quatro meses.
A operação de conversão de dívida
em ações resultaria em um aumento do capital
social da empresa, com a diluição da participação
dos sócios. Se as negociações forem
adiante, os irmãos Humberto e Walter Folegatti,
fundadores da empresa, poderiam ficar com menos de 1%
do capital total. Hoje, os Folegatti detêm 80%
do capital votante e o fundo Brazil Air Partners (BAP),
que reúne sete fundos de investimentos estrangeiros,
os 20% restantes.
Depois de praticamente lavarem as mãos, os sócios
estrangeiros do BAP hoje estão juntos com os
Folegatti na busca de uma saída honrosa para
a empresa. O investidor e ex-presidente do Banco Central
Armínio Fraga, que por meio de um fundo da Gávea
Investimentos no exterior detém menos de 3% do
Brazil Air Partners, está particularmente empenhado
em encontrar uma solução.
Se a negociação for bem sucedida, a BRA
desistirá da possibilidade de entrar em recuperação
judicial, apesar de já ter até contratado
o escritório de advocacia Felsberg & Associados.
A avaliação é de que a recuperação
judicial é demorada e onerosa, por isso a preferência
por um acordo extrajudicial com credores.
Além de escalonar as dívidas com bancos,
faz parte da negociação uma injeção
de US$ 35 milhões para retomar as operações
de forma bastante modesta e quitar as dívidas
com fornecedores. Na esperança de que as negociações
avancem, na quarta-feira a BRA revogou o aviso prévio
de 300 funcionários, de um total de 1.100 que
tinham sido dispensados no dia 7. O grupo que teve o
aviso prévio revogado é formado por 100
comissários, 50 pilotos e 150 funcionários
administrativos e de aeroporto - o necessário
para manter uma operação enxuta.
Pelo modelo de negócios que está sendo
desenhado pelos sócios, a BRA voltaria completamente
reformulada. A intenção é dar seqüência
ao pedido de aviões da Embraer, dispensar os
Boeings alugados que hoje fazem parte da frota e focar
a operação em cidades de média
densidade. Pelo cronograma da encomenda feita à
Embraer, dependente de um financiamento ainda não
assegurado pelo BNDES, os primeiros jatos chegariam
em agosto de 2008.
O Estado de São Paulo
19/11/2007
Sócios estrangeiros
agora estão juntos na busca de saída para
a crise
Mariana Barbosa
A suspensão das operações da BRA
foi uma decisão dos controladores da empresa,
os Folegatti, depois de um impasse na relação
com os sócios estrangeiros. Os sócios
passaram os últimos meses tentando negociar um
aporte de US$ 30 milhões - sendo US$ 15 milhões
dos Folegatti e a outra metade dos estrangeiros. Porém,
no dia 10 de outubro, em uma reunião no Circolo
Italiano, no Edifício Itália, centro de
São Paulo, vizinho à sede da BRA, quatro
dos sete integrantes do Brazil Air Partners (BAP) foram
contra aportar mais recursos.
De um lado estavam os fundos Darby (maior investidor),
HBK Investments e Millennium Global Investments, favoráveis
à manutenção do negócio.
Já os fundos do Bank of America e Goldman Sachs,
Development Capital e Gávea teriam optado, à
época, por realizar o prejuízo - ou seja,
simplesmente fechar a empresa.
Último investidor a se associar ao BAP, tendo
entrado quando o negócio já estava praticamente
fechado, Fraga teria mudado de posição
após a repercussão negativa da suspensão
dos vôos. Apesar de sua participação
minoritária, Fraga é o único sócio
brasileiro e emprestou sua credibilidade a um negócio
“duvidoso”. Um negócio que expôs
até o presidente Lula, presente na cerimônia
de anúncio da encomenda de jatos da Embraer,
apenas quatro meses antes de a BRA suspender seus vôos.
O Estado tentou entrar em contato com o Gávea,
mas não obteve resposta.
O BAP investiu R$ 180 milhões na BRA em dezembro
de 2006, em meio a um entusiasmo geral com o setor aéreo
e ao boom do mercado acionário no País.
Fontes do mercado contam que o BAP não teria
gasto mais do que duas semanas conferindo os números
da BRA.
Não demorou para surgirem desentendimentos entre
o diretor-líder dos fundos, Paul Tierney Jr.,
e Humberto Folegatti, até então presidente-executivo
da BRA. Paul deixou a liderança em agosto, momento
em que Humberto colocou seu cargo à disposição.
Mas a saída de Humberto aconteceu efetivamente
só dois meses depois. “Ele não saiu
antes porque não tinham encontrado quem o substituísse”,
argumenta uma fonte na empresa. Com a reputação
em baixa, Humberto acabou deixando o cargo no dia 13
de outubro, mesmo sem um substituto profissional contratado.
Uma série de problemas de manutenção
e a revelação de inúmeras irregularidades
tiraram o fôlego da empresa, que parou de voar
sem dinheiro em caixa para pagar despesas básicas
como combustível.
O Estado de São Paulo
19/11/2007
Passageiro é ferido
em vôo da TAM
Avião que seguia de
SP para o Chile perdeu altura de repente; bagagens caíram
e pessoas entraram em pânico
Júlia Contier
Pânico e desespero tomaram conta dos 178 passageiros
- a maioria servidores públicos de Brasília
a caminho de um congresso de arquivistas - que voavam
no Airbus A330 da TAM em direção a Santiago,
no Chile, ontem de manhã. O avião decolou
do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São
Paulo, às 10h30. Duas horas depois, próximo
da Cordilheira dos Andes, na Argentina, houve uma forte
turbulência. Acenderam-se os sinais de afivelar
os cintos e o avião, de repente, perdeu muita
altitude. Bolsas e sacolas caíram dos bagageiros.
Latas de refrigerantes explodiram. E um passageiro,
cujo nome não foi revelado pela companhia, saiu
ferido. “Ele estava sem cinto. Com a despressurização,
bateu a cabeça no teto e cortou a testa”,
conta Ricardo Sanches São Pedro, de 34 anos,
arquivista. Havia duas grávidas no vôo,
que foram atendidas, assim que o avião aterrissou,
e liberadas em seguida.
Passado o susto, com o avião estabilizado, o
piloto retornou a Guarulhos. O Airbus pousou em Cumbica
às 15h05. De acordo com o setor de Supervisão
e Emergências do Aeroporto Internacional de Guarulhos,
o problema foi causado por uma despressurização.
A TAM não confirma a informação.
A companhia aérea diz apenas que o avião
voltou para Guarulhos depois de passar por turbulência.
Os passageiros ficaram em choque. “As pessoas
choravam durante o vôo”, conta a passageira
Vânia Lúcia Alheiro Rosa, de 38 anos. “Até
as aeromoças vomitaram.” “Quando
chegamos, esperamos mais meia hora dentro do avião,
até que apareceu uma van para levar ao posto
médico os passageiros que passavam mal”,
diz Vânia.
Muitos passageiros precisaram ser medicados porque
estavam descontrolados. Foi o caso de Angélica
Alves da Cunha Marques, de 26 anos. “Depois que
perdemos altitude, o comandante informou que tínhamos
passado por uma despressurização. Foi
aí que achei que o avião iria cair. Eu
perdi o controle. Passei muito mal.”
Quando chegou em terra, Angélica recebeu sedativos
na veia para se recuperar do choque. A maioria dos passageiros,
no entanto, foi transferida para outra aeronave assim
que o Airbus da TAM pousou em Guarulhos. Impressionados,
quarenta não quiseram voar ontem e ficaram hospedados
no Caesar Park, de Guarulhos.
Folha de São Paulo
19/11/2007
Inspeção aérea
no Brasil descumpre normas
País realizou apenas
42% da fiscalização necessária
para a segurança operacional da aviação
civil em relação a padrões internacionais
Relatório da Anac mostra que faltaram horas de
trabalho e 54 profissionais para fazer inspeções,
vistorias e auditorias
LEILA SUWWAN DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com 33 inspetores disponíveis, o Brasil fez
em 2006 apenas 42% da fiscalização necessária
na área de segurança operacional da aviação.
Faltaram 54 profissionais para fazer inspeções,
vistorias e auditorias recomendadas em padrões
internacionais nas empresas aéreas e de manutenção,
pátios de aeroportos, vôos e tripulações.
No total, foram realizadas cerca de 52 mil horas de
trabalho para supervisionar a segurança aérea
nacional. Porém, se os "padrões e
práticas recomendáveis" definidos
pela Oaci (Organização da Aviação
Civil Internacional) fossem seguidos à risca,
teriam sido necessárias 125 mil horas.
A normatização indica a freqüência
e amostragem mínima na qual as fiscalizações
devem ocorrer. No caso do Brasil, teria implicado 3.915
checagens em 2006. Isso inclui visitas semestrais a
84 empresas aéreas, 242 empresas de manutenção,
acompanhamento diário de vôos, 908 inspeções
dos 67 aeroportos e a perícia semestral de 20%
dos pilotos registrados.
Para isso seriam necessários 87 inspetores. Em
2006 a Superintendência de Segurança Operacional
tinha 110 inspetores -33 para fiscalizações
padrão e 77 para demais atividades de supervisão
do setor. Hoje, o número de inspetores de segurança
operacional já caiu para 96, de um total de 230
para todos os setores da aviação.
As informações constam do "Relatório
de Dados e Estatísticas da Aviação
Civil", divulgado pela Anac no dia 31 de outubro,
no mesmo dia em que Milton Zuanazzi renunciou à
presidência da agência. O documento, porém,
não especifica quantas fiscalizações
deixaram de ser feitas ou se as atividades foram realizadas
de forma inadequada, com menos técnicos ou abaixo
do tempo necessário.
"As 51.894 horas com as atividades de fiscalização
representam 42% do que seria recomendável para
uma efetiva supervisão (125.092 horas)",
diz o relatório.
Técnicos da Anac alegam falta de pessoal qualificado
e infra-estrutura para realizar o trabalho ideal -e
dizem que os inspetores já trabalham acima da
carga máxima, 32,5 horas semanais, por questão
de "consciência" e "profissionalismo".
A Anac nega que isso seja um fator causal com o crescimento
no número de acidentes aéreos - foram
75 na aviação comercial até agora,
recorde dos últimos dez anos. O ministro Nelson
Jobim (Defesa) criticou a Anac por ter uma fiscalização
"sem eficácia", mas não ofereceu
uma solução.
Além dos dados do relatório, a Superintendência
de Segurança Operacional forneceu dados à
Folha que mostram que a situação é
crítica na fiscalização a manutenção
dos aviões de grande porte.
Apenas o mínimo é possível com
21 inspetores, ou seja, são feitas auditorias
anuais na base principal de manutenção
e nos centros de apoio de 23 empresas. E outras 79 vistorias
para conceder ou renovar certificados de aeronavegabilidade.
Dos 21 inspetores, somente 2 chegaram por recente concurso
público. Outros 12 são militares cedidos
do antigo DAC (Departamento de Aviação
Civil) da Aeronáutica e já têm direito
de ir para a reserva.
O responsável pelo setor estima que são
necessários 50 fiscais na sua equipe para otimizar
o trabalho -com fiscais "residentes" nas principais
empresas, conforme nos EUA.
Multas
Neste ano, foram aplicadas 24 multas de manutenção
às empresas TAM, Varig, VarigLog e Beta. A infração
mais comum é de aeronaves voando com "checks"
(certificados) de manutenção vencidos.
O recente caso da BRA foi flagrante. Os fiscais receberam
denúncias e tiveram de dar ordem de interdição
de aviões por problemas mecânicos. Acabaram
emitindo um parecer solicitando a suspensão das
atividades da empresa, que acabou cancelando seus vôos.
O orçamento da Anac para 2007 é de R$
150,4 milhões, dos quais R$ 9,3 milhões
são destinados à fiscalização
da aviação.
Folha de São Paulo
19/11/2007
OceanAir aposta em Fokker "ressuscitado"
Frota inclui 16 Fokker-100
com média de 15 anos que estavam armazenados
em "cemitério de aviões" do
deserto de Mojave, nos EUA
Segundo especialistas, é fundamental manter a
qualidade e a eficiência da manutenção
dos aviões "descartados"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com planos para abocanhar uma parcela maior do mercado
nacional, a OceanAir opera hoje no país uma frota
peculiar de grandes aeronaves: 16 Fokker-100 com média
de 15 anos de idade que estavam armazenados de dois
a quatro anos no famoso "cemitério de aviões"
do deserto de Mojave (Califórnia, Estados Unidos.
Seus dois Boeings-767 também fizeram rápida
passagem no cemitério de Marana, no Arizona.
A compra de aviões "descartados" por
outras empresas é prática comum no mercado
de aviação, fruto de estocagem por crises
no setor -como o pós-11 de Setembro, quando o
mercado mundial perdeu passageiros- e da demanda posterior
de pequenas empresas aéreas. A rigor, não
se traduz em menor segurança.
Mas o estigma dos Fokker-100 no Brasil levou a OceanAir
a batizá-los de MK-28 -o nome técnico
do modelo é F28-MK100.
O aparelho é associado aos acidentes que ocorreram
em sua operação na TAM, principalmente
na década de 90, quando compunham o núcleo
da empresa.
A TAM também está em processo para desativar
o modelo, mas ainda tem 13 em sua frota. É a
companhia aérea que faz a manutenção
dos Fokker da OceanAir, já que a fabricante holandesa
faliu em 1996.
Sem preconceito
"Não há problema em ficar no cemitério,
além do preconceito. Os aviões estão
armazenados em condições adequadas para
evitar entrada de poeira ou ferrugem. O uso desses aviões
é uma questão de oportunidade", disse
Ronaldo Jenkins, diretor de segurança de vôo
do Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aéreas).
A OceanAir foi procurada durante a semana pela Folha
por meio de sua assessoria de imprensa, mas não
atendeu ao pedido de entrevista da reportagem para falar
sobre as condições de sua frota.
"Os custos para reativar o avião depois
da estocagem e recuperar o certificado de aeronavegabilidade
são altos", afirma o consultor de segurança
aérea suíço Hans-Peter Graf.
De acordo com os especialistas, o importante é
a qualidade e eficiência da manutenção
após a retirada do deserto.
No caso dos Fokker-100 a preocupação existe
em razão da idade das aeronaves -classificados
de "geriátricas"- e o modelo operacional
de frota diversificada e manutenção terceirizada.
A frota heterogênea como a da OceanAir, em geral,
implica em preocupações com o treinamento
amplo na parte operacional e de checagens básicas
de manutenção da empresa. A empresa opera
atualmente cinco tipos de avião.
Compra
Os Fokker-100 foram comprados da American Airlines por
um preço anunciado de US$ 60 milhões -valor
que só arrebataria dois aviões novos da
mesma categoria, como o Embraer-190.
A reabilitação foi feita no exterior,
e a Anac (Agência Nacional de Aviação
Civil) conferiu os registros entregues pela empresa,
mas sem acompanhar o processo de reparos e adaptações,
segundo informação do próprio órgão.
Folha de São Paulo
19/11/2007
Anac deixa de divulgar dados de
empresas aéreas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nos últimos dois anos, a Anac teve dificuldades
para receber e compilar os dados econômicos e
financeiros das empresas aéreas -a agência
não publica os indicadores desde o último
anuário de 2005.
As informações são necessárias
para o acompanhamento da saúde financeira das
empresas, que são obrigadas a enviar todo mês
um relatório operacional. A partir disso são
verificadas a lucratividade e o aproveitamento de vôos,
entre outros.
Segundo a assessoria de imprensa da Anac, "problemas
de sistema" afetaram a compilação
dos dados nos últimos dois anos -a agência
foi criada em março de 2006. O único detalhamento
fornecido foi de dificuldade em receber os dados das
empresas, em especial da antiga Varig e da BRA.
Folha de São Paulo
19/11/2007
Passageiros da TAM se ferem e
avião retorna
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
DA REPORTAGEM LOCAL
Seis passageiros da TAM foram atendidos ontem no Hospital
Geral de Guarulhos, na Grande São Paulo. Eles
estavam no vôo JJ 8026 que saiu do aeroporto internacional
de Cumbica em direção a Santiago (Chile).
O avião passou por uma forte turbulência
e teve de retornar a Guarulhos.
Segundo a assessoria da Secretaria Estadual de Saúde
-o hospital é estadual- dois passageiros apresentavam
ferimentos leves e outros quatro passaram por exames.
Todos foram liberados.
Por nota, a TAM admitiu apenas um passageiro ferido,
mas não detalhou seu estado de saúde.
Ele estava sem o cinto de segurança no momento
da turbulência, segundo a empresa.
De acordo com a TAM, o Airbus-A330, com 178 passageiros,
enfrentou forte turbulência duas horas depois
da decolagem em Guarulhos.
A empresa diz que o avião estava a 1h30 da chegada
em Santiago quando o piloto resolveu retornar a Guarulhos
por medida de segurança. O Airbus pousou em Cumbica
às 15h05.
A empresa informou que o Airbus não apresentou
falhas durante a turbulência. Em Cumbica, no entanto,
os passageiros foram transferidos para outra aeronave.
O avião decolou às 17h32 para Santiago.
A Infraero (empresa que administra os aeroportos) não
quis falar sobre o incidente envolvendo o avião
da TAM.
Jornal do Brasil
19/11/2007
Informe JB: R$ 600 milhões
pelo Galeão
Leandro Mazzini
A interminável crise do setor aéreo
no Brasil parece assustar somente os... brasileiros.
Em fevereiro, quando os tambores vão rufar no
Rio e as mulatas mostrarão ao mundo o que há
de melhor em festa no país, um jato executivo
com metade da diretoria da Dufry Corporation vai aterrissar
no Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão,
que estará em reformas - assim promete o governo
federal. Um dos passageiros é o mexicano Luis
Andrés Holzer Neumann, diretor internacional
do grupo. Para quem não sabe, a Dufry é
a empresa mexicana que comprou a Duty Free da Brasif,
as lojas de produtos importados presentes em oito aeroportos,
inclusive no Galeão. Neumann e comitiva serão
convidados vips do camarote do governo do Rio na Sapucaí.
Engana-se, no entanto, quem pensa que o mexicano vem
atrás de diversão.
Aos fatos. A Dufry está presente em 35 países
com mais de 400 lojas em aeroportos, navios e portos.
É pouco? A Dufry tem a concessão para
operar o Aeroporto Internacional da Cidade do México
e o Aeroporto de Toluca, cidade vizinha. E faz com sucesso.
Agora, a proposta: o senhor Andrés Neumann reuniu-se
com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no
México há dois meses. Diante do pedido
de Lula para que investisse mais por aqui, o mexicano
foi rápido no gatilho: "Dou US$ 300 milhões
pela metade do Galeão". Lula não
deu resposta, mas voltou animado.
A proposta foi reforçada semana passada para
o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão,
que viu de perto o que a Dufry é capaz de fazer.
Neumann disse que se contenta com 49% do Galeão,
e que aportará R$ 600 milhões nas obras
do Terminal 1. Em troca, a Infraero cederia a administração
à Dufry, que recolheria as taxas cobradas de
passageiros e das aéreas. Resta saber se o Ministério
da Defesa vai deixar que meia dúzia de mexicanos
ensinem como se administra um aeroporto.
Lobby 1
A exemplo de Lula, Pezão voltou ao Brasil também
animado e conversou com o governador Sérgio Cabral.
Ambos vão fazer lobby para que Lula tente a experiência
por aqui. A interlocutores, o presidente mostrou-se
disposto. Basta determinar que as obras do PAC direcionadas
para o Galeão se enquadrem nas Parcerias Público-Privadas.
Lobby 2
Quando tomou posse na presidência da Infraero
este ano, Sérgio Gaudenzi avisou que é
favorável a concessões. Na contramão
dessa história, há o lobby contra das
duas grandes companhias aéreas do país,
que já sabem da proposta. Por trás do
discurso sobre soberania nacional, temem ter que pagar
em dia as tarifas aeroportuárias, coisa que não
acontece hoje. Depois da falência de VASP, Varig
e Transbrasil, por exemplo, veio à tona a bilionária
dívida das empresas com essas taxas que deveriam
entrar nos cofres da estatal.
Enquanto isso...
O alto escalão do governo sabe como fugir de
uma crise aérea. Aproveitando a prerrogativa
constitucional, os ministros usam jatos da Força
Aérea Brasileira para não encararem filas
nos aeroportos. Lista completa de vôos, passageiros
e destinos está nas mãos do deputado federal
Gustavo Fruet (PSDB-SP). Ele constatou que em plena
crise, no fim do ano, as viagens pela FAB cresceram
20%.
Jornal do Brasil
19/11/2007
Um ano para ser lembrado pelas
tragédias nos céus
O ano da maior tragédia da história da
aviação do Brasil também foi o
que mais registrou acidentes aéreos desde 1996.
Segundo levantamento do Centro de Investigação
e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos
(Cenipa), 78 acidentes aconteceram no Brasil até
8 de novembro. E a previsão, segundo o próprio
Cenipa, é que outros sete acidentes ocorram até
o final de 2007.
Dos 78 acidentes registrados neste ano, 26 foram fatais
e 30 ocorreram na aviação geral. Desse
total, 62 acidentes aconteceram em aviões e 16,
em helicópteros. Por causa do desastre com o
Airbus da TAM, o número de mortos subiu para
262, o maior registrado desde o início das análises
do Cenipa, em 1990. Dessas mortes, 12 foram causadas
por acidentes de helicópteros.
Desde 1995, o total de mortes anuais só superou
a marca de 100 por três vezes, influenciado por
três graves acidentes na aviação
regular brasileira. Em 1996, o número de vítimas
chegou a 188 - 99 delas no acidente com o Fokker 100
da TAM, que caiu em São Paulo. No ano passado,
morreram 215 pessoas em acidentes aéreos, sendo
que 154 na queda do Boeing da Gol em Mato Grosso.
De acordo com o balanço do Cenipa, 632 acidentes
ocorreram na aviação civil brasileira
desde 1998, dos quais 250 deixaram vítimas fatais.
Nos últimos nove anos, o número de mortos
nesses desastres foi de 982 pessoas.
A Aeronáutica define um acidente como "toda
ocorrência relacionada com a operação
de uma aeronave", inclusive durante o embarque
e desembarque dos passageiros. Para caracterizar o acidente,
é necessário ocorrer lesão grave
ou morte, desaparecimento ou danos à aeronave.
De acordo com a Agência Nacional da Aviação
Civil (Anac), que adota critérios mais amplos
ao classificar acidentes aéreos, o maior número
de ocorrências foi registrado em 1983, quando
421 desastres provocaram 146 mortes. A maior quantidade
de mortes (306) foi registrada em 1982, quando houve
375 acidentes. Diferentemente do Cenipa, que atualizou
os números neste mês, a Anac está
sem incluir novos dados desde agosto.
Por pouco o número de acidentes não aumenta
ontem, quando um avião da TAM que decolou do
Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP), com destino
ao Chile teve de voltar ao local da decolagem por conta
de uma turbulência. Um passageiro sofreu ferimentos
leves.
Segundo a companhia aérea, a aeronave passou
por turbulência cerca de duas horas depois da
decolagem. Um passageiro que, segundo a assessoria de
imprensa da empresa, estava sem cinto de segurança
feriu-se, foi medicado no aeroporto e liberado em seguida.
Ainda de acordo com a assessoria de imprensa da TAM,
o Airbus A-330 que voava para Santiago pousou normalmente
em Guarulhos por volta das 15h. Os 178 passageiros foram
transferidos para outra aeronave, que já os aguardava
no aeroporto. A nova previsão de chegada a Santiago,
segundo a empresa, era às 20h30.