Valor
Econômico
19/10/2006
Procuradoria exclui Varig do Paes
Janaina Vilella e Heloisa Magalhães
A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) no Rio de
Janeiro excluiu a Varig do Paes - o programa de parcelamento
especial de dívidas com o Instituto Nacional de Seguridade
Social (INSS) e com a Receita Federal.
Em sua decisão, publicada na edição
de ontem do "Diário Oficial" da União,
a PGFN alega que a companhia aérea tem pago valores
inferiores ao fixado na Lei nº 10.684/03, e, como tal,
pode ser excluída do programa.
A companhia aérea tem dez dias para
apresentar recurso. Procurada, a Varig afirmou que ainda
está analisando o documento e vai se pronunciar nos
próximos dias.
A exclusão em definitivo da Varig
do Paes poderia inviabilizar o processo de recuperação
judicial da companhia, uma vez que teria que quitar os débitos
de uma só vez.
A dívida inscrita da companhia com
a União é cerca de R$ 2 bilhões e com
o INSS, de R$ 1,5 bilhão. Mas a procuradoria questiona,
em sua decisão, apenas a parcela da dívida
com a União.
No entender da procuradoria, o processo
de recuperação da companhia aérea já
começou de forma equivocada, uma vez que a Varig
não apresentou as certidões negativas de débito,
o que garantiria que a companhia está em dia com
o pagamento dos tributos, antes de entrar com o pedido em
juízo.
No início do ano, os procuradores
da Fazenda entraram com um instrumento jurídico chamado
embargo de declaração - pedido de impugnação
- para tentar reverter a homologação da recuperação.
O juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8ª Vara
Empresarial do Rio, na ocasião, rejeitou o pedido
alegando ilegitimidade da Fazenda Nacional, pelo fato de
ela não pertencer a nenhuma classe de credor. A Fazenda,
então, entrou com um novo recurso.
Na semana passada, o desembargador Jair
Pontes de Almeida, da 4ª Câmara Cível
do Tribunal de Justiça do Rio, julgou procedente
recurso impetrado pela PGFN, mas os outros dois desembargadores
envolvidos no julgamento pediram vistas do processo. O julgamento
continua na próxima semana. Caso o processo seja
julgado procedente em definitivo, a recuperação
da companhia ficaria suspensa, condicionada à apresentação
das certidões. Isso poderia colocar em risco, inclusive,
a venda da parte operacional da Varig à VarigLog,
realizada em julho passado. O juiz Ayoub informou ao Valor
que só vai se pronunciar depois do julgamento final.
O Globo
19/10/2006
O
Globo Online
18/10/2006 às 17h43m
Vôo 1907: transcrições
das gravações de caixas-pretas de aeronaves
chegam ao Rio
Evandro Eboli - O GloboO Globo OnlineGlobonews
TV
BRASÍLIA - O coronel Rufino Ferreira, presidente
da comissão que investiga o acidente com o Boeing
737-800 da Gol, chegou no início da tarde desta quarta-feira
do Canadá e seguiu direto de São Paulo para
o Rio de Janeiro. Ele leva as informações
contidas nas duas caixas-pretas dos dois aviões,
que foram analisadas no Conselho de Segurança de
Transportes do Canadá. No material consta a transcrição
dos diálogos e de dados gravados que podem esclarecer
o acidente, que vitimou todas 154 pessoas que estavam a
bordo do Boeing da Gol, se tornando a maior tragédia
da aviação comercial brasileira. A aeronave
colidiu com um Legacy 600 da empresa Excel Aire dia 29 de
setembro no norte do Mato Grosso.
A Agência Nacional
de Aviação Civil (Anac) disse que as informações
contidas nas caixas-pretas - que apesar de danificadas,
os dados foram preservados e a leitura foi bem-sucedida
- não serão reveladas por enquanto porque
o coronel Rufino ainda terá que confrontar as informações
com outros dados e com depoimentos que ainda serão
colhidos no Brasil. Não há previsão
de quando estará concluído o trabalho.
O delegado da Polícia
Federal Renato Sayão, responsável pelo inquérito
que investiga o acidente, esteve no Cindacta (Centro Integrado
de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo)
de Brasília nesta quarta-feira. Os técnicos
mostraram a ele a reconstituição do trajeto
das duas aeronaves. Sayão ainda vai buscar outras
informações antes de ouvir os controladores
de vôo das torres de controle de Manaus, Brasília
e São José dos Campos. Na próxima sexta-feira,
ele vai ouvir um técnico da Embraer, fabricante do
Legacy, que explicará o funcionamento do avião
e o plano de vôo, elaborado pela empresa brasileira
para os pilotos americanos.
Ministério
da Defesa nega diálogos entre Legacy e torre
Nesta terça-feira,
o ministro da Defesa, Waldir Pires, que teve acesso a trechos
da gravação do contato da torre de controle
de Brasília (Cindacta-1) com o Legacy, negou que
tenha ocorrido o diálogo entre o piloto do jato da
empresa americana, Joe Lepore, e o Cindacta-1, no qual Lepore
teria recebido instrução para manter a altitude
da aeronave, que estava a 37 mil pés.
Pelo plano de vôo,
o Legacy deveria reduzir sua altitude de 37 para 36 mil
pés quando passasse por Brasília e, depois,
quando atingisse o trecho virtual Teres, deveria subir a
38 mil pés. O Boeing da Gol voava a 37 mil pés
na direção oposta ao jato.
- De acordo com o que vi
no Cindacta, não há esse diálogo, de
que era para manter a mesma altitude. Isso não existe
– disse Waldir Pires.
Segundo Pires, independentemente
de ter ocorrido contato da torre com o Legacy, é
obrigação do avião seguir o plano de
vôo.
O ministro disse ainda que
o radar registrou num ponto próximo a Brasília
que a altitude do Legacy baixou de 37 mil pés para
cerca de 36 mil, o que mostra que os pilotos do jato que
colidiu com o Boeing da Gol seguiram o plano de vôo
pelo menos até parte da viagem. Mas o ministro explicou
que o radar não tem tanta precisão quanto
o transponder, que é o equipamento que poderia estar
sem funcionar na hora do acidente. Waldir Pires afirmou
que ainda é cedo para apontar culpados e que é
preciso aguardar o resultado do exame das caixas-pretas
dos dois aviões, que chegou nesta quarta-feira do
Canadá.
O ministro acredita que
a perícia que foi feita no Canadá elucidará
o caso. Perguntado se o Boeing não poderia ter sido
alertado, Waldir Pires esquivou-se e disse que não
queria se precipitar. Mas disse acreditar que o Boeing não
teria sido avisado.
Segundo o ministro, a Aeronáutica
ainda mantém a tese de que não houve falha
dos controladores.
- Evidente que não
houve falha. Porque na realidade o plano de vôo tem
que ser seguido. E se houve alguma pane de equipamento,
o que deve haver é uma comunicação
imediata do piloto no sentido de dizer 'nós estamos
em pane do transponder' - explicou Pires.
A Aeronáutica já
havia informado nesta terça-feira desconhecer o diálogo
em que o Legacy teria recebido autorização
da torre para permanecer a 37 mil pés de altitude,
a mesma do Boeing da Gol. A Agência Estado divulgou
nesta terça trechos de uma fita que teria sido entregue
pela FAB à Polícia Federal com o diálogo
entre o controle de vôo de Brasília e o comandante
do Legacy. Na gravação, Joseph Lepore pede
autorização ao controlador de vôo para
descer de 37 mil para 36 mil pés de altitude. Naquele
momento o Legacy estava a 55 Km antes do ponto em que a
mudança seria obrigatória. A instrução
do controlador teria sido para o piloto do Legacy manter
a altitude, a mesma na qual voava o Boeing da Gol.
Ainda
faltam duas vítimas a serem resgatadas
O Instituto Médico Legal de Brasília confirmou
a identificação de 152 vítimas. Duas
ainda faltam ser resgatadas. E a diretora da Divisão
de Comunicação da Polícia Civil do
Distrito Federal, delegada Valéria Raquel Martirena,
admitiu nesta segunda a possibilidade de que as equipes
de busca no local do acidente não consigam mais localizar
o restante dos corpos das vítimas .
As buscas pelas últimas
duas vítimas e pelo cilindro de voz prosseguem. O
equipamento tem que ser enviado ao Canadá para a
transcrição dos diálogos entre a tripulação
do Boeing. O efetivo de homens no resgate foi reduzido na
Fazenda Jarinã.
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