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Tribuna
da Imprensa
19/03/2007
Ainda sobre o PDT e a coalizão
de Lula
"Será que o Lula está
realmente interessado em promover o investimento social
ao qual Lupi se referiu ao falar da Previdência? Fico
meio reticente, porém tranqüila ao saber que
a Previdência estará em boas mãos".
(Maria Helena Gomes, arquiteta, Niterói)
Como já esperava, choveu a cântaros
em minha caixa de e-mails, a propósito da coluna
de sexta-feira, quando comentei a participação
do PDT no governo de coalizão montado por Lula.
Nada mais gratificante. Independente das
opiniões, todas muito bem estribadas, nada alimenta
tanto o nosso prazer de escrever, comentar, dar opinião,
coisa que faço desde 1961. Isso me impõe dar
continuidade à reflexão, até porque,
no apanhado feito até agora, é muito maior
o número de leitores e parceiros que consideram a
minha posição correta.
Digo e repito: se tivessem oferecido ao
PDT um Ministério de Turismo, ou mesmo de Comunicação
(um contrabando no primeiro governo), ia ficar com a pulga
atrás da orelha. Estariam dando meras sinecuras e
isso só serviria para laçar o partido de Brizola.
Mas na hora em que cogitam de entregar
o Ministério da Previdência, paciência
dever de todos nós pensar duas vezes antes de emitir
qualquer opinião, preconceituosa ou não.
Essa possibilidade é ainda mais significativa quando
o nome cogitado é de um brizolista provado, alguém
que privou das confidências do caudilho quando muitas
estrelas o abandonaram para inflar suas próprias
carreiras pessoais. Falo como testemunha ocular dos fatos:
Carlos Roberto Lupi é o típico homem-partido;
não há como separar um do outro.
Uma nova opção?
Mas não é isso que está
em discussão. A reflexão de Maria Helena Gomes,
como de outros leitores, vai muito além. Ninguém
tem o direito de desconhecer o projeto de uma "terceira
reforma" da previdência, sonhada pelos bancos
que registram nas carteiras de previdência privada
seu maior crescimento.
Se o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva está disposto a entregar a Previdência
ao PDT, conhecendo sua posição histórica,
provavelmente lança um desafio: vocês dizem
que a previdência pública é viável
sem subtrair mais direitos, então tomem que ela é
toda sua. Amanhã, se Lupi e sua equipe não
reverterem a situação, vão para o brejo
a previdência pública, ele e o PDT.
Além do campo minado por décadas
de corrupção, sonegação, omissão,
subtração de direitos e negociatas, quem estiver
à frente da Previdência terá como pano
de fundo o aumento da expectativa de vida da população
brasileira em paralelo com o desemprego crescente e a economia
informal.
Terá que romper essa sonegação
inercial sobre a qual pouco se fala. Num país em
que 90% da população vivem nas cidades, onde
pelo menos 75 milhões de pessoas trabalham, o número
de contribuintes para a Previdência não chega
a 25 milhões, isso incluindo os servidores públicos.
Um recente levantamento do Ministério
da Previdência localizou 28 milhões de autônomos
que não descontam um níquel e ainda outros
7 milhões que têm alguma renda e também
não pagam nada. Isso sem falar nas contabilidades
de grandes empresas, devidamente maquiadas, nas "cooperativas"
de mão-de-obra e nos pagamentos a quem ganha muito,
feito a "pessoas jurídicas".
Mais grave: uma boa parte das receitas
previdenciárias é retida e desviada pelo Tesouro.
Esta é a hora de fazer as contas com independência
e determinação.
Do lado dos benefícios, além
de separar o que é assistência social do que
é retribuição pelo sistema contributivo,
é preciso agir com coragem sobre a indústria
de concessões indevidas, sobretudo na manipulação
das licenças e aposentadorias por invalidez. Um ministro
que esteja disposto a resgatar o mais consistente modelo
previdenciário disponível tem que formar uma
equipe de pessoas tão competentes como incorruptíveis.
Se houver vontade política e o devido
apoio do conjunto do governo, a previdência pública
será mais segura e atraente do que qualquer fundo
privado de pensão e poderá não apenas
conservar seus benefícios atuais, como desmontar
esses cálculos perversos, como o fator previdenciário,
pelo qual, como demonstrou um dia o ex-deputado Sérgio
Miranda, dentro de 15 anos todos estarão ganhando
salário mínimo.
Se realmente o governo Lula confiar ao
PDT o Ministério da Previdência, e se o ministro
for Carlos Lupi, que não se acha dono da verdade,
mas pleno de convicções, será possível
acender um pavio de esperança para os brasileiros
que dependem e dependerão das aposentadorias e pensões.
Porque a fé na previdência pública é
um dogma do trabalhismo e foi uma obsessão de Leonel
Brizola.
Pensando nos idosos
Pouco me importa quais as intenções
de Lula ao entregá-la ao PDT numa de "toma que
o filho é seu". Eu estou preocupado, sim, não
por mim, mas pela sorte de milhões de brasileiros
que não podem continuar sendo punidos e ameaçados
pelo "crime" de viverem mais.
Antes de ceder a seu fígado e suas
amarguras pessoais, anote: em 2020, os idosos brasileiros
chegarão a 25 milhões - 15 milhões
de mulheres - numa população de 219,1 milhões.
Eles representarão 11,4% da população.
Em 2002, o País tinha 16.022.231 de pessoas com 60
anos ou mais representando 9,3% da população,
e 56,0% deles eram mulheres.
E mais: segundo a demógrafa Ana
Amélia Camarano, há pelo menos um idoso em
25% dos lares brasileiros. Nessas famílias, em geral
constituídas também por filhos e até
netos, os idosos contribuem, em média, com 54% do
orçamento familiar.
Finalmente, se você prefere que o
Ministério da Previdência continue com esses
amiguinhos do "mercado", saiba ainda: com a nova
tábua de expectativa de vida divulgada pelo IBGE,
o fator previdenciário, usado no cálculo da
aposentadoria, tomou mais um mês dos brasileiros.
Com o fator, quanto maior a expectativa de vida, mais tempo
o trabalhador leva para se aposentar - para não ter
o benefício reduzido.
Especialistas afirmam que a aplicação
do fator previdenciário atinge, principalmente, as
mulheres e trabalhadores mais pobres e menos especializados.
Isso porque a maioria não consegue emprego estável
após os 50 anos.
Vá pensando mais: veja se o melhor
não é somar todas as forças para que
o Ministério da Previdência cale a boca dos
porta-vozes de aluguel dos bancos e dos fundos privados
de pensão.
Videversus
Porto Alegre, 19 de março de 2007 - Videversus nº
671us
APOSENTADOS DA VARIG VÃO RECEBER
O ÚLTIMO PAGAMENTO DE SUAS VIDAS NO INÍCIO
DE ABRIL
A falta de caixa deve forçar a suspensão
do pagamento de benefícios aos quase 7.000 aposentados
da Varig no início do próximo mês. Segundo
a Secretaria de Previdência Complementar, o fundo
de pensão Aerus deve realizar o último pagamento
aos beneficiários dos planos I e II da Varig no dia
3 de abril, retroativo a março. Segundo a Secretaria,
a previsão inicial era a suspensão dos pagamentos
ainda em dezembro, mas a liquidação de alguns
ativos prorrogou o saldo de benefícios por mais três
meses.
O fundo de pensão está sob
intervenção da Secretaria de Previdência
Complementar desde abril do ano passado, mês em que
também foi decretada a liquidação extrajudicial
dos planos I e II. O plano I conta com 4.413 assistidos
(entre aposentados e pensionistas) enquanto o plano II,
com 2.394 assistidos (dados de abril de 2006). A intervenção
ocorreu após a Secretaria de Previdência Complementar
constatar o desequilíbrio financeiro do Aerus, após
a ausência de aportes da empresa patrocinadora (Varig),
que se tornou devedora de R$ 2,3 bilhões com o fundo.
O Aerus também atende aposentados e pensionistas
de outras companhias aéreas (como a extinta Transbrasil),
mas os assistidos da Varig correspondem a maior parte dos
participantes do fundo. Esse é o tratamento que o
PT dedica aos trabalhadores brasileiros, que votaram no
partido durante tanto tempo. Uma lição inesquecível....
Folha de São Paulo
19/03/2007
Caixa-preta da Infraero faz governo
temer CPI do Apagão
Com contratos suspeitos, estatal
seria alvo em comissão que depende de decisão
do STF
Suspeitas nas obras em Congonhas levaram Justiça
a determinar a quebra de sigilos de ex-presidente e de duas
altas funcionárias
IURI DANTAS
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A quebra dos sigilos bancário e
fiscal do ex-presidente e de duas altas funcionárias
da Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária),
determinada pela Justiça, ajuda a explicar o temor
do governo em transformar a estatal em alvo de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito.
A investigação feita pelo Ministério
Público a partir de relatórios de auditoria
do TCU (Tribunal de Contas da União) poderá
dar fôlego aos trabalhos da eventual CPI do Apagão
Aéreo, que a oposição tenta instalar
e o governo quer evitar.
Com base em suspeita de irregularidades nas obras do aeroporto
de Congonhas, a Justiça Federal de São Paulo
determinou em 25 de outubro passado a quebra dos sigilos
bancário e fiscal do deputado Carlos Wilson (PT-PE),
ex-presidente da estatal e amigo de Lula.
A atual diretora de Engenharia, Eleuza Therezinha Manzoni
dos Santos, e a procuradora jurídica da estatal,
Josefina Valle de Oliveira Pinha, também tiveram
os sigilos quebrados. Dois engenheiros completam a lista
de pessoas investigadas.
À exceção de Wilson, que disputou a
eleição no ano passado, os demais permanecem
nos cargos, sob a chancela do ministro Waldir Pires (Defesa).
O juiz-substituto da 21ª Vara Federal, Danilo Almasi,
acatou parcialmente pedido do Ministério Público
Federal com base em relatórios do TCU. Ele negou
temporariamente o bloqueio de bens dos envolvidos.
Em seu pedido, os procuradores listaram 12 irregularidades
na reforma de Congonhas. Investigam-se os supostos superfaturamento
de mais de R$ 16 milhões e o direcionamento da licitação,
numa violação da Lei de Licitações.
Os envolvidos negam irregularidades.
O Planalto teme a CPI por dois outros motivos. Primeiro,
CPIs sempre podem sair de controle. Segundo, quer evitar
eventual exposição do advogado Roberto Teixeira,
compadre de Lula que trabalha para empresas do setor aéreo.
O orçamento de investimentos da Infraero chama a
atenção desde o início do governo.
Os gastos, que não chegavam a R$ 400 milhões
por ano, beiraram os R$ 900 milhões no ano da reeleição
de Lula.
As obras são tantas e tão caras que o TCU
resolveu concentrar as auditorias, no ano passado, a contratos
superiores a R$ 250 milhões. No mais caro dos contratos
investigados, o tribunal reduziu em mais de R$ 100 milhões
o custo de edital para a construção do terceiro
terminal de passageiros do aeroporto de Guarulhos.
A Infraero diz que não teve de parar nenhuma obra
em decorrência das auditorias do TCU. A decisão
mais grave do tribunal entre as obras em andamento levou
ao bloqueio dos pagamentos ao consórcio Camargo Corrêa,
Mendes Júnior e Estacon pelas obras de expansão
do aeroporto de Vitória.
Nos relatórios de auditoria do tribunal, há
um padrão de irregularidades que se repete. O TCU
enxerga restrições impostas ao processo de
licitação das obras. "São tantas
que inviabilizam qualquer tentativa de disputa de preços
entre as licitantes", diz o relatório sobre
o aeroporto de Macapá, no Amapá.
Problemas em contratos da Infraero não são
exclusividade da gestão Lula. No governo Fernando
Henrique Cardoso, a construtora OAS teve bloqueados bens
no valor de R$ 30 milhões por supostas irregularidades
na construção do aeroporto de Salvador. As
obras foram suspensas por um ano.
A criação de uma CPI para investigar o apagão
aéreo está nas mãos do ministro Celso
de Mello, do Supremo Tribunal Federal. A oposição
recorreu à Justiça após uma manobra
da base governista ter impedido a instalação
da comissão.
Para mostrar, em eventual CPI, que não teria cruzado
os braços, a Infraero reuniu dados da auditoria interna.
O documento aponta 92 problemas, segundo a Folha apurou,
com o envolvimento de 40 pessoas.
Estadão
19 de março de 2007 - 07:29
Aeroportos sofrem reflexo do apagão
aéreo de domingo
Apesar de ter funcionado até
de madrugada, Congonhas tinha atrasos nesta manhã;
no domingo, pane no Cindacta-1 gerou atrasos em todo o País
SÃO PAULO - Esta segunda-feira, 19, começou
com atrasos no Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São
Paulo, que tinha nove vôos atrasados. Os aeroportos
de Cumbica e Brasília também registravam atrasos
no começo da manhã. A expectativa é
de que haja reflexo do apagão de domingo, quando
o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do
Tráfego Aéreo (Cindacta-1), sofreu nova pane.
Segundo o brigadeiro José Carlos Pereira, presidente
da Infraero, até às 14 horas desta segunda
não há possibilidade da situação
se normalizar nos principais aeroportos das regiões
Centro-Oeste e Sudeste.
Congonhas recebeu autorização
da Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac) para funcionar até às 1h30 para tentar
minimizar os problemas causados pelo apagão. O terminal
reabriu às 6 horas e registrava, às 7h15,
pelo menos nove vôos atrasados. Vários vôos
que deveriam ter saído na noite de domingo em Congonhas
foram cancelados e transferidos para a manhã desta
segunda-feira, o que pode causar um efeito cascata.
A situação era parecida no
Aeroporto Internacional de São Paulo, em Cumbica,
que tinha 17 vôos atrasados. No Aeroporto Internacional
Juscelino Kubitschek, em Brasília, as filas eram
grandes e muita gente reclamava das informações
desencontradas, mas não houve confusão entre
passageiros e atendentes dos balcões da empresas
aéreas.
O problema no Cindacta-1, responsável
pelo controle aéreo das regiões Sudeste e
Centro-Oeste, ocorreu durante 20 minutos, a partir das 10h40.
Só por volta das 14 horas o sistema informatizado
voltou a funcionar. Entretanto, os atrasos e o congestionamento
nos balcões de check-in das companhias já
eram enormes. Não há números oficiais
da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária
(Infraero), mas a TAM - que responde por mais de um terço
dos vôos - relatou que teve atrasos em 46% das operações
domésticas no domingo.
Site Aeroconsult
19/03/2007
SONHOS DE ASAS CORTADAS
Glórias e amarguras de quem
teve que deixar de voar
Ser piloto de aeronaves de passageiros
já foi um sonho, assim como para as jovens da socialite
ser comissária de bordo era fascinante, emocionante,
distinto. Em ambos os casos o acesso às carreiras
não era fácil: para os comandantes, quando
ainda não existiam os simuladores, eram centenas
de horas de vôos que atestavam a experiência
do candidato, antes que se especializasse para, enfim, se
tornar piloto profissional, com tanto de certificado, sujeito
a controles periódicos que o habilitavam a dirigir
um avião de passageiros até a aposentadoria.
Para as aeromoças, cuja atividade
foi sempre considerada quase como um elo humano entre a
máquina e os passageiros, se exigia boa presença,
educação e, sempre que possível, uma
certa classe. Na época de Rubem Berta, charmosas
supervisoras ofereciam aos viajantes conversas multilíngües,
além de prestimosa assistência nas breves ou
longas e barulhentas travessias das décadas até
60. E para todas elas, a descoberta de novas cidades era
mais uma atração, além do prazer de
comprar os “made in”, que faziam a moda em épocas
nas quais os chineses ainda não copiavam tudo. Hoje,
as levas de aeromoça que passaram sua juventude nos
jatos da Varig, profissionais excelentes treinadas pela
empresa, estão em maioria paradas, sem aposentadoria
e sem esperança de volta a voar. São relativamente
poucas as que foram contratadas pelas congêneres,
devido à experiência, à aparências
física, ao conhecimento de idiomas: quem ficou com
elas fez um grande e barato investimento num material de
primeira categoria.
Outro foi, e está sendo, o caminho
percorrido por comandantes e pilotos que chegaram a voar
nos 747 e nos jatos mais avançados. Jovens pilotos
que, no começo, aprenderam a lutar para impor sua
vontade aos motores que antecederam os atuais reatores e
as sofisticações eletrônicas nas cabines
de comando. Uma classe de trabalhadores formada por indivíduos
com saúde de ferro, nervos de aço, controle
emocional e preparo técnico que durante as décadas
passadas era citada no país e no exterior como uma
elite. Uns por seus salários, supostamente muito
elevados ou por sua carreira tão diferente da monotonia
da grande maioria dos outros trabalhadores, simbolizada
pelos uniformes que os distinguiam e ainda chamam a atenção
de todos, quando passam com seus carrinhos e maletas de
mão pelos corredores dos aeroportos, para o embarque
e os acertos dos equipamentos, às revisões,
os controles finais.
Com o enorme desenvolvimento da aviação
comercial, o Brasil foi talvez um dos poucos países
do mundo nos quais o elevado nível técnico
dos pilotos foi constante, motivando referências e
conferindo à classe prestígio também
no exterior. A Varig teve e há excelentes comandantes,
formados no país no ar e em seus simuladores, antes
de serem aperfeiçoados em cursos no estrangeiro,
ao custo de centenas de milhares de dólares. Em cambio
a história registra inúmeros exemplos em que
por mérito do comandante foram evitadas tragédias
potenciais, com poucos deslizes, como foi aquela aterrissagem
forçada em plena floresta, por erro de rota.
Os comandantes brasileiros, desde os primeiros
que voaram pelo Sul, ao que passaram dos turbo hélices
para os reatores, sempre estiveram à altura dos novos
equipamentos e cresceram tecnicamente, acompanhando a potência
dos empuxos que se multiplicou junto com o peso e com a
capacidade das aeronaves. Muitos chegaram ao 777, até
a crise que levou a Varig à beira da falência,
na qual alguns seus dirigentes nomeados para representá-los
na Associação escolheram caminhos políticos
e levaram a classe a uma estéril oposição
à empresa, que adicionou mais problemas aos já
existentes. E enquanto continuava o braço de ferro
contra as demissões, para muitos começou a
procura de emprego em outras empresas. A sorte não
foi a mesma para todos e uns foram penalizados pela idade
ou pelo conhecimento restrito a determinados tipos de aeronaves.
Outros se deram conto de que, para sobreviver e para continuar
ganhando um salário digno, deveriam aceitar um sacrifício
adicional: emigrar para um país de exterior. Poucos
ficaram nas América Latina, ou foram aceitos na União
Européia; alguns se renderam aos oferecimentos vindos
da África. Mas quem teve a oportunidade de escolher,
porque a idade, a família, o próprio temperamento
o ajudava, deu a preferência à Ásia,
ao Oriente Médio e, mais recentemente, à China.
Para as empresas estrangeiras, contratar
um piloto brasileiro é, em geral, um bom investimento:
são gastos de treinamento reduzidos, bom preparo
que vem do berço, capacidade de adaptação
e firmeza em respeitar regulamentos e contratos. Para o
piloto, em particular quando não viaja com a família,
o sacrifício é grande, em terras desconhecidas,
com hábitos e alimentação diferentes.
Alguns têm experiências até frustrantes
e passam a viver se sentindo como integrantes de uma legião
estrangeira, onde o nível salarial supostamente paga
amarguras e riscos dos que, por paixão ou por necessidade,
se desligaram do passado por tempo determinado.
Num artigo de segunda-feira, o jornal Valor
Econômico dedicou uma página inteira aos brasileiros
que procuram na China uma nova vida. Segundo a Embaixada
do Brasil seriam atualmente cerca de 3,5 mil os que, ao
se transferirem para Pequim ou Xangai, se dispuseram a morar
a 18 mil quilômetros de seu país. Há
muitos comandantes já contratados e a demanda das
aéreas locais é bastante elevada, assim como
as exigências. A aviação comercial chinesa
está crescendo a passos enormes, acompanhando o progresso
que eleva de 8% a 10% ao ano o PIB do país. Mas não
é fácil se adaptar ao teor de vida local,
nem os pilotos brasileiros poderiam viver em condições
de vida similares àquelas aceitas por cerca de 240
mil emigrantes nacionais que se transferiram no Japão,
nem suas famílias concordariam num sacrifício
que vise somente a remessa mensal para o Brasil de boa parte
do salário ganho.
No começo do texto publicado pelo
jornal, é citado o caso de Rodrigo Maroco, ex piloto
da Varig onde trabalhou desde 1986 e ocupou até o
cargo de presidente da Apvar, a associação
de pilotos. Ele teria decidido se transferir para Xangai
levando a esposa, para trabalhar na aérea Shangai
Cargo, onde tem sido submetido a entrevista, teste psicológico
e técnico, inclusive em simulador de vôo, e
está agora aguardando o certificado do governo chinês
necessário para ser admitido na empresa cargueira.
Aos 44 anos ele não poderia se render ao destino
adverso e encontrou a possibilidade de recomeçar
sua carreira num país aberto à imigração,
onde os salários não são aqueles que,
no mundo inteiro, os comandantes ganhavam na época
de ouro da aviação comercial, mas permitem
viver com dignidade. Mas há opções
também para os mais idosos ? Para os que estando
acima dos 50 ou 55 anos começavam a contar com a
aposentadoria do Aerus, para a qual contribuíram
durante mais de duas décadas ?
Para eles e para as colegas aeromoças,
o amado céu azul de seus anos de carreira ficou turbulento
e apenas sobrou a esperança de que um ato de cidadania
do governo de seu país os ajudará a superar
a tempestade. Precisam (junto com milhares de outros) de
algo como um radar que, pelo menos, lhes indique o caminho
para ter de volta as economias que investiram visando receber
mais tarde uma aposentadoria. Para eles, talvez seria uma
espécie de reconhecimento, por terem desfilado centenas
de vezes com as cores do país nos aeroportos do mundo.
Coluna Cláudio Humberto
17/03/2007 - 09:20h
CPI reconvoca gestor da Varig
O gestor judicial da Varig, Miguel Dau, e o anterior, João
Cysneiros Viera, foram reconvocados a depor na CPI da Varig
na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, dia
22. Também será chamado o juiz Luís
Roberto Ayoub.
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