ZERO
HORA
18/09/2006
Rotas da Varig começam a ser redistribuídas
amanhã
TAM, Gol, OceanAir e outras companhias
menores podem assumir 50 trechos domésticos que eram
da companhia
A
Agência Nacional de Aviação Civil (Anac)
inicia amanhã o processo de redistribuição
de rotas nacionais da Varig. Até sexta-feira será
publicado um edital no Diário Oficial da União
com a oferta de 50 trechos domésticos da Varig, além
de seis que não eram da companhia. TAM, Gol, OceanAir
e companhias menores estão entre as empresas que
receberão as rotas que pertenciam à concorrente.
A
retomada está garantida pela liminar do juiz Guilherme
Couto de Castro, do Tribunal Regional Federal (TRF) do Rio.
A medida suspende os efeitos da decisão que impedia
a distribuição das rotas nacionais por 30
dias e das internacionais por 180 dias, até a homologação
do registro da nova Varig, que ainda não ocorreu.
No
caso das rotas internacionais, o rearranjo já havia
sido iniciado no fim do mês passado, com a publicação
de edital com 51 trechos da companhia. Como já foi
registrado no Diário Oficial da União, essa
redistribuição já estava valendo, mas
era impedida pela liminar.
Quanto
ao registro, a nova Varig informa que já entregou
todos os documentos, mas a diretora da Anac Denise Abreu
afirma que a empresa ainda não cumpriu todas as exigências.
Segundo Denise, impasses estão sendo gerados por
interpretações sobre dados técnicos
considerados complexos.
Para
a diretora, a portaria da Anac na qual a Justiça
do Rio vem se baseando para impedir a distribuição
das rotas da Varig nada tem a ver com o edital de venda.
Isso porque detalharia, segundo Denise, procedimentos para
concessionárias de serviços públicos,
o que não é o caso da nova Varig.
O
novo controlador da Varig, a VarigLog, pode recorrer da
liminar. Para a Anac, a decisão do TRF também
foi uma forma de resgatar o poder de conceder a homologação
da nova Varig como concessionária, já que
o Ministério Público do Rio entende que a
Justiça fluminense poderia exercer esse papel.
O
ESTADO DE S.PAULO
18/09/2006
Com a crise da Varig, hotéis
perdem clientes
O
maior problema dos resorts hoje não é a competição
entre eles, nem a falta de mão-de-obra especializada.
É a crise da Varig. 'O que mais prejudica o turismo
hoje é a aviação civil', diz o presidente
da Associação Brasileira de resorts, Alexandre
Zubaran. 'Com a crise da Varig os vôos ficaram lotados,
e turistas precisam passar por cima do Nordeste e depois
voltar.'
'Estamos
perdendo turistas e oportunidades por falta de acesso aéreo',
diz Xavier Veciana, do Breezes. Ele aponta um outro problema:
falta de marketing do Brasil no exterior.
'O
turista compra o Brasil sem saber que País é
esse. O Brasil é o pulmão do mundo, tem que
ser vender mais caro', diz ele. 'A Embratur faz um bom serviço,
o governo da Bahia também, mas ainda é pouco.
O Brasil está na liquidação do mercado
mundial de turismo.'
A
previsão da Bahiatursa, do governo baiano, é
receber 22 milhões de turistas em 2020, o que irá
gerar uma receita de US$ 7,9 bilhões. Hoje, o turismo
representa 7,9% do PIB da Bahia.
PESSOAL
Cada resort possui de 300 a 600 funcionários diretos
e praticamente o dobro de trabalhadores indiretos. 'Se contar
todo o pessoal envolvido, há mais pessoas trabalhando
em um resort do que em uma fábrica de automóveis',
diz Zubaran.
Atualmente,
480 mil pessoas trabalham com turismo no estado da Bahia,
segundo a Bahiatursa . Até o ano de 2020, a previsão
é de que o número aumente para 800 mil trabalhadores.
'Muitos
empreendimentos tiveram de trazer mão-de-obra especializada
de Salvador e até de outros Estados para preencher
cargos que exigiam maior qualificação', diz
Cláudio Taboada, presidente da Bahiatursa. Não
é difícil encontrar paulistas e gaúchos
entre os funcionários dos hotéis.
A
rotatividade é alta. O gerente-geral de vendas, turismo
e lazer da Accor, Daniel Guijarro, diz que todos os anos
um número grande de funcionários extras é
treinado para trabalhar durante a alta temporada. 'Quando
vamos procurá-los na temporada seguinte outro empreendimento
já os chamou. Há procura por mão-de-obra
treinada, e os hotéis não hesitam em contratar
pessoas de outros empreendimentos.
AEROCONSULT
18/09/2006
O CÉU AINDA NÃO É
DE BRIGADEIRO
Quem
pensou que depois do leilão a conjuntura da aviação
comercial do país melhoraria se equivocou.
Ou
seja, a maioria acreditou na lógica, sem considerar
a burocracia e o resto, supondo que os executivos da recém
criada Agência Nacional de Aviação Civil,
Anac, substituiriam sem problemas os brigadeiros do Departamento
de Aviação Civil, Dac.
Imaginando
que haveria uma concentração de esforços
para fazer a aviação nacional reconquistar
o prestígio e as posições perdidas
enquanto a Varig estava agonizando, ou vendo as aéreas
novas e as já tradicionais colaborarem, no interesse
coletivo, conscientes de que numa indústria são
os esforços conjuntos os que produzem resultados
positivos e duradouros.
Nada
disso está acontecendo dentro de um plano nacional.
As iniciativas não faltam, mas seu alcance não
vai além dos interesses de seus promotores. Com muitos
excessos.
Estamos
vendo empresas nanicas, que nem poderiam operar uma modesta
rota regional, que exigem participar da divisão do
bolo de rotas pertencentes à Varig, como se tivessem
aéreos adequados, pessoal treinados, experiência
suficientes para operá-las.
E
a Anac acredita nelas, contribuindo assim para complicar
mais a situação. De outro lado, companhias
que demonstraram sua eficiência, obtiveram notáveis
resultados operacionais, possuem capitais e prestígio,
parecem ter perdido a visão comercial da qual depende
seu futuro. Assim, Gol e Tam estão investindo pesadamente
na aquisição de novas aeronaves, em armar
novas estruturas, e se preocupam demais em ocupar rotas
que eram da Varig.
Cometem
erros graves: o leasing de aviões custa caro, o mercado
dos transportes aéreo não produz fluxos de
tráfego constantes, nem todas as rotas são
lucrativas e nas melhores a competição com
as congêneres, nacionais ou estrangeiras, é
duríssima.
A
história da Varig deveria servir de referência,
para evitar às debutantes tropeços insanáveis.
Em cerca de 80 anos a aérea passou por todas as experiências
que uma empresa bem estruturada pode atravessar.
Passou
um bom tempo para ser tomada a serio, para impor serviços
de qualidade, para dispor de comandantes e comissários
de gabarito e de técnicos de aeronaves ou de vendas
entre os melhores da inteira indústria. Ganhou a
parada, se auto-convenceu de ser a melhor, excedeu em corporativismo,
dominou nas rotas que selecionou, gastou para ser diferente,
gastou ainda mais para manter uma imagem sofisticada, gastou
demais em iniciativas para continuar se promovendo, se diferenciando,
se impondo às congêneres.
Nem
sempre escolheu os mídia mais rentáveis. Se
expandiu além do necessário e manteve em operação
rotas que perdiam milhões a cada mês. Acreditou
que com o tempo as distorções seriam corrigidas,
mas na prática não houve iniciativas erradas
de um certo valor cuja performance melhorasse.E acabou se
sentindo obrigada a continuar investindo erradamente, pensando
que, se a tendência mudasse, conseguiria diluir o
prejuízo já acumulado.Teve muitos executivos
medíocres,entre os quais alguns eram apadrinhados
sem méritos, e outros puxa-sacos habilidosos.
Os
nomes dos que realmente fizeram a Varig grande cabem, com
uma pequena sobra, na palma de uma mão. Mas entre
os erros, os maiores foram investir demais em rotas e lojas
luxuosas no exterior e se endividar na compra de novos equipamentos,
como se sua expansão e o crescimento do tráfego
transportado não tivessem limites. Foi praticamente
devorada pelos credores, com destaque pelas sempre vorazes
empresas de leasing.
Mais
um detalhe: a Varig cresceu em conjunturas da indústria
algo parecidas com a atual: a Real-Aerovias sem fôlego
financeiro; a Panair do Brasil tirada a força da
jogada; a Cruzeiro do Sul desestruturada. A cada empresa
que cessava de operar mais funcionários, equipamentos,
brigas internas, problemas, eram acrescentados aos que já
existiam na Varig.
Nessa
ciranda característica da indústria de transportes
aéreos, nas mãos de governos incapazes de
oferecer-lhes normas objetivas e um certo amparo contra
os desejos explícitos das empresas estrangeiras,
os progressos e os sucessos conseguidos pela Varig hoje
parecem efêmeros, mas na realidade não foi
assim. Por longos períodos se identificaram com a
melhor imagem do país.
E
agora se abre uma nova encruzilhada para os transportes
aéreos nacionais, sem que apareça alguém
capaz de indicar aos novos atores como atuar para ter um
sucesso duradouro, que compense os acionistas, serva os
usuários, dignifique a indústria. Voltaram
o jeitinho, o agrado, o compromisso, a injustiça,
a incompetência, as ambições sem limites.
E
enquanto as aéreas do país disputam os ossos,
o filé mignon fica com as americanas que o receberam
há quase duas décadas de presente do governo
brasileiro: e no mercado dos EUA, quem não domina
perde dinheiro.
A
esse respeito deveria ser de exemplo a Tap que há
anos, sozinha, carrega, alimenta, incrementa o tráfego
turístico para o Brasil, ao qual já dedica
47 vôos por semana que saem de Portugal e cobrem as
rotas do Norte e do Sul do país, enquanto nem a Varig
nem outras quiseram se dedicar a esse tráfego, talvez
por considerá-lo menos nobre daquele que chega de
Paris ou Londres, as prediletas das novas estreantes nos
vôos internacionais.
Entretanto
a nova Varig, ainda sem certificado para oficialmente operar,
definiu cautelosamente suas mini-prioridades e as etapas
de um crescimento operacional que dificilmente a levará
a ocupar uma posição de destaque. E em paralelo,
as “velhas” Tam e Gol correm como baratas tontas
atrás de mais freqüências e mais slots,
cujos custos, pela fria lógica da industria aérea
acabarão drenando boa parte dos lucros que atualmente
conseguem em rotas menos competitivas.
Assim,
apesar dos fogos de artifício e dos aviões
voando, o céu brasileiro ainda não é
de brigadeiro.
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