O Estado de São Paulo
16/10/2007
Inquérito do MP vai apurar
improbidade na Anac
Luciana Nunes Leal e Bruno Tavares
O uso pela diretoria da Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac) de um documento sem validade legal, em
um processo judicial que definiu a liberação
da pista principal do Aeroporto de Congonhas para grandes
aviões, em fevereiro, acabou em pizza na CPI
do Apagão Aéreo da Câmara, mas não
no Ministério Público Federal. Na quinta-feira,
o MP instaurou inquérito civil para apurar improbidade
administrativa por “ação e omissão”
do presidente da Anac, Milton Zuanazzi, e dos ex-diretores
Denise Abreu, Jorge Velozo, Josef Barat e Leur Lomanto.
Depois da defesa dos investigados, nos próximos
20 dias, poderá ser aberta ação
civil pública por improbidade.
A procuradora do MPF Inês Virgínia Prado
Soares considerou ilegais a divulgação
no site da Anac e a apresentação à
Justiça da IS (Instrução Suplementar)
RBHA 121-189, que reunia normas para pousos e decolagens
em pista molhada e, segundo o autor do documento, comandante
Gilberto Schittini, teria impedido que, em 17 de julho,
o Airbus A320 da TAM varasse a pista em Congonhas, matando
199 pessoas. O MPF abrirá outras investigações.
Uma delas, sobre a atuação da corregedoria
da agência que, segundo Inês Virgínia,
teria sido “parcial”.
NOMEAÇÃO
Ontem, o Ministério da Defesa encaminhou ao
Senado o nome do engenheiro Alexandre Gomes de Barros
para compor a diretoria da Anac. Especialista em infra-estrutura
aeroportuária e professor assistente da Universidade
de Calgary, no Canadá, Barros deverá ocupar
a vaga de Denise Abreu, que renunciou em 24 de agosto.
Resta definir a situação de Zuanazzi,
que reluta em renunciar à presidência.
A intenção do ministro Nelson Jobim é
substituí-lo por Solange Vieira, da Secretaria
de Aviação Civil. Ele já indicou
o brigadeiro Allemander de Jesus Pereira Filho (aprovado
pela Comissão de Infra-Estrutura), o economista
Marcelo Guaranys e o professor Cláudio Jorge
Pinto Alves.
Para o diretor-executivo da Associação
Brasileira de Aviação Geral, Adalberto
Febeliano, os escolhidos são excelentes, mas
precisam ser “blindados” pelo governo. “Nenhum
deles tem conhecimento político. É preciso
que tenham respaldo para fazer um bom trabalho.”
O Estado de São Paulo
16/10/2007
Airbus, enfim, entrega o superjumbo
Com dois anos de atraso, o
A380 chegou ontem às mãos da primeira
compradora, a Singapore Airlines
Gilles Lapouge
Dia de glória para a Airbus. O primeiro exemplar
de seu avião mastodonte A380, com seus 500 lugares
(ante os 400 lugares do Boeing 747 e os 300 do Boeing
777) foi entregue em Toulouse, França, à
companhia Singapore Airlines. Isso deverá abrir
uma nova fase na aviação. Até agora,
o 747 era o maior avião comercial já construído.
Com o superjumbo A380, está inaugurada a era
dos “aviões gigantes”.
Mas essa é uma glória amarga. O primeiro
A380 foi entregue à Singapore Airlines com dois
anos de atraso. E os próximos exemplares chegarão
lentamente: Toulouse entregará 13 aparelhos em
2008, 25 em 2009 e 45 em 2010. Porém, os especialistas
já murmuram que novos atrasos, de um a dois anos,
poderão acontecer.
A razão desses atrasos é sempre a mesma:
o avião é feito em vários países,
sobretudo Alemanha e França. Ora, as oficinas
de Hamburgo e as de Toulouse não operam com o
mesmo software. Para o cabeamento elétrico (cada
aparelho contém 1.500 quilômetros de fios)
tudo deve ser recomeçado do zero para cada avião.
Esse é apenas o primeiro desastre do Airbus.
O segundo é que o consórcio europeu (EADS)
está infestado por delitos financeiros. O esquema
foi simples: em 2005 e 2006, as ações
da Airbus estavam no auge, mas os chefes sabiam que
elas iriam cair bruscamente por causa dos atrasos de
entrega.
Esses bravos chefes enfrentaram então a adversidade
da seguinte maneira: vendendo seus papéis. Nesse
cálculo sinistro, um dirigente como o francês
Noël Forgeard ganhou 3 milhões. Assim, o
15 de outubro, que deveria ter sido um dia de festa,
foi cinzento e enfadonho.
Os novos dirigentes do consórcio acham que,
a longo prazo, a situação se resolverá.
Primeiro porque o A380, que a Boeing fez de tudo para
desacreditar, seduziu todo o mundo. Enquanto a versão
alongada do Boeing 747, o 747-8, mal conseguiu encontrar
clientes, o A380 tem 165 pedidos em carteira.
Acontece que o A380 atende às novas necessidades
do transporte. O tráfego aéreo mundial
explode. As companhias já não conseguem
atender à demanda. Elas carecem de 20 mil assentos
a cada dia. O futuro é, portanto, dos “grandes
transportadores”.
Nas suntuosas “suítes” do A380 do
Singapore Airlines, o trajeto Paris-Cingapura-Sydney
custará até 11,5 mil. Mas o A380 não
busca apenas o nicho de luxo. Ele seduz também
as empresas de vôos charter. O grupo espanhol
Marsans acaba de fazer uma encomenda: o A380 deverá
equipar frotas de baixo custo para o transporte em massa
de pessoas em férias.
Eis porque os dirigentes da Airbus, apesar do fel que
engolem há um ano, se dizem otimistas. “O
futuro do céu”, dizem eles, “está
nos grandes transportadores. O A380 será o rei
do céu”. E precisam: “Todas as companhias
virão a ele. A British Airways, cliente apenas
da Boeing, acaba de encomendar 12 A380 e fez 7 opções.”
Essas análises parecem razoáveis. No
longo prazo, o Airbus deverá sair do “buraco
de ar” atual. A menos que o escândalo financeiro
que corrói a EADs há seis meses se prolongue
mais e provoque novos e inadmissíveis atrasos
nas próximas entregas.
O Estado de São Paulo
16/10/2007
Britânico paga R$ 185 mil
por vôo inaugural
o britânico Julian Haywar pagou 73 mil (R$ 185,5
mil) por dois lugares na viagem inaugural do A380, o
maior avião comercial do mundo. “Queria
fazer parte da história”, disse Haywar,
que vai ocupar o assento 1A no vôo que a Singapore
Airlines fará no dia 25 de outubro, ida e volta,
entre Cingapura e Sydney.
A Singapore Airlines abriu uma página na internet
exclusiva para o primeiro vôo comercial do A380
e obteve US$ 1,3 milhão, que irá doar
para obras humanitárias. Haywar explicou que
um dos incentivos para a viagem foi que a organização
Médicos Sem Fronteiras iria receber parte do
dinheiro.
O Airbus A380 é o maior avião de passageiros
da história da aviação civil. O
avião pode transportar 525 passageiros divididos
nas três classes tradicionais, ou até 853
em uma configuração de classe econômica
única. A Singapore Airlines, entretanto, optou
por uma distribuição ainda mais espaçosa,
com apenas 471 cadeiras. O recorde de passageiros, até
agora, era do Boeing 747-400, que pode acomodar até
416 passageiros.
O Estado de São Paulo
16/10/2007
Primeiros vôos no Brasil
serão da Aerolíneas e da Lufthansa
Alberto Komatsu
A Lufthansa e Aerolíneas Argentinas deverão
ser as primeiras a voar no Brasil com o A380. A companhia
alemã chegou a marcar um vôo teste com
o novo avião da Airbus, em novembro do ano passado,
no Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim (Galeão),
mas teve de adiar a estréia por causa de atrasos
no projeto e na entrega. Já a empresa argentina
vai receber dois A380 a partir de 2010 e poderá
usá-los na rota São Paulo-Buenos Aires-Madri.
A Lufthansa informa que mantém interesse em
usar o A380 “no longo prazo” no Aeroporto
Internacional de Guarulhos. A companhia encomendou 15
modelos A380 e faz atualmente 14 vôos semanais
entre o Brasil e a Alemanha. Por meio da Swiss, pertencente
ao grupo, são mais sete vôos diários
entre São Paulo e Zurique.
A Aerolíneas Argentinas será a primeira
empresa da América do Sul a receber o A380. Na
semana passada, o grupo controlador da Aerolíneas,
o espanhol Marsans, assinou um compromisso de compra
de quatro A380, dentro de uma encomenda de 61 aviões
- um pedido de US$ 6,5 bilhões, conforme preços
de tabela. Parte dos aviões será destinada
a outras empresas do grupo, como a Air Comet, da Espanha.
“A única possibilidade de usar o A380
no Brasil seria uma escala em São Paulo na rota
Buenos Aires-Madri”, diz o supervisor comercial
e de marketing da Aerolíneas no Brasil, Ivan
Blanco Cadahia. De acordo com o executivo, a Aerolineas
já recebeu autorização para voar
do Brasil para Madri e Miami, mas ainda não inaugurou
essas rotas por falta de aviões. Cadahia acredita
que os novos vôos a partir do Brasil deverão
ser inaugurados durante o primeiro semestre do ano que
vem.
Jornal do Brasil
16/10/2007
Airbus entrega o primeiro A380
Marcelo Ambrosio
Com atraso de 18 meses em relação ao
previsto, o primeiro superjumbo A380 foi entregue ontem
à Singapore Airlines pela Airbus, em uma cerimônia
no hangar de Tolouse-Blagnac. O jato, de 73 metros e
US$ 320 milhões, é o primeiro do tipo
a entrar em operação comercial. Decola
no dia 25 para cumprir a rota Cingapura - Sidney.
- De agora em diante, há uma nova rainha dos
céus para quem voa - comemorou o CEO da companhia
asiática, Chew Choon Seng,
O atraso, que causou US$ 7 bilhões em prejuízos
à Airbus e perda de 10 mil empregos, foi provocado
principalmente pela dificuldade no cabeamento. Por problemas
de projeto no ferramental, a cargo da unidade alemã,
os 530 quilômetros de fios e cabos a bordo foram
instalados manualmente. O processo, transferido para
Toulouse, será automatizado após a entrega
do A380 número 25. Há 189 encomendados
por 16 empresas - 13 previstos para o ano que vem, 25
em 2009 e 44 em 2010.
No lançamento, em 2005, eram mais: a Fedex,
por exemplo, desistiu diante do atraso e optou por comprar
os novos Boeing 777-30ER. Na época, a companhia
queria o A380 para eliminar a escala em Anchorage, Alasca,
nos inúmeros vôos que trazem carga da Ásia
para os EUA. Menos duas horas em cada etapa significaria
enorme economia, já que o superjumbo tem autonomia
de 9 mil milhas.
Para o primeiro vôo, a Singapore leiloou bilhetes
no site eBay, com renda revertida a causas beneficentes.
Um bilionário britânico pagou US$ 100 mil
pelo direito de ser um dos 471 passageiros distribuídos
nos 600 metros quadrados de área nos dois decks
a bordo. O A380 pode levar até 830 pessoas, mas
a Singapore valorizou a Primeira Classe e a Executiva
de 60 lugares. Na Primeira Classe - desenhada pelo projetista
de iates francês Jean-Jacques Costa, com móveis
de Salvatore Ferragamo - há 12 suítes
isoladas, equipadas com poltronas especiais e camas
que podem ser de casal, sobre as quais estão
lençóis e fronhas Givenchy. O espaço
conta ainda com tevê de plasma de 23 polegadas
e bar exclusivo. Um bilhete nessa classe custa US$ 11.400.
Na área de entretenimentos, nas três classes,
os monitores de bordo, wireless, incluem mais de 100
filmes, 180 programas de tevê e inúmeros
games, fora portas USB e tomadas para laptop. Apesar
da festa, o presidente da Airbus, Thomas Enders, esquivou-se
de perguntas sobre o escândalo financeiro da empresa.
Altos funcionários são acusados de terem
se beneficiado de informações privilegiadas
durante a crise.
O Globo
16/10/2007
Ancelmo Góis
Revista Isto É - Dinheiro
16/10/2007
Gol ajusta sua rota
Companhia revê
projeções de lucro e receita, perde executivo
para rival e absorve prejuízo de milhões
da Varig
ADRIANA MATTOS
|
VALORES DE MERCADO (EM BILHÕES DE R$) 3,13
JULHO/05((*) 6,02 DEZEMBRO/05 5,88 DEZEMBRO/06
4,48
OUTUBRO/07
Fonte: Bovespa e Gol (*) Primeira cotação
(**) 10 de outubro de 2007 |
Os meses andam para lá de agitados pelas bandas
da família Constantino, dona da Gol. Num espaço
de quatro meses, a companhia aérea reviu duas
vezes as projeções financeiras para 2007,
reduziu a previsão de ampliação
na frota e publicou um balanço financeiro um
tanto apagado. Há duas semanas, chegou a acenar
com a possibilidade de fechar capital, colocando o mercado
em polvorosa.
O apetite dos investidores pelo papel da empresa cresceu.
A procura pelas ações da Gol aumentou,
puxando para cima a cotação nos últimos
dias. Mesmo assim, até a última quarta-feira,
o valor de mercado do grupo havia encolhido R$ 1,4 bilhão
em relação a 2006. Somado a isso, nas
contas que os especialistas da área têm
feito, trabalha-se com a hipótese de que a absorção
da Varig possa estar exigindo da empresa uma engenharia
financeira muito maior do que o previsto inicialmente.
Por causa da Varig, estima-se que, de abril a junho,
entraram mais de R$ 90 milhões em prejuízo
no balancete da Gol, apurou a DINHEIRO junto a analistas
de mercado. Com essa perda, a Gol passou do azul ao
vermelho, de uma tacada só – foram R$ 35,4
milhões de saldo negativo na linha final do balancete.
Para complicar ainda mais esse cenário, a companhia
sofreu um baque inesperado. Um de seus principais homens,
David Barioni Neto, que ocupava a vice-presidência,
assumiu em setembro a vicepresidência de operações
da TAM.
Essa fase delicada que a empresa atravessa, no entanto,
não pode ser explicada apenas pela perda de um
executivo ou pelo efeito Varig. O momento do mercado
também não é dos melhores. O ápice
da crise aérea, após a queda do avião
da TAM em julho, elevou as perdas da companhia.
Atrasos e cancelamentos de vôos, o fechamento
do Aeroporto de Congonhas e, por fim, a necessidade
de reestruturar a sua malha aérea afetou a taxa
de ocupação dos vôos. Esse indicador
caiu 8,6 pontos de abril a junho sobre 2006. A própria
empresa comenta, em seu último balanço,
a existência dessas pressões.
Numa análise mais recente, o fato de o combustível
ter ficado mais caro, com o preço do barril de
petróleo em alta, e os gastos maiores com manutenção
e reparo nas aeronaves têm pesado nas contas.
“A taxa de ocupação dos aviões
caiu, o custo fixo subiu e a conta não fecha
mesmo. Ainda é esperado um desempenho fraco no
terceiro trimestre”, diz a analista da corretora
SLW, Kelly Trentim. “Os efeitos negativos da crise
aérea ainda respingam sobre a empresa. Os gargalos
da infra-estrutura dos aeroportos devem pressionar os
números nos próximos meses”, diz
Eduardo Puzziello, analista da Fator Corretora. Na última
revisão nas projeções para 2007,
publicada neste mês pelo grupo, lucro por ação,
margem operacional e taxa de ocupação
caem. Procurada pela reportagem da DINHEIRO, a Gol não
se manifestou.
O mercado, agora, espera pelos próximos resultados.
O que poderia parecer um longo inferno astral, tem chances
de não passar de um tropeço maior na rota
de sucesso, até agora traçada pelo grupo.
Dados recentes mostram, por exemplo, que a Gol já
consegue absorver alguns ganhos com a Varig. Foram R$
200 milhões em créditos fiscais nos últimos
meses. A participação de mercado da Gol
passou de 37% em janeiro para 39% em setembro.
Continua a aumentar o número de vôos diários
e de destinos atendidos pela Varig, operação
que tem tomado boa parte do tempo da linha de frente
da Gol. Em junho eram 90 vôos para 11 destinos.
Em outubro, subiu para 120 vôos e 13 destinos.
Mercado e Eventos
15/10/2007 - 17:30h
Lula indica novo diretor para
a Anac
O Senado acaba de receber a indicação
do engenheiro civil Alexandre Gomes de Barros para o
cargo de diretor da Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac). Ele poderá completar o mandato
da ex-diretora, Denise Abreu. A informação
foi anunciada pelo presidente da República, Luiz
Inácio Lula da Silva.
Coluna Claudio Humberto
15/10/2007 -14:48h
Jobim indica engenheiro civil
para Anac
O ministro Nelson Jobim (Defesa) indicou mais um nome
para a diretoria da Agência Nacional de Aviação
Civil. Trata-se do engenheiro civil Alexandre Gomes
de Barros, mestre em Pesquisa Operacional e Transportes
pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica
(ITA) e doutor em Engenharia de Transportes pela Universidade
de Calgary, no Canadá. Essa é a quinta
indicação recebida pelo presidente Lula
para recompor a diretoria da Anac.
Os outros indicados são o brigadeiro-engenheiro
Allemander Pereira Filho; o economista Marcelo Pacheco
dos Guaranys; o engenheiro de infra-estrutura aeronáutica
Cláudio Pinto Alves; e a economista Solange Vieira.
As indicações de Cláudio Pinto
Alves e Solange Vieira ainda não foram encaminhadas
ao Senado. Por enquanto, Solange está no comando
da Secretaria de Aviação Civil. De acordo
com a assessoria do Ministério da Defesa, o ministro
Nelson Jobim está aguardando o Congresso aprovar
três indicações para então
negociar a saída do atual presidente Milton Zuanazzi,
que deverá ser substituído por Solange
Vieira.
Revista Época - AVIAÇÃO
11/10/2007
Vôo cego?
As perguntas que ficaram sem
resposta depois da venda da Varig
Eduardo Vieira
Tudo de ruim parece acontecer com o empresário
Marco Antonio Audi, o novo dono da Varig. Na Justiça,
ele responde a mais de 20 processos. É acusado
de ter dado calote em empregados, ex-sócios e
na Previdência Social. Procuradores paulistas
o investigam pela suposta falsificação
da assinatura de uma pessoa morta. No Tribunal de Contas
do Estado de São Paulo (TCE), seu nome aparece
numa investigação de fraude em licitação
pública. Até no aeroporto ele é
malvisto. A Infraero tenta expulsá-lo de um hangar
no Campo de Marte por supostas irregularidades num contrato
de concessão. Com a compra da Varig, em julho,
Audi esperava passar uma borracha nessa história
confusa e começar a ser visto como um empresário
arrojado. Mas sua estratégia começou a
ruir quando ele deparou com TAM e Gol em seu caminho.
|
SAI
OU NÃO DO AR?
Um técnico de aviação tenta
arrumar a turbina de um avião da Varig
em Guarulhos, São Paulo.Os problemas mecânicos
são a menor preocupação da
companhia aérea |
O Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias
(Snea) montou um dossiê sobre a vida empresarial
de Audi e o entregou à Procuradoria-Geral da
República. Embora represente as empresas de aviação
em seu conjunto, o sindicato é fortemente influenciado
pela TAM e pela Gol, principais concorrentes da Varig.
Além das acusações sobre o passado
de Audi, a papelada lança suspeita sobre a origem
do dinheiro usado na compra da Varig. ÉPOCA obteve
uma cópia do dossiê. Com base nele, o Ministério
Público Federal começou a investigar Audi
por lavagem de dinheiro. Semanas atrás, o sindicato
das empresas aéreas levou suas denúncias
à Controladoria-Geral da União (CGU).
"Quem me investiga são meus inimigos",
diz Audi. "A concorrência é feroz,
mas é preciso ter limites. Eles (a TAM e a Gol)
passaram do limite. Querem me atacar."
O objetivo da TAM e da Gol é tomar o espaço
da Varig nos aeroportos. Entendem que, se a concorrente
encolheu, ela deveria perder privilégios. Nos
últimos quatro anos, a Varig diminuiu dramaticamente
de tamanho. Tinha 118 aviões, hoje são
apenas nove. Sua participação de mercado
caiu de 40% para pouco mais de 3%. Mesmo assim, a empresa
continua com o maior número de guichês,
hangares e com os melhores horários de vôo.
Tudo herança do passado nobre.
No Aeroporto de Guarulhos, a Varig tem 54 balcões,
mas opera somente cinco vôos por dia. A TAM opera
58 vôos, mas tem 36 guichês para atender
a freguesia. "É uma reserva de mercado",
afirma André Castellini, sócio especializado
em aviação da consultoria Bain & Company.
"Quem realmente opera e gera lucro deveria ter
mais espaço." O único assunto sobre
o qual a TAM se manifestou foi a divisão de espaço
nos aeroportos. "Se a Infraero tem dúvidas
sobre o assunto, que tire a concessão de todas
as companhias e redistribua o espaço por quem
tem mais vôos", afirmou Marco Antonio Bologna,
presidente da TAM. Procurada por ÉPOCA, a Gol
não deu entrevistas.
Ao lançar a suspeita de que Audi esteja envolvido
em delinqüências financeiras, a TAM e a Gol
tocaram num ponto sensível. No Banco Central,
elas descobriram que o dinheiro usado para comprar a
Varig veio quase todo do exterior, do fundo americano
Matlin Patterson. O fundo, especializado em comprar
empresas à beira da falência, recuperá-las
e revendê-las, é visto pela maioria dos
especialistas como o dono de fato da Varig.
O leilão de julho sacramentou a divisão
da Varig em duas empresas. Os problemas ficaram com
a Varig antiga, controlada pela Fundação
Ruben Berta e por credores que têm R$ 7,5 bilhões
a receber. Eles ficaram com as dívidas. A nova
Varig foi comprada por Audi, pelo Matlin Patterson e
por dois outros sócios menos conhecidos - o economista
Marcos Haftel e o operador do mercado financeiro Luiz
Eduardo Gallo. Eles ficaram com a marca, as rotas e
a concessão dos espaços nos aeroportos.
Por esse pacote, pagaram US$ 20 milhões à
vista. Assumiram, também, o compromisso de investir
outros US$ 485 milhões nos próximos dez
anos.
Até agora, de acordo com documentos do Banco
Central obtidos por ÉPOCA, o Matlin Patterson
enviou ao Brasil US$ 83,9 milhões entre março
e junho. A lei brasileira não impõe regras
para a origem do dinheiro. Mas limita a participação
de estrangeiros a 20% do capital votante de uma companhia
aérea brasileira. O Matlin Patterson respeita
essa determinação no papel, mas não
na essência. De acordo com os contratos, os três
sócios brasileiros são donos de 80% da
nova Varig, e os americanos possuem 20%. Na prática,
quem manda são os americanos. "Sessenta
por cento do capital total da empresa é do Matlin
Patterson", afirma Audi. "Eles têm o
dinheiro e decidem os investimentos."
Uma das suspeitas do Ministério Público
Federal é que os três sócios brasileiros
tenham um contrato de gaveta assinado com o Matlin Patterson.
Por esse acordo, eles seriam subordinados aos americanos
e sofreriam ingerência econômica do fundo.
Estariam lá apenas para fazer figuração
e atender às exigências da legislação
brasileira. No mundo dos negócios, esse tipo
de personagem é chamado de testa-de-ferro. "Prefiro
chamá-los de sócios de ocasião",
afirma Anchieta Hélcias, diretor do sindicato
das empresas aéreas e consultor da TAM. Foi ele
quem denunciou Audi ao Ministério Público
e à Controladoria-Geral da União.
Dentro do governo, no entanto, Audi tem um aliado poderoso.
Ele contratou o advogado Roberto Teixeira da Costa,
compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A especialidade de Teixeira são empresas aéreas.
Segundo executivos do setor, Teixeira costuma aparecer
sempre que elas estão em dificuldade, com pleitos
para o governo federal. Ele trabalhou para a Transbrasil
e a Vasp. Acompanha a crise da Varig de perto há
quase dois anos.
De acordo com representantes dos órgãos
federais de aviação, Teixeira teria usado
sua ligação com o presidente Lula em tom
ameaçador nas reuniões. A oposição
também suspeita que Teixeira tenha trânsito
livre com assessores da Casa Civil e em diretorias da
Infraero e da Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac). "A Anac era contra a venda da Varig
por causa das dúvidas em relação
à origem do capital", afirma o senador José
Agripino, líder do PFL no Senado. "Mas,
curiosamente, mudou de opinião depois que o advogado
de Audi passou a ser Roberto Teixeira. Ele fez lobby
na Casa Civil para aprovar a venda. É uma história
que precisa ser explicada."
|
O REI DO PEDAÇO
A suposta influência do advogado Roberto
Teixeira nos órgãos do governo preocupa
a TAM e a Gol. Ele é acusado de usar a
amizade com o presidente Lula para fazer lobby
|
Teixeira é amigo do presidente Lula há
25 anos. Em 1988, emprestou uma casa de sua propriedade
em São Bernardo do Campo, São Paulo, em
que Lula morou. Teixeira também é padrinho
de Luiz Cláudio da Silva, filho caçula
do presidente. E Lula é padrinho de Valeska,
filha de Teixeira. Apesar da estreita ligação
com Lula, o advogado afirma que nunca foi beneficiado
pelo s fato de o amigo ter se tornado presidente da
República. A Casa Civil, a Infraero e a Anac
negam ter sido influenciadas por Teixeira. Procurado
por ÉPOCA, Teixeira negou ter pressionado órgãos
do governo e as demais acusações.
Na semana passada, Audi entrou com um pedido de empréstimo
no valor de US$ 1,7 bilhão no Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O dinheiro seria usado para comprar 50 aeronaves da
Embraer. Segundo Audi, os aviões serão
utilizados pela nova Varig até o fim do ano.
"Isso é estranho, pois a Embraer está
com toda a produção vendida até
2008", diz o consultor Castellini. A empresa não
teria como entregar as aeronaves no prazo desejado por
Audi. Por meio de sua assessoria, a Embraer afirmou
que não comenta sobre a Varig.
Os concorrentes da Varig acham que a história
é outra. Suspeitam que parte da Varig já
tenha sido vendida à companhia Air Canada, ligada
indiretamente ao Matlin Patterson. E a Air Canada está
na fila para receber aviões da Embraer nos próximos
meses. "O negócio entre o Matlin e a Air
Canada já foi fechado. Eles compraram 10%",
diz o presidente de uma empresa do ramo de aviação.
As empresas não negam nem confirmam a informação.
Com ou sem Air Canada, fica difícil entender
como Audi poderia conseguir um empréstimo bilionário
no BNDES. Seu histórico como empresário
é confuso e ele já teve problemas recentes.
Precisou quitar às pressas uma dívida
de R$ 838.800 com o INSS, condição necessária
para participar do leilão da Varig. As acusações
mais sérias contra Audi, no entanto, são
de natureza criminal. Corre no TCE um processo em que
ele é acusado de fraudar uma licitação
da Polícia Civil de São Paulo. Segundo
um parecer do Tribunal, Audi teria usado documentos
irregulares para vencer uma concorrência para
abrigar helicópteros da polícia em seu
hangar do Campo de Marte, em São Paulo.
Audi é acusado de não ter respeitado
as regras de concessão no Aeroporto Campo de
Marte, em São Paulo, onde fica seu hangar de
helicópteros. Segundo documentos da Infraero,
Audi estaria utilizando o espaço para "assuntos
não relacionados à aviação".
Ele é sócio de uma empresa de produtos
químicos cuja sede fica no aeroporto. A Infraero
tentou expulsá-lo de lá, mas Audi conseguiu
uma liminar para manter suas operações.
O processo corre na Justiça paulista.
Audi também é acusado de ter falsificado,
em 1999, a assinatura de uma pessoa morta. Ao tentar
alterar o contrato social de uma de suas empresas, Audi
entregou um documento à Junta Comercial em que
constava a assinatura de um de seus sócios, o
administrador Palmarino Landi Netto. Landi havia falecido
em agosto de 1995. "Ele me deixou um papel assinado
em branco antes de morrer", afirma Audi. Em entrevista
a ÉPOCA, ele negou todas as outras acusações
e se disse vítima de um complô da concorrência.
Mais um fato chama a atenção. Audi foi
perdoado de uma dívida bancária. Um documento
que consta do dossiê montado por seus adversários
mostra que, em 1995, ele foi excluído de uma
dívida com o banco francês CCF, mais tarde
adquirido no Brasil pelo HSBC. Na oportunidade, segundo
o documento, Audi encontrava-se "em local incerto
e não-sabido" e havia dificuldades em "identificar
bens de sua propriedade que possam ser penhorados".
Procurado por ÉPOCA, o advogado do CCF na ocasião,
Alexandre Wald, confirmou o perdão. Audi diz
não saber o que aconteceu. "É um
mistério ele ter conseguido comprar a Varig",
diz Jefferson Araújo de Almeida, ex-sócio
de Audi num hangar do Campo de Marte. "Rico ou
pobre, ele é muito pequeno para um negócio
desse porte. É um salto maior que a perna dele."
Duas
empresas, um só problema |
A
recuperação judicial da Varig criou
duas companhias, uma saudável e outra na
pior. Mas nenhuma delas quer assumir a responsabilidade
sobre os 3.500 funcionários que estão
trabalhando |
VARIG
VELHA |
Razão
social |
Viação
Aérea Rio-Grandense S.A. |
Donos |
Credores e Fundação
Ruben Berta |
Patrimônio |
Dívidas de R$ 7,5 bilhões;
créditos judiciais a receber de R$ 4,5 bilhões;
imóveis e instalações |
VARIG
NOVA |
Razão
social |
VRG Linhas Aéreas S.A. |
Donos |
Matlin Patterson, Marco Audi e
outros dois sócios |
Patrimônio |
Marca "Varig"; Rotas
nacionais e internacionais; Programa de milhagens
Smiles |
A responsabilidade pela
Varig
Marco Antonio Audi diz que
só comprou a marca e as rotas da empresa aérea.
E que age dentro da lei. “Quem me investiga são
meus inimigos”
Eduardo Vieira
ÉPOCA Por que o senhor comprou a Varig?
Marco Antonio Audi A vida é
assim: existem os que querem, os que querem mais e os
que vão lá e fazem. Então é
preciso ter coragem para fazer as coisas. Mas é
difícil. Estamos aqui seriamente trabalhando
24 horas por dia e vem gente te difamar em público.
Tem aquele cara do Snea, que eu até esqueci o
nome. Anchieta, não é? (Audi pergunta
para seu advogado, Dr. Roberto Teixeira, que confirma
com a cabeça. Audi se refere a Anchieta Hélcias,
diretor do Sindicato Nacional das Empresas Aeronáuticas).
Eu vi esse senhor uma vez na vida, numa reunião
que durou 5 minutos. Ele me tratou tão mal que
eu levantei e fui embora. Ele nunca me viu na vida.
Não sabe quem eu sou. Acho que, antes de você
meter a boca em alguém, você tem que dar
o direito de a pessoa se defender. Mas ele não
fez isso. Mas tem os interesses dele, é claro.
É diretor da TAM. Acho que é escondido,
não sei. Olha, eu acho que a concorrência
é uma coisa feroz, mas é preciso ter um
limite. E elas (TAM e Gol) passaram do limite. Estão
agindo de uma forma cruel. Estão atropelando
a concorrência saudável entre empresas
para atacar o meu lado pessoal. A TAM, por exemplo.
É uma empresa grande, maravilhosa. Veio do nada,
como nós estamos chegando agora. Conheci o Comandante
Rolim, ele era uma pessoa maravilhosa. Mas estão
agindo, ou no nome do Anchieta, não sei, de uma
forma cruel. Estão sendo cruéis. As pessoas
falam: "ah, comprou (a Varig) porque arrumou um
fundo pra bancar". Quem me investiga são
meus inimigos, meus rivais. Não é fácil
conviver com isso, amigo. Trabalhei a vida inteira para
conseguir arrumar um parceiro desses (o Matlin Patterson).
ÉPOCA Como o senhor arrumou essa parceria?
Audi É algo comum nos meus negócios.
Por exemplo, eu tenho um fundo que participa de uma
empresa nossa, que é o Phoenix. Tem a Rio Bravo,
que participa de outro. Vamos andando no mercado e os
fundos nos procuram em busca de oportunidades de negócio.
É natural. Foi assim com o Matlin Patterson.
O que acontece: você desenvolve um business plan,
o cara tem que acreditar em você como negócio
e como pessoa. Você pode ser um avião de
performance e desonesto, eles não querem. E pode
ser honesto mas fazer eles perderem dinheiro, então
eles também não querem. Então acho
que o fundo tem que acreditar no business plan e em
você para liberar o investimento do tamanho que
eles liberaram para a gente. É um investimento
que não tem fim.
ÉPOCA Quanto eles liberaram de investimento?
Audi Na parte deles na VarigLog, em
torno de US$ 25 milhões. Por enquanto. Mas eles
liberaram o acesso a outras fontes. Quando você
é parceiro de um fundo desses, começa
a acessar créditos.
ÉPOCA E quanto eles investiram na Varig?
Audi Por enquanto não houve
investimento direto da Matlin na Varig. Quem investiu
foi a VarigLog.
ÉPOCA Então o único
dinheiro que a Matlin Patterson colocou na aviação
brasileira foram esses US$ 25 milhões na VarigLog?
Audi Não, não. Colocou
mais. Conseguimos empréstimos em cima de garantias
que nos foram dadas pelo Matlin.
ÉPOCA Quer dizer que o senhor
tomou empréstimos com garantias oferecidas pelo
fundo, é isso?
Audi Mais ou menos. Sinceramente não
é nem uma garantia, mas o fato de eles estarem
conosco nesse empreendimento.
ÉPOCA Então diretamente
eles colocaram US$ 25 milhões. E, indiretamente,
eles ajudaram vocês, os sócios brasileiros,
a tomar empréstimos.
Audi É isso. Exatamente.
ÉPOCA Essa história
de dinheiro é bem complicada, Marco. Nós
conseguimos alguns documentos...
Audi (Interrompendo) Quero te dizer
o seguinte: pode perguntar para mim o que você
quiser.
ÉPOCA Perfeito. Tenho muita
coisa para perguntar. Mas, enfim, alguns documentos
do Banco Central mostram remessas de dinheiro vindas
do exterior envolvendo algumas empresas. Temos um documento
que mostra uma remessa de US$ 20 milhões em...
Audi (Interrompendo). Sabe quanto investimos?
US$ 80 milhões. Não foram só esses
US$ 20 milhões. Esse dinheiro veio e a maioria
dele já saiu.
ÉPOCA Como assim saiu? Esse
dinheiro não foi usado no Brasil?
Audi Não. Quer dizer, foi usado
para comprar os recebíveis da Varig. E foi parar
no caixa da Varig antiga. Deixa eu te explicar o que
aconteceu: a Varig estava morrendo. Quando ela teve
que depositar US$ 56 milhões em Nova York, em
novembro de 2005, faltavam US$ 20 milhões. E
no dia em que ela precisava depositar, não tinha
dinheiro. Mas o juiz americano falou: trato é
trato. Se não pagasse, a Varig morria naquele
dia.
ÉPOCA Daí a Varig pediu
o dinheiro emprestado para vocês?
Audi Não. Eles falaram que estavam
faltando US$ 20 milhões e que o buraco ia complicar
a empresa. Daí nós fizemos a primeira
operação de desconto desses recebíveis.
Eu não podia fazer com os nossos recursos. Daí
falei ao Matlin se ele podia fazer. E eles fizeram.
Foi exatamente isso que aconteceu. Foi dinheiro deles,
oficial, via Banco Central. US$ 20 milhões.
ÉPOCA Em que data chegou esse
dinheiro?
Audi Se não me engano, em novembro
do ano passado.
ÉPOCA Segundo os documentos
do Banco Central, não há remessa registrada
em novembro. US$ 20 milhões chegaram ao país
para a Volo apenas em março. No ano passado não
há registro...
Audi Não? Bom, daí eu
não sei te dizer. A gente pode ver qual foi o
caminho. É uma coisa que eu não controlo,
na verdade. Não sei quando veio. Mas o fato é
que está tudo limpo.
ÉPOCA Então quer dizer
que, mesmo antes de vocês fecharem negócio
com a VarigLog, vocês ajudaram a Varig financeiramente.
Audi Isso. É uma coisa do Matlin.
Não é uma coisa nossa. Nós somos
operacionais. Nem nos envolvemos.
ÉPOCA Mais ou menos, não
é? Como a Matlin é sócia da Volo,
então há uma ligação entre
vocês. Há envolvimento.
Audi Sim. Nós não negamos
que há envolvimento. O Matlin é nosso
sócio.
ÉPOCA Há envolvimento,
então?
Audi Nós não negamos
que há envolvimento. O Matlin é nosso
sócio.
ÉPOCA OK. Há também
documentos que mostram remessas em junho de 2006. São
depósitos de pouco mais de US$ 1 milhão
vindos do banco JPMorgan Chase para contas em seu nome,
pessoa física, e dos seus sócios, também
pessoas físicas.
Audi Também está registrado.
ÉPOCA Esses valores correspondem
a quê? Comissões, pró-labore?
Audi Não. São empréstimos.
ÉPOCA Empréstimo para
quê?
Audi É parte do nosso investimento.
Foi usado para complementar o que tínhamos que
fazer da nossa parte.
ÉPOCA Qual é o investimento
dos sócios brasileiros na Varig?
Audi 80% do capital votante.
ÉPOCA Quer dizer que vocês
possuem, os três, 80% das ações
ordinárias da empresa?
Audi Exatamente. Isso é equivalente
a 40% do capital total.
ÉPOCA E os outros 60% do capital
total?
Audi Matlin Patterson. A preocupação
da lei é que 80% do capital votante esteja nas
mãos de brasileiros. Quando eu montei essa operação,
fiz dentro da lei.
ÉPOCA Quer dizer que vocês
controlam a empresa, mas investiram pouco nela. Isso
é incomum, não?
Audi Não é incomum, não.
ÉPOCA Quem manda na empresa
não é o sócio que investiu mais?
Audi Nem sempre. Vai ver uma Previ,
esses fundos. Eles não querem mandar em nada.
Eu conversei outro dia com o presidente de um fundo
de pensão e ele me disse que controlar é
problema. Eles não querem o negócio na
mão deles.
ÉPOCA Mas se o Matlin tem o
dinheiro, então manda. Não?
Audi Não. Eles só têm
o dinheiro e decidem os investimentos. Ponto. Eu acho
engraçado as pessoas falarem disso. Todos os
órgãos públicos olharam os nossos
documentos (Audi dirige-se ao advogado Roberto Teixeira),
não é, Dr. Roberto? (O advogado assente
com a cabeça).
ÉPOCA Bem, uma vez declarada
a origem do dinheiro... A legislação é
clara ao se referir ao capital votante.
Audi São duas coisas separadas.
As pessoas fazem confusão. Uma coisa é
a origem do dinheiro e outra é a origem do capital.
O Snea brigou com a gente por causa da origem do capital.
O capital é de brasileiro ou não? Essa
foi a briga. A origem do capital. Foi lá na Anac,
no Ministério Público e não teve
jeito. O capital é brasileiro. Sabe o que o Snea
fez? Começou a questionar a origem do dinheiro.
São duas coisas diferentes que se confudem.
ÉPOCA Na verdade não
se confudem. Me parece que origem do dinheiro e origem
do capital são a mesma coisa. Já a origem
do dinheiro e a composição do capital
são coisas distintas. A discussão aqui
é a composição do capital ordinário
e preferencial. Quando falamos do ordinário,
80% dele têm de estar nas mãos de brasileiros.
Audi Isso. A composição
do capital.
ÉPOCA É, porque o dinheiro
sai de algum lugar. Aliás, qual é a origem
do dinheiro?
Audi É nossa.
ÉPOCA Nossa de quem?
Audi A Mattlin é sócia
da Volo do Brasil. Do total de ações da
empresa, 50% são preferenciais e 50% são
ordinárias. Das 50% ordinárias, nós,
os sócios brasileiros, temos 80%. A Mattlin tem
os outros 20%. Isso significa que nós, sócios
brasileiros, temos 40% do capital total da empresa.
E a Mattlin tem os outros 60%, porque ela detém
a totalidade das preferenciais.
ÉPOCA Quer dizer que o dinheiro
é 40% de vocês e 60% da Mattlin?
Audi Isso.
ÉPOCA 60% é da Matlin.
Audi Isso. Copiamos um modelo super
comum no mercado.
ÉPOCA Os 40% da empresa restantes
são de vocês três, Audi, Gallo e
Haftel?
Audi Isso.
ÉPOCA E quanto vocês
três investiram de dinheiro para ter essa fatia
da empresa?
Audi Ah, não lembro de cabeça. O dinheiro
para investimento nós fizemos empréstimo.
Mas não sei dizer os totais.
ÉPOCA Só vocês
três?
Audi A VarigLog.
ÉPOCA Ou seja, junto com a
Mattlin.
Audi Isso. Novamente, a Mattlin tem
20% do capital votante, ou 60% do capital total, da
Volo do Brasil. A Volo tem 95% da VarigLog. E a VarigLog
tem 100% da Varig Nova.
ÉPOCA A Volo do Brasil tem
95% da VarigLog?
Audi Isso.
ÉPOCA E os outros 5%?
Audi São da Varig antiga.
ÉPOCA Entendido.
Audi É como se fosse uma holding.
ÉPOCA OK. O senhor é
uma pessoa rica?
Audi Não, sou uma pessoa trabalhadora.
ÉPOCA Seu patrimônio
é grande?
Audi Não tem a ver falar sobre
isso.
ÉPOCA O senhor tem dinheiro
no exterior?
Audi Não. Nada. Nenhum investimento
fora. Não tenho apartamento fora do Brasil. Não
tenho casa de praia nem no Brasil. Não tenho
barco. Não gosto de despesa fixa. É dor
de cabeça. Eu trabalho 24 horas por dia, amigo.
Se você me ligar no sábado ou domingo,
vai me encontrar trabalhando. Eu durmo, em médias,
3,5 horas por dia. Todos os dias vou dormir as quatro
e meia ou cinco da amanhã e acordo às
sete e meia ou oito. É um costume. Fico de madrugada
bolando as coisas que eu tenho que fazer, lendo e-mails.
Essa pergunta de ser rico... Rico é aquele que
vive como rico. Eu vivo para trabalhar. Sou uma pessoa
sozinha, não tenho esposa. Dedico aos meus negócios
e aos meus parceiros.
ÉPOCA OK.
Audi Eu vou falar uma coisa para você.
Eu detesto tomar bronca de guarda de trânsito,
amigo. Por isso faço tudo direitinho. Contratamos
os melhores advogados e as melhores consultorias para
fazer tudo direitinho. Eu detesto, detesto levar bronca
de guarda porque estou andando acima do limite de velocidade.
Por isso eu não ando. Da mesma forma, não
faço nada errado nos negócios. Porque
eu não quero amanhã ser chamado por você
para me perguntar sobre essas coisas. Tudo é
quadradinho para mim.
ÉPOCA O senhor é responsável
pela Química Industrial Paulista?
Audi Nunca fui responsável por
essa empresa. Nem fui diretor dela, nem acionista nem
nada. Era uma empresa do meu pai (o empresário
Nagib Audi), fundada por ele. Nunca fui responsável
por ela. Pode levantar na Junta e onde você quiser.
Você verá. Posso ser sincero com você?
ÉPOCA Claro.
Audi Esse é um assunto que me
irrita para caramba. Os caras falam umas idiotices sobre
mim, dizendo que eu tenho alguma coisa a ver com a Química.
Tanto é que nunca fui nada em relação
a essa empresa que fiquei brigado com meu pai. Não
falei com ele durante cinco anos. Só voltei a
falar um pouco antes dele morrer.
ÉPOCA É que nos temos
alguns cheques da Química Industrial Paulista
em que constam a sua assinatura. Mostram que o senhor
assinava sozinho pela empresa.
Audi É ridícula essa
acusação. Olha, amigo, se você pegar...
Eu simplesmente era filho dele. Uma vez ele sofreu uma
úlcera, quase morreu e me deu uma procuração.
Eu era o único filho dele que ele falava "olha,
assina por mim".
ÉPOCA Entendi.
Audi Por procuração.
Está mais do que explicado isso.
ÉPOCA Então o senhor
assinava porque tinha a procuração, não
porque mandava na empresa. Assinava pela empresa porque
o seu pai deixou uma procuração em seu
nome.
Audi Nunca tive nada com a empresa. Só assinei
porque era filho e em condições especiais.
Quando ele estava viajando... É algo comum. A
minha ex-mulher assina em empresa minha quando eu estou
viajando. Ex-mulher? É. É a pessoa que
eu confio. Não tenho outra pessoa.
ÉPOCA Entendi.
(Dr. Roberto Teixeira fala ao fundo: "Isso é
coragem!").
Audi Não, é confiança.
ÉPOCA Certo. O senhor lembra
onde estava em 1995?
Audi Não...
ÉPOCA Parece uma pergunta fora
de contexto, mas é importante. O senhor estava
no Brasil?
Audi Estava. Nunca saí do Brasil.
Nunca morei fora.
ÉPOCA Porque nós descobrimos
um documento, na verdade um perdão de uma dívida.
O senhor foi perdoado de uma dívida do banco
CCF. Eles alegaram que o senhor não tinha domicílio
fixo no Brasil em 1995 e não foi encontrado para
pagá-la.
Audi Ridículo. Não foi
isso. Não é que perdoaram. Quem devia
para o CCF naquela época era a Química
Industrial Paulista. Entendeu, não? Quando eles
meteram a ação, eles meteram a ação,
eu não me lembro porque eles meteram a ação.
Se eu tinha sido avalista de um empréstimo ou
alguma coisa assim.
ÉPOCA Da Química?
Audi É. Não, de uma outra
empresa do meu pai. Não me lembro de qual. Depois,
quando o banco moveu a ação, ele me excluiu
da ação. Simplesmente falou "ó,
o cara não tem nada com isso". Foi isso.
ÉPOCA É que nós
temos esse documento. O banco diz claramente que você
foi perdoado porque não foi encontrado. E não
tinha recursos. Nós falamos com o escritório
de advocacia do CCF na ocasião e eles confirmaram
a história.
Audi Tudo bem. Se não me encontraram,
não me encontraram. Mas não que eu morasse
fora, pois eu nunca morei fora.
(Dr. Roberto Teixeira: "É a primeira vez
que eu ouço que um banco perdoou uma dívida
porque não encontrou uma pessoa".)
ÉPOCA Isso não é
comum mesmo. É bem estranho, não é?
(Dr. Roberto Teixeira: "Eu não conheço,
estou falando de fora, mas em Direito isso significa
que era parte ilegítima para estar no foro...")
Audi (Interrompendo) Isso, era ilegítima.
Como chama? É aval de ascendente, ou de descendente.
Alguma coisa assim. Aí eles queriam me tirar
porque....Sabe o que eu acho que eles fizeram aqui,
Dr. Roberto? Eu poderia ter atrapalhado. Eu não
ia fazer isso, mas eu não me dava com o meu pai
na época. Eu não falava com ele. Tive
uma briga com ele, uma coisa minha particular. E eu
acho que eles me excluíram disso, estou me lembrando
agora, acho que eles me excluíram disso para
que eu não atrapalhasse a ação
deles contra o meu pai.
(Dr. Roberto Teixeira: "O teu
direito criaria uma dificuldade...")
Audi Isso, exatamente. Criaria uma
dificuldade dentro do processo. Eu nem fiquei sabendo
disso. Você pode ir atrás desse processo.
Pergunta se tem uma assinatura minha. Eles me excluíram
simplesmente. Eles excluíram. Porque parece que
eu podia ser uma pedra no sapato deles. Mal sabe eles
que eu estava tão brigado com o meu pai na época...
(Dr. Roberto Teixeira: "Isso".)
Audi Mas vê lá. Manda
pegar isso. Vê lá. Vê se eu assinei
algum acordo dizendo que eu to fora. Não assinei.
Entendeu, não?
ÉPOCA Entendi.
Audi E a coisa continuou. Era um processo
contra uma das empresas dele...
ÉPOCA OK. Mas deixa eu entender
uma coisa: você estava brigado com ele e, mesmo
com a briga, ele te deu uma procuração
para assinar aquele cheque da Química?
Audi É, eu estava brigado...
É o seguinte. A gente tinha brigado no trabalho.
O que acontece: a gente tinha cabeças diferentes.
Eu tinha um direcionamento... Eu comecei a trabalhar
com ele aos 13 anos de idade. Comecei desde cedo. Mas
chegou uma hora que eu tinha a minha opinião
e um caminho a seguir e ele tinha o dele. Só
que ele era o dono.
ÉPOCA Compreendo.
Audi Quem ganha a briga? Era o dono
e pai.
ÉPOCA Competição
injusta.
Audi Completamente injusta. E pai bravo.
Para você ter uma idéia, eu fui dar um
beijo no rosto do meu pai quando ele estava morrendo
na cama.
ÉPOCA Nossa.
Audi É uma educação
meia, meia não, forte. E vou te dizer o seguinte.
Vou te contar porque eu voltei. Eu ainda era a pessoa
em que ele confiava. Tá certo? Então eu
tinha a procuração. Quando precisava,
vinha o papel para assinar e eu assinava. Não
tinha problema nenhum. Eu não misturava as coisas.
Tinha a minha mãe, tenho os meus irmãos.
Entendeu, não? Mas eu jamais trabalharia com
ele de novo por nada na minha vida. Por nada, nada,
nada. Não tinha mais conversa de negócios.
Eu já estava seguindo o meu caminho empresarial.
E uma das brigas que ele teve comigo foi porque ele
disse que eu abandonei ele, sabe aquelas coisas de pai
e filho?
ÉPOCA Sei.
Audi Foi isso. Entendeu? Não
adianta imputar uma coisa que não foi realidade.
Eu nunca falo isso para ninguém porque é
uma coisa muito particular. Amanhã você
vai botar "ah, ele era brigado com o pai".
Eu vou te contar uma história para você
entender a verdade da coisa. Eu fiquei cinco anos sem
falar com o meu pai. Eu tinha procuração,
tal, mas não misturávamos as coisas. Eu
era a pessoa que ele falava "esse cara não
vai me roubar". Acho que, na realidade, era isso.
ÉPOCA Qual é a sua história
com o sr. Jefferson Araújo de Almeida (ex-sócio
que briga com Audi na Justiça)?
Audi A história do Jefferson
não é comigo. É com o meu pai.
Ele era sócio do meu pai. Numa empresa chamada
Tucson Aviação. Eu comprei essa empresa
do meu pai e aí comecei minha vida empresarial.
Meu pai não me dava nada de graça, para
filho nenhum, para ninguém. Então fui
lá e comprei dele. Ele já tinha uma briga
societária com o Jefferson. Sei lá o que
eles tinham. Quando eu entrei na empresa, lá
para 1994 e 1995, não tinha nada contra o senhor
Jefferson de Almeida. Daí cheguei para ele e
disse: "Olha, você não me conhece
e eu não te conheço. Toca o seu negócio
e eu toco o meu, daí a gente usa essa empresa
como a nossa, a nossa coisa.
ÉPOCA Que coisa?
Audi Nós fizemos um acordo.
Nunca tive briga com o Jefferson. Até um dia
em que eu recebi uma notificação dele
dizendo o seguinte: "ou você me paga R$ 30
mil por mês fixos ou eu vou paralisar a empresa".
Eu não sou um cara de conversar muito. Então,
peguei essa notificação e entrei na Justiça
contra ele. Daí o Jefferson parou de assinar
os cheques da empresa. Os empregados todos ficaram sem
salário. Daí o juiz um dia chamou a gente.
Ele perguntou porque o Jefferson parou de assinar os
cheques. Daí o Jefferson falou um monte de besteiras
e o juiz falou: "O senhor não tem direito.
Um sócio seu não pode lhe pagar um salário.
E o senhor não pode se negar a assinar os cheques
de funcionários. O senhor não está
assinando cheques para o seu sócio. Aí
ele (Jefferson) discutiu com o juiz. O juiz disse: "Você
tem certeza que quer discutir comigo?". O Jefferson
disse que sim. E o juiz o afastou da administração.
Começou assim.
ÉPOCA OK.
Audi Quando ele foi afastado, começaram
a aparecer os problemas. A gente vem nessa discussão.
E ele vem tentando, até o julgamento final, que
vai ser agora, imputar uma série de acusações
idiotas a meu respeito.
ÉPOCA Ele fala sobre a história
da falsificação de assinatura de um sócio...
Audi (Interrompendo) Nunca teve falsificação
de assinatura. Não era sócio. A história
é a seguinte. O nome dele é Palmarino
Landi Neto. Ele foi meu segundo pai. Trabalhou com meu
pai, sei lá, por 50 anos. Numa empresa minha,
ele tinha 0,1% do capital, o equivalente a R$ 800, porque
uma empresa têm de ter dois sócios pela
lei. E ele deixou um papel assinado com meu diretor
administrativo, Reinaldo Papacidro. Um dia eu precisava
modificar o diabo do contrato social da empresa, botar
uma coisa lá, e o Reinaldo usou o papel.
ÉPOCA Um papel assinado em
branco?
Audi Foi por um erro. Vou dizer o porquê.
Por que o contrato social permitia a mudança
sem a assinatura dele. Ele tinha 0,1%. Então
foi um erro. Houve um erro. Fomos à Junta, explicamos,
cancelamos aquele contrato e fizemos outro.
ÉPOCA A Junta Comercial anulou
o contrato por conter vício de validade (falsificação
de assinatura).
Audi Nós fomos lá e fizemos
outro. Está tudo regularizado. Não existe
fraude, desculpe. Daí o Jefferson arrumou um
perito no interior do Paraná que disse que a
assinatura era falsa. Eu disse para o Jefferson: "Se
a assinatura é falsa, quem assinou?". Você
entendeu? Isso é briga de marido e mulher. Ele
(Jefferson) se sentiu muito prejudicado. Não
é só isso que ele fala contra mim. Ele
fala o negócio do governo do Estado, da licitação
da Polícia.
ÉPOCA Existe um parecer da
Assessoria Técnica do Tribunal de Contas do Estado
dizendo que essa licitação foi irregular.
Audi Não.
ÉPOCA Existe. Diz que a empresa
que o sr. tem, chamada Lumber, devia ser desclassificada
da licitação. Inclusive o tribunal notificou
a Polícia Civil. E também há problemas
com Infraero. O sr. pode explicar essas histórias?
Audi Eu tenho uma briga com a Infraero.
No auge da briga, ele (Jefferson) foi lá e cutucou
a Infraero. (Audi vira-se para o Dr. Roberto Teixeira:
"Aqueles negócios que você conhece
bem da Infraero. Não há ninguém
nessa sala que conheça melhor do que você
a Infraero"). A Infraero veio e me notificou. Disse
que, quando o contrato vencesse, ele não seria
renovado. Como? Eu construí esse negócio
aqui (o hangar). Nunca atrasei um pagamento. Nunca fiz
nada.
ÉPOCA Mas a concessão
estava regular?
Audi Estava totalmente regular.
ÉPOCA É que a Infraero
diz que não estava.
Audi Eu tenho uma briga com a Infraero.
É uma briga de renovatória de contrato.
Só isso. A história é a seguinte.
Quando estava chegando no fim do contrato, a Infraero
me notificou e disse que não tinha interesse
em renovação do contrato. Aí eu
perguntei o porquê. Eles me disseram que eu tinha
uma briga judicial com o meu sócio e eles não
tinham interesse. Mas não é assim. A lei
está aí para aqueles que estão
sendo injustiçados. Aí eu disse que o
sócio havia sido afastado, que a empresa tinha
32 anos de atividade no mercado e 400 pessoas trabalhando.
Não pensa que é falar assim pra mim "não
vamos renovar". Entrei na Justiça, ganhei
uma liminar e estou na briga. Nunca deixei de pagar
nada.
ÉPOCA A Infraero diz que você
devia. Algo como R$ 200 mil, que você só
pagou quando entrou com a liminar.
Audi Não lembro disso não.
Mas tudo bem. Se foi, foi por causa da briga com o Jefferson.
Eu nunca tive problema de dinheiro. O negócio
é o seguinte: se existia alguma pendência,
foi tudo pago. Se não foi pago, foi por causa
do Jefferson. Eu nunca tive problema de caixa. Não
atraso minhas contas.
ÉPOCA Sobre a acusação
de fraude da licitação Polícia...
Audi (Interrompendo) É importante
eu falar isso. É o seguinte. Um dia eu estou
lá trabalhando e vem um diretor da Polícia
e me diz que estavam saindo de um hangar de lá.
Não temos onde ficar. Sabe o que eu fiz? Disse
"olha, temos aqui o espaço, pode ficar.
Eu não te cobro nada. Fica aqui. Você não
vai deixar o helicóptero na rua".
ÉPOCA Não tinha licitação.
Audi Não. E nem eles me pagaram
por isso.
ÉPOCA Foi na camaradagem.
Audi Isso, totalmente na camaradagem.
A Polícia queria ficar, mas daí precisava
de licitação. Então íamos
participar da licitação com a Tucson.
Mas não dava, porque o Jefferson estava brigado
comigo. Então participamos com a dona da Tucson,
a Lumber. Tem algo ilegal? Todos os meus advogados dizem
que não.
ÉPOCA OK.
Audi Só para você ter
idéia de como eu sou correto e direito. Essa
é a verdade a respeito dessa fortuna que eu recebo
da Polícia, que é de R$ 9 mil por mês.
Para deixar dois helicópteros lá e ter
25 policiais bebendo água e tal. Se não
são R$ 9 mil, são R$ 10 mil. Esse é
o tal contrato de licitação. É
um número ridículo.
ÉPOCA Nós conversamos
com várias pessoas do mercado de aviação.
Pessoal do Campo de Marte, seus concorrentes, funcionários
da Varig, ex-funcionários da Varig, empresas
de manutenção etc. É comum um estranhamento
pelo fato de a Volo ter comprado a Varig. Principalmente
em relação à sua figura. Por que
o senhor acha que existe esse estranhamento? As pessoas
falam que o senhor nunca teve dinheiro para comprar
a Varig, que não tem experiência na aviação
civil.
Audi É o que eu te disse no
começo. Tem aqueles que pensam e não fazem.
Eu faço. Tudo o que eu me propus a fazer na minha
vida eu fiz. A única coisa que eu ganhei de alguém
foi meu primeiro carro, um Passat 1979 do meu pai. O
resto eu tive que conquistar. Nunca mais eu tive nada
de ninguém. Eu fiz a minha vida. As pessoas falam
que eu sou agressivo. Sou um empresário agressivo?
Sou. Sou sim.
ÉPOCA Falaram que você
anda armado.
Audi Não. Claro que não...
(Silêncio). Que ridículo. Claro que não.
É o tal negócio: quantas pessoas não
gostariam de ter comprado (a Varig). Quantas? Onde eles
estavam na hora de comprar? Eles deviam estar tomando
um choppinho enquanto eu estava aqui, pensando, tentando
convencer investidor americano a pôr dinheiro,
a ver como é que faz. Não é fácil.
Eu vejo todos os meus amigos, empresários. Eu
estou aqui às dez e meia da noite e tem amigo
meu me ligando. "Pô, cara, vem para cá
pro bar". E eu trabalhando. Essa é a diferença.
Isso talvez incomode muita gente. Porque eles queriam
a Varig, mas eu comprei. Vai lá no Campo de Marte
para ver a situação do mercado de aviação
daqui. Você rodou os hangares?
ÉPOCA Sim.
Audi É tudo cheio de teia de
aranha. Hangar sem pintar. Um bando de mortos. Eu falo
mesmo, não tenho papas na língua. Cada
um tinha de fazer da sua empresa A empresa. Porque a
minha dá maior número de empregos, nunca
passou necessidade de capital? Porque eu trabalhei muito,
amigo. Agora, o cara está ali, é um ciclo
vicioso. Não troca a luz por causa disso, não
troca o piso por causa daquilo. Nada de luxo. Mas é
bem cuidado. Ninguém me liga para falar coisa
boa. É aquele tal negócio. Você
pega um bom diretor, um bom gerente e dá uma
meta pro cara, ele vai lá e alcança a
meta. E fica satisfeito. Consegue chegar lá.
Eu nunca estou satisfeito. Nunca consigo chegar lá.
A minha cabeça está tão na frente
que, na hora que eu consegui uma coisa, ela já
é passado. É a eterna busca do fazer,
pois estou sempre na frente. Eu queria dizer uma coisa
para você. Só nasce grande de um jeito:
herdado. Eu nunca herdei nada. Você está
me achando grande hoje como empresário, você
vai ver o que eu ainda vou fazer. Eu comecei do nada.
Teria nascido grande se eu tivesse nascido filho do
Antonio Ermírio de Moraes.
ÉPOCA Bom, seu pai era um grande
industrial paulista. Tinha muito dinheiro?
Audi Tinha. Mas sabe quanto eu vi do
dinheiro dele? Nada.
ÉPOCA Ele não te deixou
herança?
Audi Eu abri mão da minha herança.
ÉPOCA Por que?
Audi Porque sim. Deixa ela lá
para os meus irmãos, tenho um monte de irmãos
que precisam mais do que eu.
ÉPOCA Quantos irmãos
você tem?
Audi Sete. Ficou tudo para eles. Abri
mão do dinheiro. Sempre tive negócio meu.
As pessoas falam "nossa, como ele conseguiu (comprar
a Varig)? Não tinha dinheiro para isso".
Olha, se eu tiver dinheiro para bancar o que eu quero
na minha vida, é porque o negócio é
pequeno para mim. Entendeu, meu amigo?
ÉPOCA Entendi.
Audi É assim que a gente vai
crescendo? Incomoda as pessoas? Eu sei que incomoda.
Tanto os que não fizeram quanto a concorrência.
Era previsto que a Varig sobrevivesse? Não. Todos
pensavam que ela estava morta. Estavam festejando. Mas
ela não está morta. Ela vai voltar para
o espaço e atrapalhar as grandonas. Uma coisa
eu quero que você entenda. Você nunca vai
ouvir mentira minha. Vai ouvir o que eu penso. Você
pode até não gostar do tom, mas sempre
vou ser 100% sincero. Eu sou assim. Se não dá
para fazer, pode ser cruel, mas eu vou falar que não
dá para fazer. E algumas pessoas se incomodam
com isso. Ou o cara me odeia ou me ama. Não tem
mais ou menos.
ÉPOCA De acordo com tudo isso
que você falou, se está tudo direitinho
e transparente, porque o senhor está sendo processado
por várias pessoas e é acusado de lavagem
de dinheiro? Por que o senhor está sendo investigado
por três Ministérios Públicos? Procuradoria
Geral da República, da Fazenda Nacional...
Audi Posso te falar um negócio?
Isso é uma crueldade porque eu consegui fazer
o negócio da Varig. Mas eu ponho a minha vida
aberta para qualquer um desses. Contratem qualquer um.
Eu desafio essas instituições. Eu sou
100% certo. Já entreguei minha defesa a todos
esses órgãos. Tem gente que não
gosta de mim mesmo. As pessoas me perguntam quantos
eu vou demitir. Eu nunca demiti ninguém.
ÉPOCA E os 5 500 das últimas
semanas?
Audi Não fui eu. Quem demitiu
foi a Varig.
ÉPOCA Mas o senhor não
é o dono da Varig?
Audi Não sou dono da Varig.
Sou dono de uma empresa que comprou os direitos de rota
e a marca Varig. Não tenho nada a ver com a Varig
antiga. Tudo depende como você enxerga a coisa.
Vamos anunciar a compra de 50 aviões em alguns
dias. Isso gera 6 mil empregos imediatos.
ÉPOCA Mas as pessoas ficam
confusas em relação a isso. A Varig acabou
de mandar embora quase 6 mil. E o senhor diz que a sua
empresa vai contratar pessoas. Não faz sentido.
Audi A Varig Nova é uma empresa
nova. Não tem nada a ver com a Varig antiga.
ÉPOCA O senhor não tem
nenhuma responsabilidade sobre a Varig antiga?
Audi Não tenho nada com eles.
Há confusão. A operação
global da Varig velha permanece com os credores e a
Fundação Rubem Berta. Nós estamos
construindo uma nova empresa. Que, com certeza, vai
contratar gente. A nova empresa se chama VRG Linhas
Aéreas S/A. É a nossa empresa. Não
compramos a Varig antiga. Nós compramos um algo
virtual que o juízo da recuperação
vendeu. Eu neguei comprar os ativos tangíveis
da Varig. Não comprei patrimônio. Comprei
rotas e o nome. Só isso. Com isso eu recupero
a marca. A Varig velha, que tinha seu patrimônio
e as dívidas, é tudo deles (credores e
Fundação Rubem Berta).
(Dr. Roberto Teixeira: "Há
os ativos tangíveis e intangíveis. Comprou-se
o intangível. Vale dizer que, no dia seguinte,
o intangível valia zero. O parecer do juiz foi
esse. O que eles compraram foi a unidade produtiva.
É tão ignorante essa questão que
o mercado acionário, da Bovespa, aumentou o valor
da ação no dia seguinte da compra em 60%.
Como eles fizeram isso! Eles não compraram a
Varig. Não há ação da Varig
nova)
Audi Outro dia me ligou um cara falando:
"Posso comprar a Varig?". Eu disse que não
tinha nada a ver com isso. E ele falou: "Mas você
não comprou a Varig?". E eu disse que não.
Os credores e Rubem Berta tem R$ 4 bilhões de
ativos e mais não-sei-quanto de ICMS. Eles vão
fazer liquidação lá. É muito
fácil o cara falar alguma coisa sobre nós.
Mas eles não nos conhecem. Daqui a cinco anos
vão dizer que eu sou um cara que nasci virado
para a lua.
“Audi não
é piloto, é passageiro”
Jefferson Araújo de
Almeida, ex-sócio de Marco Antonio Audi, faz
revelações sobre o passado do novo dono
da Varig
Eduardo Vieira
ÉPOCA O senhor é sócio
do sr. Marco Antonio Audi?
Jefferson Araújo de Almeida A
minha empresa é sócia de uma empresa dele.
A empresa Tucson Aviação Ltda é
composta de duas empresas. A minha, chamada Airshop,
e a dele, chamada Lumber.
ÉPOCA Como o senhor se tornou
sócio dele?
Almeida Eu era comerciante de aviões
e usava muito o hangar Audi no Campo de Marte. Isso
nos anos 90. Nessa época, o hangar pertencia
ao pai do Marco, o Nagib Audi. Um dia propus de comprar
o hangar. Mas ele me convenceu a levar só a metade.
Então, fiquei sócio dele. Algum tempo
depois, o Nagib deixou o negócio de aviões
e passou a criar cavalos no interior de São Paulo.
E o Marco passou a tocar o negócio. Daí
nós fizemos um acordo de cotistas que previa
uma série de regras para manter a sociedade.
Mas ele começou a não cumprir essas regras.
E eu descobri que ele praticava ilegalidades na gestão.
ÉPOCA Que tipo de ilegalidades?
Almeida Pedi uma auditoria e descobri
que ele estava importando peças de forma ilegal.
Eu pedi que ele parasse com aquilo. Daí ele abriu
um processo contra mim para me tirar da empresa. Pediu
uma dissolução parcial da sociedade. Ele
disse ao juiz que eu atrapalhava a gestão da
empresa. E o juiz julgou por bem me afastar. Isso em
2001. Desde então travamos uma batalha judicial,
porque o Audi mentiu. E o fato é que eu tenho
50% da empresa. E quero ele fora. Para isso, venho colecionando
documentos que mostram como ele é desonesto.
ÉPOCA Quais documentos?
Almeida Papéis que mostram crimes
na gestão da Tucson, suspeita de contrabando,
falsificação de assinatura, uso de documento
público falso para ganhar uma licitação,
descumprimento de regras da Infraero, dívidas
trabalhistas, com o INSS, e por aí vai. Não
sou só eu que o acuso. O Sindicato das Empresas
Aeroviárias (Snea) também descobriu alguns
desses documentos, pois fez uma devassa na vida dele.
Audi deve para todo mundo, mas, subitamente, de uma
hora para outra arrumou dinheiro para comprar a Varig.
ÉPOCA Como assim "deve
para todo mundo"?
Almeida Eu acho que, por baixo, ele
deve uns R$ 100 milhões na praça. Mas
eu não sou investigador de polícia. Quem
tem de apurar isso são as autoridades. Eu entrei
com diversos processos contra o cidadão. São
todos públicos. Se as autoridades forem atrás,
vão descobrir o passado dele.
ÉPOCA O senhor tem informações
sobre a parceria do Audi com o fundo americano Matlin
Patterson?
Almeida Há dois anos, o Audi
foi processado porque devia R$ 13 mil a um fornecedor.
O juiz do caso não encontrou dinheiro e nem bens
em nome dele para pagar a dívida. As empresas
do Audi devem ao INSS. O que eu não entendo é
como um sujeito cheio de dívidas, que já
foi declarado pobre pela Justiça, conseguiu arrumar
US$ 500 milhões para comprar a Varig. Diante
disso, a única coisa que se pode concluir é
que o dinheiro não é dele. É do
fundo americano. O Audi pode até ter 80% do capital
votante da Varig, mas isso não significa que
ele é o dono da empresa. Então, meu amigo,
para responder a sua pergunta, acho que isso tem nome.
E não é "laranja". Isso é
ter um pé de laranja lima no quintal de casa.
Conheço o Marco há 30 anos. Dinheiro para
comprar a Varig ele não tem.
ÉPOCA O senhor odeia o Audi?
Almeida Não odeio ninguém.
Só quero o que é meu. Ele se apropriou
de maneira indébita de um patrimônio meu.
Me afastou da sociedade porque era amigo do juiz. Meus
telefones começaram a ser grampeados por ele
depois do processo. Fui ameaçado diversas vezes.
Fui até agredido.
ÉPOCA Pelo Audi?
Almeida Não. Ele mandou pessoas
para me agredir. Ele é agressivo. Anda armado.
Os bolsos da calça dele são feitos especialmente
para caber armas
ÉPOCA Que tipo de armas?
Almeida 38, magnum. Eu vi, era sócio
dele, ocupávamos a mesma sala. Ele chegava pela
manhã e tirava a arma do bolso para trabalhar.
Botava na gaveta. Quando saía, pegava a arma
e ia embora. Deve ser medo das pessoas que o perseguem,
porque ele não paga as dívidas.
ÉPOCA Ele já ameaçou
o senhor de morte?
Almeida Não. Mas eu sinto que
posso morrer a qualquer momento. Vasculhei a vida dele
inteira. Eu conheço bem o Marco. E isso me torna
uma pessoa perigosa para ele. Sou um arquivo vivo da
vida dele. De uma parte que ele quer apagar.
ÉPOCA O senhor tem medo de
morrer?
Almeida Não. Já vivi
63 anos. E não tenho medo de nada. Mas que existe
a possibilidade, não tenho dúvidas.
ÉPOCA O senhor conhece os outros
sócios dele na Volo?
Almeida Não.
ÉPOCA Sabe como o Audi conheceu
eles?
Almeida Não. A única
coisa estranha é que parece que eles são
laranjas do Marco. Outro dia um dos sócios foi
visto chegando numa reunião num Uno. Nada contra
o carro, mas quem compra a Varig pode ter um carrinho
melhor, não é?
ÉPOCA Como o senhor acha que
ele conseguiu dinheiro para comprar a Varig?
Almeida Como eu já disse, acho
que o dinheiro da Varig não é dele, mas
sim do fundo americano. Mas isso não significa
que ele não tenha dinheiro no exterior. O Audi
ganha comissões sobre a venda dos helicópteros
da marca americana Robinson. Agora, se traz esse dinheiro
para o Brasil, é uma dúvida que eu tenho.
Talvez ele guarde lá fora. Seria uma razão
para ele se envolver com a Varig, na minha opinião.
Talvez arrumar uma forma legal de pegar o dinheiro dele
no exterior e trazer para o Brasil. Uma coisa é
certa: ele não entende nada de companhia aérea,
nunca foi piloto de avião, nem diretor de empresa
aérea, nem nada. Tinha um hangar de helicópteros
e uma indústria química. Em avião
de linha aérea, ele é passageiro. Mas
talvez tenha arrumado um esquema para se beneficiar
com a crise da Varig. Talvez ele traga o dinheiro. O
Banco Central dá OK, porque a transação
é registrada. Mas talvez ele não aplique
o dinheiro dele na Varig. Será que vai para o
bolso dele? É outra dúvida que eu tenho.
Mas não tenho dúvidas que ele vai declarar
o Imposto de Renda dizendo que o dinheiro foi pra Varig.
É muito esperteza, não é? Mas ele
é assim. Esperto. Espero que as autoridades consigam
enxergar isso.