:::::RIO DE JANEIRO - 16 DE JULHO DE 2006 :::::
 

O Globo
16/07/06
Sindicato pede prioridade a ex-Varig em admissões

Cássia Almeida

A presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários (pessoal de terra), Selma Balbino, disse ontem que já pediu às outras companhias aéreas que, em futuras contratações, dêem prioridade aos demitidos da Varig, que deve ir a leilão no dia 19 de julho. O juiz da 8 Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio, Luiz Roberto Ayoub, um dos responsáveis pelo plano de recuperação judicial da Varig, informou que não há na proposta qualquer menção a número de demitidos, apesar de o advogado Otávio Neves, da associação Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), ter dito que nove mil empregados serão dispensados.

Segundo Ayoub, haverá a manutenção de algumas aeronaves, até chegar a 80 aviões, num prazo ainda a ser definido:

— Será dada prioridade a recontratação dos funcionários que não forem aproveitados. Mas é muito prematuro dizer quantos ficarão na companhia.

Ayoub reconheceu que a Varig tem um quadro inchado de funcionários e que a Nova Varig tem que começar enxuta:

— A Varig mantém o mesmo número de funcionários de quando tinha mais de cem aeronaves em operação. Nenhuma empresa consegue funcionar assim. Mas a falência não interessa a nenhum credor. O maior ativo da companhia são suas concessões que deixarão de existir com a falência.

Selma disse que o sindicato obteve um compromisso informal da VarigLog de que vai recontratar os trabalhadores assim que novas aeronaves sejam incorporadas à frota:

— Num prazo de seis meses depois da compra, eles acreditam que tenham mais dez aviões. Assim, esses trabalhadores voltariam à empresa.

VarigLog diz que não faltará dinheiro para indenizações

A Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil (Fentac) reúne hoje, a partir das 16h, os sindicatos de aeroviários e aeronautas (pilotos) para decidir a posição dos trabalhadores na assembléia de credores, que vai analisar amanhã a proposta de compra da Varig pela VarigLog.

— Estarão representantes de cinco sindicatos, de Rio, Pernambuco e Guarulhos para discutir a proposta — disse Celso Klafke, presidente da Fentac.

Segundo a assessoria de imprensa da VarigLog, a companhia está operando com 15 aviões, mas há planos para operação de 60 a 70. Assim, o pessoal seria gradativamente recontratado. Segundo a empresa, não faltará dinheiro para pagar as indenizações. A VarigLog já teria injetado US$ 13 milhões na companhia.


Zero Hora
16/07/06
Bilhete sem charme
Passageiros não têm garantia de embarque pela Varig em Paris, outrora um tradicional destino da companhia
FERNANDO EICHENBERG / Especial/Paris

Vai longe o tempo em que voar para Paris pela Varig era sinal de prestígio e status. Os passageiros entravam na vistosa loja da companhia, instalada na Avenida Champs-Elysées, como seres privilegiados. Um bilhete da Varig representava quase um cartão VIP.

Hoje, no entanto, são passageiros desesperados, irritados ou desanimados que procuram a agência da Varig em Paris (ainda situada na mesma avenida, mas em local mais modesto), com um bilhete na mão que não garante mais prestígio e muito menos um assento no vôo marcado. Segundo uma funcionária da loja parisiense, que preferiu não se identificar, a agência tem atendido uma média de cem passageiros por dia em busca de informações e de uma solução para os problemas causados pela crise da companhia.

O casal de paulistas Érica e Raul é um entre tantos exemplos. Em férias por 20 dias na Europa, e com retorno marcado para este sábado, eles não tinham certeza, durante a semana, da data do embarque de volta para casa. Na agência, foram informados de que deveriam estar às 12h no aeroporto Roissy Charles de Gaulle, e aguardar pela eventual confirmação de um vôo para São Paulo via Londres ou Frankfurt.

- É chegar lá ao meio-dia, rezar o terço e ver o que acontece. É uma pena, porque acabamos ficando tensos e não aproveitamos os últimos dias de viagem - disse Érica ao sair da loja da Varig.

O francês Julien, que comprara uma passagem Paris-Belém, estava bastante contrariado. Na agência, foi informado de que seria obrigado a permanecer dois dias em São Paulo antes de embarcar para o Pará.

- É uma esculhambação - reclamou Julien.

Vôos para o Brasil foram suspensos no dia 12 de junho

Recentemente, no dia em que a Air France, sem a garantia de que seria reembolsada, parou de aceitar passageiros da Varig, três brasileiros que já haviam feito o procedimento de embarque foram retirados por seguranças do interior do avião. Indignados, prometeram se dirigir no dia seguinte à Avenida Champs-Elysées para "quebrar" a loja da Varig. Se realmente foram não se sabe, pois, naquela época, a agência estava fechada.

Os vôos da Varig de Paris para o Brasil foram suspensos desde o dia 12 de junho. Todos os passageiros estão sendo reacomodados, na medida do possível, em vôos com partida de Frankfurt e Londres. Para a cidade alemã, o transporte tem sido assegurado pela Lufthansa, e, para a capital inglesa, pela British Midland. A Varig promete reativar a linha de Paris a partir do dia 20, mas nada garante que isso será possível.

Desde que assumiu as linhas internacionais da Panair, em 1965, e começou a voar para a Europa (Paris, Lisboa, Madri, Londres, Frankfurt, Milão e Roma), a Varig confirmou seu lugar entre as grandes companhias aéreas mundiais e fez história no Velho Continente. Nos tempos da ditadura militar, a loja da Varig na capital francesa servia de ponto de encontro para exilados e, ainda sem a Internet, era o local onde se podia ler a imprensa brasileira e obter alguma informação sobre o que se passava no país.

Na expectativa de mais um leilão nesta semana que possa solucionar sua delicada situação, a Varig faz o que pode para continuar voando. As turbulências estão mais presentes em terra do que no ar.


O Globo
15/07/2006 - 14h39m
Credores querem gestão profissional para aprovar plano de recuperação da Varig
Geralda Doca - O Globo


BRASÍLIA -Os credores aguardam até a noite deste domingo uma definição da direção da Varig para decidir se apoiarão a oferta da VarigLog que quer comprar a empresa, durante a assembléia, na segunda-feira.

Para aprovar a proposta, os credores querem ter a garantia de que a Varig antiga, que herdará o passivo de quase R$ 8 bilhões e permancerá em recuperação judicial, não terá qualquer interferência da Fundação Ruben Berta (FRB) por dois anos a contar da aprovação do plano. Eles também querem indicar um profissional do mercado para administrar o que sobrar da Varig durante esse período.

Caso leve a companhia, a VarigLog ficará com 13 aviões e 1.500 trabalhadores e dará preferência às rotas internacionais. Já a Varig antiga terá 50 empregados e herdará um avião que fará a rota Congonhas-Porto Seguro, além de fazer contratos de prestação de serviços com a nova empresa.

Segundo fontes que acompanham as negociações, caso sejam atendidas as exigências, a tendência é que os fornecedores públicos (Infraero, Banco do Brasil e BR Distribuidora) aprovem a proposta. Representantes desses credores aguardam ainda um posicionamento dos trabalhadores, que devem se reunir com a empresa neste sábado.

O plano de reestruturação prevê a demissão imediata de nove mil trabalhadores assim que sair o resultado do leilão, marcado para a quarta-feira. Mas, o dinheiro para o pagamento das verbas rescisórias não está previsto na proposta.


Gazeta Online
Varig quer demitir 9 mil funcionários após leilão

15/07/2006 12:21:55 - Globo Online

A Varig quer demitir cerca de nove mil trabalhadores após o leilão de ativos. Segundo o advogado Otávio Neves, da associação Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), a companhia informou ontem a credores que 1.500 a dois mil trabalhadores irão para a nova Varig, que terá 13 aviões. Já a antiga empresa — que não será vendida em leilão e ficará com a dívida de quase R$ 8 bilhões — terá apenas 50 funcionários e um avião. Segundo o advogado, que calcula em 11 mil o número de trabalhadores da Varig (a empresa diz que são dez mil), na proposta não estão previstos o custo da rescisão e quem pagará.

Já o possível retorno da Fundação Ruben Berta (FRB) ao poder, que entrou na discussão da reunião dos credores ontem e anteontem, foi descartado pela Justiça do Rio. A Justiça disse que apesar de ser dona das ações, a FRB não tem poder de gestão na Varig e depois do leilão também não terá voz na antiga Varig, que permanecerá em recuperação judicial por dois anos. Anteontem, a Varig disse que a FRB manteria o controle, em vez de diluir sua participação de 87% em um fundo com outros investidores, como estava previsto, para 5%. Após os dois anos, a Justiça poderá decidir sobre os poderes da FRB.

O governo reagiu com perplexidade ao reaparecimento da FRB no processo. Segundo uma fonte, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, teria ficado irritada. Ontem pela manhã, o comentário no Palácio do Planalto era que, se é para a Varig falir, a Fundação veio na hora certa.

A reunião com os credores foi preparatória para a assembléia oficial de segunda-feira. Nessa assembléia, os credores precisam aprovar um novo modelo de venda, a partir da proposta feita pela VarigLog, para que haja o leilão no dia 19.

Fontes que acompanham as negociações afirmaram que o fundo de pensão Aerus deverá aceitar a proposta. Os credores públicos ainda não tinham fechado uma posição, bem como os trabalhadores. Um dos temas ainda sem definição na proposta é quanto ao rateio dos créditos de R$ 5,8 bilhões que a Varig tem pelo congelamento de tarifas no Plano Cruzado e relativos ao ICMS.

Ontem, o juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8  Vara Empresarial do Rio, negou a petição dos trabalhadores para fazer nova proposta pela Varig (a oferta da TGV, no primeiro leilão, foi recusada).