REVISTA ISTO É
16/04/2007
EXCLUSIVO
Eis o mensalão da Infraero
Numa queixa-crime repleta de
provas, empresária denuncia
que seu sócio paga mesada a diretores da Infraero
Por Hugo Marques
ESTORVO Pereira não
consegue livrar-se da equipe de Carlos Wilson
Não se trata apenas de mais uma auditoria do Tribunal
de Contas da União. Desta vez, uma vasta documentação,
que inclui contratos, cópias de recibos, depósitos
bancários e arquivos de computador está
em poder da Polícia Federal do Paraná e
comprova que dentro da Infraero há anos existe
um milionário “mensalão”. Os
documentos foram entregues pela empresária Sílvia
Pfeiffer, e pode ser o fio da meada para explicar por
que o TCU tem encontrado tanto superfaturamento e licitações
irregulares na contabilidade da estatal. A empresária
de 47 anos trabalha há 20 com obras e veiculação
de publicidade nos aeroportos brasileiros e sua empresa
financiou parte do tal mensalão. Mais do que relatar
sua história e entregar documentos para a PF, Sílvia
está disposta a comparecer a uma CPI para detalhar
tudo o que sabe. São revelações importantes
que envolvem até um amigo pessoal do presidente
Lula: o empresário Walter Sâmara, também
do Paraná. Ele freqüenta os churrascos do
presidente, cruza o Brasil a bordo de seu próprio
avião e teria recomendado a Sílvia que procurasse
uma secretária de Lula para tratar sobre dinheiro
para o PT. Econômico em palavras, o superintendente
da PF no Paraná, delegado Jaber Saadi, tem plena
ciência do teor explosivo do material que tem em
mãos e, talvez por isso mesmo, limita-se a confirmar
o recebimento dos documentos. “Mandei instaurar
inquérito”, diz.
LIGAÇÕES EXPLOSIVAS
A denúncia que começa com depósitos
para a mulher de Ururahy (à esq.) na Infraero chega
a Sâmara, amigo de Lula
Em sua “notícia-crime” à PF,
Sílvia revela que seus contratos no Aeroporto Affonso
Pena, em Curitiba, foram obtidos à custa do pagamento
de uma mesada aos diretores da Infraero. Na verdade, uma
propina mensal que a empresa dela paga religiosamente
desde 2003. Às vezes, depósitos em dinheiro
que chegam a até R$ 20 mil nas contas correntes
de parentes dos diretores. Outras vezes, automóveis.
Essa é a contrapartida exigida para contratar os
serviços da empresa de Sílvia, a Aeromídia,
no aeroporto. A propina, no entanto, não se limita
ao aeroporto de Curitiba. A Aeromídia atua em vários
Estados e em todos o esquema é semelhante. Em Brasília,
por exemplo, a Infraero criou uma situação
irregular para veicular, com a intermediação
da Aeromídia, anúncios feitos pelo publicitário
Duda Mendonça, marqueteiro da primeira campanha
de Lula, para uma empresa de telefonia. Segundo Sílvia,
os anúncios foram veiculados sem que houvesse licitação
e sem que um contrato fosse formalizado. ISTOÉ
procurou o publicitário, que informou que só
pretende se manifestar “posteriormente”.
ELA ACUSA “O pagamento
do tal mensa linho era efetuado através da quitação
de bloquetos bancários expedidos pelo Banco do
Brasil contra a Aeromídia” Sílvia
pfeiffer, em relato feito à Polícia Federal
Para a oposição, as revelações
da empresária são munição
pesada. Mas há estilhaços para todos os
lados. A entrada de Sílvia no esquema da Infraero
recai sobre o ex-prefeito de Curitiba Cássio Taniguchi,
do DEM. Sílvia tinha dificuldade para obter alvarás
de funcionamento para veicular seus anúncios nos
aeroportos. Por conta desses problemas, ela foi procurada
pelo então secretário de Urbanismo da Prefeitura
de Curitiba, Carlos Alberto Carvalho. O secretário
foi explícito na condição heterodoxa
que sugeriu para liberar os alvarás: ele propunha
se tornar sócio da Aeromídia. Sílvia
aceitou a proposta. O novo sócio começou
primeiro a dar “sumiço” nas multas
da prefeitura contra a Aeromídia. Em seguida, a
empresa passou a emitir notas frias e fechar contratos
irregulares. Até que se tornou sede de reuniões
políticas da campanha de reeleição
de Cássio Taniguchi. Sílvia entregou à
PF as planilhas que demonstram uma arrecadação
de R$ 20 milhões, através da Aeromídia,
para o caixa 2 da campanha.
A advogada Luciana Reis, que defende Carlos Alberto,
nega as acusações. “A Sílvia
é quem tocava a empresa nessa época, ela
é que fez coisa errada”, diz Luciana. Carlos
Alberto também nega: “Não existe mensalinho”,
diz. Taniguchi, atual secretário do Desenvolvimento
Urbano do DF, nega, por meio de sua assessoria, as denúncias
de Sílvia. Mas admitiu que manteve sociedade em
negócios com seu ex-secretário de Turismo.
O que se iniciou com o caixa 2 na campanha de Taniguchi
prosperou para um esquema que sobreviveu à sua
saída da prefeitura e se transferiu para a Infraero.
Segundo Sílvia, Carlos Alberto Carvalho passou
de “corrupto a corruptor”, enviando dinheiro
para os diretores da estatal que cuida dos aeroportos.
A lista de beneficiários da mesada se inicia pelo
atual superintendente da Infraero no Paraná, Antonio
Felipe Barcelos. Sílvia contratou na Aeromídia,
como favor, a filha de Barcelos, Lorena. Antônio
Felipe confirma que a filha fez “estágio”
na Aeromídia, mas nega ter recebido dinheiro. A
relação prossegue com o ex-superintendente
da Infraero em Alagoas e no Paraná Mário
de Ururahy Macedo Neto, favorecido com pagamentos mensais
“em troca de contratos e de informações
privilegiadas”.
Na documentação apresentada à Polícia
Federal por Sílvia, há depósitos
bancários feitos em nome da mulher de Mário,
Hildebrandina Olímpia Silvia Macedo. A Aeromídia
chegou a pagar também a faculdade da filha de Mário
de Ururahy, Ana Carolina. Os boletos bancários
da faculdade estão com a PF como prova. Atualmente,
Mário trabalha na Infraero em Brasília,
como assessor da diretora de Engenharia, Eleuza Therezinha
Lores, apontada pelo TCU como a responsável por
vários contratos superfaturados da estatal. Segundo
a empresa, ele está de “licença médica”.
A lista do mensalão continua com o gerente comercial
do Aeroporto Afonso Pena, Arlindo Lima Filho. O filho
de Arlindo, Jean, também foi contratado pela Aeromídia.
Segundo Sílvia, apenas para “receber as comissões”
que eram pagas a seu pai. Arlindo confirma que o filho
fez “estágio” na Aeromídia,
mas nega ter recebido propina. “Se eu tivesse recebido
comissão estava rico”, diz.
O que Sílvia está disposta a contar na
CPI é que a rotina de pagamento de propina no Paraná
segue um modelo que se repete em todo o País. Ela
pretende revelar, por exemplo, que o superintendente de
Logística e Carga da Infraero, Luiz Gustavo da
Silva Schild, recebeu o mensalão pago por ela.
Pelo menos um depósito, de R$ 20 mil, foi feito
através de depósito em conta bancária,
e pode ser comprovado. Ela chegará ao ex-presidente
da Infraero deputado Carlos Wilson (PT-PE). De acordo
com ela, um assessor da estatal, Eurico José Bernardo
Loyo, fazia os “acertos” nos contratos da
Aeromídia em nome de Carlos Wilson. “Não
sei do que se trata mesmo”, diz Carlos Wilson. “O
Eurico José não tinha poder de falar em
nome da empresa.”
Para a empresária, o superfaturamento de até
357% nos materiais e nas obras de aeroportos brasileiros,
verificado pelo Tribunal de Contas da União nas
auditorias que fez na Infraero, é uma das origens
da propina cobrada. Outro alvo de Sílvia será
o diretor de Administração da Infraero,
Marco Antonio Marques de Oliveira, que teria autorizado
um contrato irregular da Aeromídia no Aeroporto
de Brasília. Há ainda detalhes que ela pretende
revelar sobre um contrato da Infraero com a Empresa de
Correios e Telégrafos. Procurados por ISTOÉ,
os diretores da estatal não responderam.
A caixa-preta que a empresária pretende abrir
será um novo ingrediente a tornar mais denso o
cipoal em que se meteu o atual presidente da Infraero,
brigadeiro José Carlos Pereira. Desde que começaram
a estourar as denúncias contra a estatal, ele tem
comentado com vários interlocutores que não
consegue se livrar da equipe deixada por Carlos Wilson,
responsável pelas denúncias contra a estatal.
“Sinto-me um iraquiano a bordo de um avião
cheio.
Jornal do Brasil
16/04/2007
Glide Slope - Manobra errada estraga
dois 777-300 ER
Postado por: marceloambrosio
Imagine o susto de quem estava a bordo. Os dois principais
jatos da PIA, a empresa aérea paquistanesa, se
chocaram na madrugada de domingo quando se preparavam
para decolar no aeroporto de Karachi. Felizmente, o acidente
não causou danos além do pânico nos
passageiros e dos arranhões na reputação
da empresa. Coerentemente, a PIA acusa funcionários
do aeroporto - de uma empresa estatal - de ter responsabilidade
no ocorrido.
As duas aeronaves eram Boeing 777-300ER (Extended Range,
a versão de maior alcance que a Boeing lançou
para concorrer com o Airbus 380, com sucesso diga-se de
passagem) e eram os únicos da frota da PIA certificados
para voar para destinos na Europa. Os prefixos, BHW e
BHV mostram que ambos foram entregues recentemente. O
choque ocorreu quando o primeiro jato a receber o OK foi
desligado do finger e empurrado pelo rebocador. Aparentemente,
o operador errou o cálculo da manobra e girou a
aeronave antes da hora. Com isso, o winglet do jato atingiu
e arrancou o cone de cauda, situado atrás do leme
vertical do outro jato.
Os passageiros dos dois aviões perceberam que
a colisão aconteceria, mas nada puderam fazer.
O 777 que estava sendo empurrado para o taxi foi reparado
no próprio aeroporto e voltou à operação.
O outro está parado aguardando que uma equipe da
Boeing faça o conserto. Na troca de acusações,
a versão da empresa aérea parece ser mais
coerente, já que a operação de reboque
é a primeira fase da decolagem. Os engenheiros
disseram que a marcação pintada no chão
estava errada, o que levou o operador do reboque ao erro.
Vale lembrar que o 777 tem uma envergadura bastante grande.
A companhia que opera o aeroporto afirma que o choque
se deu em uma área de manutenção
- na qual os reboques são operados por mecânicos
da empresa aérea. A justificativa tem contra si
o fato de um incidente similar ter ocorrido perto do finger
no mesmo aeroporto de Karachi, há alguns meses.
Na ocasião, a responsabilidade não pode
ser negada.
O Estado de São Paulo
15/04/2007
Pluna cobra dívida da Varig
Uruguaios exigem US$ 1 milhão;
é a segunda cobrança de uma companhia estrangeira
em menos de 10 dias
EFE
A companhia uruguaia de aviação Pluna intimou
a Varig a pagar uma dívida de US$ 1 milhão.
Se a empresa brasileira não efetuar o pagamento,
a Pluna ameaça ir à Justiça e promete
não aceitar mais bilhetes emitidos pela Varig a
partir de amanhã.
Esta é a segunda cobrança de uma companhia
estrangeira à Varig em pouco mais de uma semana.
No dia 5 de abril, a chilena LAN cobrou da Varig um empréstimo
de US$ 17,1 milhões. As duas cobranças ocorrem
depois que a Gol comprou as operações da
Nova Varig.
A carta enviada pela Pluna à Varig, segundo o
jornal uruguaio Últimas Noticias, expressa o mal-estar
pela deterioração das relações
comerciais entre as duas empresas. A Varig manteve uma
participação de 49% no capital da Pluna
entre 1994 e meados de 2005. A carta é assinado
pela gerente-geral da Pluna, Elina Rodríguez, e
pela advogada Cecilia Demarco.
No documento, a Pluna lembra que, apesar da grave crise
da Varig, continuou aceitando os passageiros da companhia
brasileira - mesmo depois de a empresa ter sido comprada
pela ex-subsidiária VarigLog. Para a Pluna, a venda
da Varig para a Gol implica a colocação
das contas entre as duas empresas 'em dia'.
A Pluna afirma que 'como a situação atual
é absolutamente inaceitável, a diretoria
decidiu que, em caso de não receber uma resposta
favorável por parte da Varig, não aceitará
nenhum bilhete emitido pela companhia brasileira'. A medida
passa a valer a partir da meia-noite do dia 17.
PROCESSO
A carta lamenta 'sinceramente' que não se tenha
encontrado uma solução benéfica para
as duas partes, apesar do 'árduo trabalho' realizado
pela Pluna com esse objetivo.
A nota conclui dizendo que 'se a Varig não pagar
toda a sua dívida ou não assinar ao menos
um acordo, não teremos outra opção
que não seja exercer as ações correspondentes,
o que inclui um processo judicial de cobrança dos
valores devidos'.
Quando cobrou a Varig, a chilena LAN emitiu um comunicado
em que dizia que 'no momento em que completar sua venda
para a Gol, a Nova Varig deverá pagar à
LAN o valor de US$ 17,1 milhões, acrescido de juros'.
A Gol respondeu que o passivo da Varig com a LAN não
fazia parte do balanço da empresa brasileira e,
portanto, 'deve ter sido saldado pelo antigo controlador'.
A Gol acertou a compra da Nova Varig, por US$ 320 milhões,
no dia 28 de março. Procurada para comentar a cobrança
da Pluna, a companhia não respondeu até
o fechamento desta edição.
www.midiamax.com
15/04/2007
Compadre de Lula é o primeiro
alvo de CPI do caos aéreo no Senado
Blog de Josias de Souza
O jornalista Josias de Souza informa em seu Blob que o
Palácio do Planalto tem fundadas razões
para recear a nova CPI do caos Aéreo, que está
em vias de ser requerida no Senado. A oposição
pretende protocolar o pedido de abertura da investigação
na Mesa do Senado até a próxima quarta-feira
(18). E já tem um primeiro alvo: o advogado Roberto
Teixeira (foto), compadre e íntimo amigo de Lula.
“A convocação de Roberto Teixeira
é inevitável”, disse ao blog, na noite
deste sábado (14), o senador José Agripino
Maia (RN), líder do DEM no Senado. “A Venda
da Varig foi operada por ele. Esse é um dos motivos
que levam o governo a ter tanto medo da investigação.
Eles temem que o compadre do presidente se transforme
no Paulo Okamoto desta CPI”, acrescentou o senador,
referindo-se ao presidente do Sebrae, que pagou uma dívida
de R$ 29,4 mil de Lula com o PT.
A compra da Varig pela Gol, um negócio de US$
320 milhões, é um dos objetos de investigação
da CPI do Senado. O pretexto inicial é perscrutar
a possibilidade de formação de um duopólio,
situação de mercado em que há somente
dois vendedores de uma mercadoria ou serviço. No
caso específico, Gol e TAM passaram a ter, em tese,
condições de promover acertos de preço
em desfavor dos usuários.
Daí para a convocação de Roberto
Teixeira, é um pulinho. Protagonista do maior negócio
da história da aviação brasileira,
o compadre de Lula voltou subitamente ao noticiário.
Ele é capa da edição desta semana
da revista IstoÉ. No último dia 28 de março,
os donos da Gol, Nenê Constantino e Constantino
de Oliveira Jr., foram recebidos em audiência por
Lula. A propósito de comunicar ao presidente o
fechamento do negócio que resultou na aquisição
da Varig, levaram a tiracolo Roberto Teixeira.
Antes, Nenê Constantino declarara publicamente
o seguinte: “Há seis meses, o presidente
Lula me pediu que entrasse nas negociações
para salvar a Varig.” A junção das
palavras do empresário com a participação
do amigo de Lula, açularam a suspeita da oposição
de que o governo possa ter agido para favorecer a Gol.
Daí o interesse em esquadrinhar o episódio
na nova CPI.
“É evidente que vamos chamar o senhor Roberto
Teixeira”, diz Agripino Maia. “Tem muita coisa
escondida. E vai aparecer na CPI. Essa é uma audiência
que terá de ser bem preparada. Esse camarada é
muito ousado. Ele esteve na CPI dos Bingos. Ostentou um
ar sobranceiro, altivo, superior”.
Agripino refere-se à convocação
de Roberto Teixeira para explicar, naquela que ficou conhecida
como a “CPI do Fim do Mundo”, as suspeitas
de que teria participado, na década de 90, de um
esquema de coleta de dinheiro junto a fornecedores de
prefeituras comandadas pelo PT, para rechear as arcas
do partido de Lula. Deu-se em 20 de abril de 2006 a inquirição.
Roberto Teixeira barrigou o depoimento o quanto pôde.
Faltou a duas sessões. Quando, afinal, viu-se frente
a frente com os senadores, respondeu a tudo o que lhe
foi perguntado, embora dispusesse de um habeas corpus
do STF autorizando-o a calar. Negou, negou e negou. Diante
de tantas negativas, os senadores não dispunham
de elementos para emparedá-lo. E o advogado saiu
da sessão ileso. Por isso Agripino Maia diz que
a nova inquirição, que dá como certa,
terá de ser “bem preparada”.
Ainda que Roberto Teixeira volte a sair ileso da prometida
convocação, o simples fato de a oposição
arrastá-lo de novo para um banco de CPI representará
um constrangimento para Lula. O presidente é padrinho
de uma filha do advogado, Valeska. Teixeira é padrinho
do filho mais novo de Lula, Luís Cláudio.
Nos tempos de vacas magras, Lula morou de graça
numa casa cedida pelo amigo.
Roberto Teixeira já ensaia o discurso. “Fui
ao encontro [dos donos da Gol com Lula] como o advogado
que estruturou o negócio jurídico [da compra
da Varig] e que tinha condições de dar explicações,
se fosse necessário”, disse ele ao repórter
Rodrigo Rangel. “E também porque é
prazeroso estar entre amigos, como é o presidente.
Não tenho por que me arrepender, pois minha presença
foi profissional".
O Estado de São Paulo
15/04/2007
Loteamento político da Infraero
foi ponto de partida do caos aéreo
Análise de organograma
mostra que empresa é dirigida por um consórcio
de 6 partidos, governistas e de oposição
Christiane Samarco
Alvo certo da CPI do Apagão Aéreo que o
Congresso está prestes a instalar, a Infraero vive
uma espécie de 'efeito Orloff' da situação
enfrentada pelos Correios em 2004, palco de escândalo
nacional depois da malsucedida experiência do loteamento
político por pelo menos três partidos (PT,
PMDB e PTB). O organograma da Infraero acomoda 33 postos
de comando - do presidente e seus 5 diretores aos 19 superintendentes
nacionais e 8 regionais espalhados pelo País. Mas
o exame minucioso do colegiado revela que a empresa é
dirigida por um consórcio eclético de fisiologismo
que junta seis partidos aliados e de oposição
ao governo.
Convivem ali afilhados de parlamentares do PT, PMDB,
PTB, PSB, do recém-criado PR (ex-PL) e até
do antigo PFL, rebatizado no mês passado de Democratas.
Todos atentos aos R$ 878 milhões de investimentos
em aeroportos que o Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC) prevê para este ano.
Esse cenário inspirou o brigadeiro Edilberto Sirotheau
a escrever uma carta de demissão premonitória
da Superintendência de Segurança Aeroportuária,
em abril de 2005. Sirotheau deixou a Infraero denunciando
a 'obsessiva prioridade às obras que proporcionam
'visibilidade', em detrimento das necessidades operacionais'.
O brigadeiro previa 'ocorrências graves em futuro
próximo'.
A profecia do brigadeiro se cumpriu 17 meses depois,
com o choque entre um jato Legacy, da Excel Aire (EUA),
e um Boeing da Gol, que matou 154 passageiros. A tragédia
desencadeou a operação-padrão dos
controladores e trouxe à tona casos como o do Aeroporto
de Congonhas: obras em ritmo apressado nos salões
de embarque para acomodar lojas e publicidade, com mais
conforto, sem dúvida, para os passageiros, mas
com a reforma das pistas atrasada em pelo menos quatro
anos.
O protesto de Sirotheau gerou polêmica, mas nem
por isso a pressão política arrefeceu de
lá para cá. O atual presidente da empresa,
brigadeiro José Carlos Pereira, chamado pelos funcionários
de 'J. Carlos', ampliou as indicações políticas
do antecessor, deputado Carlos Wilson (PT-PE). Na guerra
de bastidores que trava com Wilson, é o deputado
que se diz espantado com a 'ousadia' do brigadeiro.
PECADO CAPITAL
Para atender a indicações políticas,
Wilson chegou a dividir o Nordeste em duas regiões,
distribuindo o território por dois afilhados: um
governista e outro da oposição. Mas Wilson
diz que o brigadeiro 'J. Carlos' cometeu um erro grave
ao abrir cargos técnicos da Infraero a políticos
- uma referência aos superintendentes regionais
do Leste e do Sudeste.
No caso da Superintendência do Leste, com sede
em São Paulo e onde estão aeroportos estratégicos,
Edgard Brandão Júnior foi nomeado para atender
a um padrinho ilustre: o presidente da Câmara, Arlindo
Chinaglia (PT-SP), reconhecido por funcionários
e diretores da empresa como responsável pela indicação
do superintendente que administra os Aeroportos de Congonhas
e Guarulhos.
Um funcionário de carreira da Infraero atribui
boa parte da crise por que passa a empresa ao 'pecado
capital' que o brigadeiro teria cometido quando engendrou
sua sucessão. Apontado ele próprio como
afilhado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
por conta da amizade de sua ex-mulher com a primeira-dama
Marisa Letícia, Pereira era diretor de Operações
na gestão Carlos Wilson. Sua cadeira vinha sendo
tradicionalmente ocupada por brigadeiros da reserva, que
se encarregavam, entre outras funções, da
boa interlocução com os sargentos controladores
de vôo.
Ao desocupar o posto, Pereira atendeu a uma indicação
do PMDB e pôs na direção de Operações
um civil. O problema é que o civil nada tinha que
ver com a Infraero e, pior, já havia sido pivô
de uma crise política na base de apoio do governo
Fernando Henrique Cardoso, quando o mesmo PMDB tentou
emplacá-lo no comando da Companhia Docas do Pará.
À frente da liderança peemedebista na Câmara,
o deputado e hoje ministro da Integração
Nacional Geddel Vieira Lima (BA) chegou a protestar da
tribuna contra o recuo de Fernando Henrique, que simplesmente
'desnomeou' Rogério Amado Barzellay, depois de
confirmá-lo oficialmente nas Docas. O então
presidente só manteve o despejo do apadrinhado
do PMDB porque o governador tucano Almir Gabriel (PA)
ameaçou deixar o PSDB se Barzellay permanecesse
no cargo.
MAPA DIVIDIDO
Na gestão Carlos Wilson, que nos tempos de presidência
da Infraero era um ex-senador filiado ao PTB, a estatal
deu jeito na pressão do então PFL baiano
para acomodar os aliados do senador Antonio Carlos Magalhães
(DEM-BA) com uma solução tipicamente fisiológica:
inventou dois Nordestes. Foi assim que ele conseguiu manter
na regional do Nordeste, com sede no Recife , um superintendente
técnico do agrado do governador Jarbas Vasconcelos
(PMDB-PE) e do PFL pernambucano, sem protestos. Para tal,
criou a regional do Centro-Leste - formada apenas pelos
dois Estados então governados por pefelistas (Bahia
e Sergipe) - onde ACM emplacou o técnico Elvino
Ney Taques.
Logo que assumiu, Wilson teve de administrar o presidente
de seu PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson (RJ), que
ameaçou romper com o Palácio do Planalto
por conta da decisão de Lula de entregar-lhe o
comando da Infraero. Como prêmio de consolação,
Jefferson ganhou o direito de indicar o superintendente
regional do Leste, que administra os Aeroportos Santos
Dumont e Tom Jobim (antigo Galeão) - também
estratégicos na órbita do loteamento político.
Bastou Jefferson romper com o governo e o PTB perdeu
o cargo para o PT, que, aliado à CUT, indicou para
o posto o sindicalista Pedro Azambuja. Já o superintendente
do Centro-Oeste, Carlos Alberto Vilela, é fruto
de uma indicação do PR do vice-presidente
José Alencar. Mas seu padrinho é o deputado
Aelton Freitas (PR-MG), suplente de Alencar no Senado.
O técnico Nilo Sérgio Reinehr, da regional
Sul, tem a simpatia do PSB do vice-líder do governo
na Câmara, Beto Albuquerque (RS).
A lista de padrinhos inclui também políticos
agora sem mandato. É o caso do ex-deputado Leur
Lomanto (PMDB-BA), que perdeu a eleição
para a prefeitura de Jequié (BA), mas ganhou uma
diretoria da Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac). Foi ele quem indicou Lincoln Delbone para
a Superintendência de Relações Comerciais
da Infraero. Funcionários da empresa contam também
que o diretor de Administração, Marco Antonio
Marques de Oliveira, faz questão de expor sua ligação
com o ex-presidente Itamar Franco, com quem havia trabalhado
na Secretaria de Obras do governo de Minas.
Folha de São Paulo
14/04/2007
Varig prioriza retomada de vôos
à Europa
Companhia aérea precisa
voltar a operar uma série de vôos internacionais
até o mês de junho, sob pena de perdê-los
Avaliação é que é melhor garantir
primeiro vôos para aeroportos muito demandados,
como Frankfurt e Londres
MAELI PRADO DA REPORTAGEM LOCAL
JANAINA LAGE DA SUCURSAL DO RIO
A estratégia da Varig para atuar no mercado internacional
priorizará as rotas para a Europa, segundo a Folha
apurou. A execução da estratégia
desenhada pelos executivos da companhia depende ainda
do fechamento de negociações para retomada
de aviões.
A companhia já devolveu um MD-11 e conseguiu renovar
o contrato de outro, que estava prestes a ser entregue,
até junho. Apesar desta redução da
frota, a Varig não deverá abandonar as rotas
internacionais que opera atualmente: Frankfurt (Alemanha),
Buenos Aires (Argentina), Caracas (Venezuela) e Bogotá
(Colômbia).
A companhia aérea está agora diante de
uma corrida contra o tempo para fechar contratos de arrendamento
de aviões de longo curso, já que precisa
retomar uma série de vôos internacionais
até junho próximo, sob pena de perder as
autorizações para realizá-los.
A Gol, que comprou a Varig, já manifestou a intenção
de pedir a prorrogação desse prazo para
a Anac (Agência Nacional de Aviação
Civil), órgão regulador do setor aéreo.
Mas a TAM afirmou oficialmente à agência
que tem interesse em operar parte desses vôos e
que é contra o prazo ser adiado.
A prioridade dada à Europa reflete a presença
de aeroportos com espaços e horários para
pousos e decolagens muitos disputados pelas companhias
aéreas, como o de Londres e o de Frankfurt. A avaliação
da empresa aérea é de que é mais
fácil retomar vôos para os EUA porque as
autorizações para freqüências
não estariam sendo usadas integralmente.
Negociações
A entrada da Gol facilitou a retomada de conversas e
negociações com companhias e entidades que
haviam interrompido o relacionamento comercial com a Varig
no auge da crise da companhia aérea.
Dessa forma, a Varig já iniciou o começo
de aproximação com companhias aéreas
como Lufthansa e TAP, de acordo com o que a Folha apurou.
A definição sobre voltar a ingressar na
Star Alliance, acordo operacional entre companhias do
mundo todo, ou outra aliança vai depender do estreitamento
da relação comercial com antigas parceiras
da Varig.
A Varig pretende ainda voltar a participar da câmara
de compensação da Iata (International Air
Transportation Association). Esta câmara permite
que outras companhias ofereçam transporte a passageiros
da Varig em casos de problemas e vice-versa.
Para ser vendida em leilão no ano passado, a Varig
foi dividida em duas empresas: a velha, que ficou com
o passivo e que hoje não está em operação;
e a nova, sem dívidas, que foi vendida para a VarigLog.
É a Varig antiga que fazia parte da Star Alliance
e da Iata, mas como a VarigLog não pagou as dívidas
da "velha" Varig a companhia saiu da aliança
operacional e da câmara de compensação,
ou "clearing house", da associação.