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:::::RIO DE JANEIRO - 16 DE ABRIL DE 2007 :::::

 

REVISTA ISTO É
16/04/2007
EXCLUSIVO
Eis o mensalão da Infraero
Numa queixa-crime repleta de provas, empresária denuncia
que seu sócio paga mesada a diretores da Infraero

Por Hugo Marques


ESTORVO Pereira não consegue livrar-se da equipe de Carlos Wilson

Não se trata apenas de mais uma auditoria do Tribunal de Contas da União. Desta vez, uma vasta documentação, que inclui contratos, cópias de recibos, depósitos bancários e arquivos de computador está em poder da Polícia Federal do Paraná e comprova que dentro da Infraero há anos existe um milionário “mensalão”. Os documentos foram entregues pela empresária Sílvia Pfeiffer, e pode ser o fio da meada para explicar por que o TCU tem encontrado tanto superfaturamento e licitações irregulares na contabilidade da estatal. A empresária de 47 anos trabalha há 20 com obras e veiculação de publicidade nos aeroportos brasileiros e sua empresa financiou parte do tal mensalão. Mais do que relatar sua história e entregar documentos para a PF, Sílvia está disposta a comparecer a uma CPI para detalhar tudo o que sabe. São revelações importantes que envolvem até um amigo pessoal do presidente Lula: o empresário Walter Sâmara, também do Paraná. Ele freqüenta os churrascos do presidente, cruza o Brasil a bordo de seu próprio avião e teria recomendado a Sílvia que procurasse uma secretária de Lula para tratar sobre dinheiro para o PT. Econômico em palavras, o superintendente da PF no Paraná, delegado Jaber Saadi, tem plena ciência do teor explosivo do material que tem em mãos e, talvez por isso mesmo, limita-se a confirmar o recebimento dos documentos. “Mandei instaurar inquérito”, diz.


LIGAÇÕES EXPLOSIVAS A denúncia que começa com depósitos para a mulher de Ururahy (à esq.) na Infraero chega a Sâmara, amigo de Lula

Em sua “notícia-crime” à PF, Sílvia revela que seus contratos no Aeroporto Affonso Pena, em Curitiba, foram obtidos à custa do pagamento de uma mesada aos diretores da Infraero. Na verdade, uma propina mensal que a empresa dela paga religiosamente desde 2003. Às vezes, depósitos em dinheiro que chegam a até R$ 20 mil nas contas correntes de parentes dos diretores. Outras vezes, automóveis. Essa é a contrapartida exigida para contratar os serviços da empresa de Sílvia, a Aeromídia, no aeroporto. A propina, no entanto, não se limita ao aeroporto de Curitiba. A Aeromídia atua em vários Estados e em todos o esquema é semelhante. Em Brasília, por exemplo, a Infraero criou uma situação irregular para veicular, com a intermediação da Aeromídia, anúncios feitos pelo publicitário Duda Mendonça, marqueteiro da primeira campanha de Lula, para uma empresa de telefonia. Segundo Sílvia, os anúncios foram veiculados sem que houvesse licitação e sem que um contrato fosse formalizado. ISTOÉ procurou o publicitário, que informou que só pretende se manifestar “posteriormente”.


ELA ACUSA “O pagamento do tal mensa linho era efetuado através da quitação de bloquetos bancários expedidos pelo Banco do Brasil contra a Aeromídia” Sílvia pfeiffer, em relato feito à Polícia Federal

Para a oposição, as revelações da empresária são munição pesada. Mas há estilhaços para todos os lados. A entrada de Sílvia no esquema da Infraero recai sobre o ex-prefeito de Curitiba Cássio Taniguchi, do DEM. Sílvia tinha dificuldade para obter alvarás de funcionamento para veicular seus anúncios nos aeroportos. Por conta desses problemas, ela foi procurada pelo então secretário de Urbanismo da Prefeitura de Curitiba, Carlos Alberto Carvalho. O secretário foi explícito na condição heterodoxa que sugeriu para liberar os alvarás: ele propunha se tornar sócio da Aeromídia. Sílvia aceitou a proposta. O novo sócio começou primeiro a dar “sumiço” nas multas da prefeitura contra a Aeromídia. Em seguida, a empresa passou a emitir notas frias e fechar contratos irregulares. Até que se tornou sede de reuniões políticas da campanha de reeleição de Cássio Taniguchi. Sílvia entregou à PF as planilhas que demonstram uma arrecadação de R$ 20 milhões, através da Aeromídia, para o caixa 2 da campanha.

A advogada Luciana Reis, que defende Carlos Alberto, nega as acusações. “A Sílvia é quem tocava a empresa nessa época, ela é que fez coisa errada”, diz Luciana. Carlos Alberto também nega: “Não existe mensalinho”, diz. Taniguchi, atual secretário do Desenvolvimento Urbano do DF, nega, por meio de sua assessoria, as denúncias de Sílvia. Mas admitiu que manteve sociedade em negócios com seu ex-secretário de Turismo.

O que se iniciou com o caixa 2 na campanha de Taniguchi prosperou para um esquema que sobreviveu à sua saída da prefeitura e se transferiu para a Infraero. Segundo Sílvia, Carlos Alberto Carvalho passou de “corrupto a corruptor”, enviando dinheiro para os diretores da estatal que cuida dos aeroportos. A lista de beneficiários da mesada se inicia pelo atual superintendente da Infraero no Paraná, Antonio Felipe Barcelos. Sílvia contratou na Aeromídia, como favor, a filha de Barcelos, Lorena. Antônio Felipe confirma que a filha fez “estágio” na Aeromídia, mas nega ter recebido dinheiro. A relação prossegue com o ex-superintendente da Infraero em Alagoas e no Paraná Mário de Ururahy Macedo Neto, favorecido com pagamentos mensais “em troca de contratos e de informações privilegiadas”.

Na documentação apresentada à Polícia Federal por Sílvia, há depósitos bancários feitos em nome da mulher de Mário, Hildebrandina Olímpia Silvia Macedo. A Aeromídia chegou a pagar também a faculdade da filha de Mário de Ururahy, Ana Carolina. Os boletos bancários da faculdade estão com a PF como prova. Atualmente, Mário trabalha na Infraero em Brasília, como assessor da diretora de Engenharia, Eleuza Therezinha Lores, apontada pelo TCU como a responsável por vários contratos superfaturados da estatal. Segundo a empresa, ele está de “licença médica”. A lista do mensalão continua com o gerente comercial do Aeroporto Afonso Pena, Arlindo Lima Filho. O filho de Arlindo, Jean, também foi contratado pela Aeromídia. Segundo Sílvia, apenas para “receber as comissões” que eram pagas a seu pai. Arlindo confirma que o filho fez “estágio” na Aeromídia, mas nega ter recebido propina. “Se eu tivesse recebido comissão estava rico”, diz.

O que Sílvia está disposta a contar na CPI é que a rotina de pagamento de propina no Paraná segue um modelo que se repete em todo o País. Ela pretende revelar, por exemplo, que o superintendente de Logística e Carga da Infraero, Luiz Gustavo da Silva Schild, recebeu o mensalão pago por ela. Pelo menos um depósito, de R$ 20 mil, foi feito através de depósito em conta bancária, e pode ser comprovado. Ela chegará ao ex-presidente da Infraero deputado Carlos Wilson (PT-PE). De acordo com ela, um assessor da estatal, Eurico José Bernardo Loyo, fazia os “acertos” nos contratos da Aeromídia em nome de Carlos Wilson. “Não sei do que se trata mesmo”, diz Carlos Wilson. “O Eurico José não tinha poder de falar em nome da empresa.”

Para a empresária, o superfaturamento de até 357% nos materiais e nas obras de aeroportos brasileiros, verificado pelo Tribunal de Contas da União nas auditorias que fez na Infraero, é uma das origens da propina cobrada. Outro alvo de Sílvia será o diretor de Administração da Infraero, Marco Antonio Marques de Oliveira, que teria autorizado um contrato irregular da Aeromídia no Aeroporto de Brasília. Há ainda detalhes que ela pretende revelar sobre um contrato da Infraero com a Empresa de Correios e Telégrafos. Procurados por ISTOÉ, os diretores da estatal não responderam.

A caixa-preta que a empresária pretende abrir será um novo ingrediente a tornar mais denso o cipoal em que se meteu o atual presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira. Desde que começaram a estourar as denúncias contra a estatal, ele tem comentado com vários interlocutores que não consegue se livrar da equipe deixada por Carlos Wilson, responsável pelas denúncias contra a estatal. “Sinto-me um iraquiano a bordo de um avião cheio.

 

 

Jornal do Brasil
16/04/2007
Glide Slope - Manobra errada estraga dois 777-300 ER
Postado por: marceloambrosio

Imagine o susto de quem estava a bordo. Os dois principais jatos da PIA, a empresa aérea paquistanesa, se chocaram na madrugada de domingo quando se preparavam para decolar no aeroporto de Karachi. Felizmente, o acidente não causou danos além do pânico nos passageiros e dos arranhões na reputação da empresa. Coerentemente, a PIA acusa funcionários do aeroporto - de uma empresa estatal - de ter responsabilidade no ocorrido.

As duas aeronaves eram Boeing 777-300ER (Extended Range, a versão de maior alcance que a Boeing lançou para concorrer com o Airbus 380, com sucesso diga-se de passagem) e eram os únicos da frota da PIA certificados para voar para destinos na Europa. Os prefixos, BHW e BHV mostram que ambos foram entregues recentemente. O choque ocorreu quando o primeiro jato a receber o OK foi desligado do finger e empurrado pelo rebocador. Aparentemente, o operador errou o cálculo da manobra e girou a aeronave antes da hora. Com isso, o winglet do jato atingiu e arrancou o cone de cauda, situado atrás do leme vertical do outro jato.

Os passageiros dos dois aviões perceberam que a colisão aconteceria, mas nada puderam fazer. O 777 que estava sendo empurrado para o taxi foi reparado no próprio aeroporto e voltou à operação. O outro está parado aguardando que uma equipe da Boeing faça o conserto. Na troca de acusações, a versão da empresa aérea parece ser mais coerente, já que a operação de reboque é a primeira fase da decolagem. Os engenheiros disseram que a marcação pintada no chão estava errada, o que levou o operador do reboque ao erro. Vale lembrar que o 777 tem uma envergadura bastante grande.

A companhia que opera o aeroporto afirma que o choque se deu em uma área de manutenção - na qual os reboques são operados por mecânicos da empresa aérea. A justificativa tem contra si o fato de um incidente similar ter ocorrido perto do finger no mesmo aeroporto de Karachi, há alguns meses. Na ocasião, a responsabilidade não pode ser negada.

 

 

O Estado de São Paulo
15/04/2007
Pluna cobra dívida da Varig
Uruguaios exigem US$ 1 milhão; é a segunda cobrança de uma companhia estrangeira em menos de 10 dias
EFE

A companhia uruguaia de aviação Pluna intimou a Varig a pagar uma dívida de US$ 1 milhão. Se a empresa brasileira não efetuar o pagamento, a Pluna ameaça ir à Justiça e promete não aceitar mais bilhetes emitidos pela Varig a partir de amanhã.

Esta é a segunda cobrança de uma companhia estrangeira à Varig em pouco mais de uma semana. No dia 5 de abril, a chilena LAN cobrou da Varig um empréstimo de US$ 17,1 milhões. As duas cobranças ocorrem depois que a Gol comprou as operações da Nova Varig.

A carta enviada pela Pluna à Varig, segundo o jornal uruguaio Últimas Noticias, expressa o mal-estar pela deterioração das relações comerciais entre as duas empresas. A Varig manteve uma participação de 49% no capital da Pluna entre 1994 e meados de 2005. A carta é assinado pela gerente-geral da Pluna, Elina Rodríguez, e pela advogada Cecilia Demarco.

No documento, a Pluna lembra que, apesar da grave crise da Varig, continuou aceitando os passageiros da companhia brasileira - mesmo depois de a empresa ter sido comprada pela ex-subsidiária VarigLog. Para a Pluna, a venda da Varig para a Gol implica a colocação das contas entre as duas empresas 'em dia'.

A Pluna afirma que 'como a situação atual é absolutamente inaceitável, a diretoria decidiu que, em caso de não receber uma resposta favorável por parte da Varig, não aceitará nenhum bilhete emitido pela companhia brasileira'. A medida passa a valer a partir da meia-noite do dia 17.

PROCESSO

A carta lamenta 'sinceramente' que não se tenha encontrado uma solução benéfica para as duas partes, apesar do 'árduo trabalho' realizado pela Pluna com esse objetivo.

A nota conclui dizendo que 'se a Varig não pagar toda a sua dívida ou não assinar ao menos um acordo, não teremos outra opção que não seja exercer as ações correspondentes, o que inclui um processo judicial de cobrança dos valores devidos'.

Quando cobrou a Varig, a chilena LAN emitiu um comunicado em que dizia que 'no momento em que completar sua venda para a Gol, a Nova Varig deverá pagar à LAN o valor de US$ 17,1 milhões, acrescido de juros'. A Gol respondeu que o passivo da Varig com a LAN não fazia parte do balanço da empresa brasileira e, portanto, 'deve ter sido saldado pelo antigo controlador'.

A Gol acertou a compra da Nova Varig, por US$ 320 milhões, no dia 28 de março. Procurada para comentar a cobrança da Pluna, a companhia não respondeu até o fechamento desta edição.

 

 

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15/04/2007
Compadre de Lula é o primeiro alvo de CPI do caos aéreo no Senado
Blog de Josias de Souza

O jornalista Josias de Souza informa em seu Blob que o Palácio do Planalto tem fundadas razões para recear a nova CPI do caos Aéreo, que está em vias de ser requerida no Senado. A oposição pretende protocolar o pedido de abertura da investigação na Mesa do Senado até a próxima quarta-feira (18). E já tem um primeiro alvo: o advogado Roberto Teixeira (foto), compadre e íntimo amigo de Lula.

“A convocação de Roberto Teixeira é inevitável”, disse ao blog, na noite deste sábado (14), o senador José Agripino Maia (RN), líder do DEM no Senado. “A Venda da Varig foi operada por ele. Esse é um dos motivos que levam o governo a ter tanto medo da investigação. Eles temem que o compadre do presidente se transforme no Paulo Okamoto desta CPI”, acrescentou o senador, referindo-se ao presidente do Sebrae, que pagou uma dívida de R$ 29,4 mil de Lula com o PT.

A compra da Varig pela Gol, um negócio de US$ 320 milhões, é um dos objetos de investigação da CPI do Senado. O pretexto inicial é perscrutar a possibilidade de formação de um duopólio, situação de mercado em que há somente dois vendedores de uma mercadoria ou serviço. No caso específico, Gol e TAM passaram a ter, em tese, condições de promover acertos de preço em desfavor dos usuários.

Daí para a convocação de Roberto Teixeira, é um pulinho. Protagonista do maior negócio da história da aviação brasileira, o compadre de Lula voltou subitamente ao noticiário. Ele é capa da edição desta semana da revista IstoÉ. No último dia 28 de março, os donos da Gol, Nenê Constantino e Constantino de Oliveira Jr., foram recebidos em audiência por Lula. A propósito de comunicar ao presidente o fechamento do negócio que resultou na aquisição da Varig, levaram a tiracolo Roberto Teixeira.

Antes, Nenê Constantino declarara publicamente o seguinte: “Há seis meses, o presidente Lula me pediu que entrasse nas negociações para salvar a Varig.” A junção das palavras do empresário com a participação do amigo de Lula, açularam a suspeita da oposição de que o governo possa ter agido para favorecer a Gol. Daí o interesse em esquadrinhar o episódio na nova CPI.

“É evidente que vamos chamar o senhor Roberto Teixeira”, diz Agripino Maia. “Tem muita coisa escondida. E vai aparecer na CPI. Essa é uma audiência que terá de ser bem preparada. Esse camarada é muito ousado. Ele esteve na CPI dos Bingos. Ostentou um ar sobranceiro, altivo, superior”.

Agripino refere-se à convocação de Roberto Teixeira para explicar, naquela que ficou conhecida como a “CPI do Fim do Mundo”, as suspeitas de que teria participado, na década de 90, de um esquema de coleta de dinheiro junto a fornecedores de prefeituras comandadas pelo PT, para rechear as arcas do partido de Lula. Deu-se em 20 de abril de 2006 a inquirição.

Roberto Teixeira barrigou o depoimento o quanto pôde. Faltou a duas sessões. Quando, afinal, viu-se frente a frente com os senadores, respondeu a tudo o que lhe foi perguntado, embora dispusesse de um habeas corpus do STF autorizando-o a calar. Negou, negou e negou. Diante de tantas negativas, os senadores não dispunham de elementos para emparedá-lo. E o advogado saiu da sessão ileso. Por isso Agripino Maia diz que a nova inquirição, que dá como certa, terá de ser “bem preparada”.

Ainda que Roberto Teixeira volte a sair ileso da prometida convocação, o simples fato de a oposição arrastá-lo de novo para um banco de CPI representará um constrangimento para Lula. O presidente é padrinho de uma filha do advogado, Valeska. Teixeira é padrinho do filho mais novo de Lula, Luís Cláudio. Nos tempos de vacas magras, Lula morou de graça numa casa cedida pelo amigo.

Roberto Teixeira já ensaia o discurso. “Fui ao encontro [dos donos da Gol com Lula] como o advogado que estruturou o negócio jurídico [da compra da Varig] e que tinha condições de dar explicações, se fosse necessário”, disse ele ao repórter Rodrigo Rangel. “E também porque é prazeroso estar entre amigos, como é o presidente. Não tenho por que me arrepender, pois minha presença foi profissional".

 

O Estado de São Paulo
15/04/2007
Loteamento político da Infraero foi ponto de partida do caos aéreo
Análise de organograma mostra que empresa é dirigida por um consórcio de 6 partidos, governistas e de oposição
Christiane Samarco

Alvo certo da CPI do Apagão Aéreo que o Congresso está prestes a instalar, a Infraero vive uma espécie de 'efeito Orloff' da situação enfrentada pelos Correios em 2004, palco de escândalo nacional depois da malsucedida experiência do loteamento político por pelo menos três partidos (PT, PMDB e PTB). O organograma da Infraero acomoda 33 postos de comando - do presidente e seus 5 diretores aos 19 superintendentes nacionais e 8 regionais espalhados pelo País. Mas o exame minucioso do colegiado revela que a empresa é dirigida por um consórcio eclético de fisiologismo que junta seis partidos aliados e de oposição ao governo.

Convivem ali afilhados de parlamentares do PT, PMDB, PTB, PSB, do recém-criado PR (ex-PL) e até do antigo PFL, rebatizado no mês passado de Democratas. Todos atentos aos R$ 878 milhões de investimentos em aeroportos que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê para este ano.

Esse cenário inspirou o brigadeiro Edilberto Sirotheau a escrever uma carta de demissão premonitória da Superintendência de Segurança Aeroportuária, em abril de 2005. Sirotheau deixou a Infraero denunciando a 'obsessiva prioridade às obras que proporcionam 'visibilidade', em detrimento das necessidades operacionais'. O brigadeiro previa 'ocorrências graves em futuro próximo'.

A profecia do brigadeiro se cumpriu 17 meses depois, com o choque entre um jato Legacy, da Excel Aire (EUA), e um Boeing da Gol, que matou 154 passageiros. A tragédia desencadeou a operação-padrão dos controladores e trouxe à tona casos como o do Aeroporto de Congonhas: obras em ritmo apressado nos salões de embarque para acomodar lojas e publicidade, com mais conforto, sem dúvida, para os passageiros, mas com a reforma das pistas atrasada em pelo menos quatro anos.

O protesto de Sirotheau gerou polêmica, mas nem por isso a pressão política arrefeceu de lá para cá. O atual presidente da empresa, brigadeiro José Carlos Pereira, chamado pelos funcionários de 'J. Carlos', ampliou as indicações políticas do antecessor, deputado Carlos Wilson (PT-PE). Na guerra de bastidores que trava com Wilson, é o deputado que se diz espantado com a 'ousadia' do brigadeiro.

PECADO CAPITAL

Para atender a indicações políticas, Wilson chegou a dividir o Nordeste em duas regiões, distribuindo o território por dois afilhados: um governista e outro da oposição. Mas Wilson diz que o brigadeiro 'J. Carlos' cometeu um erro grave ao abrir cargos técnicos da Infraero a políticos - uma referência aos superintendentes regionais do Leste e do Sudeste.

No caso da Superintendência do Leste, com sede em São Paulo e onde estão aeroportos estratégicos, Edgard Brandão Júnior foi nomeado para atender a um padrinho ilustre: o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), reconhecido por funcionários e diretores da empresa como responsável pela indicação do superintendente que administra os Aeroportos de Congonhas e Guarulhos.

Um funcionário de carreira da Infraero atribui boa parte da crise por que passa a empresa ao 'pecado capital' que o brigadeiro teria cometido quando engendrou sua sucessão. Apontado ele próprio como afilhado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por conta da amizade de sua ex-mulher com a primeira-dama Marisa Letícia, Pereira era diretor de Operações na gestão Carlos Wilson. Sua cadeira vinha sendo tradicionalmente ocupada por brigadeiros da reserva, que se encarregavam, entre outras funções, da boa interlocução com os sargentos controladores de vôo.

Ao desocupar o posto, Pereira atendeu a uma indicação do PMDB e pôs na direção de Operações um civil. O problema é que o civil nada tinha que ver com a Infraero e, pior, já havia sido pivô de uma crise política na base de apoio do governo Fernando Henrique Cardoso, quando o mesmo PMDB tentou emplacá-lo no comando da Companhia Docas do Pará. À frente da liderança peemedebista na Câmara, o deputado e hoje ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima (BA) chegou a protestar da tribuna contra o recuo de Fernando Henrique, que simplesmente 'desnomeou' Rogério Amado Barzellay, depois de confirmá-lo oficialmente nas Docas. O então presidente só manteve o despejo do apadrinhado do PMDB porque o governador tucano Almir Gabriel (PA) ameaçou deixar o PSDB se Barzellay permanecesse no cargo.

MAPA DIVIDIDO

Na gestão Carlos Wilson, que nos tempos de presidência da Infraero era um ex-senador filiado ao PTB, a estatal deu jeito na pressão do então PFL baiano para acomodar os aliados do senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) com uma solução tipicamente fisiológica: inventou dois Nordestes. Foi assim que ele conseguiu manter na regional do Nordeste, com sede no Recife , um superintendente técnico do agrado do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e do PFL pernambucano, sem protestos. Para tal, criou a regional do Centro-Leste - formada apenas pelos dois Estados então governados por pefelistas (Bahia e Sergipe) - onde ACM emplacou o técnico Elvino Ney Taques.

Logo que assumiu, Wilson teve de administrar o presidente de seu PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson (RJ), que ameaçou romper com o Palácio do Planalto por conta da decisão de Lula de entregar-lhe o comando da Infraero. Como prêmio de consolação, Jefferson ganhou o direito de indicar o superintendente regional do Leste, que administra os Aeroportos Santos Dumont e Tom Jobim (antigo Galeão) - também estratégicos na órbita do loteamento político.

Bastou Jefferson romper com o governo e o PTB perdeu o cargo para o PT, que, aliado à CUT, indicou para o posto o sindicalista Pedro Azambuja. Já o superintendente do Centro-Oeste, Carlos Alberto Vilela, é fruto de uma indicação do PR do vice-presidente José Alencar. Mas seu padrinho é o deputado Aelton Freitas (PR-MG), suplente de Alencar no Senado. O técnico Nilo Sérgio Reinehr, da regional Sul, tem a simpatia do PSB do vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (RS).

A lista de padrinhos inclui também políticos agora sem mandato. É o caso do ex-deputado Leur Lomanto (PMDB-BA), que perdeu a eleição para a prefeitura de Jequié (BA), mas ganhou uma diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Foi ele quem indicou Lincoln Delbone para a Superintendência de Relações Comerciais da Infraero. Funcionários da empresa contam também que o diretor de Administração, Marco Antonio Marques de Oliveira, faz questão de expor sua ligação com o ex-presidente Itamar Franco, com quem havia trabalhado na Secretaria de Obras do governo de Minas.

Folha de São Paulo
14/04/2007
Varig prioriza retomada de vôos à Europa
Companhia aérea precisa voltar a operar uma série de vôos internacionais até o mês de junho, sob pena de perdê-los
Avaliação é que é melhor garantir primeiro vôos para aeroportos muito demandados, como Frankfurt e Londres

MAELI PRADO DA REPORTAGEM LOCAL
JANAINA LAGE DA SUCURSAL DO RIO

A estratégia da Varig para atuar no mercado internacional priorizará as rotas para a Europa, segundo a Folha apurou. A execução da estratégia desenhada pelos executivos da companhia depende ainda do fechamento de negociações para retomada de aviões.

A companhia já devolveu um MD-11 e conseguiu renovar o contrato de outro, que estava prestes a ser entregue, até junho. Apesar desta redução da frota, a Varig não deverá abandonar as rotas internacionais que opera atualmente: Frankfurt (Alemanha), Buenos Aires (Argentina), Caracas (Venezuela) e Bogotá (Colômbia).

A companhia aérea está agora diante de uma corrida contra o tempo para fechar contratos de arrendamento de aviões de longo curso, já que precisa retomar uma série de vôos internacionais até junho próximo, sob pena de perder as autorizações para realizá-los.

A Gol, que comprou a Varig, já manifestou a intenção de pedir a prorrogação desse prazo para a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), órgão regulador do setor aéreo. Mas a TAM afirmou oficialmente à agência que tem interesse em operar parte desses vôos e que é contra o prazo ser adiado.

A prioridade dada à Europa reflete a presença de aeroportos com espaços e horários para pousos e decolagens muitos disputados pelas companhias aéreas, como o de Londres e o de Frankfurt. A avaliação da empresa aérea é de que é mais fácil retomar vôos para os EUA porque as autorizações para freqüências não estariam sendo usadas integralmente.

Negociações

A entrada da Gol facilitou a retomada de conversas e negociações com companhias e entidades que haviam interrompido o relacionamento comercial com a Varig no auge da crise da companhia aérea.

Dessa forma, a Varig já iniciou o começo de aproximação com companhias aéreas como Lufthansa e TAP, de acordo com o que a Folha apurou.

A definição sobre voltar a ingressar na Star Alliance, acordo operacional entre companhias do mundo todo, ou outra aliança vai depender do estreitamento da relação comercial com antigas parceiras da Varig.

A Varig pretende ainda voltar a participar da câmara de compensação da Iata (International Air Transportation Association). Esta câmara permite que outras companhias ofereçam transporte a passageiros da Varig em casos de problemas e vice-versa.

Para ser vendida em leilão no ano passado, a Varig foi dividida em duas empresas: a velha, que ficou com o passivo e que hoje não está em operação; e a nova, sem dívidas, que foi vendida para a VarigLog.

É a Varig antiga que fazia parte da Star Alliance e da Iata, mas como a VarigLog não pagou as dívidas da "velha" Varig a companhia saiu da aliança operacional e da câmara de compensação, ou "clearing house", da associação.