Folha
de São Paulo
14/01/2008
"Companhias serão
punidas por atraso e cancelamento de vôos"
Governo deve discutir nesta
semana propostas para aliviar a superlotação
dos aeroportos do Estado de São Paulo
ELIANE CANTANHÊDE COLUNISTA DA
FOLHA
A
nova presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação
Civil), Solange Paiva Vieira, deu nota "seis, talvez
sete" para o setor no Brasil, que já foi
considerado equivalente ao do Primeiro Mundo e passou
por sua pior crise em 2006. Segundo ela, o governo vai
punir empresas por atrasos e cancelamentos de vôos.
As
punições, afirmou, ocorrerão com
o que "dói no bolso das empresas":
o cancelamento de autorizações de vôo
e da venda de bilhetes. "E vêm boas novidades
para o consumidor por aí", disse Solange.
Mestre em economia pela Fundação Getúlio
Vargas do Rio, Solange, 38, não se preocupa com
a concentração da Gol e da TAM no mercado
interno - o que chamou de "duopólio competitivo"-,
mas defendeu o aumento de 20% para 49% no limite de
capital estrangeiro nas companhias aéreas, para
aumentar a competição nos vôos internacionais.
Cheia de elogios à Gol, Solange foi dura com
a Ocean Air, criticando a compra de aviões Fokker-100,
que já não são mais fabricados,
não têm manutenção no Brasil
e estão sendo aos poucos abandonados pela TAM.
Perguntada se a Ocean Air tem fôlego para ser
a terceira grande brasileira, respondeu secamente que
não.
Em entrevista à Folha, a primeira desde a posse,
em 20 de dezembro, ela disse que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva vai analisar nesta semana uma solução
para São Paulo e defendeu o terceiro aeroporto:
"Acho que São Paulo vai precisar de um outro
aeroporto nos próximos dez anos, e isso significa
começar hoje", disse.
FOLHA
- Seu antecessor, Milton Zuanazzi, demorou muito para
largar o osso?
SOLANGE PAIVA VIEIRA - É. E
essa lentidão fez com que a Anac, que nem tinha
se formado direito, se desgastasse muito. Agora, a agência
está correndo contra o relógio. Eu não
sabia quando o presidente da Anac iria sair, e ele saiu
justamente dois dias após meu casamento.
FOLHA
- A diretoria anterior era acusada de politização
e apadrinhamento. Qual o perfil da nova?
SOLANGE - A diretoria não é
apenas consultiva, é também muito executiva,
com perfis específicos em segurança de
vôo, infra-estrutura aeroportuária e regulação
no setores doméstico e internacional.
FOLHA
- E a sra.? A sra. também não é
do ramo.
SOLANGE - Entro nessa estrutura conciliando
o trabalho de todo mundo, e brinco que já me
considero do ramo. Fui secretária de Previdência
Complementar apenas sete meses, mas até hoje
me marcam como especialista do setor. Fiquei quatro
meses na Secretaria de Aviação Civil.
Ajo tecnicamente, faço escolhas profissionais.
FOLHA
- Por que a operação deu certo no pico
do final do ano, se continuam os mesmos aeroportos,
as mesmas pistas, as mesmas companhias e os mesmos controladores?
O que, afinal, gerava o caos de antes?
SOLANGE - A gente correu um grande
risco, porque refez toda a malha aérea às
vésperas do Natal, do dia 20 para o dia 21. O
que a gente fez, com a Infraero e o Decea, foi checar
horário por horário e ver se era viável.
FOLHA
- Como dizer a quem enfrentou o caos que foi só
a Anac fazer um ajuste na malha para tudo voltar a funcionar?
SOLANGE - O ajuste da malha é
importante, e não se pode esquecer que houve
dois acidentes aéreos, greve dos controladores,
problemas meteorológicos. Se o aeroporto fecha
por algumas horas, por uma chuva tremenda, por exemplo,
as companhias vão carregar o atraso por dois
ou três dias, mesmo com o céu azul.
FOLHA
- Com a queda do Learjet no Campo de Marte, descobriu-se
que há 12 mil jatinhos e helicópteros
voando aparentemente sem controle. E o risco?
SOLANGE - O setor é muito auto-regulado,
ou seja, o piloto do avião tem uma responsabilidade
muito grande, e vamos investir muito em capacitação.
É impossível a Anac fiscalizar todas essas
12 mil aeronaves antes da decolagem, da mesma forma
que é impossível um departamento de trânsito
checar todo carro, ônibus e caminhão sem
farol, com pneu careca.
FOLHA
- Aviões de segunda mão comprados no exterior
não operam no Brasil com características
desconhecidas da manutenção?
SOLANGE - Uma das nossas preocupações
agora é com o Fokker-100. A fábrica dele
não existe mais, e a Ocean Air está trazendo
esse aparelho para cá.
FOLHA
- A TAM já opera Fokker-100, que já tem
uma imagem ruim por causa da queda em Congonhas.
SOLANGE - Mas a TAM tem manutenção
própria, é diferente. Estamos observando
e preocupados em saber quem e como a Ocean Air vai escolher
para a manutenção dos seus aviões.
FOLHA
- De zero a dez, que nota a senhora dá
ao setor, agora que está dentro do sistema?
SOLANGE - Há cinco, dez anos,
a gente tinha muita capacidade ociosa das companhias
e de toda a infra-estrutura. Aí, é fácil
ser bom. Hoje, eu daria seis pra gente, talvez sete.
Há muito o que melhorar, e em todas as áreas,
mas nós temos uma das melhores frotas de aviação
regular do mundo. Os aviões da Gol são
todos novos, com cinco, seis anos. A TAM está
renovando toda a frota dela, retirando os Fokker-100.
Nos EUA, por exemplo, há muitos aviões
antigos, velhos turboélices.
FOLHA
- Como compatibilizar o expressivo aumento da demanda
com uma infra-estrutura praticamente estável?
SOLANGE - Eu não diria que a
nossa infra-estrutura está estável, diria
que cresceu menos do que o necessário. Mas vai
crescer muito nos próximos anos. Um dos trabalhos
que fechamos na Secretaria de Aviação
Civil foi o plano para São Paulo. O ministro
da Defesa vai se reunir na próxima [nesta] semana
com a ministra Dilma e com o presidente [Lula] para
discutir opções de investimento.
FOLHA
- O terceiro aeroporto?
SOLANGE - Acho que São Paulo
vai precisar de um outro aeroporto nos próximos
dez anos e isso significa começar hoje. Mas,
para construir um novo, é preciso um espaço
monstruoso, de uns 10 mil km2, e as pessoas querem descer
em locais centrais. Achar um local adequado não
é uma tarefa fácil.
FOLHA
- Com a área econômica cortando gastos
e investimentos pós-CPMF, o projeto tem alguma
chance? E o plano B?
SOLANGE - A gente já tem um
terceiro aeroporto, Viracopos, e os estudos contemplam
a terceira pista e o aumento da capacidade das atuais
pistas de Guarulhos e da capacidade de Congonhas, o
que é um exercício muito difícil.
Temos de analisar também o custo-benefício.
FOLHA
- No estudo que o presidente vai analisar, qual o melhor
custo-benefício, o terceiro aeroporto ou investir
no acesso a Viracopos?
SOLANGE - Viracopos é um aeroporto
com bom potencial. Um bom sítio aeroportuário,
uma estrutura de espaço aéreo excelente,
com toda a lógica técnica para se investir
nele. O complicador é logístico: o acesso
a ele. Discute-se esse custo.
FOLHA
- Do metrô?
SOLANGE - Exatamente. Um trem de 20
minutos.
FOLHA
- Isso tudo, somado, não é um quebra-galho
que só adia a solução real, que
é o terceiro aeroporto?
SOLANGE - O terceiro aeroporto é
uma opção também. Mas há
um quebra-cabeça de opções. E,
mesmo que a gente anuncie hoje um novo aeroporto, ele
não fica pronto antes de cinco, seis anos. Então,
é preciso também uma solução
para os próximos cinco, seis anos.
FOLHA
- Ou seja, vai ter uma solução
emergencial e uma definitiva, o terceiro aeroporto?
SOLANGE - Parece que sim. O que não
há dúvida nenhuma é que Congonhas
e Guarulhos precisam ter um terceiro aeroporto, mas
Viracopos pode ser esse terceiro aeroporto.
FOLHA
- O Galeão opera com ociosidade. Não seria
uma boa opção para desafogar São
Paulo dos vôos internacionais?
SOLANGE - Não faz muito sentido
eu dizer onde o avião "a", "b"
ou "c" vai ter de descer. Eu posso e devo
dizer que o máximo de Congonhas é tal,
o máximo de Guarulhos é tal, mas não
posso obrigar ninguém a descer no Galeão.
FOLHA
- A sra. teme o duopólio de Gol e TAM?
SOLANGE - O duopólio competitivo
não é nenhum ônus para a sociedade.
Desde que as duas ocupam quase 90% do mercado, a gente
tem visto uma concorrência grande de preços
e de qualidade de serviços. A Gol trouxe um conceito
de "low cost" [baixo custo] que deu uma dinâmica
muito maior para o mercado. Temos concorrência
no mercado doméstico, que é completamente
livre, só que no internacional ainda não.
FOLHA
- Quando a BRA quebrou, a Ocean Air rapidamente se ofereceu
para ocupar esse espaço e ser uma das três
grandes. Ela tem fôlego para isso?
SOLANGE - O que ela mostrou no final
do ano e tem mostrado para a gente até agora,
não.
FOLHA
- A tendência, então, é manter o
duopólio?
SOLANGE - Nós temos que identificar
duas coisas. Uma é se o mercado brasileiro é
suficiente para comportar três grandes, porque
aviação precisa de escala. A gente já
teve três grandes, e elas encolheram. Outra coisa
é que a Anac não está criando mecanismos
adequados para facilitar a entrada de novas empresas.
Trabalhamos nisso.
FOLHA
- Ampliando o limite do capital estrangeiro das empresas,
por exemplo? Para quanto?
SOLANGE - Acho que o primeiro passo
seria de 20% para 49%, que permitiria a estruturação
de uma nova empresa para entrar no mercado. Isso é
lei, precisa do Congresso e acho que há consenso
entre vários partidos. Há projeto de até
100%, mas acho um passo muito grande para a estrutura
regulatória que nós temos.
FOLHA
- Com 100%, as companhias brasileiras sobrevivem?
SOLANGE - Não sei. A Gol, por
exemplo, ganhou prêmio por maior eficiência
de horas voadas por avião da Boeing.
FOLHA
- E o "céu aberto" para as
estrangeiras no Brasil, que era tabu para os militares?
SOLANGE - A evolução
do mundo é por uma liberdade cada vez maior.
Hoje, com exceção dos vôos para
a América do Norte, quase todos os nossos vôos
têm mais autorizações do que são
utilizados para qualquer país. A gente dá
muitas autorizações, mas as empresas não
utilizam.
FOLHA
- Uma das coisas que entopem os aeroportos é
o excesso de segurança nos vôos domésticos,
mas o 11 de Setembro não foi aqui. Pode amenizar?
SOLANGE - Já começamos
a amenizar. O Brasil não precisa do mesmo nível
de segurança que os EUA têm, que Londres
tem, inclusive porque isso custa dinheiro. No fim do
ano, tivemos congestionamento nas áreas de check-in
das companhias, mas não na área de embarque
da Infraero. Não precisa mais retirar o laptop
da pasta, por exemplo. E vem mais até o Carnaval,
não sei quais.
FOLHA
- Vai ter mudança no valor ou na aplicação
das multas por atrasos e cancelamentos?
SOLANGE - No valor, não há
muita flexibilidade, mas a gente quer mudar o perfil
da penalidade: menos multas e mais corte de autorizações
de vôos, de venda de bilhetes. Regular as companhias
pelo lado que dói: o bolso. Até o final
de fevereiro teremos uma regra nova que exige qualidade
e pontualidade. Com isso, vamos montar um índice,
e os que não atingirem determinados limites serão
penalizados.
FOLHA
- E o "overbooking"?
SOLANGE - O ministro da Defesa está
preparando um projeto que contempla essa questão.
Virão boas notícias para o consumidor.
FOLHA
- As empresas são concessões públicas.
Como o Estado pode exigir ou estimular que assumam o
chamado "osso" da aviação, os
vôos necessários e não rentáveis?
SOLANGE - Em 1998, a aviação
servia 180 cidades. Hoje, não chega a 140. Alguns
vôos acabaram porque não eram lucrativos,
porque num mercado aberto em que a gente não
dá subsídios para as companhias, não
faz sentido obrigá-las a voar para o lugar "a"
ou "b", só se esse local envolver uma
questão estratégica ou de saúde
pública. Nos EUA, nestes casos, o governo tira
dinheiro do Tesouro e dá subsídio cruzado.
FOLHA
- É bom para o Brasil?
SOLANGE - Para locais estratégicos,
não há outro jeito, a não ser subsídio.
Ou a FAB faz, ou o o prestador comercial faz, mas, para
isso, vai ter de ter subsídio.
FOLHA
- Como explicar quase 9.000 passagens aéreas
de graça para a Anac só em 2007? Há
abuso?
SOLANGE - Seria prematuro eu dizer
que há abuso. Esse número vem caindo,
mas sempre será alto, porque a gente se desloca
muito, para fiscalização. Mas agora só
a diretora-presidente pode autorizar passagens internacionais
e só os diretores podem autorizar as domésticas.
E acabamos com os passes, não vamos mais voar
sem pagar e, assim, vamos ter mais controle sobre o
uso, com pedido formal.
Folha
de São Paulo
14/01/2008
Economista assumiu posto após
acidente
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A
economista Solange Paiva Vieira, 38, assumiu o controle
da Anac no final de 2007, após a crise que atingiu
a agência com o acidente do Airbus da TAM, em
julho.
Antes mesmo de responder a qualquer pergunta, foi aprovada
por 21 votos a favor e dois contra na sabatina realizada
em dezembro pela Comissão de Infra-Estrutura
do Senado. Funcionária de carreira do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social),
ficou conhecida por fiscalizar os fundos de pensão
como secretária de Previdência Complementar
no governo FHC. Ocupou o cargo entre 2000 e junho de
2001.
Também participou da diretoria do Telos, fundo
de pensão dos funcionários da Embratel,
e foi assessora do ministro Nelson Jobim (Defesa), que
a indicou para a Anac. Nascida em Valença (RJ),
é casada e sem filhos.
Frase
Não
faz muito sentido eu dizer onde o avião "a",
"b" ou "c" vai ter de descer. Eu
posso e devo dizer que o máximo de Congonhas
é tal, o máximo de Guarulhos é
tal, mas não posso obrigar ninguém a descer
no Galeão
Frase
O
duopólio competitivo não é nenhum
ônus para a sociedade. Desde que as duas ocupam
quase 90% do mercado, a gente tem visto uma concorrência
grande de preços e de qualidade de serviços
O
Estado de São Paulo
14/01/2008
Greve na Aerolíneas afeta
passageiros no Brasil
Em SP, no Rio e em Florianópolis,
vôos foram cancelados e houve atrasos de até
17 horas
Problemas de operação da empresa Aerolíneas
Argentinas em Buenos Aires afetaram ontem passageiros
em aeroportos brasileiros. Em Cumbica, Guarulhos, dos
quatro vôos da empresa previstos para a capital
argentina, dois foram cancelados e dois tinham previsão
de atraso. O vôo 01240, com saída às
10h35, foi remarcado para 21h20. Apesar da confusão,
a empresa não havia cancelado o vôo previsto
para sair hoje de Guarulhos às 10h35.
No
Aeroporto Tom Jobim, no Rio, dos dois vôos previstos
ontem para Buenos Aires, um foi cancelado e outro registrou
atraso de quase 18 horas. A decolagem estava marcada
para 1h50, mas a aeronave chegou ao pátio somente
às 19h10. A empresa confirmou os dois vôos
para a capital argentina previstos para hoje.
A
Aerolíneas também causou problemas em
Florianópolis. Um vôo com decolagem prevista
para 9h30 de ontem foi remarcado para 0h30 de hoje.
Funcionários
da Aerolíneas em Buenos Aires entraram em greve
no sábado, mas ontem retomaram gradualmente o
serviço. No principal aeroporto da Argentina,
Ezeiza, o caos que tomou conta do saguão na sexta-feira
e no sábado - e incluiu a depredação
dos guichês da Aerolíneas - acabou ontem.
Os
vôos começaram a ser regularizados, de
forma a embarcar os mais de 3 mil passageiros que ainda
ontem esperavam seus vôos. A espera, em média,
foi de 24 horas. No entanto, alguns clientes da Aerolíneas
enfrentaram esperas de até 52 horas. No sábado,
o pior dia, um total de 5 mil passageiros ficou retido.
Um grupo mais irritado agrediu uma comissária
e os pilotos entraram em greve.
No
meio da noite, executivos da Aerolíneas negociaram
com os funcionários e passageiros até
que conseguiram um acordo para retomada das operações.
Mesmo assim, a Aerolíneas ignorou os pedidos
de ressarcimento financeiro ou de pagamento de hotéis
durante a espera. No máximo, distribuiu alguns
refrigerantes.
Coluna
Claudio Humberto
14/01/2008
Assalto
O serviço prestado é vagabundo e quase
sempre atrasa, mas a TAM age com absoluta certeza da
impunidade: cobra mais de R$ 6 mil, ida e volta, São
Paulo-Miami e até R$ 2,5 mil pelo trecho Brasília-Recife.
Valor
Ecoômico
14/01/2008
SulAmérica e Gol
A
SulAmérica criou um pacote de assistências
para quem for voar pela Gol. Por R$ 3, é possível
contratar por dois dias um serviço com cobertura
que prevê pagamento de indenização
à família, no valor de R$ 50 mil, nos
casos de morte acidental ou invalidez permanente por
acidente e serviços como pagamento de gastos
de acompanhantes, incluindo diárias em hotéis,
em caso de internação.
Site
Vude Versus
14/01/2008
Airbus entrega segundo avião
gigante A380 para a Singapore Airlines
A Airbus entregou na sexta-feira a segunda unidade do
avião gigante A380 à companhia aérea
Singapore Airlines. O avião, cuja entrega ocorreu
em Toulouse (sul da França), onde está
a sede da Airbus, está equipado com quatro motores
Rolls-Royce Trent 900. O primeiro A380 foi entregue
à Singapore Airlines, primeiro operador do avião
gigante, em 15 de outubro, e realizou seu primeiro vôo
comercial dez dias depois. No vôo inaugural, os
passageiros pagaram bilhetes com preços de US$
560,00 a US$ 100 mil por uma "suíte"
com televisão de tela plana, camas cobertas com
lençóis desenhados por Givenchy e mesas
de trabalho.
Enquanto
isso, o A380 sofreu na sexta-feira seu primeiro incidente,
ao sair da pista do aeroporto de Cingapura. O avião
foi parar na grama enquanto era rebocado para preparar
sua decolagem. Todos os passageiros do avião,
que ia para Sydney, foram transferidos para um Boeing
747. O A380 saiu do asfalto e foi parar no gramado quando
ainda não estava utilizando sua própria
força. Ele estava sendo levado para a pista por
um reboque, que sofreu uma falha no sistema hidráulico.
O
Estado de São Paulo
13/01/2008
Famílias à espera
de Denise Abreu
Ex-diretora da Anac foi intimada
a depor na 3.ª; parentes de vítimas de acidente,
ocorrido há 6 meses, preparam protesto
Roldão Arruda
A
ex-diretora da Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac) Denise Abreu deve comparecer, na terça-feira,
à sede do 27º Distrito Policial, em São
Paulo. Intimada pelo delegado Antonio Carlos Barbosa,
terá de prestar depoimento sobre a pior tragédia
da história da aviação brasileira:
a do vôo TAM JJ3054, que há seis meses,
mais exatamente no dia 17 de julho do ano passado, resultou
na morte de 199 pessoas no Aeroporto de Congonhas.
Não
se sabe se ela virá, uma vez que já fracassaram
as duas tentativas anteriores do delegado. Mas, mesmo
sem ter a certeza de sua presença, os familiares
das vítimas já estão organizados
para recepcioná-la, às 14 horas, na porta
da delegacia, no bairro do Campo Belo, nas imediações
de Congonhas, com uma manifestação de
protesto. Para eles, Denise, que dirigia a agência
na época do acidente, pode ser uma das responsáveis
pela morte de filhos, netos, pessoas amadas.
Apontar
e levar a julgamento os responsáveis pelo desastre
- quando o Airbus A320 da TAM não conseguiu frear
ao pousar, espatifou-se contra um edifício e
pegou fogo - virou uma missão para muitas pessoas.
Malu Gualberto, advogada de 52 anos, que atuava na área
de sucessão familiar, desistiu de seu escritório
de advocacia para dedicar-se à apuração
das causas da morte de seu marido, Antonio Gualberto
Filho, de 56 anos. Funcionário da TAM, ele trabalhava
no edifício ao lado da pista, na sala que recebeu
o primeiro impacto do avião.
“Não
vou descansar enquanto não souber a verdade”,
diz ela, na sala de seu apartamento, no bairro do Planalto
Paulista, na zona sul. “Aquele avião não
poderia ter pousado em Congonhas. Pousou porque puseram
incapazes em postos que envolvem a segurança
das pessoas.”
No
canto da mesa com tampo de vidro de sua sala repousa
uma revista de circulação interna da TAM,
que o marido pôs ali uma semana antes de morrer
e ela não tem coragem de retirar.
O
administrador de empresas Luiz Moyses, de 36 anos, desfez-se
de tudo em Porto Alegre e mudou-se para São Paulo.
Instalado num flat em Moema, também na zona sul,
dedica-se a acompanhar a investigação
do acidente no qual morreu Nádia, sua mulher,
aos 33 anos.
“Em
nome dela, não vou deixar esse inquérito
morrer”, assegura. Ele e Nádia namoraram
desde a adolescência e estiveram casados por sete
anos. Uma das lembranças dela que Moysés
ainda conserva foi a mensagem que enviou pelo celular,
ao embarcar no Airbus. “Estou no avião.
Ligo quando chegar. Beijos.”
Para
conduzir melhor sua luta, eles criaram a Associação
dos Familiares e Amigos das Vítimas do Vôo
TAM JJ3054 e reúnem-se uma vez por mês
em hotéis de São Paulo ou Porto Alegre.
Tudo é custeado pela empresa aérea, em
decorrência de um termo de compromisso assinado
em setembro, na sede da Secretaria de Justiça
do Estado de São Paulo.
A
próxima reunião está marcada para
o fim de semana que vem, num hotel da zona sul de São
Paulo. Ao final, deverão ir para Congonhas e
realizar mais um ato de protesto na fila de check-in
da TAM, reclamando da falta de esclarecimentos.
O
presidente da associação é o professor
de Matemática Dario Scott, de 44 anos, morador
de Porto Alegre. “Nosso objetivo é descobrir
o que aconteceu”, explica. “Não tem
sido fácil, porque o inquérito é
dificultado pela lentidão das autoridades federais
na liberação dos documentos que estão
em seu poder. Na transcrição que nos entregaram
do material da caixa preta, com 30 minutos, faltam 23
minutos. Cobramos o Centro de Investigação
e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos,
o Cenipa, e responderam que não é relevante.
Pode não ser, mas temos direito de ouvir.”
A
única filha do professor, a menina Thaís,
de 14 anos, tinha embarcado no Airbus com o objetivo
de passar o restante das férias de julho na casa
dos avós, em São Paulo. Ele e a mulher,
Ana, de 48 anos, ainda choram todos os dias. “Ela
era a alegria da casa”, diz Dario.
Foi
só às vésperas do Natal que eles
se desfizeram de roupas e brinquedos da filha, doando
quase tudo para crianças pobres. “Estamos
pensando em recomeçar”, conta o professor.
“Estamos tentando um novo filho. Se não
conseguirmos, vamos buscar a adoção.”
Thaís
tinha convidado para a viagem a amiga Rebeca Haddad,
também de 14 anos. Seu pai, o consultor de empresas
Christophe Haddad, francês de 41 anos, 30 dos
quais vividos no Brasil, também faz parte da
diretoria da associação; e sua segunda
mulher, Ana Behs, de 43, é voluntária
na assessoria de comunicação da entidade.
Haddad,
que também é pai de um garoto de 12 anos,
diz estar convencido de que a tragédia não
foi acidental. “Pelo que estamos vendo no inquérito
policial, houve dolo, houve uma seqüência
de negligências. Estamos acompanhando para evitar
que acabe em pizza, como aconteceu com as duas CPIs
do Apagão Aéreo.”
No
dia do acidente, Haddad chegou em casa no começo
da noite e ligou a TV, para ver novela. “De repente
entrou aquela música de edição
extraordinária da Globo. Eu fiquei assistindo.
Vi, da sala da minha casa, minha filha ser cremada.”
Para
vencer o dia-a-dia, o consultor está recorrendo
à ajuda de um psicólogo. O filho, a ex-mulher,
a madrasta e os avós de Rebeca também
freqüentam terapeutas - cujos serviços são
pagos pela TAM, dentro do mesmo acordo assinado em setembro.
Nas
conversas com os parentes, as queixas voltam-se quase
sempre contra o governo federal. A paulistana Lili Mello,
de 40 anos, diz que nunca vai esquecer o gesto obsceno
que Marco Aurélio Garcia, assessor especial da
Presidência da República, fez quando soube
que a causa do acidente poderia ter sido uma falha mecânica.
“Ele riu da morte do meu marido. Deveria ter sido
demitido na hora.”
O
marido de Lili, o engenheiro Andrei Mello, foi uma das
quatro vítimas cujos corpos, de tão destruídos,
não puderam ser identificados pelo Instituto
Médico-Legal (IML) de São Paulo.