Jornal O Dia Online
12/11/2006 - 11:02h
PRESIDENTE DA ANAC CONFIRMA PRESENÇA
EM DEPOIMENTO À CPI DA VARIG
O presidente da CPI que investiga o processo de venda
da Varig, deputado Paulo Ramos (PDT), espera colher importantes
depoimentos esta semana. O presidente da Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton
Zuanazzi, confirmou que estará presente na reunião
que será realizada nesta terça-feira (14/11),
às 11h, na sala 316 do Palácio Tiradentes.
Zuanazzi disse que estará acompanhado também
pelos diretores da Anac, Denise Abreu e Coronel Vellozo.
No mesmo dia e mesmo local, às 10h30, o parlamentar
espera receber a resposta do sócio da Volo Brasil,
Eduardo Gallo, em relação a quanto ele investiu
na VarigLog enquanto pessoa física. No último
dia 31, quando prestou depoimento à CPI, o empresário
disse que não sabia responder à questão.
Na quinta-feira (16/11), será a vez de presidentes
de sindicatos e associações ligadas à
Varig contribuírem para a investigação.
A presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziela
Baggio, a presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários,
Selma Balbino, e o coordenador da associação
Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), Márcio Marsillac,
prestarão depoimento à CPI às 11h,
na sala 316 do Palácio Tiradentes.
Site Aeroconsult
12/11/2006
ESSA ANACRÔNICA ANAC
O cronista descobriu, com espanto, um “velho”
papel. Em termos, pois trata-se do rascunho de um Projeto
de Lei de 2000, bem conservado numa pasta plástica
transparente. Leio na página 1 : “ O Congresso
Nacional decreta: Capítulo I – Dos princípios
fundamentais- Art.1° Compete à União,por
intermédio da Agência Nacional de Aviação
Civil, ANAC, promover a ordenação da aviação
civil, mediante a coordenação e supervisão
dos serviços de transporte aéreo, de infra-estrutura
aeroportuária e aeronáutica, observado o
disposto na Lei Complementar n° 97 de 9 de junho de
1999, nos termos das políticas estabelecidas pelo
Poder Executivo”.
Um texto inicial que, por si, era tudo um programa. Tão
detalhado, claro, prático, que logo encontrou a
oposição de empresas aéreas e de
analistas (esta é uma categoria de profissionais
que, com maior ou menor competência, gosta de opinar
sobre qualquer assunto da atualidade) e foi objeto de
dezenas de reuniões e de debates, para reduzir,
esclarecer ou ampliar o alcance das medidas. Tanto se
falou da Anac, da sua importância para afastar de
uma vez a Aeronáutica Militar dos transportes aéreos
comerciais, tantas foram as polêmicas, que o governo
do presidente Cardoso preferiu se desligar da responsabilidade
do projeto, que mandou arquivar. Com Lula, a Anac voltou
às honras da crônica: de fato havia muita
gente interessada em ocupar os cinco cargos mais importantes
da agência, desde o de presidente aos de diretores,
cuja nomeação viria diretamente do presidente
da República. Assim mesmo, com toda a pressa existente,
o projeto andou rolando por mais alguns anos, até
ser aprovado e regulamentado neste 2006.
Mas foi apenas, come se dizia, um frustrante parto da
montanha. Ainda não deu em nada que tenha mais
valor dos pequenos ratinhos do passado. E não por
falta de dinheiro, mas por falta de experiência
real e problemas demais para serem resolvidos. De fato
a Anac não teve sorte e nasceu numa época
difícil para a aviação comercial
do país, quando até a Varig, Viação
Aérea Riograndense, havia cessado praticamente
de existir. E com suas sucessoras, a VEM, a VarigLog,
a nova Aero Varig e a velha Nordeste/Varig surgiram as
mais imprevistas situações, que encontraram
os executivos da Anac totalmente sem preparo para resolvê-las.
Mas parece que o presidente e seus diretores achavam que
com seu suposto bem senso, ou feeling, ou jeitinho, poderiam
encontrar as melhores soluções para tudo.
· Assim, quando se tratou de opinar sobre a famosa
participação de 20% nos capitais da VEM
adquirida pelo grupo Tap, ou da VarigLog, que o grupo
Matlin Patterson disputou em leilão, foram necessárias
semanas para que o Anac desmentisse as afirmações
do Snea , segundo as quais havia muito mais dinheiro de
investidores estrangeiros nas novas empresas. E quando
a VarigLog se tornou também dona da nova Varig,
descobriu-se que, na realidade, estava operando indevidamente,
em nome da velha, pois lhe faltavam dois importantes certificados
da Anac, dos quais um ainda hoje não lhe foi entregue.
Mas a agência quis agradar às congêneres
e, enquanto tudo ficava parado, pretendeu distribuir às
interessadas as rotas e os slots da velha Varig que a
nova não podia utilizar por falta de permissão
oficial. Mas sua incompetência teve outra oportunidade
para se manifestar, numa ocorrência trágica,
a pior que poderia acontecer, uma das piores da última
década. Foi a colisão do Boeing e do Legacy,
que encontrou despreparados todos os setores da aviação
comercial. Na Anac, em particular, seus diretores fizeram
contato inconvenientes com a imprensa e com as famílias
das vítimas, contribuindo para aumentar a confusão,
ao invés de atenuar o desespero causado pela terrível
ocorrência. Sem entender coisa alguma de torres
de controle, de comunicações aéreas,
de relações públicas, de desastre
e de indenizações, divulgaram desnecessários
palpites, sugestões e opiniões.
· O balanço de tudo isso é até
agora negativo, não havendo dúvidas de que,
sob críticas diárias, a Anac está
deixando a inteira indústria com saudade dos brigadeiros
do ex Departamento de Aviação Civil. De
fato, a falta de um órgão estruturado, tecnicamente
eficiente, ficou evidente mais uma vez quando, há
dias, os controladores de vôo reagiram às
acusações de ter contribuído com
sua suposta imperícia à colisão entre
as duas aeronaves, e decidiram reduzir o número
de autorizações de decolagem, complicando
o feriado de quem quis ou queria viajar. E surgiram polêmicas
entre os militares, se evidenciaram erros nos investimentos
setoriais, gastos supérfluos da Infraero dedicados
ao luxo e aos shoppings nos aeroportos, falhas humanas
nas torres, diante de uma Anac que ficou desnorteada,
sem capacidade e até sem autoridade para atuar
nos aeroportos, junto dos passageiros e das companhias,
e ainda menos para atenuar a crise que se abatia sobre
a inteira indústria. Algo em total contraste com
o texto do Art.1° do capítulo I do decreto-lei
que criou e justificou a criação da Anac,
onde é dito que a agência “deverá
promover a ordenação da aviação
civil, mediante a coordenação e supervisão
de transporte aéreo, de infra-estrutura aeroportuária
e aeronáutica”.
Pode ser lida no Dicionário Aurélio da
língua portuguesa a definição do
adjetivo “anacrônico”, que aparece no
título deste texto: “Anacrônico, que
está em desacordo com a moda, o uso, constituindo
atraso em relação a eles; retrógrado”.
Alguém tem dúvida de que “anacrônica”
não seja a definição mais amável
que poderia ser dada à atuação da
Anac ?