Tribuna da Imprensa
13/07/2007
Varig e Aerus: o que falta é
vontade política
Pedro Porfírio
Já faz algum tempo, tenho deixado de falar de
uma das situações mais inexplicáveis
destes dias em que quase nada tem explicação:
estou me referindo a tragédia em terra dos trabalhadores
e aposentados da Varig e, naturalmente, da Transbrasil
e da Vasp.
E se dei um tempo nesse drama, que me incomoda profundamente
como cidadão brasileiro, e porque desde a posse
de Carlos Lupi como ministro do Trabalho, em março,
foi possível estabelecer um canal de negociação
com o primeiro escalão do governo federal.
No entanto, lamentavelmente, em que pesem as gestões
do ministro, das quais tenho tido conhecimento, o governo
federal não moveu uma palha, enquanto se deteriora
a situação de mais de 15 mil brasileiros,
ativos e inativos, com uma admirável folha de serviços
prestados ao que até pouco tempo podíamos
exibir com o maior orgulho: a nossa aviação
comercial.
Essa demora reflete uma falta de vontade política
do governo tanto em relação aos trabalhadores
da ativa da Varig, como no caso dos milhares de integrantes
do fundo de pensão Aerus.
Para refrescar sua memória, gostaria de lembrar:
desde o estranho e indefensável destino dado a
mais antiga companhia de aviação do Brasil,
em 20 de julho de 2006 - portanto há praticamente
um ano - quase cinco mil profissionais de aviação
foram desligados do trabalho sem direito a um único
benefício trabalhista. Nem mesmo os cinco meses
de salários atrasados, nem o décimo terceiro,
nem nada.
Enquanto isso, a parte do Fundo de Pensão Aerus
dos vários planos referentes ao pessoal do Grupo
Varig sofreu intervenção e entrou em processo
de liquidação. Já este mês
os integrantes do Plano I, que teriam de receber segundo
as regras do benefício determinado, não
terão mais nenhum centavo para suas despesas. Os
do Plano II somem da folha em agosto.
Um complô inconseqüente
O que aconteceu com a Varig foi a consumação
de um complô totalmente inconseqüente. E não
há a menor dúvida que sua crise é
o pano de fundo mais visível desse apagão
aéreo. Porque não se tratava de uma companhia
qualquer, mas da empresa âncora da aviação
comercial brasileira, um verdadeiro sistema, que incluía
desde uma escola de profissionais até a mais completa
empresa de manutenção de aeronaves.
Ao desmonta-la virtualmente, por conta de uma crise que
tem origem também nas políticas erradas
de sucessivos governos tanto para a aviação
como para o fundo de pensão Aerus, os autores dessa
façanha atingiram a própria coluna vertebral
do nosso complexo aéreo, abrindo o espaço
para as companhias estrangeiras.
É bom que você saiba que a situação
das companhias sobreviventes não é tão
tranqüila como parece. A Gol, que introduziu o sistema
baixo custo, já anunciou que reduzirá sua
frota, abrindo mão de sete aeronaves, numa contradição
com a euforia de sua direção, ao ser anunciada
a conclusão de uma estranha compra da Nova Varig
em valores bem superiores ao do leilão de 20 de
julho de 2006, que só teve um lance e um único
arrematante.
Desde 1993, a Varig sustenta uma batalha judicial para
recuperar as perdas decorrentes de congelamentos de tarifa.
Ganhou em todas as instâncias, inclusive agora no
Superior Tribunal de Justiça.
O que a empresa reclama daria para suprir todas as dívidas
pendentes, inclusive o que ela deixou de recolher ao Fundo
de Pensão Aerus. Não há possibilidade
de uma reviravolta na decisão do STJ e já
houve um precedente: a Transbrasil fez a mesma reclamação:
ganhou e chegou a um acordo com o governo em 1997.
Chega de faz-de-conta
Agora, não tem sentido manter uma postura de faz-de-conta
no caso da Varig. Se o governo quiser intervir e promover
um acordo, não precisa nem depender de novas decisões
judiciais.
Os próprios funcionários da Varig vem há
dois anos e meio mostrando o lastro legal para solucionar
o problema, com base na Lei 9469/97, que define os parâmetros
para negociações por parte do poder público.
Se realmente quiser tomar a única atitude cabível
nas circunstâncias atuais, o governo federal pode
agir imediatamente: é permitido ao Advogado Geral
da União, mediante prévia e expressa autorização
do Ministro da Defesa, nos termos do artigo 1: dessa Lei
celebrar transação para encerrar o litígio.
Não tem sentido, portanto, falar de uma expectativa
de desdobramento no Judiciário. Não é
de hoje que o governo tem conhecimento de todo esse processo
que resvalou no massacre do pessoal da Varig e do Aerus,
submetido a todo tipo de humilhação.
A demora em apresentar uma alternativa diante do agravamento
do desespero de pessoas qualificadas a mim não
convence mais. O governo deve e sabe que há soluções
de pagamentos que não afetariam seu caixa, na medida
em que se faça uso do mínimo de criatividade.
Deve e sabe que quem está pagando o pato não
tem nada com eventuais trapalhadas da direção
da empresa.
Deve e sabe que o desmoronamento de um fundo de pensão
compromete a credibilidade o próprio setor, que
retém hoje uma vultosa poupança, que tem
peso no equilíbrio do mercado.
Acho até profundamente lamentável ter que
voltar ao assunto para repetir as mesmas verdades e não
entendo porque até hoje essa CPI do Apagão
Aéreo, que pretende investigar para além
do acidente com o avião da Gol, ainda não
sinalizou sobre a possibilidade de uma devassa no episódio
que atingiu a Varig.
Por falar em CPI, a Assembléia Legislativa do
Rio de Janeiro, através do deputado Paulo Ramos,
já avançou o suficiente na caracterização
dolosa de todo o processo que atingiu por inteiro uma
grande corporação de profissionais e aposentados.
Dentro de uma semana, estaremos lembrando o aniversario
do leilão que abateu perigosamente a Varig e mostrou
aos brasileiros que esse discurso sobre supressão
de direitos trabalhistas nas mudanças tramadas
contra a CLT é obsoleto.
De fato e de direito, nos direitos mais sagrados e nas
horas mais difíceis, os trabalhadores já
foram golpeados pela tal Lei de Recuperação
de Empresas.
Folha de São Paulo
13/07/2007
Funcionários da Anac ganharam
18.158 viagens de empresas aéreas
ANDREZA MATAIS DA SUCURSAL DA BRASÍLIA
De 2006 até abril de 2007, funcionários
da Anac (Agência Nacional de Aviação
Civil) fizeram 18.158 viagens aéreas grátis,
com base em um privilégio conhecido como passe
livre -os servidores só precisam se identificar
para conseguir um lugar em qualquer vôo.
A média é de 37 viagens por dia. Ou dez
viagens por ano para cada um dos 1.755 funcionários.
Seria possível encher 97 Boeings 737-800 com capacidade
para 187 passageiros.
No ano passado, as companhias bancaram 14.687 viagens,
segundo registros da agência, o que significa 40
viagens por dia ou 1.224 por mês. De janeiro a abril
deste ano, já foram 3.471 viagens -média
mensal de 868.
A Anac começou a funcionar em 2006 para fiscalizar
as empresas aéreas. O passe livre foi herança
do DAC (Departamento de Aviação Civil),
extinto quando ela foi criada. No ano passado, o presidente
da agência, Milton Zuanazzi, chegou a anunciar que
a Anac não iria mais usá-lo, mas confirmou
à Folha que os funcionários voam de graça.
As viagens, diz, são para fiscalizar denúncias.
"Utilizamos sim e nunca negamos. Mas, a partir de
março deste ano, quando passamos a ter orçamento,
estamos aplicando um rigor no passe funcional. Determinamos
que só o utilizassem os funcionários com
absoluta necessidade de prestação de inspeção
de segurança de vôo", disse. Ele negou
que a medida tenha sido adotada para conter abusos.
O passe livre será investigado pela CPI do Apagão
Aéreo da Câmara. Os deputados aprovaram,
nesta semana, requerimento para que a Anac e as companhias
informem o número de passagens desde 2006, quem
as solicitou e para quê.
Folha de São Paulo
13/07/2007
TCU vai auditar contrato firmado
pela Aeronáutica
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O TCU (Tribunal de Contas da União) decidiu auditar
contrato do Comando da Aeronáutica com a empresa
Atech (Fundação Aplicações
de Tecnologias Críticas) para desenvolvimento de
programa de controle do tráfego aéreo. Apesar
de ter consumido US$ 10 milhões, o programa ainda
não estaria funcionando, quase sete anos após
o contrato. A falha teria contribuído para o caos
aéreo. As informações constam de
relatório votado anteontem.
O contrato já é investigado por comissões
na Câmara e no Senado, a partir de denúncia
de um funcionário do Instituto de Controle do Espaço
Aéreo. O Comando da Aeronáutica não
confirmou o valor dos pagamentos à empresa nem
o atraso. O contrato com a Atech e os pagamentos foram
feitos legalmente, disse o órgão.
O Globo
13/07/2007
Negócios e Cia
Mercado e Eventos
12/07/2007 - 17:30h
Varig Log e Fundação
Rubem Berta retomam serviço humanitário
A partir do próximo domingo, dia 15 de julho,
a Varig Loge a Fundação Rubem Berta reativam
serviço de transporte gratuito de medicamentos
importados de necessidades vitais - ele ficou desativado
por um ano. Com essa iniciativa, pacientes que dependem
desse tipo de remédios não fabricados no
Brasil poderão importá-los sem qualquer
ônus, ou seja, sem taxas de fretes ou despesas adicionais.
A Varig Log cederá gratuitamente o avião
cargueiro e a tripulação para o transporte
dos remédios desde sua origem (Estados Unidos ou
países da Europa) até o aeroporto de Cumbica,
em Guarulhos. O paciente pagará estritamente o
custo do medicamento. Nos casos de entrega fora de Guarulhos,
o translado até a cidade de destino será
por conta do solicitante.
Toda a intermediação entre pacientes e
distribuidores - desde a encomenda, acompanhamento, retirada
e entrega dos medicamentos - ficará a cargo da
Fundação Rubem Berta, que também
fará os contatos com a Vigilância Sanitária
e a Receita Federal.
Os interessados devem procurar o setor de medicamentos
do exterior que funciona no prédio da Fundação
Rubem Berta pelos telefones (11) 5091-2421 e 5091- 2446
ou pelo e-mail: medex@frb.org.br.
Agência Brasil
12/07/2007
Oposição critica relatório
de CPI na Câmara por poupar governo
BRASÍLIA - Deputados da oposição
criticaram o relatório parcial apresentado nesta
quinta-feira(12) na Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) do Apagão Aéreo na Câmara. Para
eles, o relator, deputado Marco Maia (PT-RS), poupou o
governo por não analisar a possível contribuição
de problemas infra-estruturais para a ocorrência
do acidente com o Boeing da Gol, no vôo 1907.
O documento de 155 páginas também não
trata das denúncias de irregularidades que atingem
a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária
(Infraero) e a Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac). E recomenda o indiciamento dos pilotos norte-americanos
Joseph Lepore e Jan Paul Paladino (do jato Legacy que
colidiu com o Boeing) por homicídio com dolo eventual
- embora não tivessem intenção de
matar, sabiam estar colocando a vida de outras pessoas
em perigo.
O relatório sugere ainda que os controladores
de vôo Felipe dos Santos Reis, Leandro José
Santos Barros, Lucivando Tibúrcio de Alencar e
Jomarcelo Fernandes dos Santos sejam indiciados por crime
culposo (sem intenção). Para o deputado
Ivan Valente (P-SOL-SP), foram deixados de lado, no documento,
problemas apresentados por pessoas convocadas a depor
na CPI: Certamente há responsabilidades humanas,
particularmente dos pilotos do Legacy, mas acho que o
relatório não cobriu os problemas de falhas
estruturais que podem ter colaborado para o acidente.
Valente lembrou as denúncias de que há
pontos não cobertos por radares na região
onde ocorreu a colisão entre os dois aviões,
em Mato Grosso, em setembro do ano passado. Ele disse
ter achado estranho o fato de o relatório não
tratar das queixas dos controladores sobre possíveis
falhas nos monitores e no sistema de rádio. Na
próxima fase, teremos de ver a falta de controladores,
a deficiência dos equipamentos e os problemas com
a Infraero e com a Anac, acrescentou. O deputado Vanderlei
Macris (PSDB-SP) não discordou das recomendações
do relatório, mas manifestou preocupação
com a retomada das investigações em agosto,
após o recesso parlamentar.
- Entraremos na apuração de denúncias
relativas ao sistema aeroportuário e de tráfego
aéreo. E até agora foram rejeitados todos
os requerimentos da oposição solicitando
o depoimento de pessoas e a apreciação das
auditorias feitas pelo Tribunal de Contas da União
(TCU) na Infraero. Existem suposições de
contratos superfaturados e uma série de problemas
que gostaríamos de investigar - disse.
O relator negou qualquer intenção de preservar
o governo, ao afirmar que o relatório trata apenas
do acidente aéreo.
- Se tivéssemos encontrado um elemento sequer
que atribuísse culpa ao governo, nós teríamos
apontado isso - disse.
Marco Maia admitiu, porém, que faltou ouvir os
pilotos norte-americanos, porque além de a CPI
não dispor de meios legais para obrigá-los
a vir ao Brasil depor, eles não demonstraram interesse
em dar suas versões dos fatos.
Segundo Maia, o relatório parcial é 'um
instrumento legal, legítimo', que pode ser utilizado
por juízes, pela Polícia Federal ou por
quem buscar ressarcimento dos danos causados pelo acidente.
E traz recomendações que poderão
ser ou não adotadas, a fim de aperfeiçoar
os equipamentos e as normas de vôo.