:::::RIO DE JANEIRO - 11 DE SETEMBRO DE 2006 :::::

 

Tribuna da Imprensa
11/09/06
Coluna: Pedro Porfírio
Varig: um nevoeiro de dúvidas atrozes

"Não podemos aceitar o presidente Lula dizer que `não cabe ao governo salvar empresa falida'. Tal declaração é muito estranha, já que, no início de seu governo, ele determinou que seus ministros achassem uma solução para a Varig, sob a justificativa de que se tratava de uma marca estratégica para o País. Contudo, todas as soluções propostas foram abortadas dentro do próprio governo, por divergências políticas ou interesses ocultos". (Engenheiro Marcus Quintela, JB, 15/4/2006)

Em encontros com aeronautas demitidos da Varig, deparei-me com uma avalanche de dúvidas. Premidos por uma situação de quem não recebe salários desde abril e há dois anos não sabe o que é décimo terceiro, esses profissionais espelhavam o ambiente que hoje ronda a empresa: o que será do amanhã?
De certa forma, a tensão que domina a todos não me surpreende. A quantidade de dúvidas, sim. Porque parece que campanhas subterrâneas e fatos inesperados estão servindo para desagregar e alimentar desconfianças.

Uma comissária me perguntou de chofre: por que a Assembléia Legislativa só instalou uma CPI às vésperas das eleições? O que se pode esperar de uma CPI estadual, quando o grande vilão da história é o governo federal?

Claro que esta não foi a única dúvida suscitada. As conversas realizadas em pequenos grupos estimularam depoimentos e questionamentos que uma grande assembléia não enseja. Mas, como não fiz anotações em nenhuma das situações, vou tentar alinhavar o que mais me impressionou.

Sobre a CPI

Um comissário chamou a atenção para o fato de que recebeu dois e-mails em dias diferentes: um transcrevia a notícia do site da Alerj sobre a instalação da comissão; outro fazia uma convocação para uma passeata do partido do deputado que a presidirá.

Expliquei que considerava a iniciativa tardia, mas antes tarde do que nunca. O simples fato de ter uma Comissão Parlamentar de Inquérito em funcionamento seria uma oportunidade para municiar os seus integrantes de documentos e denúncias que terão repercussão inevitavelmente.

Lembrei que o primeiro convocado - para o dia 14 - é exatamente o Lap Chan, "estrela" do negócio, que tem insistido em que não ficará com a Varig se tiver de pagar os direitos trabalhistas dos empregados. E que poderá falar sobre como entrou no leilão.

Lembrei que os deputados que pediram a CPI são íntegros e que jamais cometeriam a baixeza de se aproveitar desse momento de sofrimento dos aeronautas para tirar proveito eleitoreiro. A CPI se fez inadiável a partir da audiência presidida pelo deputado Noel de Carvalho sobre o descumprimento do protocolo, no qual o governo do Estado devolvia dinheiro de ICMS arrecadado indevidamente.

Fiz a defesa do deputado Paulo Ramos, a quem conheço desde quando era oficial da Polícia Militar. Ele é um dos raros políticos éticos e jamais usaria a CPI com fins eleitoreiros ou para atrair apoio para o seu partido.

Chamei a atenção para a CPI que descobriu o "valerioduto". Em vez de cingir-se aos Correios, quase alcança o próprio presidente da República, levando à demissão do outrora
todo-poderoso José Dirceu.

Sobre o fundo de garantia

Com suas economias combalidas, os aeronautas com quem conversei estavam dispostos a proceder a seu saque, independente do que isso pode representar em renúncias temporárias de direitos. Um chegou a me perguntar: "Quem tem razão nisso tudo, o sindicato ou a TGV"?

Em primeiro lugar, admito que é muito difícil opinar sobre uma situação tão caótica, em relação ao fundo de garantia. Aprendi ao longo de minha vida que nenhum ato, adotado sob pressão, dissolve os direitos trabalhistas. Um empregado pode assinar uma rescisão, mesmo homologada, e vai à Justiça reclamar tudo que considera ainda ser do seu direito.
Mas lamentei que houvesse dúvida sobre sindicato e TGV.

Depois de esclarecer que não conhecia ninguém da TGV antes das minhas colunas circularem (a não ser o comandante Marcelo Duarte, que foi candidato a vereador em 2004), disse que considerava admiráveis os esforços do grupo que evitou a falência pura e simples da Varig no primeiro leilão.

A TGV foi a novidade mais sadia que emergiu nesse processo e certamente a situação dos empregados da Varig seria outra hoje se a Justiça estivesse tão rápida na homologação do seu lance como no leilão que entregou a Varig ao grupo apoiado pelo fundo Matlin Patterson.

Já com relação ao sindicato, sinceramente, até hoje não entendi suas posições. O maior erro, pelo que entendi, foi no passado uma boa parte dos aeronautas afastarem-se da entidade, sentindo-se impotentes para enfrentar o grupo petista.

Fundação e estáveis

Uma comissária quis saber se a CPI vai investigar também as irregularidades na Fundação Rubem Berta. Ela disse que viveu situações desconfortáveis em relação a fornecimentos dos serviços de bordo, mas quando questionava era obrigada a aceitar o que não concordava para que o vôo não atrasasse. A partir desse exemplo, disse que é voz corrente na empresa o superfaturamento e outros desvios que afetaram a sua administração. Um colega lembrou que se fala que a Varig chegou a comprar um quilo de açúcar por R$ 700,00.

Outro assunto levantado foi a situação do pessoal que tinha estabilidade em função da proximidade da aposentadoria. Esses funcionários não vão poder sacar o fundo, não estão sendo chamados para a escala e nem receberam nada. "Ironicamente, alguns estão querendo voltar atrás e serem demitidos para ver a cor do dinheiro".

Sobre o Aerus, a perplexidade é ainda maior. Depois de observar que durante um bom tempo uma mesma pessoa era a pagadora da Varig e presidente do fundo de pensão, um aeronauta informou que soube que seu dinheiro havia encolhido quando do primeiro leilão.

E não entende por que o governo federal, através da Secretaria de Previdência Complementar, foi tão omisso, chegando à liquidação do fundo. Ele não pode imaginar que em dezembro já não exista dinheiro para pagar a complementação para a qual milhares de trabalhadores contribuíram por muitos anos.

Enfim, eu também sofri muito ao conhecer os efeitos perversos que essa crise está surtindo. Tenho mais depoimentos a levar ao conhecimento dos leitores e espero fazê-lo. Porém, o que mais me deixou triste foi sentir que um nevoeiro de desesperança se abateu sobre um competente grupo de profissionais que tantos serviços prestaram à bandeira brasileira.

Cestas básicas

Recebi e-mail de Paulo Resende, atuante comissário aposentado, e transcrevo aqui como um ato de solidariedade e, ao mesmo tempo, com um sentimento amargo diante do desdobramento perverso de um massacre inacreditável:
"Vamos ajudar os nossos colegas que estão demitidos e passando muitas necessidades. Vamos ajudar, se possível, com cestas básicas. É só entrar em contato com a ACVAR - Associação dos Comissários da Varig (2220-3146). Rio de Janeiro.

Não deixem de ajudar. Eu já fiz a minha doação.
Neste momento tudo que puder ser doado é muito importante.
Grande e fraternal abraço do amigo Paulo Resende".

11 de setembro

Transcorre hoje mais um aniversário do atentado que abalou os Estados Unidos, com o uso de aviões de carreira para destruir as Torres Gêmeas e o Pentágono. Depois do 11 de setembro de 2001 a vida na aviação comercial do mundo virou de cabeça para baixo. Governos como o norte-americano empenharam milhões de dólares para recuperar as empresas afetadas. No Brasil, não. Aqui, praticamente nada se fez, precipitando o agravamento da crise da Varig, que tinha a maior parte dos vôos internacionais.

 

 

O Globo Online
10/09/2006
às 23h24m
Avião com banda Calypso faz pouso forçado no Galeão

RIO - Os integrantes das bandas Calypso e Skank passaram por sustos no céu neste domingo. A aeronave em que se encontravam os músicos paraenses teve que fazer um pouso forçado no Aeroporto Internacional do Galeão após uma falha no trem de pouso. Já o avião em que estava o grupo mineiro quase atingiu um helicóptero ao aterrissar em Jacarepaguá.

Ambos os grupos falaram sobre os momentos de tensão no programa “Domingão do Faustão”. Samuel Rosa, vocalista do Skank, acredita que tenha havido uma falha de comunicação entre a torre de comando e a aeronave. O avião da banda Calypso passou junto à torre de controle três vezes para averiguação visual das rodas e fez um sobrevôo para consumir o combustível. Foram acionados então o trem de pouso de emergência e o plano de emergência do aeroporto. Joelma, do Calypso, explicou que o trem de pouso do avião só abriu de um lado.

— O piloto falou que teria de descer de qualquer maneira. Foram mais de 40 minutos de muito medo — lembrou ela.