O ESTADO DE SÂO PAULO
11/06/2007
A crise aeroportuária
Os atrasos e cancelamentos de vôos que têm
ocorrido nos aeroportos das Regiões Sudeste e Sul
do País - especialmente em São Paulo, Curitiba
e Porto Alegre - se devem a fatores sazonais. Durante
meses, os passageiros sofreram as conseqüências
da greve branca feita pelos controladores de vôo.
Agora, padecem os efeitos dos nevoeiros, que provocam
o fechamento de aeroportos ou a sua operação
com severas restrições. Em alguns aeroportos,
nos últimos dias houve atrasos e cancelamentos
em mais de 20% dos vôos programados.
Os controladores já não estão fazendo
greve branca e, no máximo dentro de dois meses,
os nevoeiros voltarão a ser fenômenos isolados.
Mas os passageiros terão de se acostumar a longas
esperas nos saguões e nas salas de embarque dos
aeroportos. O sistema aeroportuário brasileiro
está saturado e isso se traduz em desconforto para
os usuários do transporte aéreo.
Isso não acontece apenas no Brasil. Nos Estados
Unidos - o país que é geralmente citado
como um exemplo de dinamismo e eficiência no setor
- está acontecendo a mesma coisa. O sistema está
saturado e qualquer perturbação climática
provoca atrasos muito maiores do que os registrados, por
exemplo, em São Paulo, por causa da diferença
de escala do movimento de passageiros e aviões.
Na terça-feira, por exemplo, houve atrasos de 70
minutos no Aeroporto de Boston, de 81 minutos em Newark,
de 86 minutos no Kennedy, de 95 minutos no La Guardia
e de 62 minutos no O’Hare, em Chicago. Nos primeiros
quatro meses do ano, a média de atrasos foi de
24,5% dos vôos, a pior dos últimos 12 anos.
A demanda de viagens aéreas está crescendo
assustadoramente e há muitos anos. No Brasil, apesar
da quebra da Transbrasil, da Vasp e da Varig, há
um aumento de demanda de 12% ao ano. Esse crescimento
se deve a fatores que vão do crescimento da economia
com moeda estável até a entrada no mercado
das companhias aéreas que oferecem serviço
básico a preço baixo, passando pela globalização,
que desglamourizou as viagens internacionais. Em resumo,
as viagens aéreas tornaram-se triviais e baratas,
ao alcance de um número cada vez maior de pessoas
que há duas ou três décadas nem sonhariam
entrar num avião.
O resultado dessa convergência de fatores é
a saturação da infra-estrutura aeroportuária.
No Brasil, segundo estimativas da Infraero, o volume anual
de passageiros, atualmente de 118 milhões, subirá
para mais de 158 milhões em 2010 e para 200 milhões
em 2018.
Os principais aeroportos já não têm
capacidade para tamanho movimento. Um relatório
preliminar da Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac) mostra, por exemplo, que o Aeroporto de Congonhas,
com uma capacidade para receber 12 milhões de passageiros
por ano, recebe mais de 17 milhões. O de Brasília
tem uma capacidade para 7,4 milhões, mas recebe
cerca de 10 milhões de passageiros. Cumbica, com
capacidade para 16,5 milhões de pessoas, está
no limite. A construção de um terceiro terminal
ampliará a capacidade para 28,5 milhões
de passageiros, mas entre 2010 e 2015 a estimativa é
que passem pelo aeroporto 30,7 milhões de passageiros.
Os terminais de Vitória e Porto Seguro também
estão saturados. Os de Curitiba, Salvador, Fortaleza
e Cuiabá atingirão esse ponto dentro de
dois ou três anos.
Os pátios de aeronaves desses aeroportos também
estão saturados - ou seja, não há
mais espaço físico para receber os aviões
a mais, necessários para atender à demanda.
Os atuais planos de expansão da infra-estrutura
aeroportuária são meros paliativos, que
empurram a crise para a frente, por mais quatro ou cinco
anos, no máximo. Isso se forem cumpridos. A Infraero
estima em R$ 5,069 bilhões o custo da expansão
dos 28 aeroportos mais críticos, mas disporá
de apenas R$ 3,044 bilhões. O Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC) prevê dotação
de R$ 2 bilhões, mas para 20 aeroportos. Já
a Anac estima em mais de R$ 6,8 bilhões o total
necessário para a expansão do sistema. Ou
seja, exclusivamente com recursos públicos, a conta
não fecha.
Enquanto o governo continuar impedindo que a iniciativa
privada - sob a forma de concessões ou de Parcerias
Público-Privadas - invista na infra-estrutura aeroportuária,
o passageiro sofrerá.
O Estado de São Paulo
10/06/2007
Relatório da FAB prova críticas
de controlador
Aeronáutica quer atestado
de órgão internacional sobre sistema do
País
Tânia Monteiro
Para tentar botar um ponto final na polêmica com
os controladores, que criticam e se queixam dos equipamentos
utilizados no sistema de proteção ao tráfego
aéreo do País, a Aeronáutica está
negociando para trazer ao Brasil um grupo de técnicos
da Organização da Aviação
Civil Internacional (OACI). Quer que eles atestem o que
o comandante da Força Aérea, brigadeiro
Juniti Saito, disse na CPI do Apagão Aéreo,
no Senado, e tem repetido sempre que lhe perguntam sobre
a qualidade do sistema de controle do tráfego:
que é um sistema 99% confiável.
Na prática, a FAB não admite a existência
de falhas técnicas nem mesmo no 1% restante do
sistema, alegando que há duplicidade de segurança
e controle em todos os equipamentos e que, quando há
problemas, os especialistas estão a postos para
o reparo imediato. O relator da CPI do Apagão Aéreo,
senador Demóstenes Torres (DEM-TO), tem preocupação
semelhante à da Aeronáutica e diz que está
atrás de técnicos independentes, que não
sejam nem ligados à FAB nem ao movimento sindical
dos controladores, para chegar a um parecer que ateste
se o sistema apresenta ou não as falhas denunciadas
e se é ou não seguro.
Apesar de o Comando da Aeronáutica não
detalhar o que seria o 1% problemático do sistema,
e de as Comissões Parlamentares de Inquérito
(CPIs) na Câmara e no Senado terem reforçado
a idéia de que os controladores contribuíram
tanto ou mais que a imperícia dos pilotos norte-americanos
para o choque do jato Legacy com o avião da Gol,
a reportagem do Estado teve acesso a relatórios
especiais mostrando que a infra-estrutura do serviço
de proteção aos vôos tem, sim, problemas
técnicos graves. O Estado não pegou as informações
das falhas nas planilhas com as anotações
manuscritas dos sargentos controladores nos livros de
ocorrências do Cindacta, mas nos relatórios
técnicos que checam e separam dessas anotações
o que foi considerado relevante.
Nesses relatórios há anotações
técnicas comprovadas de radares que duplicam pistas
e fornecem leituras confusas, assim como há a categórica
recomendação de um oficial para que seja
melhorado o software que, hoje, anota e embaralha duas
informações que não podem ser embaralhadas:
a altura exata das aeronaves e a altura do plano de vôo.
A Aeronáutica não admitiu mudanças,
mas admite que há estudos, também, para
inserir algum tipo de alarme (sonoro ou visual) que chame
a atenção do controlador toda vez que uma
aeronave voar com o transponder desligado. Em setembro
do ano passado, quando o avião da Gol caiu e matou
154 pessoas, o jato Legacy, da empresa norte-americana
de táxi aéreo ExcelAire, pilotado por Joe
Lepore e Jan Paladino, chocou-se com o avião da
companhia brasileira depois de voar infindáveis
minutos com o transponder desligado.
O Comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti
Saito, ao ser questionado, na quarta-feira passada, no
Ministério da Defesa, se mudaria o sistema de controle
aéreo, disse ao Estado que 'o sistema funciona
assim desde que foi criado (1996)' e que os controladores
sabem como ele funciona. Pediu que 'a imprensa ajude a
mostrar que o nosso sistema é muito seguro'. Na
segunda-feira, à saída da CPI, no Congresso,
o comandante comentou que só haverá mudanças
quando for promovida uma reforma geral no sistema, o que
levará ainda alguns anos.
PISTA FALSA
Relatório datado de 20 de abril de 2007 trata
das 'anomalias encontradas pelo sistema de tratamento
e visualização do controle do tráfego
aéreo de Brasília, nos meses de fevereiro
e março deste ano'. O relatório técnico
atesta que 'o radar de Santa Teresa cria pista falsa secundária',
e que 'o radar de Confins duplica e essa duplicação
aparece na mesma radial da pista verdadeira'. Esses dois
casos se referem a ocorrências de perigo registradas
pelos Controladores no dia 12 de fevereiro deste ano e
que foram confirmadas pelos técnicos da FAB. O
mesmo relatório indica que 'a pista do Couto inicia
a extrapolação e, antes de suprimi-la, cria
uma outra pista local aparecendo na visualização,
uma duplicação por dois círculos'.
Os controladores queixam-se de que é comum sumir
das telas a indicação do nível da
aeronave e até mesmo a sua matrícula, como
aconteceu com o Legacy no dia do acidente com o Boeing
da Gol. Caso semelhante, não apenas anotado e descrito
pelos controladores, mas comprovado depois pela verificação
técnica da FAB, está registrado em relatório
de 20 de abril passado. Oito dias antes, no relatório
número 01/OATM/2007, de 12 de abril, aprovado pelo
tenente coronel aviador Leônidas de Araújo
Medeiros Júnior, então chefe da Divisão
Operacional do Cindacta IV, de Manaus, ficou explícita
a recomendação para a mudança do
software atual no item que trata da modificação
automática do nível de rota.
Esse software funciona assim: do lado esquerdo da tela
aparece o nível da altitude real da aeronave, enquanto
do lado direito aparece a altitude prevista no plano de
vôo. O problema: mesmo que o controlador não
tenha autorizado o piloto a mudar de nível, e ele,
efetivamente, não tenha mudado de altitude, se
o plano de vôo registrado indica que a partir de
um determinado ponto deve haver mudança de altitude,
o sistema adapta automaticamente a informação,
confundindo o operador. Os controladores querem que a
altitude que aparece como sendo a altitude do plano de
vôo seja inserida na tela do sistema por acionamento
manual - não foram atendidos até hoje.
Esse problema, de acordo com os controladores, confundiu
o sargento Jomarcelo Fernandes dos Santos que estava monitorando
o Legacy quando o jato da ExcelAire passou por Brasília
rumo ao choque com o avião da Gol e conseqüente
tragédia. O sistema havia 'atualizado' a altitude
do Legacy para os 36 mil pés previstos no plano
de vôo, mas o jato estava, na verdade, na mesmíssima
aerovia de 37 mil pés por onde descia de Manaus
para Brasil o Boeing da Gol.
O relatório a que o Estado teve acesso comprova
que oficiais técnicos da Aeronáutica concordam
com os controladores ao concluir o texto dizendo: 'O software
atual possui uma função relativa a modificações
nos níveis da rota de um plano de vôo e essa
função não condiz com a realidade
da legislação em vigor'. E sugere: 'É,
portanto, necessária a atualização
do sistema para adequá-los às novas necessidades.
Essa adequação, não só melhorará
a operação de controle do tráfego
aéreo, dando-lhes mais segurança, como também
fará com que o software fique de acordo com a legislação
em vigor'. O relatório comenta ainda que 'os operadores
estão preocupados e aguardando uma solução
para o assunto'.
OUTRAS QUEIXAS
De acordo com os controladores, há ainda outros
problemas, como os de freqüência que não
estão solucionados. Além das interferências,
que são alheias à FAB, porque são
provocadas por rádios piratas, os controladores
reclamam da qualidade delas, o nível de ruído
e o fato de elas sumirem. Informam, por exemplo, que nas
cartas de Rota (ERC), expedidas em 07 de junho de 2007,
constam a freqüência 124.45 para o APP-BR (Controle
de Aproximação de Brasília), porém
tal freqüência não existe e não
está operacional. Consideram, portanto, que essa
informação poderá ser um risco à
aviação. Outro dado é que a freqüência
125.60 consta na carta de rota (ERC) que também
entrou em vigor anteontem, dia 07/06/2007, porém
ela não existe nos consoles de radar do ACC-BS
(Centro de Controle de área).
Oficiais da FAB consultados pelo Estado justificam que
os grandes problemas ocorridos no sistema todos foram
provocados por falha humana e listam que o primeiro deles,
foi a falta de pessoal, em decorrência do acidente.
Depois, foi a pane de energia em Curitiba, que lembram
que foi causada por erro do operador, assim como a pane
no sistema de comunicações, em dezembro,
em Brasília, também porque o militar que
trabalha na manutenção colocou a placa errada
no computador, gerando a queda de funcionamento dos rádios.
Em relação às interferências,
dizem que não têm como prevenir e que estão
atuando junto com a Anatel para tentar resolver os problemas,
na medida que eles surgem. Sobre o surgimento de alvos
falsos na telas, os oficiais, embora reconheçam
que isso pode atrapalhar os controladores, justificam
que eles sabem distinguir o verdadeiro do falso.
Abaixo trechos dos relatórios da FAB obtidos
pela reportagem:
Pista falsa:
'O radar de Santa Teresa cria pista falsa secundária'
'O radar de Confins duplica e essa duplicação
aparece
na mesma radial da pista verdadeira'
Software:
'O software atual possui uma função relativa
a modificações nos níveis da rota
de um plano de vôo e essa função não
condiz com a realidade da legislação em
vigor'
'É, portanto, necessária a atualização
do sistema para
adequá-los às novas necessidades. Essa adequação,
não só melhorará a operação
de controle do tráfego aéreo, dando-lhes
mais segurança, como também fará
com que o software fique de acordo com a legislação
em vigor'.
Site da ALERJ
10/06/2007
CPI ouvirá nesta quinta ex-interventor
do Aerus e sócios da Volo
Nesta quinta-feira (14/06), a Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI) que investiga, na Assembléia
fluminense, o processo de venda da Varig, vai ouvir o
ex-interventor do Aerus, Erno Brentano, e os sócios
da Volo do Brasil, Marco Antonio Audi, Luiz Eduardo Gallo
e Marcos Haftel.
Os três últimos foram convocados anteriormente,
mas, diante das ausências não justificadas,
a CPI pediu ajuda da polícia.
"Eles solicitaram um habeas corpus preventivo, para
evitar constrangimento durante os depoimentos. Mas, tenho
certeza que, dessa vez, virão", garantiu o
deputado Paulo Ramos, presidente da CPI, na sessão
realizada dia 31/05.
Para o deputado, esses depoimentos, somados à
quebra de sigilo dos convocados, serão suficientes
para encerrar a fase de declarações de envolvidos.
"Em seguida, estudaremos os documentos apresentados
e finalizaremos o relatório. A intenção
é encerrar os trabalhos na primeira semana de agosto",
prevê Paulo Ramos.
Os depoimentos estão previstos para as 10h30,
na sala 311 da Alerj.
Revista VEJA
09/06/2007
ARTE - Quadros a jato
Varig coloca em leilão
seu curioso e heterogêneo acervo
Fátima Sá
Fotos Divulgação
Baianas, gigantesca tela de Di Cavalcanti
(à esq.), Guatai 3, de Ascânio MMM (acima
à dir.), e Pirassununga, de Roberto Celegatti Filho:
encomendas e cortesias
Durante oitenta anos, as asas da Varig transportaram
artistas brasileiros por todo o país e boa parte
do mundo. Transportaram, também, suas telas, gravuras,
esculturas e afins entre uma e outra exposição.
Nada mais justo, portanto, que muitos desses artistas
quisessem retribuir tanta cortesia. E foi assim que a
Varig montou a maior parte de seu curioso acervo de obras
de arte, usadas muitas vezes para decorar lojas e escritórios
da companhia. Na quinta (14), as 292 peças que
integram esse conjunto vão a leilão na sede
da empresa, ao lado do Aeroporto Santos Dumont. O acervo
é heterogêneo – na forma e na qualidade.
A obra principal é uma enorme tela de Di Cavalcanti
– Baianas, de 1961 –, com lance mínimo
de 1,1 milhão de reais. A segunda obra mais valorizada
é um óleo, sem título, pintado por
Tomie Ohtake em 1987, com lance inicial estipulado em
70 000 reais. Há bons trabalhos de artistas como
Rubens Gerchman, Carlos Scliar, Leda Catunda e Ascânio
MMM (a escultura de madeira Guatai 3, por exemplo, está
avaliada em 10 000 reais).
Ainda assim, é preciso um olhar seletivo. No meio
dos lotes estão até reproduções
em offset, daquelas que se compram em lojinhas de museu,
cotadas em 100 reais. Sem falar nos quadros recheados
de aviões da companhia – itens que devem
interessar mais a ex-funcionários e saudosistas
da Varig do que a colecionadores de arte. "É
um volume grande de obras, para todo tipo de gosto e poder
aquisitivo", diz o leiloeiro Walter Rezende, encarregado
da venda. As obras estarão à mostra de segunda
(11) a quarta (13), na antiga sede da Varig.
Comenta-se no mercado que a tela de Di Cavalcanti já
teria vários interessados no Rio e em São
Paulo. "Di pintou poucas obras desse tamanho. É
uma tela de 2,42 metros por 2 metros", conta Jones
Bergamin, diretor da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro,
organizadora do leilão. A pintura foi encomendada
por Ruben Berta, então presidente da Varig, quando
seus aviões começaram a voar para o Peru.
Por muitos anos decorou o escritório da empresa
em Lima. Recentemente, estava no Salão Ícaro,
o mesmo local onde será o leilão.
Autorizada pela 1ª Vara Empresarial do Tribunal
de Justiça do Rio, a venda das obras destina-se
a arrecadar dinheiro para quitar parte das dívidas
da companhia, em processo de recuperação
judicial. Uma parte ínfima, é bem verdade.
Os organizadores, afinal, estimam recolher cerca de 2
milhões de reais. E a dívida da velha Varig
soma 7 bilhões de reais.
Leilão. Salão Ícaro, Avenida Almirante
Silvio de Noronha, 365, Castelo.
Informações: 2522-1544 e 2247-7555. www.walterrezende.com.br.
Qui. (14), 17h. Exposição: seg. (11) a qua.,
10h/18h.