Invertia
09/11/2007
Zuanazzi: BRA é problema
pequeno perto da crise da Varig
Jeferson Ribeiro -Direto de Brasília
O ex-presidente da Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac), Milton Zuanazzi, diz que a suspensão
das atividades da BRA, que anunciou ter vendido 70 mil
passagens até março de 2008 é um
"problema pequeno", se comparado com a paralisação
das operações da Varig. Segundo Zuanazzi,
a Varig havia deixado 6 milhões de tíquetes
vendidos, além de passageiros com direito a viagens
pelo programa de milhagem.
" É uma situação bem mais
confortável do que quando a Varig parou de operar.
Esse é um problema pequeno, perto dos 6 milhões
de bilhetes vendidos que tinha a Varig, fora o programa
Smiles", salienta Zuanazzi.
O ex-presidente diz que a situação da
BRA era delicada há algum tempo. "Nós
sabíamos que a situação era delicada,
tanto que das dez aeronaves deixamos apenas cinco em
operação. Mas, sempre primando pela segurança,
eu nunca quis ver empresas saindo do mercado. Isso é
ruim para a oferta de passagens. Até porque a
retomada de atividades é mais difícil
quando uma aérea sai do mercado", revela.
Zuanazzi chegou a suspender a venda de passagens para
trechos internacionais da BRA em meados de outubro,
quando ele era o único diretor ativo da Anac.
Para ele, uma solução possível
para que BRA continue suas operações seria
recorrer à recuperação judicial,
instrumento criado pela nova Lei de Falências.
Esse foi o caminho seguido pela Varig no ano passado
e que fez surgir uma nova companhia, livre de dívidas,
que foi adquirida pela Gol.
"Eles podem entrar no processo de recuperação
judicial como fez a Varig", sugere o ex-presidente
da Anac. Essa pode ser uma saída para a companhia,
já que as dívidas não são
tão altas como eram as da Varig. Nesse caso,
a companhia teria que pedir intervenção
judicial e renegociar suas dívidas com os credores
por meio de um plano de reestruturação.
Esse plano tem que ser aprovado pela maioria dos credores.
Zuanazzi deixou a Anac no último dia 31 e entregou
ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma carta
de demissão bastante dura com críticas
ao governo e em especial ao ministro da Defesa, Nelson
Jobim. O ex-presidente da Anac disse na carta que "após
30 anos de serviço público" continuava
vendo as coisas acontecerem da mesma forma, "onde
a verdade, a seriedade, no trato das coisas públicas,
e, especialmente, as instituições e as
leis do Estado democrático serem vilmente desrespeitadas"
e que a Secretaria de Aviação Civil (SAC)
criada pelo ministro nada havia produzido a não
ser "ações midiáticas, manifestações
desesperadas, discursos sem qualquer conteúdo
técnico, revelando um jogo pobre, que tanto mal
tem feito ao Brasil".
Ontem, somente dois dias depois da BRA anunciar a suspensão
de suas atividades Jobim se pronunciou sobre o tema
e disse que o mercado teria que resolver o problema
dos consumidores que compraram passagens da companhia
para as férias ou para voar em 2008. " Aqueles
que compraram passagens para o ano que vem ou para as
férias terão problemas. Eles não
serão resolvidos pelo contribuinte brasileiro,
é um problema de mercado", disse Jobim,
que desde o início da crise não se privava
de dar declarações como nesse episódio.
O Estado de São Paulo
09/11/2007
BRA foi autuada pela Anac 448
vezes em apenas 18 dias
Agência também
recebeu, desde o início de 2006, várias
denúncias de tripulantes apontando irregularidades
Mariana Barbosa
A deterioração das operações
da BRA foi amplamente acompanhada e registrada pela
Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac). Entre os dias 26 de agosto e 14 de outubro (48
dias) foram feitas nada menos que 928 reclamações.
Essas reclamações geraram 672 autos de
infração contra a companhia aérea,
que na terça-feira suspendeu suas operações
e anunciou a demissão de 1.100 funcionários.
Os autos de infração - primeira etapa
do processo administrativo que pode ou não levar
à aplicação de multas - referem-se
a problemas de cancelamento e atrasos de vôos,
overbooking e extravio de bagagem relatados por passageiros.
A Anac não soube informar se a empresa chegou
a ser multada por conta dessas infrações.
Uma vez autuada, a companhia tem 20 dias para se defender.
Se a defesa for julgada improcedente, a multa para cada
infração pode variar de R$ 2 mil a R$
10 mil.
Uma análise do relatório de infrações
mostra que os problemas se intensificaram com o passar
dos dias. Enquanto de 26 de agosto a 26 de setembro
a empresa recebeu 224 autos de infração,
nos 18 dias subseqüentes foram 448.
DENÚNCIAS
Muito antes do aumento de reclamações,
porém, a Anac recebeu e apurou uma série
de denúncias de irregularidades da tripulação
da própria BRA e também do Sindicato Nacional
dos Aeronautas.
Em resposta a algumas dessas denúncias, em 30
de janeiro de 2006 o gerente de fiscalização
da Superintendência de Segurança Operacional
(SSO) da Anac, Jonas Ferreira Sant’Anna, detectou
a existência de “várias irregularidades
que poderiam comprometer a segurança de vôo”,
conforme consta em um documento da Anac obtido pelo
Estado. Na época, o diretor de operações
da BRA foi autuado, juntamente com o piloto-chefe e
alguns comandantes.
Quatro meses depois, em 31 de maio de 2006, com a constatação
de que as irregularidades continuavam acontecendo, o
mesmo gerente da SSO recomendou à diretoria da
agência que enquadrasse a companhia no artigo
299 do Código Brasileiro da Aeronáutica.
O artigo prevê, entre outras coisas, a suspensão
ou cassação da concessão de transporte
aéreo da companhia. A recomendação
técnica foi feita dias depois da derrapagem de
um Boeing da BRA em Congonhas.
“Toda vez que fazíamos denúncias,
os técnicos da agência respondiam dizendo
que eram procedentes. Mas quando vinha uma resposta
assinada pela direção da Anac, dizia que
não haviam encontrado irregularidades”,
diz um dirigente sindical. “Eu diria que esse
comportamento da Anac é muito pior do que uma
simples omissão.” Procurada, a Anac não
retornou as ligações. As denúncias
eram variadas - desde excesso de jornada da tripulação
e alimentação com validade vencida até
problemas graves de manutenção.
O Estado de São Paulo
09/11/2007
Jobim descarta ajuda à
BRA
Segundo o ministro, passageiros
com bilhetes ‘terão problemas’
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, admitiu ontem
que os clientes da BRA com passagens marcadas para as
férias do final e início de ano terão
problemas para embarcar. Jobim disse também que
não há possibilidade de o governo fazer
investimentos na BRA, porque se trata de um problema
de mercado. “Não será o contribuinte
brasileiro que vai resolver esse problema”, disse.
Jobim dividiu as pessoas que compraram passagens da
BRA, que suspendeu suas operações na última
terça-feira, em dois grupos: as que já
usaram um trecho da viagem e as que compraram bilhetes
para as férias. Para atender ao primeiro grupo,
afirmou, a Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac) e os órgãos de defesa do
consumidor estão “operando para que as
outras empresas endossem (as passagens) e assumam o
deslocamento desses para o ponto de origem”. Mas,
segundo ele, “os que compraram para depois terão
problemas”.
A BRA informou ontem que “inicialmente”
vai endossar todas as passagens já vendidas para
vôos domésticos até 10 de janeiro
de 2008, apesar de a companhia ter vendido 70 mil bilhetes
até março do ano que vem. A empresa, por
meio de comunicado, informou que o passageiro deve procurar
as lojas da BRA com a cópia do tíquete
eletrônico para obter o endosso. Caso haja desistência
da viagem, a BRA diz que o reembolso pode ser pedido
em qualquer loja da empresa, edeverá ser pago
em 30 dias.
Mas nem todos acreditam que o reembolso será
simples. “Há um risco muito grande de os
passageiros não receberem esse dinheiro”,
diz o advogado especializado em direito do consumidor
Arthur Rollo. Segundo ele, esses clientes são
hoje os maiores prejudicados pela suspensão das
operações.
Para o coordenador de ações judiciais
da Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec),
Paulo Pacini, a empresa já dá sinais de
insolvência. Por isso, a entidade pretende iniciar
a articulação com outros órgãos
de defesa do consumidor para entrar com uma ação
civil pública na Justiça, pedindo a proibição
da venda dos bens da BRA. A medida tem objetivo de garantir
o pagamento de dívidas. “Não afastamos
essa hipótese.” Ministério Público
e Procon-SP também não descartaram a possibilidade,
mas ainda não têm data para entrar com
a ação.
O Procon-SP, porém, iniciou ontem procedimento
administrativo contra a BRA. A entidade notificou a
empresa para prestar esclarecimentos sobre as condições
de reembolso ou endosso aos passageiros. Além
disso, quer saber até que data a empresa vendeu
passagens, antes de tomar a decisão de suspender
as atividades. A Associação de Defesa
do Consumidor (Pro Teste) também entrou ontem
com representação no Ministério
Público de São Paulo. “Pedimos providências
no sentido de resguardar o direito coletivo lesado”,
diz a coordenadora institucional do Pro Teste, Maria
Inês Dolci.
Segundo Arthur Rollo, os cerca de 70 mil clientes da
BRA que se sentirem lesados podem procurar a Justiça
para reaver o valor dos bilhetes, além de indenização
por danos morais e materiais. No entanto, caso a empresa
decrete falência, os clientes são os últimos
a receber seus créditos - depois do pagamento
das dívidas com o Fisco e com os funcionários.
“É um processo complicado”, avalia.
Ele não descarta a possibilidade de a União
também ser acionada. Para Rollo, houve negligência
no dever de fiscalização do Estado.
O Estado de São Paulo
09/11/2007
Reembolso de passagens custará
R$ 22 milhões
Alberto Komatsu
Para conseguir honrar os reembolsos aos passageiros
que compraram passagens da empresa, a BRA está
tentando obter R$ 22 milhões. Esses recursos
poderiam vir dos sócios da empresa - agrupados
no fundo Brazil Air Partners - ou de outra fonte. Outros
R$ 7 milhões são negociados para pagar
a rescisão dos 1.100 trabalhadores que estão
em aviso prévio.
Ontem, técnicos da Infraero reuniram-se com
a Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac) para analisar qual será o destino dos
espaços ocupados pela BRA em aeroportos, como
hangares e balcões de check-in. Segundo a Anac,
que administra 67 aeroportos, a BRA deve R$ 2,4 milhões
para a Infraero pelo uso de balcões, hangares
e lojas nos aeroportos em que operava.
Segundo a Infraero, nessa conta não está
incluída a cobrança de taxas aeroportuárias
que vão direto para o Tesouro - que repassa 72%
do total arrecadado para a Aeronáutica. Os 28%
restantes são destinados à Infraero como
recursos para a manutenção dos aeroportos.
O Estado de São Paulo
09/11/2007
Jobim cede e revê limite
de vôos
Vôos com origem ou destino
em Congonhas poderão ter 1,5 mil km na alta temporada
Tânia Monteiro e Bruno Tavares
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, cedeu à
pressão das empresas aéreas e autorizou
a ampliação do raio de vôos a partir
do Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São
Paulo, subindo de mil quilômetros para 1.500 quilômetros
no período de alta temporada - de 1º de
dezembro a 15 de março. A flexibilização
anunciada ontem por Jobim atende ao interesse comercial
das companhias, que se queixavam de não conseguirem
atender a Região Nordeste partindo de Congonhas.
Agora, poderão chegar até Cuiabá,
em Mato Grosso, e Salvador, na Bahia, dois destinos
“rentáveis” que estavam fora do perímetro.
A decisão foi precipitada pela pressão
política exercida pelo governador da Bahia, Jaques
Wagner (PT). Segundo assessores do Planalto, o petista
chegou a reclamar com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva da restrição imposta ao
aeroporto paulista. Na conversa, Wagner falou sobre
o impacto negativo para o turismo. Em visita à
Bahia na semana passada, Jobim já havia dito
a políticos locais que encontraria uma solução.
O Ministério da Defesa frisou que permanece
a regra de que vôos com origem ou destino em Congonhas
têm de ser “ponto a ponto”. Também
manteve a proibição de escalas e conexões.
Para o diretor de Segurança de Vôo do Sindicato
Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), Ronaldo
Jenkins, essas restrições também
deveriam ser revistas. “Um aeroporto sem conectividade
é muito ruim”, disse o especialista. Segundo
ele, a decisão de Jobim está de acordo
com as diretrizes do Plano de Desenvolvimento da Aviação
Civil, de 1997. “Esse limitação
de mil quilômetros não fazia sentido.”
Na segunda-feira, o Estado mostrou que, aproveitando
brechas de uma portaria mal escrita, as companhias driblam
a restrição e fazem vôos de Congonhas
para qualquer lugar do País. Elas simplesmente
dividiram o vôo - agora são dois bilhetes
- e introduziram uma conexão relâmpago.
Em muitas conexões, feitas num aeroporto no perímetro
permitido, como Galeão (RJ), Confins (MG) ou
Brasília, o passageiro nem desce do avião.
A prática foi flagrada em dois vôos da
TAM. Eles saíram de Congonhas para Cuiabá
(a 1.360 quilômetros) e Salvador (a 1.468 quilômetros).
As restrições, impostas pelo Conselho
Nacional de Aviação Civil (Conac), foram
pensadas no calor da tragédia do Airbus da TAM,
em 17 de julho, que deixou 199 mortos, após varar
a pista do aeroporto paulistano. Três dias depois,
o Conac determinou que Congonhas deixaria de ser um
ponto de escalas e de conexão de vôos e
limitou os percursos a mil quilômetros. A idéia
era desafogar a pista mais movimentada do País
e reforçar a segurança.
O Estado de São Paulo
09/11/2007
Anac proíbe vôo em
Caxias. Falta bombeiro
Elder Ogliari
A Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac) suspendeu anteontem as operações
de aviões com mais de 60 passageiros no Aeroporto
de Caxias do Sul (RS). O terminal teve o nível
de segurança rebaixado do grau 5 para o 3 por
causa de uma vistoria que encontrou só um caminhão
de combate a incêndios no local - a norma prevê
dois veículos. O problema deve ser resolvido
hoje.
Segundo o Departamento Aeroviário do Estado,
517 pessoas tiveram de ir até Porto Alegre para
pegar um vôo rumo a São Paulo. Foi o caso
da delegação do São Paulo, que
na quarta-feira jogou contra o Juventude, em Caxias
do Sul.
Jornal do Brasil
09/11/2007
Jobim lava as mãos para
usuários da BRA
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, admitiu ontem que
o governo não vai atuar para diminuir os transtornos
dos clientes da BRA que compraram passagens para o fim
de ano. Cerca de 70 mil bilhetes foram vendidos pela
companhia - que parou de operar anteontem - até
março do ano que vem.
- Os passageiros que compraram passagem para o ano
que vem ou para as férias, esses terão
problemas - disse.
A prioridade do ministro são os usuários
que já chegaram ao destino de ida e dependem
de acordo com outras empresas para voltarem. Só
no exterior, são cerca de 250 passageiros.
- O Ministério da Justiça e os órgãos
de defesa do consumidor estão agindo para que
as outras empresas possam endossar, receber e assumir
o deslocamento de passageiros que já usaram uma
perna da viagem - contou.
Na avaliação de Jobim, o governo também
não poderia fazer nada para evitar que a companhia
que detinha 4,6% do mercado de aviação
suspendesse suas operações.
- Não temos condições, estamos
em regime de mercado. O contribuinte brasileiro não
teria que investir na BRA. Quem teria que investir eram
seus investidores - alegou.
O Código Brasileiro de Aeronáutica prevê
que "o Poder Executivo poderá intervir nas
empresas concessionárias ou autorizadas, cuja
situação operacional, financeira ou econômica
ameace a continuidade dos serviços, a eficiência
ou a segurança do transporte aéreo".
O prazo de intervenção previsto na lei
duraria até a garantia do restabelecimento da
normalidade dos serviços.
Jobim justificou a posição do governo
em relação à BRA dizendo que a
terceira maior empresa do país não representava
muito no mercado.
- É insignificante a posição dela,
embora apontasse para um crescimento.
O ministro admitiu que o país não tem
outra empresa que possa fazer frente ao duopólio
TAM-Gol.
- Pretendemos que a Ocean Air cresça com solidez
- aposta o ministro.
A Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac), na opinião de Jobim, foi a culpada pela
situação-limite da BRA. O ex-presidente
da agência e desafeto do ministro, Milton Zuanazzi,
chegou a evitar a suspensão das operações
da empresa, no dia em que renunciou ao cargo.
- Nós precisamos ter mecanismos da Anac de acompanhamento
da saúde financeira das empresas. A Anac está
precisando executar muita coisa. Ela não executou
muita coisa é e exatamente isso que vamos fazer
- prometeu Jobim.
Jornal do Brasil
09/11/2007
MP pede bloqueio de aviões
para garantir salários
Os procuradores Alessandro Santos de Miranda, da Coordenadoria
Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho (Codemat),
e Ludmila Reis Brito Lopes, da Procuradoria Regional
do Trabalho do Distrito Federal, entraram ontem com
ação solicitando à Justiça
o bloqueio dos bens da BRA. De acordo com o pedido de
liminar, a ação pretende evitar aos 1.100
empregados da empresa "danos irreparáveis",
no que diz respeito aos seus direitos trabalhistas.
De acordo com a lei, os funcionários, além
de salários atrasados, têm que receber
verbas rescisórias e indenizatórias.
Na lista a ser bloqueada, estão os 11 aviões
Boeing da empresa e os bens de todos os integrantes
da diretoria. Os procuradores pediram ainda na ação
o bloqueio de 50% dos créditos que a companhia
tem em operadoras de cartões.
O que motivou a ação foi o fato de a
BRA admitir publicamente não ter condições
financeiras de saldar a dívida trabalhista. Na
petição, os promotores alegam que "há
um considerável passivo trabalhista a ser saldado
e, até agora, a BRA Transportes Aéreos
S.A. não demonstrou nenhuma disposição
em fazê-lo ou como fazê-lo, uma vez que
está inadimplente no mercado". O MPT pede
a aplicação de multa de R$ 2 milhões
caso a exigência não seja cumprida.
A Fundação de Proteção
e Defesa do Consumidor (Procon) de Guarulhos enviou
ontem ofício ao Ministério Público
da cidade, para que sejam apuradas eventuais fraudes
na venda de passagens da BRA Transportes Aéreos.
O documento solicita da empresa informações
sobre as vendas de bilhetes no último mês.
Para o diretor do Procon Leonardo Freire, é
preciso entender se a empresa comercializou passagens
mesmo sabendo que paralisaria suas operações.
- Se for o caso, vamos responsabilizar a BRA civil
e criminalmente - ameaçou.
Folha de São Paulo
09/11/2007
Ativos da BRA não cobrem
suas dívidas
Chega a US$ 100 milhões
o que a empresa deve a bancos e fornecedores, enquanto
ativos não passam de R$ 10 milhões
Já passagens vendidas e que não poderão
ser usadas chegam a R$ 22 mi; sindicatos pedem bloqueio
de bens à Justiça
MAELI PRADO DA REPORTAGEM LOCAL
Balanço da BRA entregue à Anac (Agência
Nacional de Aviação Civil) mostra que
no final de 2005 a companhia tinha um ativo permanente
de R$ 9,7 milhões, valor muito inferior às
suas dívidas. Trabalhadores entraram ontem e
anteontem com ações pedindo o bloqueio
de bens da companhia aérea para garantir que
sejam pagos.
Segundo fontes da empresa ouvidas pela Folha, hoje o
valor dos ativos permanentes da companhia não
passa de R$ 10 milhões. A BRA tem uma dívida
com bancos e fornecedores que soma cerca de US$ 100
milhões e 70 mil passagens vendidas até
março no valor de R$ 22 milhões. Se as
demissões dos 1.100 funcionários forem
efetuadas, a empresa terá que pagar cerca de
R$ 7 milhões.
O diretor da BRA Danilo Amaral afirmou à Folha
que, se não conseguir novo aporte financeiro,
a empresa irá avaliar a possibilidade de entrar
em recuperação judicial.
A companhia aérea tinha um contrato de seis meses
com a consultoria americana Alvarez & Marsal, que
já cuidou da reestruturação de
companhias aéreas como a US Airways e a Aeroméxico,
mas ele venceu na semana passada.
Os consultores, entretanto, continuam se reunindo com
representantes da empresa aérea para analisar
a sua situação financeira. "Vamos
avaliar essa possibilidade [de recuperação
judicial] se não tivermos caixa", afirmou
Amaral.
Sem conseguir capital de giro (os fundos de investimento
que aportaram dinheiro na BRA em 2006 se recusam a fazer
novo aporte), a companhia pediu a suspensão de
suas operações à Anac na última
terça.
Desde então, vem enfrentando outros problemas:
uma empresa de leasing já entrou com uma ação
na Justiça dos EUA cobrando parcelas atrasadas
de aviões e pode entrar com pedido de arresto
das aeronaves.
Toda a frota da empresa, de dez aviões, é
alugada. Segundo a Folha apurou, os imóveis usados
pela companhia também são alugados. Em
geral, o valor dos ativos permanentes de companhias
aéreas é baixo, já que é
comum a frota ser composta de aviões alugados.
A BRA, que em setembro possuía 4,6% dos vôos
domésticos, fazia 26 rotas nacionais e 3 internacionais.
Atualmente, a BRA sonda fundos de investimento na tentativa
de encontrar um novo interessado em capitalizar a empresa.
A avaliação de especialistas é
que a companhia dificilmente voltará a operar.
Bloqueio
Anteontem, o Simarj (Sindicato dos Trabalhadores nas
Empresas de Transporte Aéreo do Município
do Rio de Janeiro) entrou com uma ação
civil pública no Tribunal Regional da 2ª
Região pedindo o bloqueio da conta corrente da
companhia, das suas aplicações financeiras
e de bens que se encontram nos aeroportos Santos Dumont
e Tom Jobim, no Rio.
A BRA deu aviso prévio para 1.100 funcionários,
e o objetivo da ação é garantir
o pagamento.
Ontem, a FNTTA (Federação Nacional dos
Trabalhadores em Transporte Aéreo) também
ingressou com uma medida cautelar pedindo o bloqueio
de contas da BRA, das filiais da empresa e também
dos bens dos administradores da companhia. "Chegou
ao nosso conhecimento que a companhia tinha dez aviões,
seis deles em leasing e quatro sob o domínio
da BRA", afirma Mário Caliano, advogado
dos sindicalistas.
Amaral nega que os quatro aviões sejam da BRA.
"Os funcionários vão receber. Estamos
focados em arranjar mais dinheiro para a companhia sobreviver.
Esse tipo de ação só piora a situação",
afirmou.
"Nós acreditávamos que iria haver
demissões, mas não nesse nível.
E ninguém achava que ela ia pedir suspensão
de rotas. É hipotético, mas acreditamos
que possa ter sido uma manobra para pressionar o governo
e os fundos para que ajudem a companhia", disse
o presidente da FNTTA, Uébio José da Silva.
Folha de São Paulo
09/11/2007
"Problemas não serão
resolvidos pelo contribuinte", afirma Nelson Jobim
DA FOLHA ONLINE DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Nelson Jobim (Defesa) admitiu que os passageiros
com bilhetes da BRA comprados para as festas de final
do ano poderão enfrentar problemas para o embarque.
O ministro disse que a prioridade do governo será
solucionar casos emergenciais, como passageiros que
já voaram um dos trechos e precisam retornar
aos locais de origem -o que não necessariamente
inclui os feriados de Natal e Ano Novo.
"Aqueles que compraram passagens para o ano que
vem ou para as férias terão problemas.
Eles não serão resolvidos pelo contribuinte
brasileiro, é um problema de mercado."
Jobim disse que o governo já mobilizou o Ministério
da Justiça e órgão de defesa do
consumidor para solucionar os problemas "emergenciais"
dos passageiros da BRA.
Segundo Jobim, a Anac (Agência Nacional de Aviação
Civil) terá que criar um mecanismo de acompanhamento
financeiro das empresas aéreas para evitar surpresas
como a decisão da BRA de interromper suas atividades.
"A liquidação não é
uma decisão que cabe à Anac. Nós
precisamos ter mecanismos na agência de acompanhamento
de saúde financeira das empresas", defendeu.
O ministro disse que, apesar do fim das atividades da
BRA, o sistema aéreo nacional não sofrerá
impactos financeiros. De acordo com o ministro, a empresa
respondia por apenas cerca de 4,5% do mercado aéreo
nacional.
"Pretendemos que a OceanAir cresça com solidez,
isso não tem dificuldade, o grande mal de tudo
é o problema dos passageiros, que já compraram
os bilhetes", ressaltou.
Via terrestre
Embora a BRA esteja sem dinheiro para devolver aos passageiros
que compraram passagem, a Anac informou, em nota, que
fez um acordo pelo qual os passageiros da empresa poderão
optar pelo reembolso de 100% do valor do bilhete emitido
ou endosso para voar por outra companhia aérea.
No caso de não haver vôos de outras empresas
para essas cidades, a BRA providenciaria o vôo
para a cidade mais próxima e o transporte por
via terrestre o trecho complementar. Para fazer a opção
pela troca de passagem ou reembolso, o cliente deverá
procurar as lojas da BRA, que dará prioridade
ao atendimento de quem está em viagem de retorno
ao ponto de origem.
Se o passageiro optar pelo reembolso e a passagem tiver
sido comprada numa agência de viagens, o pedido
deverá ser feito diretamente na agência,
informou a Anac. Em todas as situações,
a BRA deverá se responsabilizar pelas despesas
hospedagem e alimentação.
Folha de São Paulo
09/11/2007
Dono da OceanAir diz que empresa
pode equilibrar "duopólio" nos próximos
anos
ELIANE CANTANHÊDE COLUNISTA DA
FOLHA
O Ministério da Defesa avalia que a OceanAir
poderá crescer nos próximos anos e se
tornar um fator de equilíbrio no setor aéreo,
hoje concentrado no "duopólio" TAM-Gol.
Já o mercado de aviação não
acredita que a empresa tenha fôlego.
O empresário German Efromovich, da OceanAir,
disse que a empresa está se equipando para ir
dos atuais 2,6% do mercado doméstico (dados da
Defesa em setembro) a 15% nos próximos três
anos, avançando no mercado externo. Hoje, voa
para o México e aguarda autorização
para voar para Buenos Aires e Luanda, em Angola.
Segundo Efromovich, a empresa vai anunciar nos próximos
dias a compra de 30 novos aviões, com entrega
prevista entre 2008 e 2012, além de cinco outros
que chegam até janeiro: três Fokker e dois
Boeing.
"Nossa ambição é palpável",
disse ele ontem, irritado com a descrença de
parte do mercado sobre a capacidade de crescimento da
OceanAir. O empresário atribuiu a descrença
ao "duopólio" e rejeitou as medidas
em discussão para o setor, como aumento do capital
estrangeiro e fiscalização financeira
por parte da Anac (Agência Nacional de Aviação
Civil).
Segundo ele, boa parte da responsabilidade pelo caos
aéreo prolongado no país se deve a uma
falta de marco regulatório claro e transparente.
"Falta gestão, disciplina, comando."
Para o empresário, o limite legal de 20% para
o capital estrangeiro nas companhias aéreas é
uma ficção: "Quem acreditou que a
Varig estava recuperada, e ainda por cima com capital
nacional, quer que 200 milhões de brasileiros
usem narizinho de palhaço", disse ele, que
nasceu na Bolívia há 57 anos, mora no
Brasil desde 1964 e naturalizou-se brasileiro quatro
anos depois.
A BRA, que parou de voar nesta semana, demitindo 1.100
funcionários e lesando cerca de 70 mil passageiros,
é, segundo ele, uma empresa com capital majoritariamente
externo, de bancos de investimentos.
Quanto à idéia de cassar a concessão
de empresas com patrimônio líquido negativo,
discutida informalmente na Anac, Efromovich considerou
"utopia": "Os balanços às
vezes são maravilhosos. A própria BRA
teve injeção de mais de US$ 100 milhões.
E daí? Um dia, um sócio briga, o outro
cansa e pronto. Acaba", disse.
Outra proposta contra o "duopólio"
seria a abertura parcial do mercado doméstico
a empresas estrangeiras. "Vamos entregar nosso
estratégico para eles? Só se entregarem
o deles para nós. Eles criam aqui, eu crio em
Washington. Aí pode. Se não, não
pode", ironizou.
Com 1.400 funcionários, a OceanAir integra o
grupo Synergy, com faturamento de US$ 3,7 bilhões
ao ano e tem, entre outros, os estaleiros Mauá
e Eisa no Brasil e a Avianca, empresa aérea da
Colômbia.
Folha de São Paulo
09/11/2007
Empresário quer levar cliente
da BRA e da PNX
DA REDAÇÃO
"Estamos tentando que, nos pacotes da PNX para
embarque amanhã [hoje] à noite, os vôos
da BRA já sejam substituídos pelos da
OceanAir". A afirmação é de
German Efromovich, presidente da OceanAir, em entrevista
à Folha.
"O fim de semana é menos voado pelos nossos
passageiros e estamos tentando acertos para já
com a BRA, com a PNX e com as autoridades", disse.
"Assim, independentemente da recomendação
da Anac [Agência Nacional de Aviação
Civil], de trazer gente que tenha bilhete da BRA na
volta, levamos na ida, na volta, no meio." Para
ele, "uma empresa aérea a menos não
é bom para ninguém e é preciso
evitar o duopólio [TAM e Gol/ Varig], que é
triste para o Brasil."
"Vamos pedir autorização para as
autoridades do setor pois nossa idéia é
colaborar para causar o menor transtorno possível
para o usuário da BRA e para o comprador de pacote
da PNX."
Para Efromovich, a BRA e a própria PNX querem
uma solução de continuidade. "Queremos
fazer isso de maneira eficaz, mas, agora, ainda não
há uma solução conjunta. O que
tem que ficar claro é que não temos, como
OceanAir, obrigação nenhuma."
Folha de São Paulo
09/11/2007
Estudante dá à luz
uma menina durante vôo
Jovem de 20 anos havia feito
recentemente uma cirurgia de redução de
estômago e, segundo o pai, nem sabia que estava
grávida
O médico que acompanhava a jovem para uma consulta
em Belém fez o parto; com 3,4 kg e 46 cm, Maria
Valentina passa bem
SÍLVIA FREIRE DA AGÊNCIA
FOLHA
A estudante Giovanna Salgueiro Soares Pereira, 20,
deu à luz uma menina anteontem à tarde
a bordo de um avião da Gol, entre Santarém
e Belém, no Pará. Segundo o pai de Giovanna,
Nivaldo da Costa Pereira, nem ela nem a família
sabiam da gravidez.
"Ela fez uma cirurgia bariátrica [redução
do estômago em maio e fez todos os exames, entre
eles o de gravidez, e não deu nada", disse
Pereira.
A jovem embarcou anteontem à tarde no vôo
1643, da Gol, acompanhada dos pais e do médico
Eduardo Freire, amigo da família, para consultar
um cirurgião em Belém.
Giovanna estava sentindo fortes dores abdominais. Os
médicos de Santarém sugeriram que ela
consultasse o cirurgião que a havia operado em
maio. Como havia pressa, não foram feitos exames
como ultra-sonografia e tomografia.
Poucos minutos após o avião decolar, as
dores se agravaram. Ao socorrer Giovanna, Freire percebeu
que a criança estava nascendo. Ele amparou o
bebê e utilizou o kit de primeiros socorros do
avião para cortar o cordão umbilical.
Uma enfermeira neonatal que estava no vôo ajudou.
O médico disse que o bebê teve dificuldade
de respirar devido às secreções
pulmonares e não chorou. Sem equipamento adequado,
a limpeza foi feita manualmente e a menina passou a
respirar normalmente.
"Depois do susto, todo mundo ficou feliz. Alguns
passageiros se emocionaram e choraram", disse o
médico.
Após o parto, o avião retornou para Santarém.
A mãe e o bebê foram levados a uma maternidade
e passam bem. Segundo Freire, o bebê, que recebeu
o nome de Maria Valentina, pesa 3,4 kg e mede 46 cm.
"Estava levando minha filha com risco de morte
para Belém e voltei com mais uma vida",
comemorou o pai de Giovanna, que é solteira e
namora.
Freire disse que Giovanna não aparentava estar
grávida. Após a cirurgia de estômago,
a estudante, que pesava 100 quilos, perdeu cerca de
30 quilos.
Site PROJETO BR
08/11/2007
A maldição da Varig
Blog Luis Nassif Online
O último capítulo da crise aérea
– o fechamento da BRA – é um reflexo
de um dos vícios mais anacrônicos do país:
o hábito de punir empresas por erros de seus
controladores. Refiro-me especificamente ao fim da Varig,
que marcou o início efetivo da crise aérea
no país.
A Varig tinha uma governança caótica,
um modelo exaurido de uma Fundação mais
preocupada em administrar os benefícios próprios
do que cuidar da sobrevivência da empresa. Mas
não era apenas isso. A Varig era uma estrutura
montada, competente, com boa manutenção,
bom serviço de bordo, normas de segurança
acima da média, estrutura de comercialização,
malha nacional e internacional.
Esse conjunto de ativos intangíveis, que compõem
o que se denomina de empresa, é um valor nacional.
Quando se permite seu desmonte, está-se jogando
fora riqueza nacional.
Nenhuma empresa pode ser “culpada” dos
desmandos de seus executivos. É por isso que
a nova Lei de Recuperação Judicial abre
espaço para que, em caso de falência ou
concordata, tirem-se e punam-se os controladores, mas
preservem-se as empresas.
No caso da Varig, a solução era óbvia.
Fechada, a empresa tem o valor apenas dos seus ativos:
hangares, aviões, marca etc. Em funcionamento,
a empresa tem outro valor, gera outro nível de
faturamento, mantém clientela, mantém
distribuição. O correto teria sido preservar
a Varig, afastar seus controladores, vender seu controle
para grupos idôneos, que definissem estratégias
novas, implantasse nova gestão.
Mas foi impossível, e não apenas pela
falta de jogo de cintura da Justiça, mas por
um conjunto de outros fatores. Passou pela pressão
dos grandes concorrentes para poder ocupar o vácuo
da companhia. E completou com o alarido incompreensível
da opinião pública, tratando da salvação
da empresa como se fosse a salvação de
empresários falidos.
Não foi um ou outro articulista, mas a mídia
em geral, numa demonstração rotunda de
que o chamado capitalismo brasileiro, especialmente
para seus defensores mais ideológicos, não
passa de um amontoado de clichês. Essa confusão
entre o controlador e a empresa foi geral. Portas-vozes
de uma suposta modernidade atacaram qualquer solução
que significasse a manutenção da empresa
operando. E da parte do governo Lula, houve a falta
de ação absoluta, uma inércia que
permitiu que a agonia da Varig se prolongasse por anos,
sem que nada fosse feito.
Hoje o país paga caro pelo desleixo, pela ignorância,
por esse mercadismo de araque que domina o discurso
público, de não saber separar empresa
de empresário.
Primeiro, pela incapacidade do setor de atender ao
aumento da demanda. Depois, pelo fim da competição,
levando a uma ampla deterioração dos serviços
públicos. Pelo desemprego de milhares de pessoas
e pela evasão de pilotos e técnicos tarimbados,
que estão fazendo falta nesse processo de expansão
desordenada da malha aérea. Finalmente, por ter
substituído uma empresa do padrão Varig
por aventureiros, como essa BRA que acabou de fechar.