Valor Econômico
09/07/2007
Crise força revisão
do plano de frota da Gol
Roberta Campassi
A crise aérea assustou os passageiros e fez a
Gol rever para baixo a quantidade de aviões que
ela vai acrescentar a sua frota. O objetivo é evitar
um excesso de oferta que, como conseqüência,
afetaria a rentabilidade da companhia aérea.
A Gol fez mais modificações no planejamento
de frota de sua unidade Varig e reduziu especialmente
o número de aviões que seriam incorporados
para as rotas domésticas - mais afetadas pelos
problemas com o controle de tráfego aéreo
e infra-estrutura.
A partir das revisões, Gol e Varig juntas vão
agregar um avião a mais do que o previsto para
este ano e terão, ao fim de 2007, 103 aeronaves.
Em 2008, no entanto, o grupo trará sete aviões
a menos do que anunciado anteriormente - ao final do período,
serão 112 ao invés de 119. O plano foi alterado
também para os anos seguintes, até 2012,
quando a Gol pretende alcançar uma frota de 143
aeronaves e não mais 152.
As fabricantes de aeronaves podem cobrar multas das
companhias quando o planejamento de frota é reduzido,
mas isso não deve ocorrer com a Gol. Por ser a
maior cliente da americana Boeing na América Latina,
a empresa brasileira tem bastante flexibilidade junto
à fabricante.
"O mercado penalizou as ações da
Gol com a notícia da revisão, mas foi uma
atitude positiva da empresa", avalia Caio Dias, analista
do Santander Banespa. Segundo ele, a companhia não
crescerá como planejava, mas fez um ajuste para
preservar os resultados financeiros. A queda de 3,35%
na cotação das ações da Gol,
na sexta-feira, foi a maior do Ibovespa.
O equilíbrio entre oferta de assentos e demanda
dos passageiros é fundamental para a lucratividade
das companhias aéreas. Quanto mais assentos ocupados,
mais elas ganham. Ao contrário, quando os aviões
começam a decolar com muitas poltronas vazias,
as empresas reduzem o valor das passagens na tentativa
de atrair mais clientes. Encurtam, assim, sua margem de
lucro.
Em certa medida, essa situação vem ocorrendo
desde o começo do ano. Para ocupar seus aviões
novos, as empresas aéreas fizeram promoções
agressivas. Na sexta-feira, a Gol divulgou dados preliminares
do segundo trimestre bastante inferiores àqueles
registrados no mesmo período de 2006. A taxa de
ocupação das aeronaves ficou em 69% (66%
se a Varig for incluída), contra os 75,9% do ano
anterior. O chamado "yield", indicador que mostra
quanto o passageiros paga por quilômetro voado,
caiu de R$ 22,3 para R$ 0,18. Na comparação
entre os trimestres, a Gol elevou sua oferta em 56% (91%
com a Varig), enquanto a demanda, medida pela receita
por assento-quilômetro, subiu 41% (65% com Varig).
Alguns analistas acreditam que existe um risco de superoferta
a partir de 2008. Outros, porém, afirmam que os
planos de crescimento das aéreas são coerentes
com o desenvolvimento da economia no país e o potencial
de expansão do consumo de viagens aéreas.
A TAM, que é a maior companhia brasileira, vai
aumentar sua frota em 17 aviões neste ano, para
112. Em 2011, a companhia prevê ter 143. Nas últimas
duas semanas, a TAM anunciou a compra de 22 Airbus A350
e quatro A330, a serem entregues entre 2013 e 2018, e
mais quatro Boeings 777-300ER, a serem incorporados a
partir de 2012. No final de junho, a BRA, que é
a terceira maior empresa do setor, disse que comprará
20 jatos da Embraer 195, com opção para
adquirir mais 20. Os primeiros começam a voar no
segundo semestre do ano que vem.
No mercado internacional, a situação é
vista sob outro ponto de vista. A retração
da Varig, no ano passado, deixou um espaço que
TAM e Gol brigam para ocupar. Na sexta-feira, a TAM anunciou
que recebeu autorização da Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac) para ter
vôos diários a Madrid, na Espanha, e vôos
em três vezes na semana para Frankfurt. A Gol, por
meio da Varig, pretende começar a voar para seis
novos destinos internacionais até novembro. Só
na Europa, Gol e TAM vão passar a competir em rotas
para cinco países.
Folha de São Paulo
09/07/2007
Fundos de pensão devem reduzir
exposição a risco, diz governo
Secretaria recomenda que entidades
não usem sobra de caixa para reduzir contribuições
ou elevar benefícios; rentabilidade pode cair com
corte dos juros
JULIANNA SOFIA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a trajetória de queda dos juros, a SPC (Secretaria
de Previdência Complementar) começou a recomendar
aos fundos de pensão que utilizem seus superávits
-uma espécie de lucro das entidades- para reduzir
a exposição a riscos. A orientação
é para que os fundos não usem a sobra de
caixa para baixar contribuições ou aumentar
o valor dos benefícios.
O secretário de Previdência Complementar,
Leonardo Paixão, disse à Folha que, por
enquanto, trata-se de uma recomendação da
secretaria. "Mas vai chegar um momento em que haverá
uma determinação nesse sentido e poderá
ficar proibido baixar contribuição ou redistribuir
o superávit antes de rever as premissas atuariais",
afirma. A proibição poderá vir em
forma de resolução do CGPC (Conselho de
Gestão da Previdência Complementar), órgão
que atua na regulamentação do setor.
O maior fundo de pensão do país, a Previ
-dos funcionários do Banco do Brasil-, registrou
no ano passado um superávit de R$ 15,9 bilhões.
No mês passado, o fundo informou que estuda o que
fazer com os superávits que vêm obtendo nos
últimos anos. Uma das possibilidades é a
devolução de contribuições
aos participantes.
Atualmente, 70% dos ativos dos fundos de pensão
estão aplicados em renda fixa -títulos públicos.
Com a redução da Selic (taxa básica
de juros), as entidades começam a se preocupar
em encontrar novos "produtos" para aplicar seus
recursos e garantir a eles uma boa rentabilidade.
A maioria dos fundos estabelece 6% ao ano mais a inflação
como meta para retorno de suas aplicações.
Diante da trajetória de queda dos juros, as entidades
podem se ver obrigadas a fazer investimentos mais arriscados
para atingir essa meta e cumprir suas obrigações
atuais e futuras com os participantes.
Rentabilidade menor
A SPC avalia que o mais prudente é que os fundos
usem os superávits para evitar essa exposição
excessiva. Ou seja, reduzam suas metas de rentabilidade
e reservem os recursos excedentes do superávit
para honrar suas obrigações com o pagamento
dos benefícios.
"Por enquanto, não há uma necessidade",
destaca o secretário, afirmando que a Selic ainda
não está tão baixa e muitos fundos
têm conseguido superar suas metas de retorno. "A
queda da Selic é excelente para o país,
mas coloca um cenário mais desafiador para os fundos.
Vai ser preciso subir um degrau no conservadorismo",
declara.
De acordo com a SPC, vários fundos já estão
revendo suas metas atuariais, que foram reduzidas para
4% ou 5% ao ano mais inflação. O secretário
não quis definir qual seria um padrão ideal,
mas disse que a experiência internacional indica
um patamar entre 3,5% e 4%. "Isso depende muito do
perfil do fundo, se está investido 100% em títulos
ou se aplica em ações e títulos",
afirma.
Segundo ele, a recomendação da SPC, no entanto,
vale para os fundos independentemente desse perfil. "Prudência
nunca é em excesso. O plano pode ficar mais caro
com novas metas atuariais, mas também ficará
mais seguro", avalia o secretário de previdência.
Leonardo Paixão afirma ainda que está nos
planos da SPC regulamentar dispositivos da legislação
que tratam de superávit. Atualmente, não
há uma regra sobre o tratamento que deve ser dado
pelos fundos a esses excedentes.
A Abrapp (Associação Brasileira das Entidades
Fechadas de Previdência Complementar) informou que
ainda debate internamente o tipo de tratamento que deve
ser dado aos superávits, não tendo, portanto,
uma posição fechada sobre o assunto.
O Estado de São Paulo
09/07/2007
Anac quer ampliar tempo de escala
Idéia é manter
aviões parados por até uma hora e meia durante
o dia para compensar eventuais atrasos
Bruno Tavares
A Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac) acredita ter encontrado uma saída para o
caos nos aeroportos. Em vez de cortar vôos, como
foi cogitado pela Aeronáutica, técnicos
do governo estudam fazer com que os aviões cumpram
uma parada mais longa no decorrer do percurso. O objetivo
é evitar que os atrasos se multipliquem e afetem
toda a malha aérea, como ocorreu há uma
semana, quando o Aeroporto Internacional de Guarulhos
(SP) foi fechado por causa de fortes nevoeiros. O projeto
estará pronto no fim do mês e deve ser colocado
em prática no início de agosto.
Hoje, as companhias aéreas levam, em média,
40 minutos para desembarcar os passageiros de um vôo
e preparar a aeronave para uma nova decolagem. Mas, se
por algum motivo a operação demora mais
do que o previsto, toda a seqüencia de destinos -
o chamado “trilho” - fica comprometida. “O
mesmo avião que parte de Porto Alegre, por exemplo,
faz seis ou sete escalas antes de desligar as turbinas”,
explica um executivo do setor. Como a grade horária
é muito justa, um atraso ocorrido num aeroporto
se alastra para os demais.
Pela proposta da Anac, após um certo número
de trechos - fala-se em três, mas eles podem variar
conforme a rota -, a aeronave permaneceria no solo por
mais tempo - de uma hora a uma hora e meia. Essa parada
programada serviria para “zerar” eventuais
atrasos anteriores. “É como se você
tirasse uma peça antes de ter um efeito dominó”,
compara um funcionário da Anac. Segundo ele, os
67 aeroportos administrados pela Empresa Brasileira de
Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) têm
condições de abrigar os aviões no
pátio por mais tempo, exceto Congonhas, Cumbica
e o de Brasília, nos horários de pico. Para
amenizar os transtornos nesses três aeroportos,
a estatal investirá nos setores operacionais, adquirindo
mais ônibus e equipamentos de raio X e reforçando
as equipes de pátio.
Apesar de a proposta ser menos drástica do que
reduzir vôos, a direção da Anac admite
que, se aprovada, ela vai impactar as metas de lucro das
empresas. “Estamos fazendo o possível para
que isso não acarrete aumento de tarifa. Mas, caso
ocorra, o reajuste será menor do que se fôssemos
obrigados a enxugar a malha”, afirma o funcionário
da Anac.
Antes de apresentar os resultados, os técnicos
vão analisar os “trilhos” feitos por
cada um dos 275 aviões comerciais em operação
no País. O foco, porém, está na frota
da TAM e da Gol, que, juntas, detêm 95% do mercado.
O Estado de São Paulo
09/07/2007
Empresas vetam rotas novas
Fernando Exman
Brasília. As companhias aéreas se preparam
para uma batalha judicial a fim de impedir que o governo
reorganize a malha aeroviária do país. O
advogado do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias
(Snea), Geraldo Vieira, diz que, se o governo decidir
levar adiante a idéia de remanejar rotas para aeroportos
secundários, a iniciativa privada recorrerá
à Justiça.
O aviso vem em plena discussão sobre a greve dos
aeroportuários, que terá hoje seu dia D.
A reunião entre a categoria e a diretoria da Infraero
- estatal que administra os aeroportos do país
- marcada para hoje definirá o futuro do movimento
grevista com a possível apresentação
de uma proposta oficial para o reajuste de salários
da categoria, que ameaça cruzar os braços
às vésperas do Pan-Americano. A expectativa
é de que o governo ofereça 6% de reajuste
nos vencimentos da classe. Amanhã, será
a vez do Ministério do Trabalho negociar com o
Sindicato Nacional dos Aeroportuários.
A estratégia das empresas já foi definida.
Será sustentada pelo artigo 48 da lei 11.182, de
2005, que criou a Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac). A legislação citada determina
que "fica assegurada às empresas concessionárias
de serviços aéreos domésticos a exploração
de quaisquer linhas aéreas, mediante prévio
registro na Anac, observada exclusivamente a capacidade
operacional de cada aeroporto e as normas regulamentares
de prestação de serviço adequado
expedidas pela Anac". As empresas dizem que a malha
atual lhes permite reduzir custos. A conseqüência
do remanejamento de vôos para aeroportos secundários,
alertam, será o aumento dos preços das passagens.
Para Vieira, as companhias aéreas não podem
ser punidas por problemas provocados pela falta de investimentos
públicos em novos equipamentos e pessoal no sistema
de controle de vôos e na ampliação
dos aeroportos do país.
- Mexer na malha é ilegal - disse Vieira. - Querem
passar a responsabilidade para as empresas. As linhas
atuais são fruto da demanda.
Aeronáutica e Infraero apóiam a reorganização
dos vôos. Os dois órgãos do Ministério
da Defesa acreditam que a reforma da malha reduzirá
o caos dos principais aeroportos do país. As companhias,
no entanto, contam com o apoio da Anac. A agência
reguladora aceitou remanejar vôos de Congonhas para
o aeroporto de Guarulhos e deste para Campinas e Ribeirão
Preto, em São Paulo. A mudança pontual deve
entrar em operação daqui a um mês.
A agência é, entretanto, contrária
a alterações estruturais.
A Infraero e a Aeronáutica alegam que não
adiantará nada o governo melhorar o sistema de
controle de vôos e ampliar a capacidade dos aeroportos
se as companhias aéreas continuarem a centralizar
os vôos em só alguns aeroportos do país.
Segundo pesquisa de Alessandro Vinícius Marques
de Oliveira, coordenador do Núcleo de Estudos de
Competição e Regulação do
Transporte Aéreo (Nectar) do Instituto Tecnológico
de Aeronáutica (ITA), os 15 principais aeroportos
brasileiros concentram cerca de 70% dos vôos. Além
disso, 25% das linhas passam pelos aeroportos de Congonhas
e Brasília. Para o presidente da Infraero, tenente-brigadeiro
José Carlos Pereira, esse cenário aumenta
o risco de problemas pontuais em um ou outro aeroporto
causarem um efeito cascata prejudicial a todo sistema.
O advogado do Snea rebate. Argumenta que a atual situação
da malha não é uma das causas do caos que
fustiga milhares de passageiros por dia. Prova disso,
complementa, é o fato de a pontualidade dos vôos
ter diminuído só depois do início
da operação-padrão dos controladores.
Segundo a Anac, os vôos domésticos das companhias
aéreas nacionais registraram um índice de
pontualidade de 94,5%, em média, de janeiro a outubro
do ano passado. Tal percentual caiu para 66,5% nos dois
meses seguintes e para 70% de janeiro a maio deste ano.
Entre janeiro e outubro, em média 92,3% dos vôos
internacionais saíram na hora, ante 71,5% em novembro
e dezembro e 72,6% nos cinco primeiros meses deste ano.
Os controladores iniciaram a greve branca depois do acidente
do Boeing da Gol, que ocorreu no fim de setembro.
- Tudo estava bem até outubro. De lá para
cá não houve um crescimento do fluxo que
justifique a reorganização da malha - argumentou
Vieira.
O presidente da Associação Nacional em
Defesa dos Direitos dos Passageiros do Transporte Aéreo
(Andep), Claudio Candiota Filho, acha que uma eventual
reorganização da malha não ajudará
a acabar com a crise do setor.
- Não vai adiantar nada - disse. - O problema
desde o início é que o setor não
tem um gerenciamento profissional. Para administrar o
caos, precisamos de profissionais. Há que descontaminar
o sistema das indicações políticas.