Tribuna
da Imprensa - Coluna - Pedro Porfírio
09/03/2007
Porque a inércia fala mais
alto
"Só há duas
opções nesta vida: se resignar ou se indignar.
E eu não vou me resignar nunca." (Darcy Ribeiro)
Se há uma coisa que me tira o sono
nestas noites exageradamente quentes de um verão
impiedoso é constatar o domínio da inércia
sobre a sociedade humana, em particular, sobre a brasileira.
Essa inércia é a conseqüência mais
drástica de um estado de calamidade do pensamento,
que extirpou o juízo crítico e nos arrancou
as últimas vestes da dignidade.
Não tenho o direito de generalizar,
que isso seria o cúmulo da injustiça. Há
aqui e ali sinais de que ainda existe vida inteligente e
uma utópica sensação de que é
possível fazer alguma coisa, qualquer coisa, e se
faz algo para dizer: passem com os tratores da iniqüidade
por cima do meu corpo, mas minha cabeça sobreviverá
incólume, custe o que custar.
Isso eu vi nessa segunda-feira numa reunião do Modecon
na ABI, convocada para refletir sobre o dramático
pesadelo vivido por brasileiros que confiaram suas poupanças
a fundos de pensões, no caso, da Petros e do Aerus.
Vi, sim, e me sinto no dever de destacar
tal exceção antes de dar continuidade a esta
crônica da inércia generalizada. À mesa,
uma nonagenária, no auge de uma juventude de sonhos
eternos, querendo oferecer o acervo de sua vida à
causa deste País vilipendiado. Seu nome: Maria Augusta
Tibiriçá Miranda, médica e combatente
desde os idos do "Petróleo é Nosso".
Com ela, Olga Amélia, mais moça,
mas não tão moça. Onde quer que ainda
haja uma fagulha de indignação, estará
lá ela, com seu nome emblemático, oferecendo
uma réstia de esperança. Na platéia
de umas cinqüenta pessoas - em sua quase totalidade
massacrados do Aerus, o fundo de pensão que dá
seus últimos suspiros por conta do que fizeram com
a Varig, duas figuras me chamaram a atenção:
uma senhora paraplégica, numa cadeira de rodas, que
a tudo ouvia como se ainda estivesse na plenitude de sua
saúde, e a histórica figura do brigadeiro
Ruy Moreira Lima, nosso herói na II Guerra Mundial,
que ainda espera pela justiça de uma anistia que
foi rápida para outros; para ele não.
Os próprios aposentados do Aerus
que lá estavam pareciam solitários cavaleiros
andantes de uma causa perdida. Com eles, colegas que até
outro dia nos transportavam pelos céus deste mundo:
os comandantes Élnio Borges e Marcelo Duarte, incansáveis
pilotos de um vôo que não admitem ter aterrissado
para sempre.
Dos aposentados, prestaram depoimentos
dois homens de cabeças brancas com as auréolas
da dignidade inamovível: Nelson Cirtroli, ex-presidente
da Federação Nacional dos Trabalhadores na
Aviação, que veio do Rio Grande para o evento,
e o comandante Zoroastro, obstinado na coleta de assinaturas
para um documento a ser enviado ao presidente da República,
com um relato pungente do espectro da miséria, que
bate às portas de milhares de brasileiros que tantos
serviços prestaram ao País.
E os
outros, o que fazem?
Esse povo todo, no entanto, é uma
ínfima partícula de um coletivo de espezinhados.
E os outros, onde estão? Sim, há milhares
de brasileiros submetidos ao mesmo garrote. Mais de 9 mil
são aposentados que viram suas contribuições
evaporarem na senda da má-fé, da roubalheira
e da impunidade.
Mas há também outros tantos
que estavam voando até outro dia. Alguns, passando
hoje por situações humilhantes, jamais imaginadas.
A maioria dessas novas vítimas da omissão
dos poderes públicas parece quedar-se como se tudo
estivesse
escrito.
É claro que, diante da necessidade
de garantir o mínimo de sobrevivência, de pagar
suas contas e suprir o leite das crianças, muitos
estão correndo de um lado para outro, agarrando-se
a qualquer trabalho, onde, quem sabe, poderão oferecer
um pouco dos inesgotáveis conhecimentos acumulados
numa das mais abranges escolas profissionais, a aviação.
Mas é isso? Essas pessoas já
não esperam mais nada do patrimônio que cultivaram,
e de que dispõem como ninguém, enquanto o
País continental vive a tragédia de "um
apagão aéreo", conseqüência
direta da pequenez dos que foram estimulando as liquidações
de concorrentes dos seus aliados emergentes?
Para além da mortalha que veste
as vítimas de nossas "torres gêmeas"
há um histórico de desvios de conduta e uma
grande ameaça sobre toda a sociedade brasileira.
Nunca foi tão atual a frase do pastor alemão
Martin Niemöller: "Um dia vieram e levaram meu
vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não
me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro
vizinho que era comunista. Como não sou comunista,
não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram
meu vizinho católico. Como não sou católico,
não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar..."
Fritura
continuada
O processo de fritura dos participantes
dos fundos de pensão da aviação não
é o primeiro e nem será o último. Faz
parte dessa cultura inercial, onde os mais espertos deitam
e rolam, sacrificando vidas ante o mesmo torpor de um povo
que, por não sofrer a fúria da natureza, parece
chamar a si o castigo da cruz que se apoderou do nosso inconsciente.
Como pano de fundo de tudo isso, a incompetência vitoriosa
se articula contra o mais sagrado dos direitos - o direito
à vida. Essa semana mesmo, o desconhecido ministro
da Previdência, que não sei de onde veio e
nem para onde quer ir, voltou a pôr a culpa no envelhecimento
da população.
Para essa súcia pendurada no poder,
a tragédia está em que vivemos mais. A apropriação
para outros fins (que fins) do leque de receitas previdenciárias,
a sonegação, a falta de alternativa para 28
milhões de trabalhadores informais, que não
contribuem, nada disso pesa. Para esses medíocres
bajuladores dessa corte deslumbrada, não há
saída: quem passar da idade, que se encoste nos filhos
e netos, estes, aliás, também desnorteados
pela falta de empregos e pelos subsalários em moda.
Tudo porque a poderosa máquina do
poder está conseguindo distrair os brasileiros com
lorotas devidamente disseminadas não apenas por veículos
da mídia, mas também, para o nosso sofrimento,
por sindicatos e similares, cujos titulares descobriram
o mapa da mina. Quer saber? Procure descobrir quanto o ex-presidente
da CUT, Jair Meneghelli, ganha à frente do Sesi,
cuja estrutura cala a boca de qualquer potencial indignado.
O Dia
09/3/2007 08:43h
Cabral discute melhorias no Galeão
com Anac e Infraero
Rio - O governador Sérgio Cabral
reúne-se nesta sexta-feira, às 11h, no Palácio
Laranjeiras, com o diretor-presidente da Agência Nacional
de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi,
e o superintendente Regional Leste da Infraero, Pedro Ajambuja.
O objetivo do encontro é discutir
as reformas necessárias no Aeroporto Internacional
Galeão Tom Jobim, como as dos terminais 1 e de Cargas;
a melhoria da segurança e do acesso ao local.
Cabral também solicitará
novos vôos internacionais e nacionais no aeroporto,
com o objetivo de reduzir sua capacidade ociosa e incrementar
o desenvolvimento econômico e o fortalecimento do
estado e da cidade como pólos de turismo.
Folha Online
08/03/2007 - 19h20
Lula quer impedir CPIs que possam
atrasar votação do PAC
GABRIELA GUERREIRO
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva pediu hoje aos novos líderes do governo no
Congresso Nacional que se empenhem para impedir a instalação
de CPIs que tiverem o objetivo de promover a disputa política
entre governo e oposição. Nesta manhã,
os deputados da base aliada conseguiram aprovar uma manobra
regimental na Câmara para retardar a instalação
da CPI do Apagão Aéreo.
No primeiro encontro com os novos líderes
Roseana Sarney (PMDB-MA), Romero Jucá (PMDB-RR) e
José Múcio (PTB-CE), realizado no Palácio
do Planalto, Lula deixou claro o recado de que não
deseja ver CPIs instaladas que possam prejudicar a votação
de matérias consideradas prioritárias pelo
governo na Câmara.
"O presidente pediu para não
ficarmos de braços cruzados esperando a oposição
fazer o que quiser. O governo não vai mais deixar
ser feito de gato e sapato pela oposição.
A orientação é para enfrentar a oposição",
enfatizou o vice-líder do governo na Câmara,
Beto Albuquerque (PSB-RS), que também participou
do encontro com Lula.
Segundo Múcio, os governistas estão
dispostos a trabalhar contra CPIs que não tenham
fatos determinados para investigação --argumento
utilizado para postergar hoje a instalação
da CPI do Apagão Aéreo. "Queremos que
o debate seja respeitoso, cada um com as suas idéias",
defendeu.
O principal temor de Lula é que
a CPI tire do Congresso o foco sobre as matérias
que integram o PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento), ou que o embate com a oposição
dificulte a aprovação dos projetos. Segundo
Jucá, o presidente defende maior interlocução
entre os líderes do governo na Câmara e no
Senado para afinar o discurso no parlamento.
"Vamos trabalhar juntos. As negociações
da Câmara serão acompanhadas pelo Senado. São
duas lideranças do governo. Nosso trabalho é
fazer com que as matérias sejam debatidas",
afirmou Jucá.
|