Jornal do Brasil
08/11/2007
Empresas transportarão
70 mil clientes da BRA
Juliana Rocha
Brasília. A pedido da Agência Nacional
de Aviação Civil (Anac), a TAM, a Gol,
a Varig e a OceanAir transportam desde ontem os passageiros
da BRA, que suspendeu seus vôos na terça-feira.
Mas, os 70 mil clientes da companhia aérea com
passagens compradas até março já
podem se preparar para ter prejuízos, alerta
a Associação Nacional em Defesa dos Direitos
dos Passageiros do Transporte Aéreo (Andep).
Cláudio Candiota, presidente da associação,
lembrou que este foi o desfecho histórico dos
processos de falência da Varig, da Vasp e da Transbrasil.
Candiota recomenda aos clientes lesados que entrem na
Justiça imediatamente, com ações
coletivas, para garantir um processo mais barato e mais
ágil.
- Os passageiros da Vasp e da Varig ficaram sem transporte
e sem reembolso - alertou o presidente da Andep. - Quem
tem que arcar com o prejuízo do consumidor é
o governo, o que está previsto na Lei de Concessões.
As quatro companhias aéreas aceitaram endossar
os bilhetes dos clientes da BRA, para depois cobrar
os prejuízos da companhia que ainda não
abriu falência, mas encontra-se em grave situação
financeira. O presidente da Gol justificou que aceitou
o pedido da Anac de levar os passageiros para garantir
a confiança no sistema aéreo nacional.
Na verdade, é uma brecha para as empresas conquistarem
a simpatia e a fidelidade dos clientes, em um momento
em que todo os setor aéreo está desacreditado.
As companhias esclarecem que só vão levar
passageiros da BRA em vôos que tiverem assentos
vagos. A assessoria de imprensa da TAM informou que
os bilhetes podem ser trocados nos balcões da
empresa em qualquer aeroporto do país, mas sugere
que os clientes entrem em contato com a companhia por
telefone, para verificar os horários e rotas
com lugares disponíveis.
O presidente da Andep explica que pela Lei de Concessões,
a qual o sistema aéreo está sujeito, é
responsabilidade da União e da Anac garantir
reserva dos passageiros da BRA nos vôos de outras
companhias. E o reembolso deve ser feito também
pelo governo, que em seguida pode cobrar o prejuízo
da empresa que suspendeu suas operações.
É responsabilidade do governo também,
a saúde financeira das companhias aéreas.
E, se for o caso, intervir na gestão.
Para a Anac, as empresas aéreas devem cobrar
da BRA o custo de levar os passageiros, mesmo que estas
estejam atendendo a um pedido da agência. A assessoria
de imprensa da Anac disse que a agência não
é responsável pelos prejuízos dos
clientes. Mas ontem, funcionários da agência
receberam representantes do Departamento de Proteção
e Defesa do Consumidor, órgão do Ministério
da Justiça que controla os Procons. O resultado
da reunião não foi divulgado.
Em nota enviada à imprensa, a BRA esclarece
que a prioridade para usar o endosso em outras companhias
aéreas é dos passageiros que já
estão em trânsito e querem voltar para
casa. A empresa pede aos clientes com viagens marcadas
que procurem a companhia para pedir o reembolso. Mas
o site da empresa na internet estava fora do ar. A assessoria
de imprensa divulgou apenas o e-mail de contato aos
clientes atendimento@braereo.com.br.
A BRA confirmou que foram vendidas 70 mil passagens
aéreas para vôos marcados até março
do ano que vem. As outras empresas que aceitaram endossar
os bilhetes da BRA ainda não sabem se terão
capacidade para transportar todos esses passageiros.
Agência de Notícias - RS
07/11/2007 Hora: 15:37
Kalil Sehbe destaca centenário
de nascimento de Ruben Berta
Marco Dziekaniak
O deputado Kalil Sehbe (PDT) ocupou o Grande Expediente,
na tarde desta quarta-feira (7), no plenário
da Assembléia Legislativa, para homenagear o
centenário de nascimento do gaúcho Ruben
Berta, considerado o primeiro aeroviário brasileiro.
O presidente do Parlamento, deputado Frederico Antunes
(PP), afirmou que Ruben Berta ingressou na história
e na memória do Estado como um de seus grandes
homens, pela porta da capacidade e da determinação.
O parlamentar do PP lembrou que o fundador da Varig,
Otto Meyer, contava que Ruben Berta, quando procurou
emprego na empresa, não lhe perguntou nada sobre
salário, tarefas ou jornada de trabalho. "Entrou
ali e permaneceu por mais de quatro décadas,
unindo seu nome ao da Varig e à história
da aviação rio-grandense". Para ele,
a carreira de Ruben Berta "é um sinal de
orientação de princípios e valores.
É uma torre de controle para orientar a conduta
de todos aqueles que se lançam nos ares da vida
produtiva e dos empreendimentos", frisou.
Visão empreendedora
Kalil Sehbe destacou que Ruben Berta entrou para a
história pela sua criatividade em fazer de uma
empresa de aviação uma referência
internacional, num país de terceiro mundo, antes
da metade do século passado. Ele registrou que
Ruben Berta nasceu em Porto Alegre no dia 5 de novembro
de 1907, tornando-se aos 19 anos no primeiro funcionário
da Varig, empresa pioneira da aviação
no país, onde ocupou todas as funções,
desde despacho de correspondências até
carregamento de aviões no aeroporto.
O parlamentar do PDT afirmou que Ruben Berta possuia
visão empreendedora e alto conhecimento da aviação
e ultrapassou as fronteiras nacionais inaugurando, em
1942, as rotas para Montevidéu e Buenos Aires.
O deputado lembrou que, em 1955, Ruben Berta levou as
cores verde e amarela nas asas dos aviões da
Varig até os Estados Unidos, tornando-se o gaúcho
que plantou a bandeira brasileira no coração
de Nova Iorque. "Nos anos 50 e 60, ele inaugurou
rotas para a Europa e fez a Varig saltar da condição
de companhia nacional de médio porte para empresa
de alto prestígio internacional", recordou.
O parlamentar do PDT disse que Ruben Berta não
queria a Varig crescendo somente em números e
gráficos para ocupar seu espaço entre
os concorrentes. Ele disse que esse gaúcho empreendedor
procurou fazer com que o ser humano e a empresa crescessem
harmoniosamente, por meio da constante recriação
das condições de trabalho, da participação
ativa de seus funcionários e da motivação
comprometida com a segurança de vôo. "A
inspiração de Ruben Berta foi no sentido
de proteger os trabalhadores, dando-lhes condições
de vida mais digna. Pensou numa fundação
dos funcionários proprietária da empresa,
onde 1% dos empregados da Varig fariam parte de um colegiado
representante da Fundação e, em conseqüência,
de todos os funcionários", salientou.
Fundação Ruben Berta
O orador do Grande Expediente assinalou que em busca
do capital para a Fundação, na assembléia
de acionistas do dia 29 de outubro de 1945, mesmo ano
em que tomava posse como presidente da Varig, Ruben
Berta sugeriu aos acionistas a transferência de
50% das suas ações da Varig para a Fundação.
O deputado lembrou que no dia 7 de dezembro de 1945
foi lavrada a escritura pública da Fundação
dos Funcionários da Varig, tornando a empresa
voltada para seus trabalhadores. Ele disse que a Fundação
passou a fornecer alimentos e utensílios domésticos
a preços abaixo do mercado, serviço médico
gratuito, medicamentos e óculos com 90% de desconto,
escola subsidiada para que os profissionais de menores
salários pudessem educar seus filhos no mesmo
nível dos melhores remunerados, áreas
de lazer e colônias de férias em vários
locais do Brasil, e complementação de
aposentadoria.
Em sua fala, Kalil Sehbe fez referência à
problemática da situação atual
do Aerus, explicando que esse fundo de pensão
do setor aéreo foi criado em 1982 com três
fontes mensais de custeio: trabalhadores, empregadoras
e União, esta última por meio do recolhimento
de 3% sobre o valor da venda das passagens aéreas
domésticas. O pedetista relatou que, em 1991,
22 anos antes do previsto, esta terceira fonte foi suspensa
e o fundo, que possui cerca de 7.500 beneficiários
– sendo 1.120 no Rio Grande do Sul somente pela
Varig – não estão recebendo os valores
de aposentadoria. Conforme ele, os participantes ativos
que ainda não haviam se aposentado também
têm direito a ressarcimento.
O parlamentar pedetista salientou que os participantes
reivindicam o pagamento de R$ 3 bilhões e 200
milhões devidos pelo governo federal. "O
valor é referente à parcela de uma ação
judicial decorrente do congelamento do preço
das passagens aéreas no Plano Cruzado, em 1986,
e poderia resolver a maior parte das pendências",
ressaltou. O pedetista garantiu que a Casa apoiou esta
justa reivindicação e registrou, como
coordenador da Subcomissão em Defesa dos Beneficiários
do Plano Aerus, que também é integrada
pelos deputados Adão Villaverde (PT) e Raul Carrion
(PC do B), que esse trabalho teve seu relatório
final aprovado hoje pela Comissão de Economia
e Desenvolvimento. Ele mencionou entre as recomendações
da subcomissão a necessidade de cumprimento da
determinação dos Tribunais Superiores
(STF e STJ) de pagamento da ação indenizatória
à Varig, referente às perdas decorrentes
da política de congelamento tarifário
e a agilização de um possível acordo
entre governo e Varig, conforme previsto na lei 9.469
de 1997.
Encerramento e apartes
Ao finalizar seu discurso, Kalil Sehbe afirmou que
o melhor presente à memória de Ruben Berta
seria que os fundos previdenciários possam ser
pagos aos pensionistas da Varig e apelou aos empresários
e às autoridades do setor aéreo "diante
deste momento tão crítico para a aviação
nacional, que inspirem-se no legado maior de Ruben Berta,
acima inclusive de sua competência gerencial e
empreendedorismo: o respeito à vida humana".
Em aparte, manifestaram apoio ao pronunciamento, os
deputados Edson Brum (PMDB), João Fischer (PP),
Raul Pont (PT), Zilá Breitenbach (PSDB), Raul
Carrion (PC do B), Paulo Odone (PPS), Cassiá
Carpes (PTB) e Paulo Azeredo (PDT).
Folha de São Paulo
08/11/2007
Opinião - Mais uma no buraco
ELIANE CANTANHÊDE
BRASÍLIA - Durante muitos anos, o Brasil conviveu,
na prática, com um monopólio na aviação
civil: a Varig teve 100% do mercado internacional e
em torno de 75% do doméstico, mandava e desmandava
no governo e não tomou providências para
se sanear nos primeiros sinais amarelos nem nos sinais
vermelhos. Enfim, tudo explodiu.
Lá se foram a velha Varig, a Vasp, a Transbrasil
e agora a BRA, que pode até dizer o contrário,
mas não tem condições de voltar
a voar. Antes, tem de somar dívida e conviver
com as imagens e declarações dos 65 mil
passageiros que lesou.
E é assim que o Brasil sai de um longo monopólio
para um "duopólio" na aviação
civil, justamente quando a economia está estabilizada,
com tendência de crescimento e com a classe média
juntando suas economias para voar por aí. A conjunção
de crise na oferta e aumento de demanda dá nisso.
E vira um caos, quando é apenas uma parte de
um complexo problema.
Companhias aéreas são concessões
públicas especiais, que envolvem fortunas e mexem
com segurança. E aí entra a responsabilidade
do Estado, dos governos.
Se o antigo DAC (Departamento de Aviação
Civil, vinculado à FAB) fosse mais independente,
e a Anac não fosse amadora, para dizer o mínimo,
deveriam ter competência para fiscalizar também
a situação financeira das companhias aéreas.
Poderiam, assim, evitar perdas para o próprio
governo, para os fornecedores e principalmente para
os usuários. Sem contar que empresas endividadas,
numa área sensível assim, são também
perigosas.
A regra que começou a ser discutida, mas parou
no meio da bagunça geral, deveria ser a seguinte:
empresa com patrimônio líquido negativo
não pode voar. Ou se conserta em seis meses,
ou perde a concessão.
Mas isso é para país e para agências
sérias. Há controvérsias se é
ou não o caso do Brasil. E, com certeza, não
é o da Anac.
Folha de São Paulo
08/11/2007
Opinião - Pesadelo no ar,
agora no solo
CLÓVIS ROSSI
SÃO PAULO - Depois de ler o noticiário
sobre a BRA, não consegui dormir à noite.
Suava em bicas, porque, para o dia seguinte (ontem,
portanto), estava convocada reunião do Conselho
Editorial. Meu pesadelo era ouvir um comunicado seco,
tipo: "Bom, queridos companheiros, foi ótimo
tê-los como colaboradores, mas estão todos
despedidos, porque a partir de hoje, o jornal não
circula mais, não edita um só mísero
exemplar". Paranóia? Um pouco (ou muito).
Mas também perfeitamente possível. Se
a BRA pode baixar as persianas, demitir todo mundo e
deixar um punhado de passageiros, no Brasil e em pelo
menos três países (Espanha, Itália
e Portugal), pendurados na escadinha (do avião)
sem vôo, por que não uma empresa jornalística?
Seria até mais fácil. Afinal, apesar dos
ardentes desejos de alguns, ainda não se criou
uma Agência Nacional do Jornalismo Civil, ao contrário
do que ocorre com a aviação, campo em
que dizem haver uma tal Agência Nacional da Aviação
Civil.
Se de fato existe, é motivo de controvérsias,
a julgar por tudo o que aconteceu nos últimos
muitos meses com a aviação, os aeroportos,
os passageiros -enfim com aqueles todos pelos quais
a Anac deveria se responsabilizar.
Que a, digamos, AeroDarfur um dado dia feche as portas,
sem mais aquela, daria para entender. Países
em guerra civil têm naturalmente dificuldades
para controlar o que quer que seja.
Mas, num país no qual um ilustre acadêmico
(Luiz Carlos Bresser-Pereira, artigo de segunda-feira
nesta Folha) elogia a qualidade das instituições,
não deveria ocorrer algo assim. É desrespeito
demais.
É simplesmente impossível que uma empresa
quebre da noite para o dia. Logo, a BRA vinha quebrando
aos poucos, ao longo de meses. Onde estavam as autoridades
que deveriam monitorar o setor? Voando? Pela BRA?
Folha de São Paulo
08/11/2007
BRA só pagará
bilhete se obtiver novo aporte
Empresa condiciona reembolso
de passagem a passageiros a novo investimento e diz
que precisa de US$ 30 mi para voltar a voar
Companhia, que anunciou paralisação das
operações, tem 70 mil passagens vendidas
até março de 2008, no valor de R$ 22 mi
MAELI PRADO DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de afirmar que seus passageiros que pedirem
reembolso serão pagos no valor original das passagens
em até 30 dias, a BRA, que informou anteontem
a suspensão temporária dos seus vôos,
condiciona o pagamento (são R$ 22 milhões
em tíquetes vendidos) a um novo investimento
na empresa.
A companhia, com dívidas de cerca de US$ 100
milhões em bancos, estima em US$ 30 milhões
o valor necessário para retomar suas operações
e vem procurando novos fundos de investimento para sondar
interesse em investir na empresa.
Os fundos que fazem parte da Brazil Air Partners, que
no ano passado capitalizaram a empresa em US$ 70 milhões
e entraram em atrito com o seu controlador, Humberto
Folegatti, não se mostram dispostos a realizar
novo investimento.
"Temos discussões em curso entre os acionistas
sobre a possibilidade de entrar um fundo de fora para
capitalizar a companhia. Se um terceiro investidor entrar,
isso permitiria que os atuais acionistas possam acompanhar
o investimento", disse o diretor da BRA Danilo
Amaral. "O problema é tempo."
O fator que mais pesou na paralisação
da BRA, de acordo com ele, foi não conseguir
mais pagar pelo combustível.
Na prática, a avaliação de especialistas
é que a companhia dificilmente voltará
a operar.
Lembram o caso de empresas como a Vasp, que também
interrompeu operações por problemas financeiros
e não conseguiu voltar a voar, principalmente
depois da exposição de suas situações
na mídia.
A BRA, que em setembro possuía 4,6% dos vôos
domésticos, fazia 26 rotas nacionais e 3 internacionais,
com 35 vôos domésticos de segunda a sexta.
Segundo Amaral, caso a companhia não encontre
um novo investidor, venderá ativos para pagar,
prioritariamente, funcionários (a companhia deu
aviso prévio a seus 1.100 funcionários)
e passageiros. A BRA tem 70 mil passagens vendidas até
março de 2008.
Se os empregados forem demitidos, a BRA precisaria pagar
a eles R$ 7 milhões. A companhia fala em aviso
prévio, mas funcionários relatam que demissões
foram efetuadas.
Apesar de a companhia afirmar que o reembolso ao passageiro
será priorizado, a advogada Leonor Cordovil,
especialista em direito do consumidor, aconselha que
os clientes da BRA busquem ser acomodados em vôos
de outras companhias.
"Deve fazer isso antes do que algo pior possa acontecer,
como a empresa entrar em falência e o consumidor
passar a ser visto como um credor", disse.
Executivos do setor ouvidos pela reportagem avaliam
que a empresa não é muito atrativa no
momento. Além das dívidas, a BRA teria
tido sua fatia do mercado doméstico reduzida
drasticamente com a crise.
O fundo americano Matlin Patterson, que em 2006 se uniu
a investidores brasileiros para comprar a Varig, foi
procurado por representantes da BRA, mas não
se interessou.
A Embraer, de quem a BRA comprou 20 jatos, divulgou
nota afirmando que acompanha o desenrolar da crise da
companhia e reafirmou a confiança no cumprimento
do acordo.
Folha de São Paulo
08/11/2007
Para Armínio, às
vezes o resultado não é o esperado
DA SUCURSAL DO RIO
O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga
afirmou ontem à Folha que o Gávea Investimentos
tem posição minoritária entre os
fundos que compõem o Brazil Air Partners, que
se tornou sócio da BRA no final do ano passado.
Tido como um parâmetro de bom investidor no mercado,
Fraga é lacônico: "De vez em quando,
algum deles não sai como se esperava."
Em entrevista por telefone, Fraga afirmou que o fundo
decidiu investir na BRA por enxergar uma boa oportunidade
de criação de uma terceira empresa do
setor no país -TAM e Gol concentram cerca de
90% do mercado doméstico.
A BRA interrompeu as operações devido
a problemas financeiros. A empresa afirmou oficialmente
que está tentando negociar um aporte financeiro.
Segundo Fraga, embora a crise aérea não
mude o cenário do setor, a situação
da BRA ficou sensivelmente mais difícil. A BRA
é a terceira maior empresa do país. Em
setembro, tinha 4,6% de participação no
mercado doméstico, segundo dados da Anac. A seguir,
os principais trechos da entrevista.
FOLHA - Qual é a posição
do Gávea em relação à crise
da BRA?
ARMÍNIO FRAGA - Somos um investidor
estrangeiro, tanto do ponto de vista da empresa como
do nosso fundo. Não temos posição
no conselho de administração. São
sete investidores e somos o menor dos sete.
FOLHA - Quanto vocês investiram?
FRAGA - O valor é um número
pequeno.
FOLHA - Vocês pretendem realizar
o prejuízo e sair da empresa?
FRAGA - Até agora ninguém
saiu da empresa. Ela está lutando para encontrar
um caminho, não é uma ação
cotada em Bolsa para realizar o prejuízo.
FOLHA - O sr. já se reuniu
com os demais investidores?
FRAGA - Passei cinco dias viajando
e estou chegando ao escritório. Quero falar com
eles.
FOLHA - Por que o Gávea decidiu
investir na BRA?
FRAGA - Por causa da perspectiva de
haver espaço para uma terceira empresa no setor
e com potencial de crescimento.
FOLHA - Como deve ser o desdobramento
nos próximos dias?
FRAGA - Nosso fundo é minoritário.
Estamos em posição de acompanhar. Não
somos coordenadores do grupo de investidores e estamos
torcendo.
FOLHA - Mas o sr. é considerado
uma referência em investimentos...
FRAGA - Obrigado, mas, de vez em quando,
algum deles não sai como se esperava.
Folha de São Paulo
08/11/2007
SOCORRO: PASSAGEIRO DA
BRA QUE ESTÁ NO EXTERIOR VOA POR TAM, VARIG E
TAP
Os 250 passageiros da BRA que estão no exterior
e dependem da companhia para retornar ao Brasil serão
colocados em vôos da TAM, Varig e TAP (empresa
portuguesa), disse a Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil), que intermediou o acordo.
Os passageiros se encontram nos três países
europeus em que a BRA operava -Espanha, Portugal e Itália-
e serão embarcados, até o final do ano,
nas datas originais das passagens, segundo a agência,
que orienta usuários a procurar a BRA nos aeroportos
ou a se dirigir às três empresas.
O Globo - Globo Online
08/11/2007
Piloto diz que BRA o proibia de
notificar panes
Sindicatos pedem à
Justiça penhora de bens da companhia para pagamento
de salários; 1.100 foram demitidos
Vivian Nunes, Paula Autran, Tatiana Farah
e Erica Ribeiro
Apesar do susto de perder o emprego de uma hora para
outra, um piloto da GRÃ, que trabalhava há
um ano e meio na companhia e pediu anonimato, disse
que está aliviado com a suspensão dos
vôos.
— Quando havia panes que a gente chama de “no-go”
(não decole), elas não eram sequer reportadas
no livro de bordo, por proibição da empresa.
Foi melhor fechar porque, se não, iríamos
entrar para as estatísticas de acidentes.
Segundo o piloto, as condições de trabalho
também eram ruins. O profissional disse que,
para descansar entre os vôos internacionais, os
pilotos esticavam um colchonete no chão da cabine,
Ele afirma ainda ter fotografado, em aeronaves com 200
pessoas a bordo, buracos que eram tapados com Silver-Tape:
— As condições de manutenção
eram as piores possíveis. E a Anac não
tomava providência.
A tripulação cumpria 22 horas de jornada,
e o DAC não pode dizer que não sabia disso.
O piloto da BRA disse que até ontem não
havia recebido qualquer comunicado do aviso prévio
anunciado pela empresa.
O Sindicato Nacional dos Aeronautas também não
recebeu comunicação da BRA.
O mesmo disse a Federação dos Aeroviários.
A empresa não deu informações sobre
o pagamento do salário de setembro, previsto
para ontem.
Não só os passageiros da BRA vivem um
dramas por causa da suspensão dos vôos.
Funcionários como a supervisora Margareth Soares
— uma das 1.100 com aviso prévio
— precisaram de forças para trabalhar ontem,
tentando resolver os problemas de quem perdera a viagem:
— Acredito que a BRA vai honrar suas dívidas
e voltar a operar. A empresa não vai decretar
falência. Recebi meu salário hoje (ontem),
dentro do prazo.
Está todo mundo triste, com vontade de chorar
a toda hora.
O Sindicato dos Aeroviários de São Paulo
quer penhorar aviões da BRA para garantir o pagamento
de salários e direitos dos 1.100 funcionários.
Segundo o presidente do sindicato, Reginaldo de Souza,
hoje a categoria vai ingressar na Justiça trabalhista
com uma medida cautelar para pedir a penhora de bens.
— Dos dez aviões da empresa, quatro são
próprios e seis são leasing. Estamos pedindo
a penhora dos aviões de propriedade da BRA para
garantir os pagamentos — disse Souza.
No Rio, o Sindicato Municipal dos Aeroviários
entrou com uma ação civil pública
no Tribunal Regional do Trabalho pedindo a penhora das
contas e dos bens da BRA. A presidente do Sindicato
Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio, disse que
vai procurar a companhia para saber se ela vai tentar
retomar as atividades.
O sindicato também vai pedir ao governo que
mantenha as atividades da empresa, por intervenção
ou outra medida.
Valor Econômico
08/11/2007
Para Gol, aérea tem como
honrar dívidas
Roberta Campassi e José Sérgio
Osse*
A Gol informou ontem que não tem garantias de
que receberá o dinheiro referente ao endosso
de passagens da BRA, mas que acredita que a companhia
tem condições de honrar o compromisso.
"A empresa deixou de operar, mas continua existindo.
Ela não opera, mas ainda tem um endereço
e continua aberta, e pretendemos receber esses bilhetes",
disse o presidente da Gol, Constantino de Oliveira Júnior,
na apresentação dos resultados do terceiro
trimestre.
O executivo também afirmou, em teleconferência
com investidores estrangeiros, que está avaliando
a possibilidade de contratar tripulantes da BRA, embora
a Gol dê prioridade aos ex-funcionários
da "velha Varig". Ontem, a TAM, OceanAir e
WebJet também disseram que vão aceitar
passageiros da BRA.
A companhia também reviu, mais uma vez, as projeções
para 2007. Agora, a Gol prevê uma receita entre
R$ 5,2 e R$ 5,3 bilhões, e antes projetava um
teto de R$ 5,4 bilhões. O lucro deve ficar entre
R$ 1,40 e R$ 1,80 por ação, contra a estimativa
anterior, entre R$ 1,60 R$ 2,10. A margem operacional
é calculada entre 5% e 8%. Até ontem,
a empresa previa margem entre 7% e 11%. As alterações
refletem as perdas geradas pelos problemas aéreos
e também o impacto da compra da Varig, concretizada
em abril deste ano.
A Gol vem negociando com a VarigLog, ex-dona da Varig,
uma revisão do preço que foi pago pela
companhia. A Gol pagou um total de R$ 558,7 milhões
pela aérea, mas há pouco mais de dois
meses cobrou R$ 184 milhões da VarigLog como
ajuste ao pagamento, conforme o Valor noticiou. Em seu
balanço do terceiro trimestre, a Gol afirma que
"o contrato de compra e venda [da Varig] permite
um ajuste posterior no preço da aquisição,
baseado em uma auditoria de determinados ativos e passivos."
Constantino Jr. não comentou o assunto.
O executivo também afirmou que a Gol não
está negociando a venda de ações
para fundos de participação. No fim de
outubro, numa coletiva de imprensa em Londres, ele chegou
a dizer que fundos de participação tinham
interesse em adquirir cerca de 30% na companhia. "Os
controladores não avaliam a possibilidade de
vender ações, e sim de comprá-las,
conforme já foi dito em fato relevante."
A Gol estuda, entre outras opções, fechar
o capital da empresa. Alguns analistas acreditam que
fundos de participação poderiam comprar,
junto com os controladores da Gol, as ações
em circulação no mercado, caso o fechamento
de capital ocorra.
No terceiro trimestre, a Gol registrou queda de 78,7%
no lucro líquido, para R$ 49,41 milhões,
ante R$ 232,23 milhões em igual período
do ano passado. O resultado é reflexo do aumento
nos custos e de uma oferta crescendo mais rapidamente
entre julho e setembro que a demanda, especialmente
em agosto. As despesas operacionais aumentaram 49,3%
no trimestre, chegando a R$ 1,26 bilhão. A receita
líquida aumentou 18,7%, para R$ 1,28 bilhão
no trimestre.
A companhia informou que os resultados foram diminuídos
em R$ 110 milhões devido ao caos aéreo.
Desse total, a Gol registrou R$ 70 milhões como
perda de receita e R$ 40 milhões como aumento
de despesas. Muito desse valor corresponde a maiores
gastos com combustível em aviões que precisaram
ficar sobrevoando os destinos à espera de autorização
para pouso. (* Do Valor Online)
Valor Econômico
08/11/2007
Companhia usou dinheiro para reorganizar
finanças
Roberta Campassi
A decisão da BRA de suspender seus vôos
levantou dúvidas acerca do destino que foi dado
ao aporte milionário que ela recebeu dos fundos
internacionais. Segundo o Valor apurou, o dinheiro serviu,
principalmente, para reorganizar as finanças
da companhia, conforme estabelecido no contrato entre
todos os acionistas.
Inicialmente, os fundos que participam do investimento
- Darby, HBK, Millenium, Development Capital, Goldman
Sachs, Gávea e Bank of America - aplicariam R$
180 milhões na BRA, em três parcelas. Mas
uma delas, no valor de R$ 27 milhões, deveria
ser paga somente em dezembro deste ano. Uma fonte ligada
à companhia afirma que a parcela não foi
concretizada. Por causa disso, os fundos teriam 41,3%
do capital total da empresa, e não 45,9%, como
foi anunciado na ocasião de fechamento do negócio,
em dezembro de 2006. No entanto, Danilo Amaral, atual
vice-presidente de relações institucionais
da BRA, confirmou na segunda-feira que o valor investido
era de R$ 180 milhões.
Os cerca de R$ 150 milhões investidos, portanto,
foram direcionados a três frentes, conforme previsto
em contrato: quitação de dívidas
financeiras, dívidas tributárias e capital
de giro. O dinheiro não foi usado para fazer
a empresa ganhar participação de mercado.
O crescimento estava previsto para a segunda etapa do
plano de negócios, que incluía a compra
de pelo menos 20 jatos da Embraer com dinheiro do BNDES.
O contrato da BRA com a fabricante de jatos foi fechado
em agosto deste ano.
Segundo fonte que esteve a par de todo o processo,
desde o ano passado, os fundos deixaram a empresa livre
de passivos. Mas, em menos de um ano, a BRA acumulou
novamente dívidas entre US$ 90 milhões
e US$ 100 milhões, uma vez que a operação
aérea era deficitária. O prejuízo
mensal variava ficava entre R$ 10 milhões e R$
15 milhões.
O problema, segundo a fonte, não eram os custos
operacionais. Ao contrário, eles seriam bem controlados,
em linha com a fama do fundador da BRA, Humberto Folegatti,
que no passado já se auto-declarou um "pão-duro".
O principal motivo das perdas seria a receita comprimida
da BRA, uma vez que ela cobrava tarifas entre 15% e
20% mais baixas do que os bilhetes mais baratos de suas
concorrentes - principalmente Gol, TAM e Varig. A política
de preços baixos seria uma diretriz de Folegatti
e de seu irmão Walter, responsável pela
área comercial da BRA, que ninguém na
companhia conseguiu mudar.
Os resultados financeiros acirraram os conflitos de
relacionamento que já existiam entre os acionistas
da BRA. Além disso, geraram descontentamento
entre os executivos da empresa. Entre agosto e outubro,
três diretores da companhia pediram demissão:
Waldomiro Ferreira, responsável pelo planejamento
e operações; Marcos Guedes, da área
de finanças, e Evaristo Silva, da área
técnica. A contratação de Amaral,
por parte da BRA, também teria causado mal-estar,
uma vez que antes ele atuava como advogado dos fundos.
Ontem, Amaral disse ao Valor que a BRA tenta negociar
um novo aporte de US$ 30 milhões com os fundos
para retomar os vôos. No mercado, avalia-se que
as chances de sucesso são pequenas. O executivo
afirmou que a BRA decidiu parou de voar para evitar
"queimar dinheiro".
O Estado de São Paulo
08/11/2007
Dez dias após anunciar
terceiro aeroporto, governo descarta idéia
Presidente aceita argumento
do ministro da Defesa, Nelson Jobim, e aposta agora
na terceira pista de Cumbica
Vera Rosa, Leonencio Nossa
O governo descartou ontem a possibilidade de construir
um terceiro aeroporto em São Paulo, pelo menos
a curto prazo. A decisão foi tomada dez dias
depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
e de a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff,
terem anunciado publicamente a intenção
de o governo federal erguer esse novo aeroporto fora
de São Paulo. Ontem, na reunião da coordenação
política, no Palácio do Planalto, o presidente
aceitou o argumento apresentado pelo ministro da Defesa,
Nelson Jobim, indicando que o mais conveniente, neste
momento, é investir na construção
da terceira pista do Aeroporto Internacional de Cumbica,
em Guarulhos.
Prevaleceu, portanto, a proposta do governador paulista,
José Serra (PSDB), que, em conversa com Jobim,
na sexta-feira, se manifestou contra a construção
de outro aeroporto em São Paulo, por considerá-la
uma idéia 'pouco sensata'. Já a ministra
Dilma, que na semana passada disse terminantemente aos
presidentes de TAM e da Gol que o governo não
investiria mais em outra pista de Cumbica, reviu a posição.
Em pronunciamento à Nação, no
dia 20 - três dias após a tragédia
com o avião da TAM, no vôo 3054 -, o presidente
anunciou uma série de providências para
desafogar o tráfego aéreo em Congonhas.
E citou, textualmente, a decisão tomada, à
tarde, na reunião do Conselho Nacional de Aviação
Civil (Conac) desse mesmo dia, sobre o novo aeroporto.
O item 4 das 'soluções' falava em 'definição,
em 90 dias, do local da construção de
um novo aeroporto na região de São Paulo'.
Poucos minutos antes do pronunciamento presidencial,
em cadeia nacional de rádio e televisão,
a ministra Dilma Roussef não só anunciou
a construção do novo aeroporto, como disse
que ele ficaria 'na região da Grande São
Paulo', e não na capital. Ao ser questionada
sobre a provável localização, ela
acrescentou que 'jamais' diria o local para 'não
ser fonte de especulação imobiliária'.
Agora, porém, o discurso oficial é de
que essa é uma solução de longo
prazo. Na reunião da coordenação
política do governo, Jobim disse que já
conversou sobre o assunto não apenas com o governador
Serra, como com o prefeito de Guarulhos, Elói
Pietá, que é do PT. Pelo relato do ministro
da Defesa, o governador tucano tem interesse em investir
numa linha de trem ligando o centro de São Paulo
ao Aeroporto de Cumbica e pediu ajuda federal. Serra
defende ainda a ampliação do terminal
de passageiros em Viracopos e a construção
de mais uma pista expressa para ligar São Paulo
a Campinas.
Estudos anteriores do governo esbarravam em um problema:
para erguer a terceira pista seria necessário
desalojar 20 mil famílias. O prefeito de Guarulhos,
no entanto, disse a Jobim que o número de desabrigados
é quatro vezes menor, não ultrapassando
5 mil famílias.
Com os dias contados no governo, o brigadeiro José
Carlos Pereira, presidente da Empresa Brasileira de
Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), fez
vários reparos a essa alternativa, mostrando
falta de sintonia com o Planalto. 'A questão
é de custo-benefício', afirmou Pereira,
ao lembrar a necessidade de remoção de
5 mil famílias.
Pereira falou em 'lugar difícil' e disse que
uma terceira pista vai exigir um trabalho mais cuidadoso.
'Qualquer pista de pouso será útil, mas
a questão é de custo-benefício.
Não sei o custo', comentou.
Pereira também destacou a importância
de existir cooperação entre os governos
estadual e federal para a construção de
mais uma pista em Guarulhos. Apesar dos 'senões',
o brigadeiro disse acreditar 'ser possível' sua
construção.
Com o desvio de vários pousos de Congonhas para
Cumbica, o Aeroporto de Guarulhos registrou ontem movimentação
intensa. Mas Pereira negou transtornos. Ao comentar
o acidente com o Airbus da TAM e o fato de a pista em
Congonhas ser considerada curta, procurou não
esticar a polêmica. 'Quinhentos metros a mais
não resolveriam o problema', afirmou, ao lembrar
a velocidade em que a aeronave tocou o solo.
FUTURO
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que o governo
encomendou à Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac) a elaboração de um estudo
sobre as perspectivas de crescimento da demanda de passageiros
no setor aéreo para os próximos 30 anos.
'Precisamos pensar neste assunto também no longo
prazo', disse.
Questionado se acredita que as medidas anunciadas hoje
pelo Conac poderiam acabar com o caos no setor aéreo
até o fim do ano, Jobim respondeu que 'como esperança,
a resposta é sim'. 'Mas, como afirmação,
não tenho condição de dizer.'
FRASES
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República (no discurso à
Nação em 20 de julho)
'Vamos definir, em 90 dias, o local da construção
de um novo aeroporto na região
de São Paulo.'
'O maior problema (do sistema aéreo nacional)
hoje é a excessiva concentração
de
vôos em Congonhas. E é isso que precisamos
resolver imediatamente.'
COLABORARAM ANA PAULA SCINOCCA,
LEONARDO GOY e ISABEL SOBRAL
O Estado de São Paulo
08/11/2007
TAM determina que aviões
não voem mais com reverso travado
No caso da tragédia
do 3054, piloto não pôde contar com o auxílio
do freio aerodinâmico
Tânia Monteiro
A TAM decidiu que seus aviões não voam
mais com o reverso das turbinas pinado. A regra vale
para todos os vôos, mas será considerada
como exigência fundamental para operações
de aterrissagem e decolagem em aeroportos com pistas
curtas, como é o caso dos de Congonhas, em São
Paulo, e Santos Dumont, no Rio. Agora, a empresa aérea
só admite voar com o reverso travado em aviões
que façam escalas em aeroportos com pistas longas
e grandes áreas de escape.
A decisão, que já é do conhecimento
da Aeronáutica, e foi confirmada pela própria
empresa ao Estado, significa, na prática, que
a TAM admite ser perigoso operar em pistas curtas com
aviões que não possam usar, como último
recurso de segurança, o acionamento dos reversos
das turbinas. As primeiras informações
da caixa-preta do vôo 3054 indicam que o piloto
do Airbus A320 enfrentou problemas com o manete. Um
complicador na tragédia, que deixou 199 mortos,
foi o fato de o comandante não conseguir usar
o reverso da turbina direita, que estava pinado.
Logo depois do acidente, a companhia defendeu que,
pelos manuais da fabricante Airbus e pela própria
experiência, mesmo em pistas curtas os aviões
poderiam operar com os reversos travados. A TAM acrescentou
que as pistas são homologadas para que os aviões
operem sem usar esse sistema de freios aerodinâmicos.
'O reverso é um acessório', disse o vice-presidente
técnico da TAM, Ruy Amparo, em depoimento na
CPI do Apagão Aéreo, na semana passada.
Disse, também, que o Airbus estava preparado
para pousar até em pistas de 1.350 metros, 600
metros menor do que a utilizada no vôo 3054. 'Estávamos
com quase 50% de segurança', afirmou Amparo.
A pista menor de Congonhas tem 1.435 metros. As do Rio,
no Santos Dumont, têm 1.323 metros e 1.260. As
do Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador, têm
4 mil metros e 3.180 metros, respectivamente.
A decisão tomada pela TAM, de não voar
mais com o reverso das turbinas pinado, foi considerada
acertada por militares da Aeronáutica. Eles entendem
que, neste momento, as medidas com objetivo de prevenir
problemas semelhantes aos que podem ter levado ao acidente
da TAM acabam sendo conservadoras, ou seja, mais radicais
do que permitem normalmente manuais ou tradicionais
regras de operação. Neste caso, embora
o avião esteja homologado para pousar em Congonhas,
mesmo sem dois reversos em operação, a
opção foi por não arriscar mais.
Outra recomendação na linha conservadora
veio do Centro de Investigação e Prevenção
de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), na semana
passada. Determinou-se que, em dias de chuva, todos
os vôos sejam suspensos na pista principal de
Congonhas , até que todos os testes de aderência
sejam realizados. O Cenipa só vai suspender sua
recomendação e atestar a segurança
de Congonhas depois de mensurar detalhadamente o coeficiente
de atrito da pista principal.
O Estado de São Paulo
08/11/2007
Congonhas corta 151 vôos
e terá 11 destinos
Decisão do Conac diminuiu
também o número de pousos e decolagens
Luciana Nunes Leal e Ana Paula Scinocca
Espera em Cumbica: mesmo com mais de 50 vôos
da TAM e da Gol transferidos para o aeroporto, Cumbica,
em Guarulhos, não chegou a ter
um dia tumultuado, mas teve um aumento significativo
do movimento. Passageiros reclamaram da demora para
despachar bagagens e pegar os bilhetes de embarque nos
check-ins das companhias - em alguns casos, cerca de
uma hora. Houve mais agressões verbais entre
passageiros
e atendentes. Também se formaram filas de passageiros
que esperavam o traslado para o Aeroporto de Congonhas,
na capital paulista
Na primeira reunião sob o comando do novo ministro
da Defesa, Nelson Jobim, o Conselho Nacional de Aviação
Civil (Conac) anunciou oficialmente a limitação
das operações no Aeroporto de Congonhas
a vôos de no máximo duas horas de duração,
o que vai reduzir o número de pousos e decolagens
diários de 712 para 561, o que representa 151
vôos a menos. Também foram definidos cinco
novos hubs (aeroportos que servem como ponto de distribuição
de vôos), para desafogar o aeroporto paulistano.
Ao anunciar mudanças na malha aérea do
País, o ministro da Defesa voltou a estimar um
prazo de dois meses para que os vôos de Congonhas
estejam limitados a duas horas de duração.
Oficializou-se, inicialmente, que Congonhas, onde ocorreu
o maior acidente aéreo da história do
País, será utilizado apenas para 11 destinos:
Brasília, Campo Grande, interior de São
Paulo, Foz do Iguaçu, Florianópolis, Porto
Alegre, Curitiba, Santos Dumont (Rio), Internacional
Tom Jobim (Rio), Vitória e Confins (MG). O Conac
determinou ainda o início imediato da transferência
da aviação executiva de Congonhas para
o Aeroporto de Jundiaí, a 60 quilômetros
de São Paulo.
DIVISÕES
Os vôos que vão deixar de pousar e decolar
em Congonhas serão absorvidos, segundo Jobim,
pelo Aeroporto Internacional de Guarulhos, Cumbica.
Nelson Jobim antecipou que será feita uma reestruturação
do layout de Cumbica, de maneira a melhor acomodar mais
vôos e passageiros.
Um comitê técnico será formado
para redistribuir a malha aérea e as autorizações
de vôos, outra forma de desafogar os aeroportos
de São Paulo. Com o novo desenho, segundo Jobim,
Congonhas deixará de ter vôos de conexão
e escalas. O Aeroporto do Galeão, no Rio, receberá
vôos para Nordeste, Europa, América do
Norte e Central. Curitiba centralizará escalas
e conexões para o Sul e Brasília para
o Norte e o Centro-Oeste. Confins, na região
metropolitana de Belo Horizonte, também centralizará
conexões para o Nordeste. Os aeroportos do interior
de São Paulo também servirão de
ponto de distribuição de vôos para
a Região Sul e também Região Centro-Oeste
- mas ainda não ficou claro como será
feita essa distribuição.
Segundo Jobim, o Aeroporto de Viracopos, em Campinas,
não será utilizado, em um primeiro momento,
para receber novos vôos, mas deve ficar preparado
para aumentar o número de pousos e decolagens
no médio prazo. Para tanto, o terminal terá
de passar por uma reforma para aumentar a capacidade
de pousos e decolagens e mudar o perfil - de essencialmente
de carga para de passageiros.
JUSTIÇA
O ministro da Defesa citou ainda a possibilidade da
reacomodação de algumas lojas localizadas
no aeroporto, para dar lugar a balcões de atendimento
melhor organizado. Na prática, áreas da
Transbrasil e da antiga Varig podem ir para Gol e TAM,
que hoje respondem por 90% do mercado e reclamam de
falta de espaço até mesmo no check-in
de seus passageiros. O caminho para tanto será
buscar medidas na Justiça para ocupar esses espaços
- muitas vezes sem utilização nenhuma.
Essa determinação já havia sido
anunciada na semana passada, na reunião anterior
do Conac, e foi reforçada por Jobim ontem.