:::::RIO DE JANEIRO - 08 DE MAIO DE 2006 :::::

Zero Hora
08/05/06
Dia decisivo para a crise da Varig
Entre as três ofertas que serão apreciadas pelos credores da empresa em reunião na manhã de hoje, a proposta que prevê a divisão da companhia em duas partes tem mais chances de aprovação

A crise que começou no início dos anos 90 e quase levou a Varig, a mais tradicional companhia aérea brasileira, à falência pode ser estancada hoje. Credores da dívida de R$ 8,4 bilhões da empresa se reúnem a partir das 9h, no Rio, para votar o plano de salvamento do grupo. Três ofertas estarão na mesa, mas uma delas, a chamada proposta de consenso, que prevê a divisão da empresa em uma parte doméstica e outra internacional, é a que tem mais chances de aprovação.

Desde que a idéia da consultoria Alvarez&Marsal foi apresentada, se mostrou a mais viável, especialmente porque ganhou o aval do governo federal, credor de cerca de 60% do débito total da Varig. Caso passe pela assembléia, a Varig doméstica será vendida em um leilão em 60 dias, com preço mínimo de US$ 700 milhões. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) participará do plano, emprestando US$ 100 milhões para a companhia conseguir sobreviver nesse período e também financiando a compra. Até agora, 10 grupos já buscaram informações no BNDES a respeito do negócio.

Possibilidade de demissões ainda é uma das questões indefinidas

O dinheiro do leilão servirá para capitalizar a Varig internacional, que continuará com a dívida e em recuperação judicial. As outras fontes de reestruturação da parte internacional virão da possibilidade de os credores trocarem suas dívidas pelo controle da empresa, da entrada de novos investidores e também dos créditos de R$ 4,5 bilhões que a Varig tem a receber do governo, devido a uma ação na Justiça por perdas com o congelamento tarifário.

A formatação das companhias ocorrerá nos próximos 30 dias. Ainda não foi definido, por exemplo, quantos funcionários terá cada uma das empresas e se haverá demissões. Mas já se sabe que um dos modelos propostos prevê 19 aeronaves na parte internacional e 36 na doméstica. O programa de milhagem Smiles deve ficar com a área internacional.

No total, a Varig tem 22 mil credores, dos quais 19 mil são trabalhadores da companhia. O grupo foi dividido em três classes - na um, estão os trabalhadores, na dois, o fundo de pensão Aerus, e, na três, as empresas de leasing e as estatais. As chances de aprovação são fortes porque as classes dois e três já teriam fechado com a proposta de consenso e, entre os trabalhadores, onde ainda há divisão, a maioria votaria favoravelmente.


Zero Hora
08/05/06
Protestos valorizam 21 anos de trabalho
SÍLVIA LISBOA

Nos últimos quatro anos, a comissária Cleide Frasson Zanini dividiu seu tempo entre os passageiros da primeira classe da Varig e os protestos em favor da companhia. Hoje, a intensa rotina pode terminar com a assembléia que deve definir a venda da companhia ou a sua divisão.

Gaúcha de Porto Alegre, Cleide, 49 anos, já foi três vezes a Brasília por conta própria para sensibilizar deputados sobre a importância da Varig e não sabe enumerar de quantas manifestações participou desde que irrompeu a crise. É reconhecida entre os colegas pelo "apito oficial", que guarda dos tempos de professora de educação física. E, sobretudo, pelo fervor patriótico expresso no traje usado nas manifestações: uma bandeira do Brasil como saia e lenços no pescoço e na cabeça associando as cores nacionais ao logotipo da companhia aérea.

- Lutar pela Varig é uma questão de cidadania - diz Cleide.

Com apenas um ano de casa, Cleide foi promovida a comissária de vôos internacionais. Pouco tempo depois, subia para a primeira classe. Lembra que serviu Dom Cláudio Hummes na véspera da eleição do novo Papa, após a morte de João Paulo II. Ganhou um pin do músico B.B. King pela qualidade do atendimento e se esmerou ao preparar uma bandeja de café-da-manhã para o jogador de tênis Gustavo Kuerten, o Guga, com direito a bananas retiradas do cardápio dos tripulantes.

Apesar das memórias glamurosas - conhece mais de 20 países e os melhores hotéis em cada pouso -, Cleide está disposta a aceitar cortes no salário. Entende também que demissões são necessárias.

- Sei que não vendi uma imagem de mentira durante esses 21 anos - diz a funcionária, repetindo a frase que escreveu em um pequeno bloco para não esquecer na hora da entrevista.


Zero Hora
08/05/06

Preocupações na festa de 79 anos
ALEXANDRE DE SANTI


Os 79 anos da Varig foram celebrados ontem de manhã por 30 funcionários e aposentados da empresa no Brique da Redenção, em Porto Alegre. Ao lado de uma tenda com faixas e pôsteres históricos, o grupo cantou parabéns, rezou um pai-nosso e cortou um bolo.

- Está muito difícil comemorar o aniversário da Varig, principalmente por causa do governo federal - resumiu Carlos Suess, comandante e representante da entidade Trabalhadores do Grupo Varig (TGV).

Sérgio Mees, 45 anos, comissário há 17, saiu do Brique direto para o aeroporto. Voaria em meia hora.

- Talvez seja o último aniversário da empresa - lamentou.

Hoje, Mees vai para o Rio acompanhar de perto a reunião que decide o futuro da companhia, mesmo sem direito a voto direto. Em março, o comissário tirou um mês de férias. Durante 15 dias, dedicou-se à mobilização da opinião pública. Como boa parte dos funcionários da empresa representados pelo TGV, Mees tem reservas em relação à principal proposta da consultoria Alvarez & Marsal, apoiada pelo governo, que prevê a divisão da empresa em duas. O TGV chega a classificar a proposição como uma forma de entregar a Varig à concorrência.

Conheça as regras da assembléia
Está mais próximo o final do dramático vôo da Varig rumo à recuperação.
A Varig tem cerca de 22 mil credores, dentre os quais 19 mil trabalhadores, divididos em três classes:
Classe 1 - credores trabalhistas
Classe 2 - credores com garantia real (principal: Aerus)
Classe 3 - credores sem garantias (principais: empresas de leasing, Infraero e BR Distribuidora)
Como se instala a assembléia
Como esta é a segunda convocação, a assembléia ocorrerá com qualquer número de participantes, desde que as três classes estejam representadas
Como a proposta é aprovada?
Para modificar o Plano de Recuperação, é preciso maioria simples do total de créditos presentes, independentemente da classe. Para aprovar propostas que prevêem a reestruturação, é necessária a aprovação de duas classes pelo menos, sendo que, nas classes 2 e 3, deve haver maioria simples dos créditos (considerando-as separadamente). Na classe 1, é preciso maioria simples. A proposta da Alvarez&Marsal tem mais chances porque já teria conquistado o apoio dos credores estatais, do Aerus e de parte dos trabalhadores
As propostas
Alvarez & Marsal
É a proposta que tem apoio do governo federal. Prevê a divisão da Varig em duas empresas, uma doméstica, sadia, e outra internacional, com as dívidas, com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O banco ainda fará um empréstimo-ponte de US$ 100 milhões para a companhia aérea agüentar 60 dias, até o leilão da parte doméstica. Com a realização do leilão, os recursos voltam para o BNDES. Os consórcios interessados em participar terão de incluir uma empresa aérea. O operador pode ser nacional ou internacional, dentro do limite da lei (até 20% do negócio). Isso abre espaço para a entrada de companhias como Gol, TAM, Ocean Air, etc.
Trabalhadores do Grupo Varig (TGV)
O plano, que reúne as associações de empregados da empresa prevê a divisão da companhia em duas partes, com uma empresa saudável (a Varig Operacional), corte de pessoal, uso dos recursos do Aerus e redução de salários dos trabalhadores
Jaime Toscano
O consultor ofereceu US$ 1,889 bilhão para comprar a Varig. A garantia seria a emissão de debêntures (títulos de crédito) conversíveis em ações. A proposta prevê a injeção imediata de US$ 500 milhões e também a expansão da empresa.

 

Estadão
08/05/06
Boeing aposta no 787 para recuperar fôlego no setor

Novo avião comercial da empresa só deve ganhar os céus em 2008
Leslie Wayne

Todas as atividades foram interrompidas na montadora da Boeing em Everett, Estado de Washington. Cinco mil operários e outros funcionários ficaram ociosos, alguns comendo biscoitos em formato de aeronave, enquanto esperavam pelo convidado de honra, o presidente da China, Hu Jintao.

Num telão acima de suas cabeças, imagens de aviões da Boeing pintados com as cores das várias linhas aéreas chinesas voavam ao som de uma música animada que ficava mais alta nos bastidores. Depois, uma série de palavras inspiradoras surgiram na tela - Pesquisa! Otimismo! Brilhante! Visão! -, enquanto pilotos chineses, falando em mandarim (com legendas em inglês), disseram o quanto gostavam de pilotar aeronaves da Boeing.

Quando terminaram os depoimentos, Hu fez sua entrada e não desapontou. Envergando um boné de beisebol da Boeing, tornou-se o melhor vendedor que a empresa poderia desejar. Disse quantos aviões da Boeing a China já comprou deste 1972 - 678, num total de US$ 37 bilhões. Comentou que viajou aos Estados Unidos a bordo de um Boeing 747 e que o povo chinês ama Boeings.

"Boeing é um nome popular na China", disse ele, enquanto a multidão aplaudia. "Quando o povo chinês voa, geralmente vai de Boeing."

Tomado pelo espírito de entusiasmo de Hu, o diretor-presidente da divisão de aviação comercial da Boeing, Alan R. Mulally, encerrou o evento erguendo o punho no ar e gritando: "A China agita!" Como um espetáculo de relações públicas e um exercício de adulação do cliente, o evento foi um sucesso estrondoso para a Boeing. Mas a dificuldade agora é manter a lua de mel - e não apenas na China mas com clientes do mundo inteiro.

Nos últimos anos, a Boeing tropeçou feio, cedendo seu predomínio de décadas na aviação comercial à Airbus e mergulhando numa série de escândalos relacionados com contratos com o Pentágono. Os ataques terroristas de 2001 reduziram a demanda num momento em que a linha de produtos da empresa estava inferiorizada com comparação com as atraentes novas aeronaves da Airbus. No decorrer de apenas um ano, de 2001 a 2002, os lucros da Boeing caíram 80%.

O sala da presidência da Boeing também se converteu numa porta giratória, pois falhas éticas obrigaram dois diretores-presidentes renunciarem em pouco mais de um ano. O primeiro, Philip M. Condit, saiu em dezembro de 2003 em meio a um escândalo relacionados a contratos com o Pentágono; o outro, Harry C. Stonecipher, abandonou o cargo em 2005 por causa de um caso amoroso adúltero com uma subordinada. O escândalo relativo ao Pentágono também resultou numa sentença de prisão para o ex-diretor financeiro da Boeing, Michael M. Sears.

Os infortúnios éticos da Boeing ainda não acabaram, portanto a empresa ainda não está pronta para declarar sua recuperação. Talvez precise pagar mais de US$ 1 bilhão em multas para acertar as coisas e, recentemente, seu principal advogado, Douglas G. Bain, avisou que alguns componentes do governo acreditam que a Boeing está "pobre na raiz".

Mas a visão a partir de Seattle, o quartel-general das operações de aviões a jato comerciais da Boeing, tem mais do espírito animado chinês do que tal conversa sombria possa indicar.

Com o crescimento da receita pelo segundo ano consecutivo, para US$ 54,8 bilhões em 2005, e um número recorde de pedidos na sua contabilidade, a Boeing tem apresentado um enorme rendimento no preço de suas ações - mais de US$ 80 a ação, mais do que o triplo que seu ponto mais baixo, que foi de US$ 25,00 em 2003. Os 1.002 pedidos da Boeing no ano passado estão aquém dos 1.055 da Airbus, mas os pedidos da Boeing incluíram aviões de maior porte que os analistas avaliam em US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões a mais do que a Airbus.

Mas o que realmente está elevando o espírito na Boeing - e impulsionando o preço das ações - é uma aeronave que ainda não ganhou os céus - o 787. É o primeiro novo avião comercial da Boeing numa década. Muito embora só vá entrar em operação em 2008, seus três primeiros anos de produção já estão vendidos - com 60 unidades dos 345 aviões indo para a China, numa transação de US$ 7,2 bilhões que Hu citou na sua apresentação. Outros grandes pedidos vieram da Qantas Airways, All Nippon Airways, Japan Airlines e Northwest Airlines.

Os analistas calculam que a Boeing e suas parceiras vão investir US$ 8 bilhões para desenvolver o 787.


Agência Brasil
07/05/06 - 16:57
Credores discutem solução para crise da Varig na segunda-feira
Márcia Wonghon
Repórter da Agência Brasil


Brasília – A crise financeira da Varig, desencadeada por uma dívida total da empresa que soma R$ 7 bilhões, pode ter uma solução definitiva amanhã (8), quando acontece uma reunião com os credores, no Rio de Janeiro, para escolher uma das propostas recebidas pela empresa. A Varig, empresa de transporte de passageiros, passa por uma crise financeira e está sob processo de reestruturação judicial desde o ano passado.

O presidente da empresa, Marcelo Bottini, explicou, durante um seminário em Olinda, as propostas. Uma delas "seria um plano da venda de um ativo, ou seja, as linhas nacionais, por meio de leilão a ser realizado em um prazo de 30 a 60 dias, com lance mínimo de US$ 700 milhões", contou.

Outra, "apresentada por trabalhadores do grupo Varig, traz o mesmo conceito da venda do ativo doméstico, por meio da atração de investidores. O último projeto é o do consultor Jayme Toscano, intermediário de um investidor, que oferece U$ 1,8 bilhão pela compra da empresa", completou.

Bottini informou que já vêm ocorrendo várias ações no sentido de reduzir gastos do plano de recuperação da Varig – aprovado em 19 de dezembro do ano passado, pelos credores da companhia. "Um deles foi a suspensão do vôo para o Japão que estava dando prejuízos de US$ 1 milhão por mês. Outra iniciativa recente é a desativação de tripulações técnicas e de bordo em Los Angeles, nos Estados Unidos.", observou.

A reestruturação da empresa também inclui a demissão de funcionários. "Na parte de redução de pessoal, estamos esperando a definição de segunda-feira para fazer o ajuste necessário. Não podemos prever se a empresa será divida, sabemos que o que vai acontecer agora é uma fase de ajustes, para que a Varig volte a crescer novamente no futuro", disse.

A Varig, que ainda permanece como a maior empresa área brasileira de vôos internacionais, possui 60 aeronaves. Por conta da crise, a empresa teve prejuízos de 20% a 30% na venda de passagens.

A Varig Logística (VarigLog) decidiu na semana passada retirar sua proposta de compra da Varig. Segundo a assessoria de imprensa da VarigLog, o motivo da perda do interesse pelo negócio é a demora em se resolver o problema da companhia aérea.