::::: RIO DE JANEIRO - 08 DE MARÇO DE 2008 :::::

 

IstoÉ Dinheiro
08/03/2008
Não dá lucro? Então vende
O governo decidiu abrir o capital da Infraero, mas a escolha mais sensata seria a concessão dos aeroportos à iniciativa privada

OCTÁVIO COSTA

GAUDENZI: presidente da empresa diz que a oferta de ações pode ser atrativa, apesar dos resultados ruins

NOS ÚLTIMOS MESES, UM ACALORADO DEBATE SOBRE O futuro da aviação brasileira se arrastou no governo. Uma ala, liderada pelo BNDES e pela Casa Civil, defendia que os aeroportos fossem transferidos à iniciativa privada, em regime de concessão, assim como vem sendo feito com as estradas federais. Uma outra, que reunia a Defesa e os ministros militares, pregava a saída intermediária: a abertura de capital da Infraero, que administra os principais aeroportos do País. Prevaleceu a segunda alternativa, sob o argumento de que só 10 dos 67 terminais brasileiros são lucrativos. Ou seja: muitos deles não encontrariam compradores. Além disso, a Infraero teve prejuízos de R$ 458 milhões em 2005 e de R$ 135 milhões no ano passado. O que se omitiu é que os números ruins, em vez de argumento contra a venda, eram o melhor motivo para a privatização. Afinal, empresas como Embraer e CSN também eram deficitárias antes da transferência à gestão privada. Mas o governo fez sua escolha e o presidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi, justificou: “A abertura de capital fortalece a empresa, enquanto a privatização é um ato definitivo, que não permite recuo.”

Vitorioso na disputa, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, diz que a empresa pode ser transformada numa Petrobras da administração dos aeroportos do País. Mas falta ainda convencer investidores a alocar recursos numa empresa que vem perdendo dinheiro. Gaudenzi garante que a oferta será atrativa. “A União deverá incorporar ativos imobiliários ao patrimônio da empresa, o que, certamente, servirá para valorizar as ações.”

Com a questão encaminhada, a Infraero pretende se concentrar nos investimentos de R$ 877 milhões previstos no PAC e de R$ 397 milhões que constam de seu planejamento. Destacam-se no rol de projetos a reforma do terminal 1 do Galeão-Tom Jobim e a ampliação do aeroporto de Viracopos, em Campinas. “A prioridade número 1 da Infraero é Campinas”, afirma Gaudenzi. “Vamos ampliar o terminal de passageiros e construir a segunda pista.” Segundo ele, as projeções indicam que Campinas poderá receber até 85 milhões de passageiros/ano até 2025. A cidade é favorecida pela proximidade com São Paulo e também pela promessa de um trem-bala. E isso afasta, por ora, a possibilidade do terceiro aeroporto na Grande São Paulo.
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IstoÉ Dinheiro
08/03/2008
A força do DNA de Ozires
Aos 75 anos, o criador da Embraer se transformou no profeta do mundo jovem da inovação. Sua mais nova investida é uma lista telefônica digital
ROBERTA NAMOUR


"A descoberta de uma tecnologia pode não valer nada, se você não souber vendê-la"
OZIRES SILVA
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“O mundo de hoje é o mundo da inovação”, diz Ozires Silva. “E é na busca por ela que eu dedico a minha vida.” Aos 75 anos de idade, o fundador da Embraer, ex-ministro da Infra-Estrutura e ex-presidente da Petrobras continua incansável na arte de descobrir.

O broche de um avião que carrega na lapela do terno aponta o orgulho da experiência acumulada no passado, enquanto o leque de projetos que tem em mãos mostra o que ainda espera realizar. Sua recente trajetória é a exceção na teoria de que invenções tecnológicas sejam fruto do arrojo e talento de jovens empreendedores. E avisa: “A descoberta de uma tecnologia pode não valer nada, se você não souber vendê-la”.

É aqui que sua experiência faz a diferença. A ocupação atual de Ozires é viabilizar “boas idéias”, como ele mesmo diz. De um lado, identifica projetos inovadores, sempre com forte componente tecnológico. De outro, reúne investidores, cujos nomes não revela, dispostos a bancar a iniciativa. A seguir, comanda a estruturação do negócio até que de os primeiros passos. A partir daí, assume a presidência do conselho, monitorando seu desenvolvimento.

Dessa forma, Ozires já colocou em funcionamento três diferentes projetos. Sua mais recente tacada é o Age- Cel, projeto de compressão de dados que viabiliza a digitalização de uma lista telefônica de 80 mil nomes no celular. Por um preço simbólico, o usuário pode solicitar o catálogo telefônico digital da cidade em que estiver com uma ligação.

Com um investimento de R$ 12 milhões, a comercialização do aplicativo é feita por meio de franquias nos Estados, que valem de R$ 50 mil a R$ 6,7 milhões. Por enquanto, apenas Rio Grande do Norte, Maranhão, Santa Catarina e Ceará estão cadastrados.

“Em breve, o Brasil todo fará parte do sistema. E quem sabe até lá já teremos a lista de números de celular”, sugere. Além disso, desde 2003, ele integra a equipe da Pele Nova, que atua no desenvolvimento da biomembrana, tecnologia que acelera a cicatrização da pele através do princípio ativo do látex. “O próximo passo é a exportação.” O veterano também ocupa a presidência do conselho de diversas empresas, entre elas a Sundown Motos, e participa como conselheiro de associações e de representações públicas. Nas horas vagas, se dedica à realização de um projeto ambicioso na educação, o Escola Inteligente. “Desde 1740 convivemos com o tradicional modelo de educação no qual os professores passam os ensinamentos pelo quadro-negro. Está mais do que na hora de mudar”, diz. Em parceria com o Instituto Galileu Galilei, Ozires quer criar uma escola interativa com novas tecnologias de aprendizado. “O mundo de hoje exige um cidadão global e ele tem de ser formado nessa direção”, explica.

Engenheiro formado pelo ITA e oficial da Aeronáutica, responsável pelo processo de privatização da Embraer, Ozires leva para esses negócios os ensinamentos acumulados ao longo da carreira. Sua fonte de inspiração? O ditado favorito de seu amigo, o comandante Rolim Amaro, fundador da TAM, morto em 2001: “É melhor almoçar o concorrente do que ser jantado por ele”. Por isso, Ozires tem pressa. Quando menino, não entendia por que o Brasil não tinha seu próprio avião. Agora, questiona o fato de o País ainda não ter se lançado na construção de um automóvel elétrico.

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Depois de algumas tentativas frustradas – não conseguiu investidores para apoiar a causa –, Ozires tenta convencer a fabricante Sundown a criar uma moto elétrica. “Mais cedo do que se imagina alguém vai industrializar essa idéia”, constata. “Eu gostaria muito que o Brasil assumisse a liderança.”

 

 

Revista IstoÉ
08/03/2008
No governo não tem caos aéreo
Documentos mostram que ministros usam jatos da FAB para ir e voltar de suas casas e ainda dão carona para parentes e assessores

Por SÉRGIO PARDELLAS

VÔOS DA ALEGRIA Hélio Costa, Dilma, Tarso, Orlando Silva, Marta e Patrus estão entre os que voltam para casa nos jatos da Força Aérea Brasileira

A companhia aérea preferida por parte dos ministros do governo Lula tem três letras, melhorou recentemente a frota e seus pilotos são muito bem treinados. Mas esses ministros não viajam nem de TAM nem de Gol. Usam e abusam das viagens a bordo de aeronaves do Grupo de Transporte Especial (GTE) da Força Aérea Brasileira (FAB). É isso o que revelam documentos confidenciais obtidos por ISTOÉ sobre a movimentação de autoridades do primeiro escalão nos anos de 2006 e 2007. Os relatórios mostram que, no mesmo período em que a população enfrentava o caos aéreo e testava a paciência em intermináveis filas nos aeroportos brasileiros, ministros de Estado se valeram da mordomia não apenas a serviço ou em missões especiais, mas para ir e voltar de casa durante os fins de semana. Na linguagem empregada nos papéis da Aeronáutica, são os chamados “deslocamentos para residência permanente”, que deviam se constituir numa exceção, não numa regra, como se constata no levantamento.

Os planos de vôos dos seis tipos de avião da FAB disponíveis para as autoridades – Learjet, Learjet Vip, Brasília, Legacy, Embraer 145 e Xingu – também contemplaram viagens em feriados e datas comemorativas, dias em que não costuma haver expediente em Brasília. Isso ocorreu durante as celebrações do Natal, Ano- Novo e Carnaval. Há ainda registros de verdadeiros vôos charters, com assessores, parentes, amigos e parlamentares do mesmo Estado do ministro pegando carona na sexta-feira para voltar para casa, retornando a Brasília no início da semana.

Um dos exemplos do uso indiscriminado dos aviões da FAB pelo primeiro escalão do governo, cujos trajetos, ao custo médio de R$ 25 mil, dependendo do modelo do jato, são pagos com o dinheiro do contribuinte, foi a ida dos ministros para a posse presidencial em 1º de janeiro de 2007 em Brasília. O escrutínio das urnas já apontava, em outubro de 2006, a renovação por mais quatro anos do mandato de Lula. Todos os ministros e candidatos a integrantes da futura equipe de governo já tinham conhecimento da data da posse pelo menos com dois meses de antecedência. Mesmo assim, ministros como Tarso Genro, então das Relações Institucionais, Dilma Rousseff, da Casa Civil, Paulo Bernardo, do Planejamento, Orlando Silva, do Esporte, Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, e Hélio Costa, das Comunicações, preferiram se deslocar para Brasília desfrutando do conforto e da comodidade dos jatos da FAB a reservar com antecedência seus respectivos assentos nos aviões de carreira.

Os ministros Thomaz Bastos e Orlando Silva foram de São Paulo a Brasília no mesmo avião, um Learjet VIP que também acomodou numa de suas aconchegantes poltronas o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Gustavo Petta. A aeronave saiu da base aérea paulista às 9h25. A bordo de outro jatinho, Tarso Genro embarcou de Porto Alegre para Brasília às 8h50. Hélio Costa saiu de Barbacena, sua terra natal. Enquanto Dilma e Paulo Bernardo partiram de Salvador, onde passaram o Réveillon, com destino à capital federal a bordo do Legacy da FAB.

Em todos os casos, o motivo alegado para o uso dos jatinhos da FAB foi o de que os ministros estavam “a serviço”.

Gilberto Gil, ministro da Cultura, deu a mesma justificativa quando se valeu da mordomia dos jatos Learjet, Brasília e Embraer 145 para voar sem preocupação com filas e atrasos pelo circuito Rio de Janeiro e Salvador entre os dias 15 e 19 de fevereiro do ano passado. Ou seja, Gil recorreu aos serviços da FAB em pleno Carnaval, festa da qual é notório protagonista ao subir em seu trio elétrico – o chamado Expresso 2222 – e inflamar a multidão pelas ruas de Salvador. Ele fez o trecho Brasília–Salvador em 15 de fevereiro e, três dias depois, seguiu para o Rio, levando de carona o então ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, e o governador da Bahia, Jaques Wagner, e suas respectivas mulheres, Sheila dos Mares Guia e Fátima Mendonça. Procurado por ISTOÉ, ele disse que faz uso desse transporte apenas em viagens oficiais, em geral, em três tipos de situação: 1) quando viaja para locais de difícil acesso; 2) quando é convocado para reuniões pela Presidência ou Casa Civil; 3) quando sua agenda exige deslocamentos mais ágeis e emergenciais que não se ajustem aos vôos das companhias áreas.

Transportar no mesmo avião autoridades, assessores, parentes e até amigos é comum entre os usuários das aeronaves da Força Aérea Brasileira. É a união do útil ao agradável. Em suas viagens para Porto Alegre, no fim de semana, a bordo dos jatos da Aeronáutica, a ministra Dilma já transportou o deputado gaúcho e dileto amigo, hoje líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS). Gil, por exemplo, levou para o Rio, no dia 2 de janeiro de 2007, o compositor Jorge Mautner, que também trabalha no programa Pontos de Cultura do governo federal. No dia 8 de março de 2007, o então ministro Walfrido fez uma viagem pluripartidária a Minas Gerais, ao dar carona para os conterrâneos, o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) e o peemedebista Hélio Costa. O ministro da Educação, Fernando Haddad, por sua vez, preferiu transportar a família – a esposa, Ana Estela, e a filha, Carolina – num Learjet VIP para São Paulo, no dia 10 de dezembro de 2006. O maior caronaço, no entanto, ocorreu no dia 5 de abril de 2007. Um dos mais antigos aviões da frota da Força Aérea Brasileira, o “Brasília”, partiu da capital da República com destino a Belo Horizonte levando os ministros Walfrido, Nelson Jobim, da Defesa, os governadores do Piauí, Wellington Dias, e de Sergipe, Marcelo Deda, e esposas, e os três filhos de Wellington. A julgar pelo plano de vôo, os passageiros passaram o fim de semana na capital mineira. O avião retornou para Brasília num domingo, dia 8 de abril, com as mesmas autoridades e seus parentes.

O ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, não esteve nesse vôo rumo à terra do pão de queijo, mas é o recordista em viagens para casa ou “deslocamento para residência permanente” em 2006 e 2007. Durante os 13 meses analisados pelos relatórios oficiais, Patrus utilizou os aviões da FAB em 42 fins de semana para ir e voltar para Belo Horizonte, o que corresponde a uma média de mais de três fins de semana por mês. Na maioria das vezes, voou acompanhado da mulher, Vera Ananias, como no dia 12 de janeiro de 2007, quando partiu de Brasília para Belo Horizonte às 15h20 a bordo de um Learjet VIP. O ex-ministro do Turismo Walfrido dos Mares Guia, por pouco não igualou a marca. Utilizou os aviões da FAB para ir e voltar para Belo Horizonte em 40 fins de semana dos 52 analisados. A ministra do Turismo, Marta Suplicy, que, no apogeu da crise, cunhou a infeliz frase do “relaxa e goza”, também chegou perto do índice do colega de Ministério. Registrou uma média de exatos três fins de semana por mês. Em três meses, chegou a ir e voltar para São Paulo nove vezes, sempre na sexta- feira, com retorno no domingo ou na segunda. Uma das idas de Marta para São Paulo ocorreu no dia 4 de maio de 2007, uma sexta-feira, às 13h40. A assessoria da ministra diz que ela cumpre suas agendas voando em aeronaves da FAB e em aviões comerciais, dependendo do compromisso a ser cumprido e da disponibilidade de aeronaves. E que Marta está amparada pelo decreto que disciplinou a utilização dos jatos em 2002. Já Tarso Genro foi mais econômico: utilizou o avião da FAB em 17 fins de semana para ir e voltar para Porto Alegre em um ano, o equivalente a uma média de 1,3 vôo por mês.

A ministra Dilma, nos 13 meses pesquisados, escolheu os jatos oficiais, em detrimento dos aviões comerciais, em 37 ocasiões. Na maioria das vezes, voou a serviço. Mas, em quatro fins de semana, lançou mão da mordomia para ir e voltar para Porto Alegre. Segundo sua assessoria, um dos vôos de Dilma para sua cidade natal a bordo da aeronave da FAB, o do dia 25 de maio de 2007, foi necessário por “incompatibilidade de agenda”, uma vez que a ministra, nesse dia, teve de despachar até as 20h no Palácio do Planalto. Outra viagem – a do dia 28 de julho de 2006 – teve como finalidade, segundo a assessoria da Casa Civil, o cumprimento de uma agenda na Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs).

No total, as viagens de ministros com os jatos da FAB cresceram entre 2006 e 2007. De janeiro a dezembro de 2006, as aeronaves disponíveis para os ministros percorreram 1.351 trechos (idas e voltas). No mesmo período de 2007, os jatos fizeram 1.618 viagens. O uso dos jatinhos oficiais por ministros de Estado não é uma prática irregular. Baixado em 22 de maio de 2002, o Decreto nº 4.244 estabelece uma ordem de prioridades para a utilização de aeronaves da FAB. Segundo o documento, editado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a primeira situação a ser atendida se refere a “motivo de segurança e emergência médica”. A segunda prioridade são “as viagens a serviço”. Por último, podem ser atendidos deslocamentos para o local de residência permanente. Driblase o espírito do decreto de uma maneira simples: transforma-se em viagem de serviço o que é, na verdade, um deslocamento para casa. É óbvio que, se essa não fosse a última prioridade, a frota da FAB não teria como atender a volta para casa em todos os fins de semana de todos os 34 ministros. O que espanta é o abuso. Trata-se de uma exceção que virou rotina. “Se os ministros invertem a prioridade, é uma linha a ser analisada pela Comissão de Ética Pública”, afirma um dos membros do colegiado, que preserva seu anonimato, pois pode julgar o caso no futuro. Apesar disso, a assessoria do ministro Patrus Ananias não vê nada demais. “O ministro tem residência permanente em Belo Horizonte e se desloca em aviões da FAB”, confirma a assessoria.

Quando viajam a serviço, os ministros têm duas possibilidades: ou voam de avião de carreira ou utilizam uma das seis aeronaves da FAB. Na primeira opção, a passagem também é custeada pelo governo, mas os ministros se obrigam a conviver com os brasileiros que fazem check-in. A preferência pela segunda opção, em boa parte dos casos, pode ser facilmente explicada pelo fato de que, ao viajarem em aviões da FAB, os ministros não se submetem ao desconforto do caos aéreo. Não têm que perder horas em terminais de aeroporto ou a bordo de aviões aguardando a ordem para levantar vôo. As aeronaves da FAB têm a prerrogativa de pedir prioridade em pousos e decolagens. Se a mordomia existe, por que não marcar um compromisso na sexta-feira, de preferência longe de Brasília e perto de casa? Quem, neste País, abre mão de prerrogativas?

TODOS A BORDO DOS AVIÕES DA FAB DE JANEIRO A DEZEMBRO DE 2006, AS AERONAVES DISPONÍVEIS PARA OS MINISTROS PERCORRERAM 1.351 TRECHOS (IDAS E VOLTAS)

PATRUS ANANIAS
É o recordista em viagens para casa. Dos 13 meses analisados, ele utilizou o avião da FAB em 42 fins de semana para ir e voltar a BH. Média de 3,2 por mês

ORLANDO SILVA
O ministro do Esporte voou nos jatos da FAB 29 vezes em um ano. Nesse período, em seis fins de semana usou o avião para ir ou voltar da sua casa em São Paulo

MARTA SUPLICY
A ministra do Turismo chegou a ir e voltar para São Paulo em nove fins de semana num período de três meses. Média de 3 fins de semana por mês

TARSO GENRO
Nos 13 meses analisados, o ministro da Justiça usou os jatos da FAB em 17 fins de semana em viagens de ida e volta a Porto Alegre. A média foi de 1,3 vôo por mês

HÉLIO COSTA
O ministro usou os jatinhos da FAB 14 vezes. Seis delas para ir ou voltar a Belo Horizonte. Em 1º de janeiro de 2007, usou o avião para ir à posse de Lula


A FARRA DA ANAC MAIS DE 20 MIL PASSAGENS DE GRAÇA

Ao longo de 2007, enquanto milhões de passageiros do transporte aéreo enfrentaram filas e atrasos nos aeroportos, não se via um único dirigente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) nos aeroportos. Onde estavam eles? Com freqüência espantosa, viajavam de graça, com passagens cedidas pelas empresas que deveriam fiscalizar. Entre 20 de março de 2006 e 15 de agosto, no pior período do apagão aéreo, o pessoal da Anac utilizou 19.071 “requisições de transporte aéreo não remunerado”, segundo levantamento da Comissão de Ética Pública da Presidência da República. A antiga diretoria da Anac fez a festa com passagens gratuitas para fins particulares, de preferência nos fins de semana.

O então diretor-presidente da Anac, Milton Zuanazzi, realizou 64 viagens, 17 delas em fins de semana, sendo 15 para sua cidade de origem, Porto Alegre. Nenhuma das 64 viagens foi para cumprir fiscalização do setor aéreo. Zuanazzi apresentou 51 memorandos de requisição de transporte à comissão para justificar suas andanças, mas em 21 não há código da missão. Ele feriu portaria do Comando da Aeronáutica sobre missões de fiscalização do setor aéreo. A Comissão de Ética Pública aprovou o parecer do relator por unanimidade e aplicou “censura ética” a Zuanazzi, por violação do Código de Conduta da Alta Administração Pública. Procurado por ISTOÉ, Zuanazzi não retornou dois telefonemas. O ex-diretor da Anac Leur Lomanto percorreu 62 trechos de viagem no período investigado, oito em fins de semana e 15 para Salvador, onde reside. Dos 26 memorandos de requisição de viagens encaminhados, 11 não tinham informação sobre o código da missão. Nenhuma das viagens foi utilizada para missões de fiscalização. Também foi aplicada censura ética a Lomanto, que não quis falar sobre a punição da Comissão.

Outro ex-diretor da Anac, Josef Barat, usou passagens gratuitas em 37 trechos de viagens, alguns em fins de semana e pelo menos 19 para São Paulo, cidade onde mora. Ele apresentou 17 memorandos, mas em cinco não consta o preenchimento do código da suposta missão. Nenhum trecho de viagem foi utilizado para fiscalização do setor aéreo. A comissão se debruça agora sobre dezenas de viagens da ex-diretora Denise Abreu. Segundo integrantes da Comissão, foram encontradas também viagens suspeitas de não estarem relacionadas com as funções da Anac, como bilhetes para São Paulo, local de sua residência.
HUGO MARQUES

 

 

Folha de São Paulo
08/03/2008
Pantanal tem a licença de vôo suspensa
Empresa não apresenta documentos para comprovar situação fiscal e trabalhista
Companhia deve enfrentar processo da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e sanções do Ministério do Trabalho e da Receita

LUCAS FERRAZ DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) não vai renovar a concessão da Pantanal Linhas Aéreas, que vence no próximo dia 25. A medida cancela todas as autorizações de vôos e a venda de passagens a partir dessa data.

A empresa, que passa por uma crise financeira, não apresentou à Anac os documentos que comprovassem a legalidade da sua situação fiscal e trabalhista.

O requisito é necessário para a companhia aérea continuar operando normalmente.

A Pantanal tinha prazo até ontem para entregar a documentação, mas a agência informou, no começo da noite, que a companhia aérea não está em regularidade fiscal.

A empresa vai atuar na aviação regular apenas até o próximo dia 24, segundo a Anac, medida que visa atender a necessidade de eventuais passageiros.

Mas, como o próprio órgão determinou que ela vendesse passagens apenas por um período de 15 dias, os passageiros não devem ser prejudicados.

A Pantanal terá o Cheta (Certificado de Homologação de Empresa Aérea) suspenso, mesmo que apresente os documentos nas próximas semanas.

A situação da empresa apenas será regularizada quando pedir um novo certificado.

Segundo estimativa da Anac, a expedição do Cheta para uma empresa nova leva em média seis meses.

Segundo a Anac, o descumprimento da Pantanal deverá resultar em um processo administrativo, no qual ela deve ser autuada. A empresa pode sofrer sanções ainda do Ministério do Trabalho e da Receita Federal.

Desde dezembro a Pantanal enfrenta problemas de ordem fiscal e trabalhista. Naquele mês, a Anac solicitou os documentos que até ontem estavam pendentes.

A Pantanal pediu um prazo maior para apresentá-los, mas não o cumpriu, o que levou a Anac a proibi-la de vender passagens por um período superior a 15 dias, medida em vigor desde o dia 12 de fevereiro.

A Folha ligou para a sede da companhia em São Paulo três vezes. Uma recepcionista, de nome Paula, disse que não havia ninguém para comentar o assunto, pois todos os diretores estavam em viagem para resolver "problemas".

A reportagem também ligou para o celular do diretor-geral da companhia, Ramiro Tojal. Quem atendeu foi um funcionário que se apresentou apenas por Francisco e disse trabalhar no setor de correspondências.

A Pantanal, fundada em 1993 e que atua com seis aeronaves de pequeno porte, tem participação minúscula no mercado da aviação doméstica, com apenas 0,14%, restrita principalmente a São Paulo e cidades do interior paulista. A TAM é a líder, com 48%, enquanto a Gol, na segunda posição, abocanha 39% do mercado.

Procurado, o Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias) evitou comentar o caso, sob a alegação de se tratar de um "problema" interno.

 

 

Jornal do Brasil
08/03/2008
Vôo 3054: TAM manda pertences à polícia

A TAM entregou ontem à Polícia Civil de São Paulo 41 caixas com 1.828 envelopes plásticos contendo pertences pessoais das vítimas do acidente com o vôo 3054. Os objetos foram encontrados no local do acidente pela Global BMS, empresa americana contratada para realizar os trabalhos de busca, recuperação, higienização e catalogação dos objetos para viabilizar a sua entrega às famílias das vítimas. A BMS trabalhou nos escombros do World Trade Center depois dos ataques terroristas.