IstoÉ
Dinheiro
08/03/2008
Não dá lucro? Então
vende
O governo decidiu abrir o
capital da Infraero, mas a escolha mais sensata seria
a concessão dos aeroportos à iniciativa
privada
OCTÁVIO
COSTA
GAUDENZI: presidente da empresa
diz que a oferta de ações pode ser atrativa,
apesar dos resultados ruins
NOS
ÚLTIMOS MESES, UM ACALORADO DEBATE SOBRE O futuro
da aviação brasileira se arrastou no governo.
Uma ala, liderada pelo BNDES e pela Casa Civil, defendia
que os aeroportos fossem transferidos à iniciativa
privada, em regime de concessão, assim como vem
sendo feito com as estradas federais. Uma outra, que
reunia a Defesa e os ministros militares, pregava a
saída intermediária: a abertura de capital
da Infraero, que administra os principais aeroportos
do País. Prevaleceu a segunda alternativa, sob
o argumento de que só 10 dos 67 terminais brasileiros
são lucrativos. Ou seja: muitos deles não
encontrariam compradores. Além disso, a Infraero
teve prejuízos de R$ 458 milhões em 2005
e de R$ 135 milhões no ano passado. O que se
omitiu é que os números ruins, em vez
de argumento contra a venda, eram o melhor motivo para
a privatização. Afinal, empresas como
Embraer e CSN também eram deficitárias
antes da transferência à gestão
privada. Mas o governo fez sua escolha e o presidente
da Infraero, Sérgio Gaudenzi, justificou: “A
abertura de capital fortalece a empresa, enquanto a
privatização é um ato definitivo,
que não permite recuo.”
Vitorioso
na disputa, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, diz
que a empresa pode ser transformada numa Petrobras da
administração dos aeroportos do País.
Mas falta ainda convencer investidores a alocar recursos
numa empresa que vem perdendo dinheiro. Gaudenzi garante
que a oferta será atrativa. “A União
deverá incorporar ativos imobiliários
ao patrimônio da empresa, o que, certamente, servirá
para valorizar as ações.”
Com
a questão encaminhada, a Infraero pretende
se concentrar nos investimentos de R$ 877 milhões
previstos no PAC e de R$ 397 milhões que
constam de seu planejamento. Destacam-se no rol
de projetos a reforma do terminal 1 do Galeão-Tom
Jobim e a ampliação do aeroporto
de Viracopos, em Campinas. “A prioridade
número 1 da Infraero é Campinas”,
afirma Gaudenzi. “Vamos ampliar o terminal
de passageiros e construir a segunda pista.”
Segundo ele, as projeções indicam
que Campinas poderá receber até
85 milhões de passageiros/ano até
2025. A cidade é favorecida pela proximidade
com São Paulo e também pela promessa
de um trem-bala. E isso afasta, por ora, a possibilidade
do terceiro aeroporto na Grande São Paulo. |
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IstoÉ
Dinheiro
08/03/2008
A força do DNA de Ozires
Aos 75 anos, o criador da
Embraer se transformou no profeta do mundo jovem da
inovação. Sua mais nova investida é
uma lista telefônica digital
ROBERTA NAMOUR
"A descoberta de uma
tecnologia pode não valer nada, se você
não souber vendê-la"
OZIRES SILVA |
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“O
mundo de hoje é o mundo da inovação”,
diz Ozires Silva. “E é na busca
por ela que eu dedico a minha vida.” Aos
75 anos de idade, o fundador da Embraer, ex-ministro
da Infra-Estrutura e ex-presidente da Petrobras
continua incansável na arte de descobrir.
O
broche de um avião que carrega na lapela
do terno aponta o orgulho da experiência
acumulada no passado, enquanto o leque de projetos
que tem em mãos mostra o que ainda espera
realizar. Sua recente trajetória é
a exceção na teoria de que invenções
tecnológicas sejam fruto do arrojo e
talento de jovens empreendedores. E avisa: “A
descoberta de uma tecnologia pode não
valer nada, se você não souber
vendê-la”.
É
aqui que sua experiência faz a diferença.
A ocupação atual de Ozires é
viabilizar “boas idéias”,
como ele mesmo diz. De um lado, identifica projetos
inovadores, sempre com forte componente tecnológico.
De outro, reúne investidores, cujos nomes
não revela, dispostos a bancar a iniciativa.
A seguir, comanda a estruturação
do negócio até que de os primeiros
passos. A partir daí, assume a presidência
do conselho, monitorando seu desenvolvimento.
Dessa
forma, Ozires já colocou em funcionamento
três diferentes projetos. Sua mais recente
tacada é o Age- Cel, projeto de compressão
de dados que viabiliza a digitalização
de uma lista telefônica de 80 mil nomes
no celular. Por um preço simbólico,
o usuário pode solicitar o catálogo
telefônico digital da cidade em que estiver
com uma ligação.
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Com
um investimento de R$ 12 milhões, a comercialização
do aplicativo é feita por meio de franquias nos
Estados, que valem de R$ 50 mil a R$ 6,7 milhões.
Por enquanto, apenas Rio Grande do Norte, Maranhão,
Santa Catarina e Ceará estão cadastrados.
“Em
breve, o Brasil todo fará parte do sistema. E
quem sabe até lá já teremos a lista
de números de celular”, sugere. Além
disso, desde 2003, ele integra a equipe da Pele Nova,
que atua no desenvolvimento da biomembrana, tecnologia
que acelera a cicatrização da pele através
do princípio ativo do látex. “O
próximo passo é a exportação.”
O veterano também ocupa a presidência do
conselho de diversas empresas, entre elas a Sundown
Motos, e participa como conselheiro de associações
e de representações públicas. Nas
horas vagas, se dedica à realização
de um projeto ambicioso na educação, o
Escola Inteligente. “Desde 1740 convivemos com
o tradicional modelo de educação no qual
os professores passam os ensinamentos pelo quadro-negro.
Está mais do que na hora de mudar”, diz.
Em parceria com o Instituto Galileu Galilei, Ozires
quer criar uma escola interativa com novas tecnologias
de aprendizado. “O mundo de hoje exige um cidadão
global e ele tem de ser formado nessa direção”,
explica.
Engenheiro
formado pelo ITA e oficial da Aeronáutica,
responsável pelo processo de privatização
da Embraer, Ozires leva para esses negócios
os ensinamentos acumulados ao longo da carreira.
Sua fonte de inspiração? O ditado
favorito de seu amigo, o comandante Rolim Amaro,
fundador da TAM, morto em 2001: “É
melhor almoçar o concorrente do que ser
jantado por ele”. Por isso, Ozires tem
pressa. Quando menino, não entendia por
que o Brasil não tinha seu próprio
avião. Agora, questiona o fato de o País
ainda não ter se lançado na construção
de um automóvel elétrico.
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Depois
de algumas tentativas frustradas – não conseguiu
investidores para apoiar a causa –, Ozires tenta
convencer a fabricante Sundown a criar uma moto elétrica.
“Mais cedo do que se imagina alguém vai industrializar
essa idéia”, constata. “Eu gostaria
muito que o Brasil assumisse a liderança.”
Revista
IstoÉ
08/03/2008
No governo não tem caos
aéreo
Documentos mostram que ministros
usam jatos da FAB para ir e voltar de suas casas e ainda
dão carona para parentes e assessores
Por
SÉRGIO PARDELLAS
VÔOS DA ALEGRIA Hélio
Costa, Dilma, Tarso, Orlando Silva, Marta e Patrus estão
entre os que voltam para casa nos jatos da Força
Aérea Brasileira
A
companhia aérea preferida por parte dos ministros
do governo Lula tem três letras, melhorou recentemente
a frota e seus pilotos são muito bem treinados.
Mas esses ministros não viajam nem de TAM nem
de Gol. Usam e abusam das viagens a bordo de aeronaves
do Grupo de Transporte Especial (GTE) da Força
Aérea Brasileira (FAB). É isso o que revelam
documentos confidenciais obtidos por ISTOÉ sobre
a movimentação de autoridades do primeiro
escalão nos anos de 2006 e 2007. Os relatórios
mostram que, no mesmo período em que a população
enfrentava o caos aéreo e testava a paciência
em intermináveis filas nos aeroportos brasileiros,
ministros de Estado se valeram da mordomia não
apenas a serviço ou em missões especiais,
mas para ir e voltar de casa durante os fins de semana.
Na linguagem empregada nos papéis da Aeronáutica,
são os chamados “deslocamentos para residência
permanente”, que deviam se constituir numa exceção,
não numa regra, como se constata no levantamento.
Os
planos de vôos dos seis tipos de avião
da FAB disponíveis para as autoridades –
Learjet, Learjet Vip, Brasília, Legacy, Embraer
145 e Xingu – também contemplaram viagens
em feriados e datas comemorativas, dias em que não
costuma haver expediente em Brasília. Isso ocorreu
durante as celebrações do Natal, Ano-
Novo e Carnaval. Há ainda registros de verdadeiros
vôos charters, com assessores, parentes, amigos
e parlamentares do mesmo Estado do ministro pegando
carona na sexta-feira para voltar para casa, retornando
a Brasília no início da semana.
Um
dos exemplos do uso indiscriminado dos aviões
da FAB pelo primeiro escalão do governo, cujos
trajetos, ao custo médio de R$ 25 mil, dependendo
do modelo do jato, são pagos com o dinheiro do
contribuinte, foi a ida dos ministros para a posse presidencial
em 1º de janeiro de 2007 em Brasília. O
escrutínio das urnas já apontava, em outubro
de 2006, a renovação por mais quatro anos
do mandato de Lula. Todos os ministros e candidatos
a integrantes da futura equipe de governo já
tinham conhecimento da data da posse pelo menos com
dois meses de antecedência. Mesmo assim, ministros
como Tarso Genro, então das Relações
Institucionais, Dilma Rousseff, da Casa Civil, Paulo
Bernardo, do Planejamento, Orlando Silva, do Esporte,
Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, e Hélio
Costa, das Comunicações, preferiram se
deslocar para Brasília desfrutando do conforto
e da comodidade dos jatos da FAB a reservar com antecedência
seus respectivos assentos nos aviões de carreira.
Os
ministros Thomaz Bastos e Orlando Silva foram de São
Paulo a Brasília no mesmo avião, um Learjet
VIP que também acomodou numa de suas aconchegantes
poltronas o presidente da União Nacional dos
Estudantes (UNE), Gustavo Petta. A aeronave saiu da
base aérea paulista às 9h25. A bordo de
outro jatinho, Tarso Genro embarcou de Porto Alegre
para Brasília às 8h50. Hélio Costa
saiu de Barbacena, sua terra natal. Enquanto Dilma e
Paulo Bernardo partiram de Salvador, onde passaram o
Réveillon, com destino à capital federal
a bordo do Legacy da FAB.
Em
todos os casos, o motivo alegado para o uso dos jatinhos
da FAB foi o de que os ministros estavam “a serviço”.
Gilberto
Gil, ministro da Cultura, deu a mesma justificativa
quando se valeu da mordomia dos jatos Learjet, Brasília
e Embraer 145 para voar sem preocupação
com filas e atrasos pelo circuito Rio de Janeiro e Salvador
entre os dias 15 e 19 de fevereiro do ano passado. Ou
seja, Gil recorreu aos serviços da FAB em pleno
Carnaval, festa da qual é notório protagonista
ao subir em seu trio elétrico – o chamado
Expresso 2222 – e inflamar a multidão pelas
ruas de Salvador. Ele fez o trecho Brasília–Salvador
em 15 de fevereiro e, três dias depois, seguiu
para o Rio, levando de carona o então ministro
do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, e o governador
da Bahia, Jaques Wagner, e suas respectivas mulheres,
Sheila dos Mares Guia e Fátima Mendonça.
Procurado por ISTOÉ, ele disse que faz uso desse
transporte apenas em viagens oficiais, em geral, em
três tipos de situação: 1) quando
viaja para locais de difícil acesso; 2) quando
é convocado para reuniões pela Presidência
ou Casa Civil; 3) quando sua agenda exige deslocamentos
mais ágeis e emergenciais que não se ajustem
aos vôos das companhias áreas.
Transportar
no mesmo avião autoridades, assessores, parentes
e até amigos é comum entre os usuários
das aeronaves da Força Aérea Brasileira.
É a união do útil ao agradável.
Em suas viagens para Porto Alegre, no fim de semana,
a bordo dos jatos da Aeronáutica, a ministra
Dilma já transportou o deputado gaúcho
e dileto amigo, hoje líder do governo na Câmara,
Henrique Fontana (PT-RS). Gil, por exemplo, levou para
o Rio, no dia 2 de janeiro de 2007, o compositor Jorge
Mautner, que também trabalha no programa Pontos
de Cultura do governo federal. No dia 8 de março
de 2007, o então ministro Walfrido fez uma viagem
pluripartidária a Minas Gerais, ao dar carona
para os conterrâneos, o deputado Virgílio
Guimarães (PT-MG) e o peemedebista Hélio
Costa. O ministro da Educação, Fernando
Haddad, por sua vez, preferiu transportar a família
– a esposa, Ana Estela, e a filha, Carolina –
num Learjet VIP para São Paulo, no dia 10 de
dezembro de 2006. O maior caronaço, no entanto,
ocorreu no dia 5 de abril de 2007. Um dos mais antigos
aviões da frota da Força Aérea
Brasileira, o “Brasília”, partiu
da capital da República com destino a Belo Horizonte
levando os ministros Walfrido, Nelson Jobim, da Defesa,
os governadores do Piauí, Wellington Dias, e
de Sergipe, Marcelo Deda, e esposas, e os três
filhos de Wellington. A julgar pelo plano de vôo,
os passageiros passaram o fim de semana na capital mineira.
O avião retornou para Brasília num domingo,
dia 8 de abril, com as mesmas autoridades e seus parentes.
O
ministro do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome, Patrus Ananias, não esteve nesse vôo
rumo à terra do pão de queijo, mas é
o recordista em viagens para casa ou “deslocamento
para residência permanente” em 2006 e 2007.
Durante os 13 meses analisados pelos relatórios
oficiais, Patrus utilizou os aviões da FAB em
42 fins de semana para ir e voltar para Belo Horizonte,
o que corresponde a uma média de mais de três
fins de semana por mês. Na maioria das vezes,
voou acompanhado da mulher, Vera Ananias, como no dia
12 de janeiro de 2007, quando partiu de Brasília
para Belo Horizonte às 15h20 a bordo de um Learjet
VIP. O ex-ministro do Turismo Walfrido dos Mares Guia,
por pouco não igualou a marca. Utilizou os aviões
da FAB para ir e voltar para Belo Horizonte em 40 fins
de semana dos 52 analisados. A ministra do Turismo,
Marta Suplicy, que, no apogeu da crise, cunhou a infeliz
frase do “relaxa e goza”, também
chegou perto do índice do colega de Ministério.
Registrou uma média de exatos três fins
de semana por mês. Em três meses, chegou
a ir e voltar para São Paulo nove vezes, sempre
na sexta- feira, com retorno no domingo ou na segunda.
Uma das idas de Marta para São Paulo ocorreu
no dia 4 de maio de 2007, uma sexta-feira, às
13h40. A assessoria da ministra diz que ela cumpre suas
agendas voando em aeronaves da FAB e em aviões
comerciais, dependendo do compromisso a ser cumprido
e da disponibilidade de aeronaves. E que Marta está
amparada pelo decreto que disciplinou a utilização
dos jatos em 2002. Já Tarso Genro foi mais econômico:
utilizou o avião da FAB em 17 fins de semana
para ir e voltar para Porto Alegre em um ano, o equivalente
a uma média de 1,3 vôo por mês.
A
ministra Dilma, nos 13 meses pesquisados, escolheu os
jatos oficiais, em detrimento dos aviões comerciais,
em 37 ocasiões. Na maioria das vezes, voou a
serviço. Mas, em quatro fins de semana, lançou
mão da mordomia para ir e voltar para Porto Alegre.
Segundo sua assessoria, um dos vôos de Dilma para
sua cidade natal a bordo da aeronave da FAB, o do dia
25 de maio de 2007, foi necessário por “incompatibilidade
de agenda”, uma vez que a ministra, nesse dia,
teve de despachar até as 20h no Palácio
do Planalto. Outra viagem – a do dia 28 de julho
de 2006 – teve como finalidade, segundo a assessoria
da Casa Civil, o cumprimento de uma agenda na Federação
das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul
(Fiergs).
No
total, as viagens de ministros com os jatos da FAB cresceram
entre 2006 e 2007. De janeiro a dezembro de 2006, as
aeronaves disponíveis para os ministros percorreram
1.351 trechos (idas e voltas). No mesmo período
de 2007, os jatos fizeram 1.618 viagens. O uso dos jatinhos
oficiais por ministros de Estado não é
uma prática irregular. Baixado em 22 de maio
de 2002, o Decreto nº 4.244 estabelece uma ordem
de prioridades para a utilização de aeronaves
da FAB. Segundo o documento, editado pelo ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, a primeira situação
a ser atendida se refere a “motivo de segurança
e emergência médica”. A segunda prioridade
são “as viagens a serviço”.
Por último, podem ser atendidos deslocamentos
para o local de residência permanente. Driblase
o espírito do decreto de uma maneira simples:
transforma-se em viagem de serviço o que é,
na verdade, um deslocamento para casa. É óbvio
que, se essa não fosse a última prioridade,
a frota da FAB não teria como atender a volta
para casa em todos os fins de semana de todos os 34
ministros. O que espanta é o abuso. Trata-se
de uma exceção que virou rotina. “Se
os ministros invertem a prioridade, é uma linha
a ser analisada pela Comissão de Ética
Pública”, afirma um dos membros do colegiado,
que preserva seu anonimato, pois pode julgar o caso
no futuro. Apesar disso, a assessoria do ministro Patrus
Ananias não vê nada demais. “O ministro
tem residência permanente em Belo Horizonte e
se desloca em aviões da FAB”, confirma
a assessoria.
Quando
viajam a serviço, os ministros têm duas
possibilidades: ou voam de avião de carreira
ou utilizam uma das seis aeronaves da FAB. Na primeira
opção, a passagem também é
custeada pelo governo, mas os ministros se obrigam a
conviver com os brasileiros que fazem check-in. A preferência
pela segunda opção, em boa parte dos casos,
pode ser facilmente explicada pelo fato de que, ao viajarem
em aviões da FAB, os ministros não se
submetem ao desconforto do caos aéreo. Não
têm que perder horas em terminais de aeroporto
ou a bordo de aviões aguardando a ordem para
levantar vôo. As aeronaves da FAB têm a
prerrogativa de pedir prioridade em pousos e decolagens.
Se a mordomia existe, por que não marcar um compromisso
na sexta-feira, de preferência longe de Brasília
e perto de casa? Quem, neste País, abre mão
de prerrogativas?
TODOS
A BORDO DOS AVIÕES DA FAB DE JANEIRO A DEZEMBRO
DE 2006, AS AERONAVES DISPONÍVEIS PARA OS MINISTROS
PERCORRERAM 1.351 TRECHOS (IDAS E VOLTAS)
PATRUS ANANIAS
É o recordista em viagens para casa. Dos 13 meses
analisados, ele utilizou o avião da FAB em 42
fins de semana para ir e voltar a BH. Média de
3,2 por mês
ORLANDO
SILVA
O ministro do Esporte voou nos jatos da FAB 29 vezes
em um ano. Nesse período, em seis fins de semana
usou o avião para ir ou voltar da sua casa em
São Paulo
MARTA
SUPLICY
A ministra do Turismo chegou a ir e voltar para São
Paulo em nove fins de semana num período de três
meses. Média de 3 fins de semana por mês
TARSO
GENRO
Nos 13 meses analisados, o ministro da Justiça
usou os jatos da FAB em 17 fins de semana em viagens
de ida e volta a Porto Alegre. A média foi de
1,3 vôo por mês
HÉLIO
COSTA
O ministro usou os jatinhos da FAB 14 vezes. Seis delas
para ir ou voltar a Belo Horizonte. Em 1º de janeiro
de 2007, usou o avião para ir à posse
de Lula
A FARRA DA ANAC MAIS DE
20 MIL PASSAGENS DE GRAÇA
Ao
longo de 2007, enquanto milhões de passageiros
do transporte aéreo enfrentaram filas e atrasos
nos aeroportos, não se via um único dirigente
da Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac) nos aeroportos. Onde estavam eles? Com freqüência
espantosa, viajavam de graça, com passagens cedidas
pelas empresas que deveriam fiscalizar. Entre 20 de
março de 2006 e 15 de agosto, no pior período
do apagão aéreo, o pessoal da Anac utilizou
19.071 “requisições de transporte
aéreo não remunerado”, segundo levantamento
da Comissão de Ética Pública da
Presidência da República. A antiga diretoria
da Anac fez a festa com passagens gratuitas para fins
particulares, de preferência nos fins de semana.
O
então diretor-presidente da Anac, Milton Zuanazzi,
realizou 64 viagens, 17 delas em fins de semana, sendo
15 para sua cidade de origem, Porto Alegre. Nenhuma
das 64 viagens foi para cumprir fiscalização
do setor aéreo. Zuanazzi apresentou 51 memorandos
de requisição de transporte à comissão
para justificar suas andanças, mas em 21 não
há código da missão. Ele feriu
portaria do Comando da Aeronáutica sobre missões
de fiscalização do setor aéreo.
A Comissão de Ética Pública aprovou
o parecer do relator por unanimidade e aplicou “censura
ética” a Zuanazzi, por violação
do Código de Conduta da Alta Administração
Pública. Procurado por ISTOÉ, Zuanazzi
não retornou dois telefonemas. O ex-diretor da
Anac Leur Lomanto percorreu 62 trechos de viagem no
período investigado, oito em fins de semana e
15 para Salvador, onde reside. Dos 26 memorandos de
requisição de viagens encaminhados, 11
não tinham informação sobre o código
da missão. Nenhuma das viagens foi utilizada
para missões de fiscalização. Também
foi aplicada censura ética a Lomanto, que não
quis falar sobre a punição da Comissão.
Outro
ex-diretor da Anac, Josef Barat, usou passagens gratuitas
em 37 trechos de viagens, alguns em fins de semana e
pelo menos 19 para São Paulo, cidade onde mora.
Ele apresentou 17 memorandos, mas em cinco não
consta o preenchimento do código da suposta missão.
Nenhum trecho de viagem foi utilizado para fiscalização
do setor aéreo. A comissão se debruça
agora sobre dezenas de viagens da ex-diretora Denise
Abreu. Segundo integrantes da Comissão, foram
encontradas também viagens suspeitas de não
estarem relacionadas com as funções da
Anac, como bilhetes para São Paulo, local de
sua residência.
HUGO MARQUES
Folha
de São Paulo
08/03/2008
Pantanal tem a licença
de vôo suspensa
Empresa não apresenta
documentos para comprovar situação fiscal
e trabalhista
Companhia deve enfrentar processo da Anac (Agência
Nacional de Aviação Civil) e sanções
do Ministério do Trabalho e da Receita
LUCAS FERRAZ DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A
Anac (Agência Nacional de Aviação
Civil) não vai renovar a concessão da
Pantanal Linhas Aéreas, que vence no próximo
dia 25. A medida cancela todas as autorizações
de vôos e a venda de passagens a partir dessa
data.
A empresa, que passa por uma crise financeira, não
apresentou à Anac os documentos que comprovassem
a legalidade da sua situação fiscal e
trabalhista.
O requisito é necessário para a companhia
aérea continuar operando normalmente.
A Pantanal tinha prazo até ontem para entregar
a documentação, mas a agência informou,
no começo da noite, que a companhia aérea
não está em regularidade fiscal.
A empresa vai atuar na aviação regular
apenas até o próximo dia 24, segundo a
Anac, medida que visa atender a necessidade de eventuais
passageiros.
Mas, como o próprio órgão determinou
que ela vendesse passagens apenas por um período
de 15 dias, os passageiros não devem ser prejudicados.
A Pantanal terá o Cheta (Certificado de Homologação
de Empresa Aérea) suspenso, mesmo que apresente
os documentos nas próximas semanas.
A situação da empresa apenas será
regularizada quando pedir um novo certificado.
Segundo estimativa da Anac, a expedição
do Cheta para uma empresa nova leva em média
seis meses.
Segundo a Anac, o descumprimento da Pantanal deverá
resultar em um processo administrativo, no qual ela
deve ser autuada. A empresa pode sofrer sanções
ainda do Ministério do Trabalho e da Receita
Federal.
Desde dezembro a Pantanal enfrenta problemas de ordem
fiscal e trabalhista. Naquele mês, a Anac solicitou
os documentos que até ontem estavam pendentes.
A Pantanal pediu um prazo maior para apresentá-los,
mas não o cumpriu, o que levou a Anac a proibi-la
de vender passagens por um período superior a
15 dias, medida em vigor desde o dia 12 de fevereiro.
A Folha ligou para a sede da companhia em São
Paulo três vezes. Uma recepcionista, de nome Paula,
disse que não havia ninguém para comentar
o assunto, pois todos os diretores estavam em viagem
para resolver "problemas".
A reportagem também ligou para o celular do diretor-geral
da companhia, Ramiro Tojal. Quem atendeu foi um funcionário
que se apresentou apenas por Francisco e disse trabalhar
no setor de correspondências.
A Pantanal, fundada em 1993 e que atua com seis aeronaves
de pequeno porte, tem participação minúscula
no mercado da aviação doméstica,
com apenas 0,14%, restrita principalmente a São
Paulo e cidades do interior paulista. A TAM é
a líder, com 48%, enquanto a Gol, na segunda
posição, abocanha 39% do mercado.
Procurado, o Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias)
evitou comentar o caso, sob a alegação
de se tratar de um "problema" interno.
Jornal
do Brasil
08/03/2008
Vôo 3054: TAM manda pertences
à polícia
A
TAM entregou ontem à Polícia Civil de
São Paulo 41 caixas com 1.828 envelopes plásticos
contendo pertences pessoais das vítimas do acidente
com o vôo 3054. Os objetos foram encontrados no
local do acidente pela Global BMS, empresa americana
contratada para realizar os trabalhos de busca, recuperação,
higienização e catalogação
dos objetos para viabilizar a sua entrega às
famílias das vítimas. A BMS trabalhou
nos escombros do World Trade Center depois dos ataques
terroristas.