Jornal Tribuna da Imprensa
07/05/2007
Lupi diz ter solução
para impasse na Varig
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, acredita que existe
um modo de se resolver o problema criado com as demissões
dos funcionários da Varig e a suspensão
dos pagamentos aos pensionistas do fundo de pensão
Aerus. "Eu já tenho a solução
na minha cabeça. Vou conversar com os colegas do
governo e só quando tiver a resposta eu revelarei
à imprensa. Se eu falar agora pode atrapalhar as
negociações", garantiu o ministro,
durante debate público promovido pelo vereador
Pedro Porfírio (PDT) na Câmara Municipal
do Rio de Janeiro, na última sexta-feira.
Durante o encontro com ex-funcionários e aposentados
da Varig, que lotou plenário e galerias da Câmara,
Lupi assumiu o compromisso de procurar uma resposta rápida
para os problemas, agindo como mediador junto aos órgãos
do governo federal: "Estou aqui para intermediar
as relações entre os ex-funcionários
da Varig e o governo", disse.
E acrescentou: "as reclamações de
vocês são legítimas e naturais, sobretudo
legítimas. Estou junto com vocês, mas vamos
agir com a necessária habilidade", ponderou
Lupi durante o debate, que também teve a presença
do deputado estadual Paulo Ramos (PDT) e dos secretários
municipal e estadual do Trabalho, Wanderley Mariz e Alcebíades
Sabino, bem como de representantes da Ordem dos Advogados
dos Brasil (OAB) e da Associação de Advogados
Trabalhistas.
A Varig completa hoje 80 anos desde que foi fundada no
Rio Grande do Sul por um piloto alemão. Se não
for tomada nenhuma medida de emergência, os aposentados
e pensionistas do Aerus ficarão sem receber já
a partir de junho.
O comandante Elnio Braga, presidente da Associação
dos Pilotos da Varig, em nome da corporação,
apresentou propostas para uma negociação,
na qual os recursos advindos do pagamento à Varig
da dívida do governo deveriam ser carimbados para
os funcionários demitidos e pensionistas do Aerus,
como está na própria legislação.
Ele criticou a atuação do juiz da Vara
Empresarial, que assumiu também o julgamento de
direitos trabalhistas. E declarou sua confiança
na Justiça do Trabalho, que tem tomado decisões
para preservar os direitos elementares dos trabalhadores.
Para o vereador Pedro Porfírio, os funcionários
da Varig ganharam um grande aliado no primeiro escalão
do governo. "Lupi é um discípulo fiel
de Brizola, que considerava a Varig um patrimônio
do povo brasileiro. Ao convocá-lo para o Ministério
do Trabalho, o presidente Lula tinha consciência
de que estava abrindo espaço para alguém
que sempre foi fiel às conquistas do trabalhismo.
E, ao vir a esta audiência, com sua experiência,
o nosso ministro do Trabalho deve ter trocado opiniões
com quem de direito no governo ao qual o PDT se incorporou."
Porfírio lembrou que "a decisão do
STJ (Superior Tribunal de Justiça) não deixa
dúvida e ainda abre uma grande estrada para o governo
reavaliar sua política em relação
à aviação comercial, agindo a tempo
para preservar a presença de nossa bandeira em
aeroportos estrangeiros e impedir que se forme um oligopólio
num setor que não pode ser carterlizado sob nenhuma
hipótese.
Com a concordância do ministro Carlos Lupi, o vereador
Pedro Porfírio propôs a criação
de uma grande frente em defesa dos funcionários
e aposentados da Varig, incluindo autoridades do Executivo,
parlamentares e representantes de entidades como a OAB.
Outro pronunciamento importante foi o do deputado Paulo
Ramos (PDT), que preside a CPI da Varig na Assembléia
Legislativa do Rio. Ele disse que os depoimentos colhidos
até agora mostram que a Varig foi objeto de uma
verdadeira conspiração para destruí-la.
Carlos Lupi sugeriu que funcionários e pensionistas
estejam unidos para apresentarem propostas concretas em
relação às suas situações,
contando com o apoio de parlamentares como Pedro Porfírio,
mas partindo do princípio de que há clima
no governo para buscar uma solução real
e definitiva.
"Assim eu poderei levar as principais questões
para Brasília. Quero apresentar ao presidente Lula
para cada problema uma alternativa viável. Com
a ajuda de vocês, é isso que farei",
pontuou Lupi.
No encontro, os secretários de Trabalho do Estado
do Rio e da prefeitura se colocaram à disposição
para ajudar na formulação de respostas que
atendam ao pessoal da Varig com a urgência devida.
Jornal Tribuna da Imprensa
07/05/2007
80 ANOS DE MUITA TRISTEZA E VEGONHA
Pedro Porfírio
“O tempo é justiceiro
e volta a pôr tudo no seu devido lugar”.
Voltaire, pensador francês (1694-1778)
Qualquer empresa, em qualquer parte do mundo, estaria
festejando em delírios orgásticos os seus
80 anos. Afinal, quantas podem chegar a esta idade, principalmente
no Brasil, país onde o fisco ávido e insaciável
se apodera do seu sucesso?
Qualquer país, em qualquer regime econômico,
teria motivos para jogar todas as suas fichas numa empresa
octogenária do ramo da aviação comercial,
com sua marca cravada em todos os continentes e uma história
que se confunde com a própria história do
transporte aéreo.
Qualquer governo, em qualquer país do mundo, estaria
atento ao desempenho e aos percalços de uma empresa
octogenária que leva a bandeira nacional e garante
a mais sólida ponte num universo cada vez mais
integrado, até mesmo pela rapidez que a tecnologia
da aviação proporciona.
Qualquer cidadão, de qualquer profissão
ou atividade econômica, estaria querendo saber o
porquê da omissão e de ações
predatórias de governos em relação
a companhias que são siglas emblemáticas
missionárias em ramos altamente sensíveis,
que em países europeus foram (e ainda são
em alguns deles) da responsabilidade do Estado.
Qualquer formador de opinião, seja na imprensa,
na cátedra ou na esquina, em qualquer tempo, assumiria
uma postura de vigilância e defesa intransigente
de uma companhia octogenária que há muito
deixou de ser um mero negócio para se converter
numa ferramenta cultural que levou informações
a mais de 120 aeroportos do país e a dezenas de
cidades importantes no exterior.
No entanto, onde qualquer coisa vira poucos são
os que se dão conta da importância histórica
do dia de hoje para a aviação comercial
brasileira.
Operação
suja e perversa
E, infelizmente, entre esses assassinos da melhor memória
nacional estão os que agiram como verdadeiros abutres,
valendo-se de todos os ardis e de todos os poderes públicos,
dedicando-se a uma operação suja, imoral,
que levou à transformação da mais
tradicional companhia aérea brasileira num deprimente
arremedo de si mesma.
Operação suja e perversa, que transformou
numa impiedosa arapuca, numa ficção deletéria,
num monstrengo torpe, o que seria o mais bem concebido
fundo de pensão complementar. Operação
com todos os requintes de sadismo, que começou
numa ilegalidade desafiadora - a autorização
de um órgão de aeronáutica para o
seqüestro de receita de um fundo previdenciário
– e passou por vários governos, cada um querendo
ser o mais terrível na ignomínia devastadora.
Operação que hoje sinaliza para uma infamante
tragédia: daqui a uns dias, uns dias apenas, 9
mil inocentes contribuintes do Aerus serão submetidos
a um verdadeiro genocídio social. São homens
e mulheres que voaram com garbo e destreza por todos os
céus e agora ingressarão no exército
dos desvalidos, por terem sido literalmente roubados em
suas poupanças.
Ingressarão, não, corrijo: há mais
de um ano só vêem algumas patacas do que
depositaram porque, nessas nuvens carregadas da impunidade,
as patrocinadoras foram faltando com suas partes ante
os olhares lânguidos e cúmplices de quem
calou certamente pelos mesmos motivos do juiz que dá
uma sentença descabida.
O Dia da Vergonha
Hoje, 7 de maio de 2007 é o dia da vergonha da
aviação brasileira. Antes do júbilo
pela travessia de tantas procelas, a sigla que povoou
o imaginário dos brasileiros por décadas,
parece mais uma desbotada estrela cadente, aprisionada
pelo que há de mais indecente e despudorado nesses
dias em que se conta a dedos as reservas morais, os homens
realmente com vocação para a vida pública.
Hoje a Viação Aérea Riograndense
– a nossa VARIG – faz 80 anos, desde aqueles
dias de sonho em que se constituiu com um hidroavião,
com capacidade para 9 passageiros e apenas uma linha:
Porto Alegre-Pelotas-Rio Grande.
Hoje, a pioneira, a estrela brasileira do céu
azul, é uma morta-viva, embora tenha a seiva necessária
para voltar a ser a grande líder da nossa aviação
comercial: uma corporação da mais alta competência,
que está disposta a qualquer sacrifício
para vê-la transportando seus milhões de
fiéis passageiros; muito dinheiro a receber do
governo federal e dos governos estaduais, uma marca emblemática
e os melhores slots conquistados por 8 décadas
de obstinada atuação e reconhecido desempenho.
Por isso, não se faz festa como o marco histórico
exige. Não festejam os milhares de funcionários
e ex-funcionários humilhados pela mão grande
que lhes amputou não apenas os empregos, mas, o
que é tragicamente mais grave, os elementares direitos
trabalhistas que ainda garantem verbas indenizatórias
e aposentadorias lastreadas em contribuições
complementares.
Não festejam os que contribuíram para uma
insolvência comprovadamente urdida, nem os que dela
se beneficiaram em golpes sucessivos e dignos de um novo
Tribunal de Nuremberg.
Estes podem se considerar acima das leis e da Constituição,
contando com a pusilanimidade e a conivência de
quem devia vigiar-lhes ou deflagrar sobre suas cabeças
lombrosianas o rigor de uma operação policial
que vá ao âmago da trapaça, como tenta
hoje, quase heroicamente, a CPI presidida pelo indomável
deputado Paulo Ramos, na Assembléia do Estado do
Rio de Janeiro.
Apesar de todo essa trama montada há anos, muitos
anos, tenho a certeza de que a verdade ressurgirá
quando menos se espera. Há hoje um ministro do
Trabalho da escola de Getúlio Vargas, aquele que
plantou todas as sementes da economia nacional.
Não sei, honestamente, até onde Carlos
Lupi pode ir. Mas tenho certeza de que ele fará
das tripas coração para restabelecer a lucidez
onde o lobismo pontificou na encomenda antipatriótica
destinada tão somente a franquear os céus
de uma Nação continental à ganância
alienígena.
Eu só peço do governo – e ainda é
tempo – que não seja diferente de outros
de países muito mais capitalistas, como o dos Estados
Unidos, que ofereceu do bom e do melhor para recuperar
suas grandes empresas – United, American e Delta
Airlines.
Eu só peço, nesses 80 anos em que a estrela
brasileira ainda está em nossos corações
e mentes, que alguém nesses poderes todos entenda
que o mal que se está fazendo contra os aposentados
da Varig e toda a sua corporação é
um mal que atinge a todos os fundos de pensão,
fadados, assim, a serem novas capemis e novos montepios
de militares.
POLíTICA - BRASILIA - Fonte: Folha de
S.Paulo
Mato Grosso do Sul, Segunda-Feira, 07 de Maio de 2007
- 08:08
Base aliada procura bloquear investigação
sobre a Infraero
A CPI do Apagão Aéreo deve começar
seus trabalhos na Câmara dos Deputados amanhã
aprovando requerimentos para investigar apenas o acidente
entre o Boeing da Gol e um jato Legacy.
A proposta da base aliada é convocar os controladores
de vôo para depor e pedir cópias de relatórios
produzidos pela Aeronáutica e pela Polícia
Federal. A oposição concorda, mas tem uma
visão mais ampla das causas do desastre, que incluiria
desvio de dinheiro na Infraero.
"O acidente aconteceu porque o sistema de controle
aéreo tem falhas. Uma das causas da má qualidade
do controle de vôo é a escolha do governo
de investir mais em obras de embelezamento de aeroportos
do que em segurança", disse o líder
do DEM (ex-PFL), deputado Onyx Lorenzoni (RS).
Se depender do presidente da CPI, deputado Marcelo Castro
(PMDB-PI), e do relator, deputado Marco Maia (PT-RS),
a oposição não conseguirá
explorar as denúncias de corrupção
na Infraero. "Se alguém quisesse investigar
a Infraero deveria ter pedido uma CPI da Infraero",
disse Castro.
Ciente das dificuldades,
o DEM e o PSDB querem deixar as investigações
sobre os negócios de Roberto Teixeira -compadre
do presidente Lula- com a Transbrasil e a Varig a cargo
da CPI do Senado. "A Constituição
exige que a CPI tenha um fato determinado. Se formos enveredar
por todos os caminhos não vamos chegar a lugar
nenhum", afirmou Castro.