Jornal do Brasil
06/11/2007
Jobim ameaça abrir o mercado
aéreo
Salvador e Brasília. O ministro da Defesa, Nelson
Jobim, acusou as empresas aéreas de não
conseguirem suprir a demanda e sugeriu que a solução
para a falta de conforto dos passageiros e os freqüentes
atrasos de vôos pode passar pela entrada de novas
companhias no mercado.
- As companhias grandes não estão dando
conta. Os aeroportos estão em condições
de operar, o controle aéreo também. O
que está ocorrendo é que as empresas esgarçaram
a malha aérea - disse, sem detalhar se essa abertura
de mercado contemplaria empresas internacionais.
Para o ministro, o estímulo à concorrência
deve resolver os problemas dos usuários que temem
que os atrasos registrados no feriado prolongado continuem
ocorrendo nos próximos feriados e no fim do ano.
Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Jobim
está respaldado pela lei. Fontes do setor afirmam
que a abertura só depende de vontade política.
O Código Brasileiro de Aeronáutica prevê
que a autoridade que regula o setor - no caso, o Ministério
da Defesa - tem o poder de intervir em empresas cuja
situação operacional ameace a "continuidade
dos serviços, a eficiência ou a segurança
do transporte aéreo".
Os artigos 193 e 194 indicam ainda que a autoridade
aeronáutica pode, com o objetivo de assegurar
o melhor rendimento econômico dos serviços,
"a qualquer tempo modificar freqüências,
rotas, horários e tarifas de serviços
e outras quaisquer condições da concessão
ou autorização".
O Código Brasileiro de Aeronáutica ainda
permite que o Ministério altere as normas da
exploração de serviços aéreos
não regulares para assegurar, em conjunto com
o transporte regular de passageiros, a qualidade do
serviço.
O ministro pediu que as empresas aéreas tenham
responsabilidade com a manutenção de suas
aeronaves.
- Nós vamos discutir um ordenamento, inclusive
com a responsabilização das empresas.
O ministro informou que vai promover uma reunião
ainda esta semana para discutir como será feita
a fiscalização da manutenção
dos aviões.
Para Jobim, não há problemas com a segurança
nas aeronaves das grandes empresas aéreas:
- A segurança está sendo cumprida, o
que falta é conforto e regularidade.
Ele, porém, mostrou preocupação
com a segurança da aviação que
reúne aviões de pequeno porte, jatos executivos,
helicópteros e aeronaves de agricultura. O ministro
esteve ontem em Salvador fazendo sua primeira visita
ao Comando Naval da cidade.
Embora não tenha citado ações
mais concretas a serem feitas, o ministro voltou a dizer
que com a saída de Milton Zuanazzi a Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac) atuará
de forma mais próxima ao Ministério da
Defesa, à Infraero e ao Departamento de Controle
do Espaço Aéreo.
O presidente da Associação Brasileira
de Direito Aeronáutico e Espacial (SBDA), Adyr
da Silva, considera insuficientes as medidas do governo
para pôr fim à crise aérea. Ele
reivindica investimentos de R$ 10 bilhões e a
elaboração de uma política nacional
para a aviação civil.
- Se não agirmos com cuidado e não levarmos
a sério a aviação brasileira, a
crise vai continuar e ainda vamos ter muitos dissabores
pela frente - alertou o especialista.
Jornal do Brasil
06/11/2007
Céu aberto a estrangeiras,
possibilidade polêmica
Marcelo Ambrosio
A declaração do ministro Jobim deixou
margem a pelo menos uma interpretação
nova. Recomendar o aumento da concorrência, com
a entrada de novas companhias aéreas no mercado,
também permite entender uma abertura do mercado
de vôos internos a empresas estrangeiras. O tema
é quente: em março do ano que vem entra
em vigor o chamado Open Skies Agreement, assinado entre
EUA e União Européia. Como o nome diz,
os céus do bloco europeu estarão abertos
para que bandeiras americanas façam vôos
diretos para qualquer destino europeu e vice-versa.
Os EUA vetaram os vôos domésticos, mas
a Europa autorizou, desde que não sejam cidades
no mesmo país. Analistas acreditam que o modelo
será a grande revolução na aviação
civil.
O mesmo termo está sendo trabalhado pela comunidade
de países asiáticos (Asean) junto à
UE. O bloco europeu também negocia o acesso dos
seus jatos ao mercado interno da Índia - cuja
demanda por freqüências é gigantesca.
Na América do Sul, já houve conversas
a respeito da abertura entre as companhias do Mercosul.
Mas o consenso é difícil; as empresas
do mundo árabe, um dos setores mais ricos do
mundo, não querem sequer discutir a possibilidade
de dividirem o bolo.
No Brasil, essa parece ser a posição
preponderante. A frase do ministro é avaliada
com ressalvas, mas um importante executivo do setor,
classificou uma eventual abertura como um completo "sacrilégio".
- Em nenhum país do mundo se permite que empresas
estrangeiras façam aviação de cabotagem,
esse é um mercado que sempre foi reservado para
as nacionais - avaliou o executivo, para quem o ingresso
das grandes decretaria o fim das aéreas nacionais
por questões de competitividade e volume de operação.
Dentro do governo, ninguém arrisca detalhar
mais a declaração de Nelson Jobim e há
a interpretação de que teria sido um aceno
à possibilidade de crescimento da aviação
regional. Mas esta, para poder chegar a se apresentar
como uma solução para os passageiros que
disputavam assentos a socos nas filas, ontem, no Galeão,
ainda precisa ganhar muita musculatura. E não
parece haver tempo disponível para isso antes
de novos colapsos. É razoável supor, assim,
que uma saída mais impactante possa ser adotada.
Jornal do Brasil
06/11/2007
Capítulo novo,
novela mais do que velha
Kayo Iglesias
O carioca está acostumado com dias chuvosos
como o de ontem, mas as empresas aéreas mostraram
que não. Depois do feriado prolongado de Finados,
quem tentou retomar a rotina no eixo Rio-São
Paulo ganhou da crise aérea uma segunda-feira
de dor de cabeça. O Aeroporto Santos Dumont,
principal ponto de operação da ponte aérea,
ficou fechado por mais de oito horas por causa do mau
tempo, afetando 93% dos vôos previstos da meia-noite
até as 19h.
Os passageiros até que foram encaminhados para
o Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Galeão.
Só que o movimento inesperado de aviões
na pista abarrotou o saguão de filas, em mais
um capítulo da novela do caos na aviação,
que, apesar do troca-troca de comandos, teima em assolar
o país.
Ontem, dos 72 vôos previstos para o Santos Dumont
da meia-noite às 19h, 55 foram cancelados e 12
atrasaram mais de uma hora. Com a transferência
dos pousos e dos passageiros que aguardavam embarque,
o Galeão registrou 36,9% de atrasos. Foram transferidas
29 aterrissagens para a pista do Tom Jobim, que, por
ter 4.240 metros de extensão, contra apenas 1.323
do Santos Dumont, pode ser utilizada com segurança
durante dias chuvosos.
O aeroporto fechou pela primeira vez às 6h35.
Segundo a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeronáutica
(Infraero), a pista chegou a reabrir por volta das 9h30.
Mas funcionou pouco mais de uma hora: às 10h35,
os pousos e decolagens voltaram a ser proibidos. Depois
de reabrir ao meio-dia e fechar novamente às
13h09, o Santos Dumont passou a tarde inteira sem operar.
Às 17h25, quando os passageiros já haviam
sido encaminhados pelas empresas em ônibus até
o Galeão, o movimento normal de aeronaves foi
autorizado no Santos Dumont.
A Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac) admitiu não ter nenhuma determinação
expressa às empresas em caso de transferência
de passageiros de um aeroporto para outro. Segundo a
assessoria de imprensa da agência, não
há planos de operação de emergência
- como disponibilização de aeronaves e
tripulação extras - a serem executados
em ocasiões de interdição de um
aeroporto com o porte do Santos Dumont.
A recomendação da Anac aos passageiros
limita-se a exigir o que o Código Brasileiro
de Aeronáutica determina: em caso de atraso de
mais de quatro horas, a empresa é obrigada, se
o usuário exigir, a devolver o valor da passagem.
Em caso de transferência da decolagem para outro
aeroporto, e lei determina que as companhias paguem
pelo transporte dos passageiros e ofereçam alimentação
e acomodações adequadas para a espera.
Mas o advogado José Geraldo Tardin, presidente
do Instituto Brasileiro de Estudos e Defesa do Consumo
(Ibedec), alerta: o atraso não precisa ser maior
do que quatro horas.
- A passagem é um contrato de prestação
de serviços. E o Código de Defesa do Consumidor
é claro: quebra de contrato dá direito
a indenização - diz.
As duas maiores operadoras da ponte aérea Rio-São
Paulo, a TAM e a Gol, informaram que os passageiros
transferidos para o Tom Jobim foram encaixados em vôos
já previstos para decolar do Galeão, e
também puderam seguir viagem nas aeronaves que
inicialmente aterrissariam no Santos Dumont, mas tiveram
que pousar no Tom Jobim por causa da chuva.
Jornal do Brasil
06/11/2007
TAM: risco de colisão no
ar
Brasília. Um Airbus da TAM com 111 passageiros
fez ontem pela manhã uma manobra brusca entre
Palmas e Brasília, pois, segundo a empresa aérea,
o TCAS (sistema anticolisão acionado pelo transponder)
identificou que havia outra aeronave em rota de colisão.
O incidente foi informado à Aeronáutica,
que desmente o risco de choque no ar.
O prefeito de Porto Nacional (TO), Paulo Mourão
(PT), que estava no vôo, diz que o piloto deu
uma "puxada brusca para cima" e, em seguida,
alegou aos passageiros que a manobra foi para evitar
o choque com um avião em sentido contrário.
Segundo o brigadeiro Ramon Borges Cardoso, diretor-geral
do Departamento de Controle de Espaço Aéreo
(Decea), da Aeronáutica, foram feitas duas "revisualizações"
da gravação das telas de radar da área
de vôo do Airbus.
- Não havia nenhum avião por perto e
nenhum avião com plano de vôo para aquela
área naquele horário - afirmou o brigadeiro,
que trabalha com a possibilidade de o TCAS ter apresentado
um falso alarme de risco.
As informações estão sendo enviadas
à TAM para uma checagem completa do TCAS e do
transponder.
A assessoria de imprensa da Aeronáutica informou
que o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle
do Tráfego Aéreo (Cindacta) 1, em Brasília,
analisou as imagens captadas por radar do Airbus da
TAM e "não encontrou nenhuma aeronave que
oferecesse risco ao avião, no raio de 20 milhas
(32 quilômetros)".
Segundo a assessoria, as imagens mostrariam se alguma
aeronave estivesse, por exemplo, muito próxima
do Airbus ou se seguisse um trajeto não previsto
no plano de vôo.
O TCAS emite alerta sonoro e visual quando detecta
a presença de um avião que oferece risco.
Com defeito, poderia ter acionado o alarme indevidamente,
levando o piloto a executar a manobra.
O Estado de São Paulo
06/11/2007
Piloto da TAM diz que teve de
evitar colisão
Comandante disse a passageiros
que foi obrigado a desviar de outro avião
Jocyelma Santana, Rodrigo Brancatelli
e Luciana Nunes Leal
Os passageiros do vôo 3813 da TAM que ia de Palmas
para São Paulo, com escalas em Brasília
e Goiânia, foram surpreendidos por uma manobra
“brusca”. O avião e já sobrevoava
o Distrito Federal quando ocorreu o incidente. Segundo
o médico Frederico Henrique de Melo, de repente,
o Airbus subiu bruscamente, dando um susto nos passageiros.
Melo conta que depois o comandante se desculpou, justificando
que tomou a medida para evitar uma colisão com
outra aeronave, o que poderia causar “um acidente
com proporções graves”.
Quando o avião pousou em Brasília, o
piloto informou o ocorrido aos controladores. Segundo
a TAM, o piloto seguiu as informações
fornecidas pelo sistema anticolisão (TCAS) do
avião e que não expôs os passageiros
a perigo. A Assessoria de Imprensa da Aeronáutica
informou que o Cindacta-1 (Brasília) analisou
as imagens de radar e “não encontrou nenhuma
aeronave que oferecesse risco ao avião, no raio
de 20 milhas (32 quilômetros)”.
Segundo um oficial ouvido pelo Estado, uma hipótese
é que o piloto tenha recebido um “falso
alarme” por uma falha do TCAS.
O Estado de São Paulo
06/11/2007
DEM acusa Jobim de usar avião
da FAB para lazer
Denúncia é de
que ele usou vistorias como pretexto para passar feriado
na casa de ex-presidente do BC na Bahia
Tiago Décimo
O DEM pediu ontem, em seu site na internet, que o Ministério
Público investigue o ministro da Defesa, Nelson
Jobim. Segundo o partido, ele usou um avião da
Força Aérea Brasileira (FAB) para ir a
Porto Seguro, na Bahia, passar o fim de semana prolongado
na casa de praia de Francisco Gros, ex-presidente do
Banco Central no governo Fernando Henrique.
Segundo a nota, para usar o avião oficial na
viagem até o local combinado, Jobim marcou inspeções
nos Aeroportos de Porto Seguro e Ilhéus, na manhã
de quinta-feira. Ou seja, na véspera do feriado,
quando servidores da Infraero decretavam greve branca
e causavam congestionamento e confusão no Aeroporto
de Guarulhos, Jobim fazia vistoria no pequeno Aeroporto
de Porto Seguro. A assessoria de Jobim informou que
o ministro não se manifestaria sobre a nota do
DEM.
Jobim e o DEM já se estranharam antes. Há
cerca de duas semanas, o ministro da Defesa travou um
ríspido diálogo com o presidente do partido,
o deputado Rodrigo Maia (RJ). Na ocasião, numa
festa no apartamento do senador Demóstenes Torres
(DEM-GO), Jobim foi interpelado por Maia sobre uma nota
da imprensa. Encerrado o constrangimento, o ministro,
ladeado pelo colega das Relações Institucionais,
Walfrido do Mares Guia, referiu-se a Maia como “guri
de m...”.
TRAGÉDIA
Em Salvador (BA), onde visitou ontem o Comando do 2º
Distrito Naval e a Base Naval de Aratu, o ministro da
Defesa disse que vai aguardar o resultado das investigações
sobre a queda do Learjet da Reali Táxi Aéreo,
mas voltou a afirmar que vai cobrar da Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac) mais
rigor na fiscalização da manutenção
das aeronaves que circulam pelo País. “Essa
fiscalização tem de ser aprofundada na
aviação comercial como um todo, mas especialmente
sobre as aeronaves pequenas”, afirmou.
Ainda no domingo, Jobim havia determinado ao diretor
da Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac) Allemander Pereira Filho - que assumiu o cargo
há uma semana - que fizesse avaliação
do sistema de fiscalização, para ver se
as regras são cumpridas e se seria necessário
mais rigidez, por considerar que há “muitos
problemas nesse segmento”.
O ministro também falou que é preciso
haver “reestruturação da malha aérea
brasileira”, com mais companhias operando, para
que a crescente demanda dos passageiros seja totalmente
atendida. “As duas grandes do setor (a TAM e a
Gol) já estenderam ao máximo a capacidade
de atendimento”, disse.
O Estado de São Paulo
06/11/2007
Militares suspeitam de pane numa
das turbinas do jato que caiu em SP
Outra hipótese analisada
por peritos é a de água ter se misturado
ao combustível, deixando motor do Learjet inoperante
Bruno Tavares
Peritos da Aeronáutica encarregados de investigar
a queda do Learjet que deixou oito mortos no domingo
já têm fortes indícios de que uma
pane numa das turbinas do jato esteja entre as causas
do maior acidente da história do Campo de Marte,
zona norte. A análise visual dos motores indica
que um deles estava quase sem potência na hora
do choque com imóveis da Rua Bernardino de Sena,
Casa Verde. Mesmo que a pane se confirme, fontes militares
ouvidas pelo Estado advertiram que é certo que
outros fatores contribuíram para a tragédia.
O que mais chamou a atenção dos investigadores
foi a diferença no estado das turbinas. Uma ficou
quase preservada, com parte da carenagem acoplada, e
a outra, bastante danificada. Além disso, o spinner
- cone de metal - de um motor estava amassado, ao contrário
do observado no outro propulsor.
“Quando a turbina está girando e há
uma colisão em vôo, o spinner age como
uma broca de furadeira”, explica um oficial da
Força Aérea Brasileira que pilota jatos
da família Learjet. “Se um amassou, é
sinal de que estava em baixa rotação.”
O depoimento de testemunhas - que dizem não
ter ouvido mais o barulho dos motores após a
decolagem - e o fato de as turbinas terem sido achadas
em pontos distantes do terreno reforçam as suspeitas
dos investigadores. A turbina com o spinner amassado
foi localizada pelos bombeiros no domingo. A outra estava
debaixo de uma grande quantidade de escombros e só
foi resgatada ontem pela manhã. Os destroços
estão sendo levados para o Parque de Materiais
da Aeronáutica, em um galpão vizinho ao
Campo de Marte.
O que ainda intriga os peritos é o fato de os
pilotos terem perdido o controle do Learjet. Ao decolarem
do Campo de Marte, jatos devem sempre virar à
esquerda para não interferir nas rotas com destino
ao Aeroporto de Cumbica. Inexplicavelmente, o Learjet
foi para o lado oposto. Ainda que uma das turbinas tenha
parado, dizem pilotos e especialistas em aviação
civil, comandantes são treinados para evitar
a queda. “O Learjet é extremamente ágil
e veloz. Mesmo sem um dos motores, é possível
continuar voando”, disse o militar.
Uma das linhas de investigação do Serviço
Regional de Investigação e Prevenção
de Acidentes (Seripa) será justamente o treinamento
da tripulação. Por lei, pilotos de jatos
executivos devem treinar situações de
emergência em simuladores uma vez por ano. Como
não há simuladores de Learjet disponíveis
no País, eles têm de ir para os Estados
Unidos. “Isso encarece demais o treinamento e
pode levar tanto o piloto quanto a empresa a burlar
as normas”, alertou o oficial.
Sócio da Reali Táxi Aéreo, operadora
do avião, Ricardo Breim Gobbetti afirmou que
o piloto do Learjet, Paulo Roberto Montezuma Firmino,
tinha todos os certificados exigidos pela Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac). “Ele
veio de outra empresa de táxi aéreo, era
um piloto muito experiente.”
Outra hipótese que será apurada pelos
peritos é o eventual acúmulo de água
nos tanques de combustível do jato. Embora o
querosene de aviação seja puro, é
comum que o vapor de água se deposite no fundo
dos tanques. Para evitar isso, mecânicos costumam
drenar tanques antes da primeira decolagem do dia. “Embora
o Learjet tivesse feito outros vôos naquele dia,
ainda é cedo para descartar essa possibilidade”,
avalia o diretor-executivo da Associação
Brasileira de Aviação Geral (Abag), Adalberto
Febeliano da Costa. Ele explica que, se a água
nos tanques entrar nos motores, as turbinas param de
funcionar. O Seripa deve começar hoje a degravação
da caixa-preta de voz do Learjet.
Folha de São Paulo
06/11/2007
BRA demite 53, afirmam funcionários
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A BRA Transportes Aéreos demitiu 53 funcionários
ontem, informam empregados cortados pela companhia.
Segundo um funcionário que não quis se
identificar, a empresa tinha aproximadamente 170 comissários.
Um dos demitidos diz que os representantes da BRA alegaram
que o corte é resultado da crise financeira na
empresa e que não se sabe nem se a companhia
aérea terá dinheiro para pagar as rescisões.
Graziella Baggio, presidente do Sindicato Nacional dos
Aeronautas, diz que a notícia era esperada. "É
lamentável e reflexo de um problema no governo,
que autoriza a operação de empresas sem
administração sólida."
A BRA disse que vai se pronunciar hoje sobre o assunto.
Folha de São Paulo
06/11/2007
Especialistas acreditam em falha
mecânica
Hipótese é apontada
devido à experiência dos pilotos do jato
que caiu no domingo
Juniti Saito, comandante da Aeronáutica, citou
ainda o procedimento correto do controlador e o fato
de o aeroporto não ter sobrecarga
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Falha mecânica. Essa é, até agora,
a hipótese mais aceita para a queda do Learjet
31 anteontem. Embora ressaltem que ainda é cedo
para conclusões, pilotos e especialistas cogitam
essa explicação com base em alguns fatores,
como a experiência do comandante e o modo como
o avião girou.
Ontem, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro
Juniti Saito, avaliou que pode ter ocorrido um "problema
no avião". Segundo ele, o piloto do jato
tinha muita experiência, o controlador da torre
agiu corretamente e o aeroporto do Campo de Marte não
está com problemas de sobrecarga.
Saito não explicou que problema poderia ter ocorrido,
mas uma hipótese é pane em um dos motores.
Ainda assim, aviadores da FAB que pilotam Learjets consideram
a aeronave muito segura nesse tipo de pane, capaz de
operar com um só motor com segurança.
A FAB é responsável pela apuração
dos fatores que contribuíram para a queda, inclusive
por meio de análise das caixas-pretas, das fichas
dos pilotos e da empresa aérea e das condições
meteorológicas.
Potente, o Learjet é uma das opções
mais procuradas na aviação executiva,
afirma Apostole Lack Chryssafidis, presidente da Abetar
(Associação Brasileira das Empresas de
Transporte Aéreo Regional).
Para ele, é provável que os dois motores
tenham falhado. "Ele pode ter perdido o motor esquerdo
e, por isso, feito a curva sobre o motor bom [direito],
o que é um procedimento comum. Mas, depois, ter
perdido também o direito."
James Waterhouse, professor do departamento de Engenharia
Aeronáutica da USP (Universidade de São
Paulo) de São Carlos, afirma que o Learjet é
um dos aviões com melhor performance quando um
dos motores falha.
Mas a potência do Learjet também pode significar
um risco, segundo Roberto Paterka, consultor de segurança
de vôo. "Em outros tipos de avião,
quando perde-se um motor, acelera-se o outro ao máximo.
No Learjet, deve-se reduzir a velocidade -se acelerar,
o motor é tão forte que gira o avião."
Isso, diz, poderia explicar o porquê de o avião
ter virado para a direita quando deveria ter ido para
a esquerda. "Aparentemente, o avião girou,
por isso abaixou uma asa, perdeu a sustentação
e caiu de bico."
Com 28 anos de experiência na aviação
civil, o coordenador do curso de ciências aeronáuticas
da UCG (Universidade Católica de Goiás),
Raul Francé Monteiro, também afirma acreditar
na possibilidade de falha mecânica. "Não
é possível simplesmente que o piloto tenha
dado uma bobeada e deixado de saber controlar o avião."
Segundo Saito, o Campo de Marte tem muitas restrições,
mas isso não se traduz em riscos. Ele disse que
o controle de tráfego aéreo funcionou
normalmente e rejeitou a hipótese de sobrecarga
devido às restrições impostas a
Congonhas.
Procuradas, a Anac (Agência Nacional de Aviação
Civil) e a Infraero não se manifestaram.
Folha de São Paulo
06/11/2007
País tem recorde de acidentes;
FAB espera mais dez
LEILA SUWWAN
ENVIADA ESPECIAL A SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
Com quatro quedas de aeronaves e 11 mortos no feriado
de Finados, o país soma 75 acidentes no ano e
bate recorde dos últimos dez anos. A expectativa
oficial da Aeronáutica é de mais dez acidentes
até o fim de 2007.
Este ano também registra o maior no número
de mortos em desastres aéreos desde 1990: 266.
Com os acidentes dos vôos 1907 (Gol) e 3054 (TAM),
são 481 mortos nos últimos dois anos,
mais que o acumulado de 1999 a 2005. No feriado, além
do avião da Learjet, três helicópteros
caíram em um período de duas horas no
Estado de São Paulo.
"É muito acidente no mesmo momento",
disse ontem o comandante da Aeronáutica, brigadeiro
Juniti Saito, após voltar da inauguração
de centro de treinamento de controladores em São
José dos Campos (SP). "É muito triste,
e estou abalado e sentido com esse acidente [queda do
Learjet] e também com os três helicópteros."
Segundo as estatísticas do Cenipa (Centro de
Investigação e Prevenção
de Acidentes Aeronáuticos), dos 75 acidentes
deste ano, 59 foram de aviões e 16 de helicópteros.
A expectativa de mais dez acidentes aeronáuticos
é calculada a partir dos dados históricos
de novembro e dezembro.
Para evitar alarmismo, a Aeronáutica divulga
o percentual da frota nacional que se envolveu em acidente.
Antes dos acidentes recentes, o índice estava
em 0,63% para 2007. Em 2006, foi de 0,60%, e em 2005,
0,53%. Os dados também mostram que os táxis
aéreos representam, até agora, 32% do
total de acidentes da aviação civil.
No caso de panes de turbina -uma das hipóteses
para a queda do Learjet- os principais fatores são
problemas de supervisão (65%), julgamento (44%)
e manutenção (36%).
No caso de perda de controle, os fatores predominantes
são falhas de julgamento (49%), na aplicação
de comandos (48%) e aspectos psicológicos (48%).
Acidentes de helicóptero representam 21% do total
do ano até o momento. De 1997 a 2006, dois terços
dos casos ocorreram por perda de controle, falha de
motor ou colisão.
Folha de São Paulo
06/11/2007
AVIÃO MANOBRA PARA DESVIAR
DE AERONAVE NO AR
Um Airbus da TAM com 111 passageiros fez ontem de manhã
uma manobra brusca entre Palmas e Brasília, pois,
segundo a empresa, o TCAS (sistema anti-colisão
acionado pelo transponder) identificou outra aeronave
em rota de colisão. O incidente foi comunicado
à Aeronáutica, que desmente o risco de
choque no ar. O prefeito de Porto Nacional (TO), Paulo
Mourão, que estava no vôo, disse que o
piloto deu uma "puxada brusca para cima".
O Decea (Departamento de Controle de Espaço Aéreo)
trabalha com a possibilidade de falso alarme de risco.
Folha de São Paulo
06/11/2007
ANAC TEM SÓ UM
FISCAL PARA CADA 29 AERONAVES
A Anac (Agência Nacional de Aviação
Civil) tem 390 profissionais para fiscalizar a regularidade
da manutenção dos 11.320 aviões
e helicópteros em operação no país.
Cada fiscal é responsável por acompanhar,
em média, 29 aeronaves. Em geral, a manutenção
das aeronaves obedece a um cronograma fixado pelo fabricante
e a periodicidade varia de acordo com o modelo.
Em média, acontece no máximo a cada 300
horas de vôo. A Anac diz fiscalizar uma vez ao
ano o cumprimento do cronograma. Há ainda uma
inspeção feita pelo órgão
na aeronave a cada seis anos.
Folha de São Paulo
06/11/2007
Por segurança,
FAB veta avião de ministro no aeroporto
A Aeronáutica alega
ter regras mais rigorosas para as aeronaves de autoridades
Um dos motivos da proibição é que
os jatos do governo não têm reversor, equipamento
que auxilia a frenagem em pistas curtas
ELIANE CANTANHÊDE COLUNISTA DA
FOLHA
Apesar de liberado para jatos Learjet 35 particulares,
como o que caiu no domingo, matando oito pessoas, o
aeroporto do Campo de Marte, em São Paulo, é
proibido para aeronaves iguais às que a Aeronáutica
usa para transporte de ministros e de outras autoridades
federais.
"O Campo de Marte é vedado para aviões
que transportem autoridades", disse ontem o brigadeiro
Ramon Borges Cardoso, diretor do Decea (Departamento
de Controle de Espaço Aéreo) da Aeronáutica.
Segundo ele, a explicação é que
"há um rigor maior [na segurança
de vôo] para as autoridades", e os limites
e parâmetros para permitir vôos e decolagens
são mais restritivos.
A diferença entre o Learjet que caiu e os oito
do Grupo de Transporte Especial (GTE) da FAB (Força
Aérea Brasileira), em que voam os ministros,
é que o acidentado tinha reversor, e os militares,
não.
O reversor é o equipamento que ajuda a frenagem
do avião e é especialmente importante
em pistas curtas. Ele encarece e aumenta o peso do avião.
O documento que proíbe os Learjet do GTE de operar
no Campo de Marte é o PIMO (Plano de Instrução
e Manutenção Operacional) de 2007, ao
limitar seus pousos e decolagens a pistas com no mínimo
1.500 metros de comprimento.
A do Campo de Marte tem oficialmente 1.600 metros, mas
300 metros não são considerados, conforme
o Rotaer, manual que contém informações
sobre as condições dos aeroportos para
os pilotos.
O motivo principal são os obstáculos na
área do aeroporto, especialmente um morro que
dificulta a aproximação dos aviões
e impossibilita pousos no início da cabeceira.
O campo visual na descida é pequeno, e o toque
das rodas em solo ocorre além dos 300 metros.
Esse aeroporto, bastante usado por helicópteros,
não opera por instrumentos, só visualmente,
por causa dos obstáculos, especialmente do morro,
e também pelo risco de prejudicar a operação
de Guarulhos, que tem intenso trânsito de aeronaves
de grande porte, como Boeing e Airbus, inclusive de
vôos internacionais.
"Ele [o Campo de Marte] tem sérias limitações",
disse o diretor do Decea.
Critérios
O brigadeiro Ramon deu dois outros exemplos de segurança
extra para autoridades. Um deles: o avião usado
pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o
"Aerolula", não voa com um dos dois
reversores travados, ao contrário do Airbus de
empresas privadas.
O segundo exemplo: os Learjet 35 do GTE, além
de não operarem no Campo de Marte, também
não pousam nem decolam de outro aeroporto bastante
movimentado: o Santos Dumont, no Rio de Janeiro.
O conjunto de dados considerados num vôo varia
de operador para operador (o GTE é um deles)
e inclui, entre outros, altitude da área, condições
meteorológicas, temperatura local e os obstáculos
ao redor.
É com base nesse conjunto que o piloto determina
o peso do avião. Exemplo: um avião que
sai do Galeão (RJ) pode decolar bastante pesado,
pois está ao nível do mar e sobrevoa a
água, sem obstáculos.
Valor Econômico
06/11/2007
Procedimentos de fiscalização
da Anac não atendem a padrões internacionais
Daniel Rittner
Sem inspetores em quantidade suficiente, as atividades
de fiscalização da Agência Nacional
de Aviação Civil (Anac) estão aquém
dos procedimentos de segurança recomendados por
padrões internacionais. Em 2006, segundo balanço
da agência, o número de horas dedicadas
à fiscalização cumpriu com somente
42% das atividades sugeridas pela Organização
de Aviação Civil Internacional (Oaci),
entidade ligada à ONU que se dedica ao setor.
Com a necessidade de definir prioridades, a Anac resolveu
voltar atenções às empresas aéreas
regulares, para não comprometer a segurança
da maioria dos passageiros. Técnicos da agência
reconhecem que essa prioridade tem causado prejuízo
ao monitoramento de operações da aviação
executiva.
Levando em consideração fatores como
o tamanho da frota e o quadro de tripulantes das empresas
aéreas brasileiras, fiscais da Anac deveriam
ter gastado 125.092 horas para uma "efetiva supervisão"
do setor, de acordo com balanço feito pela Superintendência
de Segurança Operacional da agência reguladora.
Cumprir essa meta no ano passado teria exigido o trabalho
de 87 inspetores, já que cada profissional tem
carga de trabalho máxima de 6,5 horas por dia,
20 dias úteis por mês e 11 meses por ano.
O quadro de inspetores, no entanto, era de 36 inspetores
- suficiente para apenas 51.894 horas de fiscalização.
Atualmente, esse número caiu para 33 inspetores.
A supervisão de companhias aéreas, empresas
de manutenção aeronáutica, acompanhamento
de vôos e perícias de tripulantes está
entre as obrigações da Anac, depois traduzidas
em número de horas.
O padrão recomendável da Oaci para verificar
o cumprimento de normas técnicas por pilotos
e co-pilotos é de inspeção, a cada
seis meses, de 20% do total de tripulantes no exercício
da profissão. Só isso teria consumido
quase 32 mil horas dos técnicos da Anac em 2006,
ou seja, mais da metade das horas efetivamente trabalhadas.
Para fins práticos, isso significa que o exame
de pilotos e co-pilotos não tem sido feito da
forma como sugere a Oaci.
De um total de 700 aeródromos públicos
no país - os aeroportos da Infraero e aqueles
sob administração estadual -, a escassez
de profissionais especializados da Anac tem permitido
a fiscalização de pouco mais de 100. Também
afeta em cheio as ações sobre oficinas
de manutenção usadas largamente pela aviação
executiva. Para funcionar, elas são certificadas
pela Anac e depois inspecionadas de tempos em tempos.
Sem fiscais para fazer esse serviço, essas inspeções
são mais dilatadas.
Em menor escala, o déficit de pessoal prejudica
ainda a inspeção das companhias regulares.
Houve corte, por exemplo, no volume de "blitze"
dos fiscais em vôos comerciais. Nessas ações,
que costumam reunir cinco especialistas em áreas
diversas, os fiscais fazem uma espécie de "batida"
inesperada nos aviões das companhias aéreas
que estão prestes a embarcar passageiros, checando
se os procedimentos de segurança foram cumpridos
e se a habilitação dos pilotos está
em conformidade com as regras.
O ex-presidente da Anac Milton Zuanazzi disse na semana
passada que um dos principais problemas da agência
é a falta de pessoal para esse tipo de atividade.
O déficit na fiscalização não
significa o descumprimento de normas mínimas
e obrigatórias de segurança operacional
definidas pela Oaci. Não há, portanto,
motivo para pânico. O problema é que, ao
contrário da maioria dos países ricos,
o Brasil não cumpre com a cartilha de "Padrões
e Práticas Recomendáveis" da organização
internacional.
O brigadeiro Renato Cláudio Costa Pereira,
ex-secretário-geral da Oaci, teme o ressurgimento
de um conflito de interesses entre órgão
fiscalizador e empresas aéreas. "Como não
há inspetores em nível suficiente, começa
a haver uma promiscuidade entre agência e companhias",
alerta Pereira. Explica o brigadeiro: na falta de fiscais
da Anac, o serviço pode ficar com inspetores
das próprias empresas, autorizados pela agência
a avaliar a qualidade da manutenção de
aeronaves das mesmas empresas para as quais trabalham.
Segundo ele, a situação era comum no Brasil
quando esteve no comando da Oaci, entre 1997 e 2003,
e pode estar se repetindo agora. "Não se
pode dizer que os técnicos das empresas sejam
desonestos em nada, mas esse tipo de situação
não é aceitável."
A presença "in loco" e constante
dos fiscais muitas vezes pode tornar-se imprescindível,
considera Pereira. Foi o caso das ações
fiscalizatórias na Vasp, em 2004, às vésperas
do fim das operações da empresa. Naquele
episódio, conta Pereira, os aviões só
voavam com inspeção dos agentes do extinto
Departamento de Aviação Civil (DAC) -
não bastava o aval dos técnicos da Vasp.
Pereira acredita que, ao cumprir com apenas 42% da
carga laboral recomendada pela Oaci, o Brasil enfrentará
sérios problemas na próxima auditoria
internacional, prevista para fevereiro de 2009. "Se
o déficit é dessa ordem, não podemos
acreditar na eficácia do sistema aeronáutico
brasileiro."