::::: RIO DE JANEIRO - 05 DE NOVEMBRO DE 2007 :::::

 

O Estado de São Paulo
05/11/2007
Jato cai sobre casas após decolar do Campo de Marte: 8 mortos e 2 feridos
Entre os mortos estão piloto e co-piloto e seis parentes que moravam em imóvel atingido em cheio por avião

Em menos de três meses, os dois aeroportos de São Paulo tiveram os piores acidentes de sua história. Ontem foi a vez do Campo de Marte. Às 14h05, um jato executivo Learjet 35 que tinha acabado de decolar caiu sobre uma casa na Rua Bernardino de Sena, na Casa Verde, zona norte, deixando 8 mortos - incluindo os 2 tripulantes - e 2 feridos. Outras três casas foram interditadas e moradores viveram momentos de pânico em meio a fogo e fumaça, que lembraram o 17 de julho, em Congonhas, na zona sul, quando a queda de um Airbus A320 da TAM matou 199 pessoas.

A aeronave de prefixo PT-OVC, da empresa Reali Táxi Aéreo, tinha saído do Campo de Marte com destino ao Rio. Caiu a 800 metros da cabeceira da pista, atingindo em cheio a casa de número 118 da Bernardino de Sena, terreno que tinha um imóvel nos fundos. O piloto Paulo Roberto Montezuma Firmino, de 39 anos, e o co-piloto Alberto Soares Júnior, de 24, morreram na queda.

O médico Edimilson Mariano, de 35, que estava na sacada de seu apartamento, viu toda a cena. Disse que o procedimento de decolagem não foi o usual. “Normalmente, os aviões viram para a esquerda no sentido Marginal do Tietê, mas esse foi para a direita, embicou e de repente começou a cair.”

Lúcia Helena Rossetti, de 36 anos, uma assistente social que andava pela rua no momento da queda, também estranhou o comportamento do jato. “Ele veio balançando. Parecia que o piloto queria equilibrá-lo, mas, de repente, caiu com o bico para baixo em cima da casa.”

Mariano saiu correndo para ajudar as vítimas e foi um dos primeiros a chegar ao local - onde encontrou o caos. A residência da frente do terreno do 118, totalmente destruída, pertencia a Lina Oliveira Fernandes, de 75 anos. Lá viviam quatro gerações da família. Dois filhos da matriarca, Rosa e João. O marido de Rosa, Aires Fernandes, e dois filhos do casal, Ana Maria e Cláudia. O marido de Ana Maria, Lucas So, e o filho do casal, Luan Vitor, de apenas 10 meses.

Eles eram tidos como uma família feliz, benquista pelos vizinhos. Só dois parentes escaparam da tragédia: Cláudia, de 16 anos, portadora de autismo, que teve 30% do corpo queimado, e João, que não estava em casa na hora do acidente.

Outra sobrevivente era amiga de Cláudia, e tinha ido à casa brincar com a adolescente: Laís Gonçalves Coutinho Melo, de 11 anos, que sofreu lesões leves.

A família do imóvel dos fundos do terreno escapou por milagre. A dona de casa Rosa Maria Simões, de 43 anos, dificilmente sai da residência. Mas ontem, ela estava com dois dos cinco filhos num supermercado. “Mal tinha chegado lá e me ligaram dizendo que um avião tinha caído em casa. Saí correndo desesperada.”

“Ouvi um barulho muito próximo de avião e depois um grande barulho de batida”, disse Cristina Simões da Silva, de 19, filha de Rosa. Ela correu para o banheiro onde a irmã, Adriana, de 15, estava tomando banho e a enrolou na toalha. “Com socos e pontapés, consegui abrir a porta e saímos pelos fundos.”

A Defesa Civil do Município decidiu que serão demolidos dois dos quatro imóveis interditados após o acidente na Bernardino de Sena: as casas de número 118 e 104. Moradora dessa segunda residência, Marlene Alves Rocha, de 67, não parecia acreditar que teria de deixar a casa. “Imagina, se minha casa estivesse mesmo destruída, não estaria aqui para conversar com vocês”, afirmou. Em seguida, mais resignada, admitiu: “A casa é o de menos.”

Os 12 desabrigados pela tragédia foram levados ontem à noite para o Hotel Íbis, próximo da Ponte da Casa Verde. O coordenador da Defesa Civil, Jair Paca de Lima, afirmou que os outros dois imóveis interditados (nos números 120 e 126) também podem ser derrubados.

Às 20h30, o Corpo de Bombeiros iniciou os trabalhos para a retirada da asa do Learjet, onde fica o tanque de combustível. Cerca de cem dos 1 mil litros do tanque já haviam sido retirados no início da noite. “A prioridade é evitar vazamentos e o risco de uma explosão”, disse o capitão Mauro Lopes. A estratégia dos bombeiros era tentar fazer uma espécie de rampa sobre os escombros para chegar até a asa sem correr o perigo de romper o tanque. Por precaução, foi cortada toda a energia elétrica da Bernardino de Sena.

O avô de Laís, Nelson Gonçalves da Silva, de 61 anos, criticou o atendimento no Hospital do Mandaqui. “Ela gritava de dor e mesmo assim a deixaram na prancha, amarrada, com o colete cervical. Fui reclamar e disseram que o médico estava em operação. Mas como podem deixar no corredor uma criança vítima de uma tragédia dessas? Não têm outros médicos, enfermeiros?”, reclamou Silva.

 

 

O Estado de São Paulo
05/11/2007
Learjet virou para o lado errado
Avião fez curva para a direita, direção contrária à padrão; principal suspeita é de que pane no motor derrubou jato

O piloto do avião Learjet 35 que caiu ontem na zona norte paulistana, Paulo Roberto Montezuma Firmino, foi avisado pela torre de controle do Campo de Marte de que estava na direção errada. Ele fazia uma curva para a direita quando o avião caiu - o procedimento correto era seguir para a esquerda. O controlador da torre alertou a tripulação sobre o erro e determinou que o procedimento fosse corrigido, mas não teve resposta. Segundos depois a aeronave atingiu três casas.

“Os pilotos têm um procedimento padrão e, naquele caso, era para a esquerda. A aeronave decolou e fez uma curva para a direita. O pessoal do controle avisou e pediu para corrigir o procedimento, mas o piloto não respondeu. É intrigante”, disse ao Estado uma fonte do setor, em Brasília. “O procedimento de decolagem é manual e o piloto sabia que tinha de virar para a esquerda. Não há como saber o que aconteceu. Pode ter sido desde um enfarte do piloto até uma pane.” Fontes ouvidas pela reportagem em São Paulo afirmaram que, pela dinâmica do acidente e pela rapidez da queda, a principal suspeita é de falha nos motores do Learjet.

A Polícia Civil, por sua vez, não descarta as hipóteses de falha mecânica ou dos pilotos. A titular da 4ª Delegacia Seccional, Elisabete Sato, disse que será fundamental para as investigações a transcrição dos diálogos entre os pilotos antes da queda, registrados no gravador de voz, já retirado dos escombros e enviado ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). “Com o gravador dá para saber o que realmente aconteceu na aeronave.”

A delegada ouviu Émerson Evaristo, representante da dona do Learjet, a Reali Táxi Aéreo, que lhe prometeu fornecer mais dados sobre o avião - como a data da última vistoria - e os pilotos. Ele afirmou que Firmino trabalhava para a Target Táxi Aéreo e havia se transferido para a Reali havia cerca de um ano. O co-piloto, Alberto Soares Júnior, estava na empresa fazia seis meses.

O analista de sistemas Vinícius Primon, de 29 anos, viu da janela de seu apartamento como foi o acidente desde a decolagem do Learjet e conseguiu gravar um vídeo. “O avião estava ganhando altura e de repente houve um barulho estranho, como se a turbina estivesse falhando. O jato se inclinou para a direita e começou a cair. Aí só vi uma nuvem de fumaça.”

O mestre-de-obras John Wellington de Albuquerque Sousa também testemunhou a queda do Learjet. Sousa trabalhava no telhado de uma casa na Rua Maestro Antão quando viu o avião decolar. Segundo ele, segundos depois o jato desviou de um edifício, inclinando para a direita. Sousa não ouviu mais o barulho do motor, que teria parado de funcionar. O avião caiu de bico sobre a casa.

Segundo o chefe do Serviço Regional de Proteção ao Vôo de São Paulo (SRPV-SP), coronel Carlos Minelli de Sá, o avião caiu 15 segundos depois da decolagem. Na hora do acidente chovia leve na região e a visibilidade era de 4 mil metros - considerada satisfatória. “Pelo plano de vôo, ele faria uma decolagem visual e depois passaria a voar com auxílio de instrumento.”

Minelli preferiu não especular sobre as causas do acidente e afirmou que vai esperar o resultado do relatório preliminar da Aeronáutica, que deve sair em 30 dias. Em Brasília, a Aeronáutica informou que as investigações do acidente serão conduzidas pelo 4º Comando Aéreo Regional (Comar), sob a coordenação do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). Dois oficiais de segurança de vôo e dois sargentos especialistas em manutenção trabalham desde ontem no caso.

 

 

O Estado de São Paulo
05/11/2007
Piloto era autônomo há 7 anos
‘Ele conversava com todo mundo’, dizem porteiros
João Carlos de Faria, SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

O piloto do Learjet 35 que caiu na zona norte de São Paulo, Paulo Roberto Montezuma Firmino, voava havia pelo menos sete anos e era autônomo, realizando viagens particulares. Ele teria sido contratado apenas para fazer o vôo de ontem pela Reali, segundo funcionários que trabalham no bufê de sua mulher, Gisele Claro. À tarde, seus amigos e vizinhos se mostravam apreensivos. Muitos buscavam notícias no Edifício De Ville, na região central de São José dos Campos, onde reside a família do comandante.

Segundo a síndica, que não quis ser identificada, as notícias sobre a morte do piloto ainda eram desencontradas e a família não estava no prédio. “Não podemos falar nada em nome deles. Não temos nenhuma autorização para isso”, disse ela, que assumiu o cargo há poucos meses.

A vizinha do andar de cima do apartamento onde morava Firmino o conhecia, mas nem sabia que era piloto. Para o porteiro do edifício Edmilson Donizete Lima, o piloto era uma pessoa “extrovertida e brincalhona”. Apesar de estar trabalhando no prédio havia apenas um mês, Lima já havia conversado com o piloto por diversas vezes. “Ele conversava com todo mundo”, ressalta.

SÃO PAULO

No bufê da esposa do piloto, onde ontem à tarde acontecia uma festa para mais de cem pessoas, conforme uma funcionária, a informação era de que a família já estava no Instituto Médico-Legal (IML), em São Paulo.

 

 

Folha de São Paulo
05/11/2007
Infraero procura

A Infraero escolhe via licitação duas agências de propaganda para atender sua conta de R$ 15 milhões anuais. Na última quarta-feira, 15 agências apresentaram credenciais, 11 foram habilitadas e quatro inabilitadas.

Todas as quatro - Agência3, Engenhonovo Publicidade, Lua Branca Propaganda e Big Grandes Idéias - entrarão com recurso para voltar à disputa.