::::: RIO DE JANEIRO - 05 DE OUTUBRO DE 2007 :::::

 

O Estado de São Paulo
05/10/2007

Lap Chan, que negociou a Varig, agora quer ficar com a Vasp
Sócio do fundo de investimentos Matlin Patterson fará oferta pela área de manutenção e logística da empresa
Alberto Komatsu

Apesar de cobrar na Justiça uma dívida de US$ 186 milhões por empréstimos concedidos para a nova Varig, o representante no Brasil do fundo americano Matlin Patterson, Lap Chan, garante não estar arrependido de ter investido em aviação e se prepara para um novo empreendimento, desta vez na Vasp. Nascido em Hong Kong e naturalizado brasileiro, ele comprou uma participação acionária da empresa de manutenção de aviões Digex, de São José dos Campos (SP), para fazer uma oferta pelo setor de revisão de aviões da Vasp.

'A área que nos interessa (na Vasp) não é a de passageiros. O mercado está muito diferente hoje, depois do que aconteceu com o apagão aéreo. As áreas de manutenção e, talvez, de cargas podem ser interessantes', afirmou Chan, que tinha um ano e meio de idade quando chegou ao Brasil, de onde saiu temporariamente aos 17 anos para estudar economia nos EUA.

Chan foi o principal responsável pela operação que levou a Varig para o controle do Matlin Patterson. Sócio minoritário do fundo, ele participou intensamente das assembléias e de reuniões com advogados, trabalhadores e credores que antecederam o leilão da Varig. A empresa foi arrematada por US$ 24 milhões em julho de 2006. Este ano, foi vendida à Gol por US$ 320 milhões.

Mas, antes mesmo de comprar a Varig, Chan teve de se desdobrar para conseguir a aprovação da compra da subsidiária de logística do grupo, a VarigLog, por US$ 42,8 milhões. A operação foi muito contestada por ter a participação de um grupo estrangeiro, o Matlin Patterson - a legislação brasileira limita a 20% a participação de estrangeiros em empresas aéreas. Para driblar a restrição, Chan criou em sociedade com os brasileiros Marco Antonio Audi, Luiz Eduardo Gallo e Marcos Haftel a Volo do Brasil, na qual o Matlin teria participação oficial de 20%. Hoje, o Matlin Patterson processa os antigos sócios cobrando a devolução dos empréstimos concedidos na época da compra.

No dia 13 de setembro, o deputado estadual Paulo Ramos (PDT-RJ) sugeriu à CPI da crise aérea, na Câmara dos Deputados, a quebra do sigilo bancário dos sócios da Volo do Brasil - Matlin Patterson, Audi, Gallo e Haftel. Ramos, que presidiu a CPI da Varig na Assembléia Legislativa do Rio, diz que os sócios brasileiro da Volo foram usados como 'laranjas'.

Agora, Chan se prepara para um novo negócio. A Digex, financiada por ele como pessoa física - Chan afirma que o Matlin Patterson não está no negócio -, já havia apresentado uma proposta de R$ 24 milhões pela área de manutenção da Vasp. No entanto, a oferta foi retirada porque vai perder a validade no próximo dia 12. A Digex vai ter de reformular sua proposta porque, na semana passada, a assembléia de credores da Vasp para definir os detalhes da recuperação judicial da empresa foi adiada para o próximo dia 30.

A Vasp está em recuperação judicial com dívidas de R$ 5 bilhões, mas ativos de R$ 6,5 bilhões. Além da Digex, a OceanAir e uma empresa de manutenção de aviões da China, a Haite, demonstraram interesse em investir nos ativos da Vasp.

Chan evitou comentar a suspeita que os sócios brasileiros na VarigLog fizeram gastos indevidos com o dinheiro que emprestou para reerguer a Varig. Segundo fonte do mercado, Audi, Gallo e Haftel teriam usado pelo menos US$ 13 milhões de um total de US$ 98 milhões que a Gol pagou à vista pela nova Varig.

Esse dinheiro deveria ter sido devolvido ao Matlin Patterson, mas teria sido depositado em uma conta na Suíça, onde restam US$ 85 milhões. O fundo conseguiu bloquear essa conta na Justiça dos EUA, onde também obteve o bloqueio de 4,5 milhões de ações da Gol que foram dadas como pagamento. Isso porque os investidores brasileiros teriam vendido 1,5 milhão de ações por US$ 30 milhões, em negócio não registrado oficialmente.

Audi, Gallo e Haftel também são suspeitos de usar o dinheiro destinado à Varig para comprar três jipes Land Rover de R$ 130 mil cada e aumentar de R$ 38 mil para R$ 70 mil seus salários como conselheiros da VarigLog.

 

 

O Estado de São Paulo
05/10/2007
Ex-presidente da Varig é multado pela CVM

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) multou em R$ 50 mil o ex-presidente da Varig, Marcelo Bottini, pela demora na publicação do fato relevante sobre o leilão judicial da unidade produtiva da Varig em 20 de julho de

2006. Além de presidente, Bottini ocupava o cargo de diretor de Relações com Investidores (DRI) da companhia aérea.

Em seu voto, o diretor da CVM e relator do processo, Marcos Pintos, destacou que a autarquia enviou por correio três intimações à empresa e ao DRI. Além das intimações via postal, a CVM publicou um edital de intimação como determina a regulação brasileira. Como o executivo não apresentou defesa, o processo foi julgado à revelia.

'Não há dúvida de que alienação judicial da chamada Nova Varig era um fato relevante a ser divulgado ao mercado, já que essa unidade produtiva representava uma parcela significativa dos negócios da companhia', afirmou o diretor em seu voto.

Segundo ele, as dificuldades enfrentadas pela companhia não excluem a responsabilidade do DRI em informar ao mercado fatos relevantes.

Bottini consta dos autos da recuperação judicial da Varig antiga por ter favorecido um grupo de 12 executivos com a antecipação de salários no valor total de R$ 1 milhão.

O pagamento dos salários foi feito antes do leilão judicial da Varig e da demissão desses funcionários.

 

 

O Estado de São Paulo
05/10/2007

Apagão da CPI

Se a CPI do Apagão Aéreo do Senado ainda autoriza ter esperanças de que pelo menos algumas responsabilidades serão apuradas, para que não caiam em inteiro descaso as investigações sobre as tragédias que ceifaram brutalmente tantas vidas humanas, a CPI do Apagão Aéreo da Câmara dos Deputados dá mostras de ter sido despudoradamente apagada. Para não ter de explicitar a responsabilidade de autoridades e funcionários brasileiros pelo descalabro organizacional e administrativo que resultou em dois acidentes graves, depois de submeter milhões de passageiros a toda sorte de incômodos e prejuízos, o relator dessa CPI escolheu como bodes expiatórios os pilotos norte-americanos Joseph Lepore e Jan Paulo Paladino, que conduziam o jato Legacy que colidiu com o Boeing da Gol - e que, por sinal, estão longe para se defender. Ainda bem que o relator - seguindo o mesmo critério de só responsabilizar ausentes - não culpou os passageiros por congestionarem os saguões dos aeroportos, meses a fio...

No Senado o relator Demóstenes Torres (DEM-GO) vai pedir o indiciamento da cúpula da Infraero na gestão do ex-presidente Carlos Wilson - de 2003 a 2005. Entre os possíveis indiciados por crimes contra o patrimônio público estarão pelo menos 25 pessoas, como diretores, ex-diretores, além de dois empresários que fizeram negócios com o setor de mídia da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária. O relatório terá mais de mil páginas e deverá ser apresentado no próximo dia 15. Além do grupo de indiciados ligados à Infraero, haverá outro ligado à Agencia Nacional de Aviação Civil (Anac) e um terceiro, comprometido com obras e licitações irregulares.

Contra o ex-presidente da Infraero e atual deputado federal Carlos Wilson (PT-PE) pesa o fato de terem sido lançados vários editais de licitação para construção, reforma e ampliação de aeroportos, cujos critérios de escolha dos vencedores foram questionados tanto pelo Tribunal de Contas da União (TCU) quanto pelo Ministério Público Federal. A CPI do Senado mostra que há indícios consistentes de que houve favorecimento de determinados grupos empresariais, retirando o caráter competitivo das concorrências públicas. Durante a gestão Carlos Wilson, as licitações somaram quase R$ 3 bilhões. A diretora de Engenharia da Infraero, Eleuza Terezinha Manzoni dos Santos Lores, é outra dirigente da estatal a ser indiciada, sob a suspeita de patrocinar e intermediar interesse privado junto à empresa, visando ao favorecimento de terceiros e de si própria.

A CPI da Câmara, lamentavelmente, seguiu trilha oposta à da CPI do Senado. Depois de cinco meses de funcionamento, aprovou na quarta-feira, por 14 votos a favor e 6 contra, o relatório do deputado Marco Maia (PT-RS), que nada mais fez que recomendar a desmilitarização do controle do tráfego aéreo e o indiciamento dos pilotos norte-americanos do Legacy - e assim mesmo com a ressalva: “Apontamos as responsabilidades deles no acidente, mas optamos por não criminalizar a conduta.”

Foram poupadas as cúpulas da Anac e da Infraero. Apesar das evidências de que a ex-diretora da agência Denise Abreu usou uma norma sem validade legal para liberar as operações no Aeroporto de Congonhas em dias de chuva, o deputado petista afirmou que faltaram elementos para pedir seu indiciamento. Mas, para salvar as aparências, o relator solicitou ao Ministério Público Federal que “aprofunde as investigações” contra cinco diretores e ex-diretores da Anac, para apurar suspeitas de improbidade administrativa, uso indevido do cargo e utilização de documento sem validade legal. Além disso, por um acordo celebrado entre os integrantes dessa CPI, o relator retirou o pedido de indiciamento dos controladores de vôo que estavam de plantão no centro de controle aéreo de Brasília no momento da colisão entre o avião da Gol e o Legacy.

Essa malfadada CPI deverá entrar para os anais do Parlamento como uma das mais “chapa branca”, das mais submissas a pressões e das mais inúteis de todas as comissões parlamentares de inquérito já instaladas no Legislativo caboclo. Bem o expressou o deputado Vic Pires (DEM-PA) quando disse: “Sinto vergonha de sair daqui hoje com esse relatório sendo aprovado.”

 

 

O Estado de São Paulo
05/10/2007
Jobim vai estudar desmilitarização e anuncia auditoria
Ministro da Defesa disse que um grupo internacional independente vai avaliar controle de vôo no País
Tânia Monteiro

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, sinalizou ontem, pela primeira vez, que poderá discutir a questão da desmilitarização do tráfego aéreo civil. Essa idéia, uma das principais reivindicações dos controladores, foi posta fora de debate desde que o novo comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, assumiu o cargo em fevereiro.

Ontem, Jobim anunciou também que deve contratar uma auditoria internacional independente para avaliar o sistema brasileiro de controle e proteção do tráfego aéreo. Na entrevista concedida ao programa de rádio Bom Dia, Ministro, transmitido pela Rádio Nacional, Jobim disse ainda que 'o sistema de aviação no Brasil é absolutamente seguro' e o governo está trabalhando para devolver à população 'a percepção, a sensação de segurança' que reconhece que não existe hoje por causa da crise aérea enfrentada pelo País no último ano.

A desmilitarização do controle chegou a ser discutida entre os sargentos que trabalham nos centros de controle (Cindactas) e o ex-ministro da Defesa Waldir Pires. 'Vamos abrir esta discussão, se é caso de desmilitarização ou não do controle aéreo', afirmou o Jobim, ressalvando que 'essas coisas não se fazem no afogadilho'. Jobim acrescentou que vai levar para a discussão a possibilidade de dividir em dois o atual sistema, ou seja, 'de a circulação aérea das aviação civil ficar com os civis, e a defesa do espaço aéreo ficar com os militares'.

Essa separação, segundo o ministro, 'depende de mudança a estruturar nos Cindactas'. A discussão surge no momento em que a Aeronáutica planeja uma mudança no sistema nacional de controle (veja quadro ao lado), tirando operações do Cindacta-1 (Brasília-São Paulo).

Anteontem, a Aeronáutica anunciou que pretende redesenhar até o fim deste mês a área sob responsabilidade do centro de controle de vôo de Brasília (Cindacta-1). O objetivo é tentar aliviar a carga de trabalho sobre os controladores, hoje responsáveis por monitorar quase 80% dos vôos do País. Com a mudança, uma fatia do Cindacta-1 será transferida para o Cindacta-2, com sede em Curitiba.

AUDITORIA

O ministro da Defesa anunciou que tem a intenção de contratar uma consultoria independente, que deve ser internacional, para fazer uma avaliação do sistema de controle do tráfego aéreo. Para 2009, está prevista uma fiscalização da Organização de Aviação Civil Internacional (Icao, na sigla em inglês).

Jobim reiterou que o sistema não tem problemas, e que as críticas da Federação Internacional de Controladores de Tráfego Aéreo (Ifatca) 'têm outros interesses e fazem parte de um apoiamento a todo o sistema corporativo dos próprios controladores'. O presidente da Ifatca, Marc Baumgartner, disse ontem que ''é uma questão de tempo para que um novo acidente aéreo volte a acontecer no Brasil' (Leia texto nesta página). Para Jobim, esse tipo de denúncia 'não é isenta porque tem por objetivo político criar um ambiente para resolver questões salariais'.

O ministro disse que os problemas que levaram ao motim de 30 de março 'estão superados' e que 'a hierarquia (nas Forças Armadas) foi restabelecida'. Jobim sinalizou que o fim deste ano 'será mais tranqüilo' porque a malha aérea está sendo ajustada e isso deverá estar concluído 'até o final de novembro'. COLABOROU PATRÍCIA CAMPOS MELLO

FRASES

Nelson Jobim
Ministro da Defesa

'Vamos abrir essa discussão, se é caso de desmilitarização ou não do controle aéreo'

Ingo Marowsky
Secretário do setor de aviação civil da Federação Internacional de Trabalhadores de Transportes

'É preciso fazer alguma coisa antes que mais vidas sejam perdidas'

 

 

O Estado de São Paulo
05/10/2007
Para entidade, risco de acidente no País é iminente

A Federação Internacional dos Controladores de Tráfego Aéreo (Ifatca, na sigla em inglês) divulgou nota oficial ontem em Washington, durante seu congresso internacional, afirmando que, se não houver medidas para aperfeiçoar o sistema de controle de tráfego aéreo no Brasil, 'o risco de um novo acidente é real'. O vice-presidente executivo da organização, Douglas Churchill, ainda pediu investigação independente sobre as tragédias com os vôos da TAM e da Gol.

Segundo Churchill, as únicas providências tomadas pelas autoridades brasileiras foram a detenção dos pilotos do Legacy e a perseguição dos controladores de tráfego.

Já para Ingo Marowsky, secretário do setor de aviação civil da Federação Internacional de Trabalhadores de Transportes, 'o setor no Brasil está em crise e periga descambar para o caos'. 'É preciso fazer alguma coisa antes que mais vidas sejam perdidas.'

 

 

O Estado de São Paulo
05/10/2007
País é reeleito na Icao com pior votação
Bruno Tavares

O Brasil obteve o pior desempenho da história na última eleição para o conselho da Organização de Aviação Civil Internacional (Icao, na sigla em inglês) - a agência da ONU encarregada de regular o setor em todo o mundo. Na votação realizada na semana passada, em Montreal, no Canadá, o País foi reeleito com 88% dos votos. 'Sempre conseguimos unanimidade ou, no mínimo, 98% dos votos. Esse resultado é sinal de que desrespeitamos normas', diz um especialista em segurança de vôo.

Na opinião de militares ouvidos pelo Estado, o desempenho abaixo do esperado está menos ligado à crise aérea e mais à divulgação de informações sigilosas dos acidentes da Gol e da TAM. O grupo 1, que o Brasil integra, é o de países com 'importância capital no transporte aéreo'. Nele ainda estão Alemanha, Austrália, Canadá, China, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido.

 

 

Valor Econômico
05/10/2007
Matlin quer manter negócios no Brasil, afirma o sócio Lap Chan
Roberta Campassi

Apesar da batalha judicial que o MatlinPatterson trava com seus sócios brasileiros na VarigLog, o fundo americano quer manter suas operações no Brasil e continuar buscando novas empresas para investir. A afirmação foi feita ao Valor por Lap Chan, o sócio do Matlin que toca os negócios do fundo no país e ficou conhecido no mercado de aviação por ter adquirido a VarigLog e a "Nova Varig" em meio ao processo de recuperação judicial da "Velha Varig".

"Continuamos apostando no Brasil e estamos avaliando outras negócios", disse Chan, que raramente dá entrevistas. O Matlin é especializado em comprar empresas à beira da falência, recuperá-las e vendê-las. Recentemente, associou-se à empresa brasileira Digex por meio da qual fez uma oferta de R$ 24 milhões pela unidade de carga remanescente da Vasp, companhia aérea que deixou de voar e está em recuperação judical.

Na quarta-feira, o Valor divulgou que o Matlin está cobrando US$ 186 milhões da VarigLog, onde ele é acionista com mais três sócios: Marco Antonio Audi, Marcos Haftel e Luiz Eduardo Gallo. As cobranças ocorrem em duas ações impetradas no Brasil e uma em Nova York. O dinheiro refere-se a empréstimos que o fundo fez à VarigLog e que já deveriam ter sido pagos, conforme as cláusulas dos contratos. Do total, US$ 88 milhões deveriam ter sido pagos quando a VarigLog vendeu a "Nova Varig" para a Gol, em março. Outros US$ 98 milhões deveriam ter sido quitados entre janeiro e julho deste ano. Sobre os sócios brasileiros, recaem acusações de que eles teriam utilizado dinheiro da VarigLog em despesas pessoais e que teriam aumentado a remuneração dos conselheiros da empresa sem o consentimento do fundo. A ação de Nova York teve, como efeito, o bloqueio de aproximadamente US$ 85 milhões na Suíça. Esse dinheiro seria resultante da venda da VRG e, embora devesse ter sido devolvido ao fundo, foi enviado ao exterior pelos brasileiros.

Para se defender, segundo apurou o Valor, a VarigLog argumenta que o MatlinPatterson descumpriu acordo entre os sócios, segundo o qual os empréstimos poderiam ser renovados até 2011. A empresa também alega que o fundo quer abandonar as operações no Brasil, colocando em risco sua sobrevivência.

"O MatlinPatterson já investiu US$ 130 milhões na VarigLog e continua investindo na sua frota. Era uma empresa que antes dependia totalmente da Varig e hoje não depende mais", afirmou Chan num português perfeito, apesar de ter nascido na China. A VarigLog preferiu não se pronunciar.

Sobre a disputa judicial, Chan afirma que o fundo quer apenas receber o que foi acertado em contrato. "É simples: os investidores aplicaram seus recursos no Brasil e querem ser reembolsados conforme as condições estabelecidas."

 

 

Folha de São Paulo
05/10/2007
Fundo dos EUA quer sair da VarigLog, diz sócio brasileiro
JANAINA LAGE DA SUCURSAL DO RIO

O empresário Marco Antonio Audi, um dos sócios brasileiros do fundo americano Matlin Patterson, disse à Folha que o fundo está criando um pretexto para retirar os recursos da empresa e sair do país.

O fundo cobra na Justiça em São Paulo e em Nova York cerca de R$ 360 milhões referentes a empréstimos para a manutenção da VarigLog, companhia de transporte de cargas que detém 47% de participação no mercado doméstico e 20% no internacional.

A VarigLog é uma ex-subsidiária da Varig. Foi adquirida pela Volo do Brasil, que tem como acionistas o fundo americano e três investidores brasileiros (Audi, Luiz Eduardo Gallo e Marcos Haftel).

Com o agravamento da crise da Varig, a ex-subsidiária acabou por comprar as operações da companhia aérea. Neste ano, a Varig foi revendida para a Gol. Os acionistas divergem sobre o destino dos recursos referentes à venda da Varig.

A Gol pagou US$ 98 milhões em dinheiro, US$ 172 milhões em ações e um montante em debêntures (títulos de dívida). Na Justiça, o Matlin conseguiu o bloqueio de parte das ações e acusa os brasileiros de depositar os US$ 98 milhões em dinheiro na Suíça e de ter gasto US$ 13 milhões desse total sem que isso fosse registrado na contabilidade da empresa, segundo a Folha apurou.

Além disso, acusam a venda de 1,5 milhão de ações da Gol, com lucro estimado de US$ 30 milhões, sem que tenham sido computados no caixa.

Segundo João Luís de Sousa, presidente da VarigLog, a companhia possui contas abertas em diversos países e os recursos têm sido usados na manutenção das operações da empresa. "Temos contas na Suíça, na Alemanha, nos EUA e em vários países latino-americanos. Tenho 49 anos de trabalho no setor e, se tivesse ocorrido qualquer impropriedade, isso não passaria despercebido."

Sousa disse que a data prevista em contrato para o pagamento dos empréstimos é 2011 e que nada fará a empresa antecipar o vencimento.

"Eles querem sair, só faz isso quem quer destruir o negócio", disse Audi. Segundo ele, as partes praticamente não conversam mais. "Na última reunião que tive com Lap [Chan, executivo do Matlin Patterson], disse que ele podia não gostar de mim, mas que tinha de agir como profissional. Não foi o que aconteceu", disse.

Segundo Audi, a previsão é que o pagamento em ações seja feito de forma escalonada e a venda dos papéis foi usada em projetos da própria empresa. "Temos nossas contas auditadas pela Ernst & Young."

O bloqueio das ações e dos recursos no exterior já prejudica as operações da companhia, de acordo com Audi. O empresário diz que os planos previam a abertura de capital da empresa em 2008, o que abriria espaço para a saída do Matlin Patterson, mas que o fundo não estava disposto a esperar. "No momento, a empresa não sobrevive a essa saída. Escolhi o Matlin como acionista porque ele estipulou ficar até 2011."

Chan nega que o fundo esteja disposto a sair do país e disse que nunca houve comunicado formal sobre como os recursos foram aplicados. "Quando há US$ 100 milhões em caixa, as coisas mudam um pouco. Não fomos informados de nada."

De acordo com Chan, o Matlin, que recentemente abriu escritório em São Paulo, pretende aumentar os investimentos no país e continuar na VarigLog. "Acreditamos na lei de recuperação judicial no caso da Varig e na legislação brasileira. A VarigLog ainda tem muito para crescer. Não é hora de vender", afirmou. Ele também disse que o fundo continua injetando recursos na companhia, o que Audi nega.

 

 

Jornal do Brasil
05/10/2007
Escândalo na Airbus compromete Sarkozy

Paris. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, foi colocado no centro de uma situação constrangedora por sua ligação com corrupção corporativa de alto nível depois que um de seus amigos mais próximos e o chefe da companhia Airbus foram implicados em uma troca de informação interna multimilionária.

A oposição socialista chamou Sarkozy a explicar ações passadas no governo depois das notícias de que a guardiã bolsa de valores francesa, a AMF, descobriu que executivos se aproveitaram de acordos ilícitos "massivos" na EADS, a companhia franco-germânica do Airbus.

- Temos aqui um sistema de máfia no nível mais alto do Estado - salientou o porta-voz socialista.

Entre os 21 executivos do EADS no centro do negócio estão Arnaud Lagardère, amigo de Sarkozy e chefe da companhia aérea e conglomerado de mídia Lagardère, e Thomas Enders, o chefe alemão do Airbus. Na época da suposta troca de informações, no fim de 2005 e início de 2006, os dois homens de negócio eram chefes executivos da EADS. Lagardère diz que era como um irmão do presidente.

O negócio está constrangendo Sarkozy, que vem tentando persuadir os trabalhadores a aceitar o corte de 10 mil postos como parte do plano de recuperação da Airbus. Seu primeiro grande escândalo do mandato vai atrapalhar a estratégia de se afastar da imagem de amigo de bilionários e grandes empresários.

Interrogado ontem sobre a denúncia, o primeiro-ministro, François Fillon, assegurou que "o Estado não teve participação na venda de ações do grupo aeronáutico".

Mas o presidente é potencialmente vulnerável porque era ministro do Interior quando o governo foi informado de que a Airbus estava com problemas e deveria vender parte de seus 15% de ações antes que os preços das ações caíssem.

Sindicalistas reagiram com raiva à sugestão de que sua gerência tem enchido os bolsos ao manter segredos da empresa.

- Este não é um negócio insignificante. Estamos falando de dezenas de milhares de euros de lucro em um setor que é estratégico para a França e a Europa - disse Jean-Christophe Le Duigou, o secretário nacional do sindicato CGT.

Lucros de 90 milhões de euros foram alcançados em 1.200 negócios com o conhecimento dos "senhores da informação", de acordo com a AMF, que entregou o relatório a promotores.

O preço das ações caiu 17% em um dia em junho do ano passado, depois que a Airbus revelou a extensão das perdas em função da malversação de seus programas para o avião gigante A380.

Thierry Breton, o ministro das Finanças na época, disse que o Estado não vendeu ações, mas tampouco rejeitou a venda de ações por Lagardère e outros informantes.

Noël Forgeard, chefe do Airbus e seus seis filhos trocaram sua remuneração por ações da companhia com um lucro de 2,5 milhões de euros em março de 2006.

A descoberta da transação escandalizou o público e frustrou os planos de Sarkozy para conter a troca do salário pela compra de ações.

Todos os envolvidos negam a malversação e Lagardère disse que vai processar aqueles que escaparam do relatório preliminar que foi publicado no jornal Le Figaro.

O escândalo traz novas turbulências para a Airbus, exatamente no momento em que começa a se recuperar de uma queda de 15 dias. Ela está prestes a entregar à Cingapura Airlines seu primeiro avião A380.

Os grandes acionistas e executivos que gastaram com ações antes da queda tinham pleno conhecimento dos atrasos na A380 meses antes de que fossem tornados público, dizem os investigadores.

Também relatam suspeitas sobre o método "estranho" usado pela companhia de Lagardère e a Daimler Chrysler, as duas maiores acionistas, a reduzir seus papéis ao atrasar as transações até o próximo ano, mas com valor fixo do nível antes da queda.

 

 

O Globo
05/10/2007
Ancelmo Góis