Jornal do Brasil
04/11/2007
Glide Slope - Índia dá
OK a 1.500 pilotos estrangeiros
Postado por: marceloambrosio
Rússia China e Índia acabaram com a falta
de empregos para pilotos brasileiros. A legião
brazuca se espalhou e ainda há espaço
para muita gente: esta semana, o governo de Nova Déli
concedeu clearance (certificação) a nada
menos que 1.490 pilotos estrangeiros de uma só
vez. A autorização é uma maneira
de acelerar o esforço para suprir as companhias
do país de pessoal especializado, mas as próprias
autoridades reconhecem que se trata de um paliativo
a médio prazo.
"Esses pilotos receberam contratos de um ano,
extensíveis a três anos", afirmou
o diretor-geral de aviação civil Kanu
Gohain. O prazo é considerado curto até
pelo próprio governo, que admite esticar em mais
um ano para dar tempo aos pilotos que estão sendo
treinados de ganharem mais experiência. Outra
saída rápida está sendo a transferência
de comandantes da aviação de caça
em término de carreira - é o trabalho
fisicamente mais exigente da aviação militar
- para as aeronaves civis. Ganham as companhias por
receberem profissionais altamente treinados em condições
de vôo muito mais duras que as encontradas nas
cabines da Boeing e da Airbus.
O crescimento do setor na economia da Índia
é impressionante e proporcional à acelerada
expansão econômica do próprio país.
O número de vôos internos foi multiplicado
por três em apenas dez anos, e a quantidade de
passageiros transportados deve chegar a 300 milhões
por ano em 2020, subindo dos atuais 55-60 milhões.
Jornal do Brasil
04/11/2007
Não existe crise no céu
do poder
"Faça ou vá embora", trovejou
Nelson Jobim ao assumir, com o crachá de ministro
da Defesa, a gerência do apagão aéreo.
Milton Zuanazzi demorou 102 dias para decifrar o recado,
cair fora da Anac e deixar que o chefão fizesse.
Jobim começou fazendo uma previsão: até
março, os passageiros comuns continuarão
expostos aos flagelos que, para o ministro, terminaram
no dia da posse.
Promovido a freguês da FabTur, Jobim está
muito feliz com a pontualidade dos jatinhos. E vive
elogiando o tamanho das poltronas.
Jornal do Brasil
04/11/2007
O celular pode ser usado no vôo?
Pode.
Fiz essa pergunta a um engenheiro holandês da
KLM durante uma apresentação de novas
tecnologias no aeroporto Charles de Gaulle, mês
passado. Ele respondeu convicto, refletindo a opinião
corrente na Europa. Lá, aquele discurso das comissárias
mandando desligar os aparelhos em breve será
passado. Do lado de cá do Atlântico o veto
segue, como explico depois.
O engenheiro era ligado ao projeto que a Air France
KLM cria com a suíça OnAir - provedora
de sistemas de conectividade escolhida pela European
Aviation Safety Agency. Há um A319 voando em
fase de certificação, transformado em
antena de telefonia móvel que troca informações
com o solo. A vantagem, segundo o técnico, está
no fato de os celulares atuais exigirem pouca potência
para capturar a rede - em torno de 20 miliwatts - o
que não ocorria quando a proibição
foi baixada, há algumas décadas.
O avanço da tecnologia, seja dos aparelhos celulares,
seja dos sistemas wireless de bordo - para o entretenimento,
por exemplo, como os monitores portáteis do 777
- obrigou os fabricantes de aviões a prepararem
os equipamentos de vôo mais blindados contra a
interferência.
Além disso, há a questão econômica:
as duas empresas vão entrar num mercado bilionário
- como nunca foi o daqueles telefones por cartão
de crédito, instalados nos braços dos
assentos. Por ser cara e pouco prática, a tecnologia
por satélite se tornou desinteressante em larga
escala. Não por acaso, o novo modelo - que permite
navegação na internet e troca de emails
e SMS, foi adotado também pela China, o maior
mercado do mundo. A OnAir tem parte do capital controlado
pela Airbus.
Chegamos então aos EUA, onde a FAA trancou o
assunto, após questionamentos sobre segurança
e incômodo a bordo. Quem é contra lembra
que as bombas de Madri, em 2004, foram acionadas por
celulares. Esse temor traria pressão adicional
enorme sobre as equipes de raios-X, atrasando os embarques
e derrubando a adesão das empresas de baixo custo.
Alguns europeus também estão nessa trincheira.
O Telegraph, que faz campanha contra a liberação,
afirma que, só na Grã-Bretanha houve 20
incidentes de interferência entre janeiro de 2000
e agosto de 2005. Quem é do ramo estranha.
Em um artigo para a Computerworld, o engenheiro americano
Mike Elgan sustenta que o efeito não só
não foi comprovado, como revela que muitos dos
fones usados pelos pilotos têm entrada de celular.
E que o hábito de ligar do cockpit é corrente,
só pouco comentado.
Para completar, o veto dos EUA é para evitar
a air rage. 'Fúria no ar', na tradução
livre, é o pesadelo dos comissários: a
combinação de ansiedade, álcool,
pressurização e, agora, a irritação
com o vizinho de assento. Alguém que não
larga o celular é um chato, mas pode ser, potencialmente,
a faísca para uma guerra a bordo.
Tribuna da Imprensa
04/11/2007
Estudo da Nasa mostra falta de
segurança em vôos comerciais
NOVA YORK (EUA) - A Nasa decidiu divulgar a quase totalidade
de um estudo sobre a segurança do espaço
aéreo do país. A pesquisa, que levantou
um enorme polêmica na última semana, pode
revelar que a segurança dos vôos comerciais
está muito mais comprometida do que as autoridades
aéreas imaginavam. Situações de
quase colisão e interferências em pistas
de decolagem são problemas comuns no sistema
aéreo dos EUA.
"A grande discussão, no entanto, é
que a publicação das informações
requeridas, que são sensíveis e relacionadas
à segurança, pode afetar materialmente
a confiança da população e o bem-estar
comercial das empresas aéreas cujos pilotos participaram
da pesquisa", justificou um alto funcionário
da Nasa.
O estudo foi conduzido com 24 mil pilotos e controladores,
os quais tiveram suas identidades mantidas em segredo.
As entrevistas demonstram péssimas condições
de trabalho de pilotos, momentos de colisões
quase iminentes e aterrissagens perigosas, entre muitas
outras situações. A Nasa divulgou ontem
um trecho da pesquisa.
Em março de 2004, dois pilotos que conduziam
uma aeronave Airbus 319 de Baltimore, a maior cidade
do estado de Maryland, para Denver, capital do Colorado,
adormeceram durante o trajeto. Eles foram acordados
somente pelo frenético chamado dos controladores
em terra, alertando-os de que estavam se aproximando
do aeroporto no dobro da velocidade permitida.
Esta situação, conhecida como "olho
vermelho" (em referência aos vôos noturnos
de longa duração que obrigam os pilotos
a se manterem acordados), ocorrem freqüentemente,
segundo comprovou o estudo da Nasa. "Pelos últimos
45 minutos de vôo eu adormeci, assim como o co-piloto",
afirmou o comandante do vôo da United Airlines
aos pesquisadores da agência aérea, em
um trecho da pesquisa.
A companhia não confirmou nenhum registro de
incidente de "olho vermelho" em vôos
noturnos. Segundo a explicação do profissional
citado, ele já havia trabalhado por três
noites seguidas, em viagens de oito horas. Além
disso, entre os resultados do levantamento, há
informações de que o número de
batidas provocadas por pássaros e situações
de quase colisão aérea são duas
vezes superior aos registrados nos sistemas de monitoramento
do governo.
A pesquisa também mostra números alarmantes
de pilotos que teriam sido informados sobre mudanças
nas instruções de pouso na última
hora, algo "potencialmente perigoso". A pesquisa,
conduzida em segredo pela Nasa, durou cerca de quatro
anos e custou US$ 11,3 milhões ao contribuinte
norte-americano. Com a repercussão do escândalo,
o administrador da Nasa, Mike Griffin, divulgou uma
nota explicando ter sabido que a pesquisa estava sendo
mantida sob sigilo.
Nesta semana, a Nasa esclareceu: "Nós assumimos
o que dissemos, e isso foi um erro", segundo afirmou
a administrador Michael Griffin. "Pedimos desculpas...
As pessoas cometem erros. E isso foi um erro. Estou
revendo esse pedido por meio do Ato de Liberdade de
Informação para determinar quais - se
houver alguma - dessas informações podem
ser tornadas publicas legalmente. A Nasa deve focar
em como dar informações ao público;
não como escondê-la".
No texto, Griffin ressalta ainda sempre ter defendido
a abertura e transparência das pesquisas e análises
feitas pela Nasa. A polêmica já repercute
com força no Congresso norte-americano.
O Estado de São Paulo
04/11/2007
Congonhas: aéreas fraudam
restrição
Mariana Barbosa e Humberto Maia Junior
Diante da proibição de vôos do
Aeroporto de Congonhas para cidades a mais de mil quilômetros
de São Paulo, a professora Vera Lúcia
Bertolini não pensou duas vezes na segunda-feira.
Seguiu para o Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, para
embarcar com destino a Cuiabá (MT). “Quando
percebi o erro já era tarde. Estava chegando
a Cumbica e perdi o vôo”, disse. No dia
seguinte ela embarcou finalmente para Cuiabá.
Partindo de Congonhas.
Aproveitando brechas de uma portaria mal escrita, as
companhias driblam a restrição e fazem
vôos de Congonhas para qualquer lugar do País.
Elas simplesmente dividiram o vôo - agora são
dois bilhetes - e introduziram uma conexão relâmpago.
Em muitas conexões, feitas num aeroporto no perímetro
permitido, como Galeão, Confins ou Brasília,
o passageiro nem desce do avião. A prática
foi flagrada pelo Estado terça-feira em dois
vôos da TAM. Eles saíram de Congonhas para
Cuiabá (a 1.360 quilômetros) e Salvador
(a 1.468 quilômetros).
As restrições, impostas pelo Conselho
Nacional de Aviação Civil (Conac), foram
pensadas no calor da tragédia do Airbus da TAM,
em 17 de julho. Três dias depois, o Conac determinou
que Congonhas deixaria de ser um ponto de escalas e
de conexão de vôos e limitou os percursos
a mil quilômetros. A idéia era desafogar
o aeroporto mais movimentado do País e reforçar
a segurança.
“As medidas não foram seguidas de justificativas
técnicas”, diz o especialista Respício
do Espírito Santo Junior, professor da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Não
admira que companhias estejam aproveitando brechas legais.”
Com a proibição das conexões,
muitas rotas simplesmente sumiram. É o caso de
vôos de Ribeirão Preto e de muitos destinos
do Sul para Brasília. Nesses trechos, o passageiro
tem de apelar para conexões “por conta
própria”. Além de pagar duas taxas
de embarque, ele mesmo tem de recolher as bagagens,
atravessar o aeroporto e fazer um novo check-in.
“O fim das conexões em Congonhas é
um transtorno desnecessário para o passageiro”,
diz o vice-presidente de Planejamento da TAM, Paulo
Castello Branco. E por que as companhias não
fazem vôos entre Brasília e Ribeirão
ou o Sul? “Não tem demanda.” Para
ele, se o problema que o governo quer atacar é
de segurança, o correto seria limitar slots (autorizações
de pouso e decolagem).
Segundo fontes do setor, vôos de mais de mil
quilômetros partindo de Congonhas com conexão
relâmpago, sem troca de avião, estão
sendo feitos por todas as grandes companhias. Elas revelam
que a prática foi adotada pela Gol em rotas similares
às da TAM (Congonhas para Salvador e Cuiabá).
Procurada, a Gol não se manifestou. Apesar das
críticas, Castello Branco disse que a TAM segue
“religiosamente” as restrições.
O Estado de São Paulo
04/11/2007
Passageiros ficam no avião
durante conexão 'fantasma'
Vôo de Congonhas para
Salvador fez parada ‘relâmpago’ no
Tom Jobim
Mariana Barbosa e Humberto Maia Júnior
Na terça-feira, a reportagem do Estado embarcou
em dois vôos distintos, um com destino a Cuiabá
e outro para Salvador - localidades teoricamente proibidas
para vôos com origem ou destino no Aeroporto de
Congonhas. Nos dois casos, o vôo foi repartido
em dois e a escala transformada numa espécie
de conexão pro forma. Na ida e na volta, não
foi preciso descer do avião para fazer conexão.
Aliás, atenção fumantes: nesta
nova modalidade de conexão, não é
permitido descer do avião.
Para saber se será preciso trocar ou não
de aeronave basta conferir a duração estimada
da conexão. Se for de 30-40 minutos, são
grandes as chances de o passageiro não precisar
sair do avião.
“Agora só vou fazer esse vôo de
Congonhas para Salvador”, disse o produtor de
eventos Fernando Abrão, de 25 anos, durante uma
conexão pro forma no Aeroporto Tom Jobim, o Galeão,
no Rio. Apesar de revoltado por não poder descer
do avião para fumar, Abrão gostou de descobrir
que a parada seria “relâmpago”. “Moro
a 15 minutos de Congonhas, optei pelo vôo com
conexão porque ia gastar o mesmo tempo ou mais
no trânsito pra Cumbica. Fora os R$ 100 de táxi
só para ir”, conta Abrão, que viaja
com regularidade para o Nordeste.
Nessa de repartir um vôo em dois para driblar
a restrição, as companhias embaralharam
as definições de conexão e escala.
A confusão começa na mensagem de texto
enviada para o celular: “TAM confirma e-ticket,
vôo JJ 3315 SSA/CGH (Salvador/Congonhas).”
Nenhuma menção ao segundo vôo ou
ao destino intermediário, no caso Confins, em
Minas.
Até a tripulação faz confusão.
Antes da chegada a Confins, questionada se haveria troca
de avião, uma comissária disse que não.
O comandante foi na mesma linha. Após a conexão,
na mensagem de boas-vindas aos passageiros do segundo
vôo, veio o ato falho. Em vez de “daremos
início ao vôo”, o comandante avisou:
“Daremos prosseguimento ao vôo.”
O passageiro fica sabendo que não haverá
troca em cima da hora. Como num teatro bem ensaiado,
na chegada a Confins, onde seria feita a troca de avião
na volta de Salvador, o comandante se despediu dos passageiros
e deu as instruções de praxe. Só
segundos antes da abertura das portas, quando todos
já estavam de pé, é que veio a
instrução: “Passageiros em conexão
para Congonhas permaneçam a bordo.”
O Estado de São Paulo
04/11/2007
Empresa não muda
nem aviso pelo alto-falante
Passageiro que voou para Cuiabá
afirma que ‘conexão’ em Rio Preto
é ‘subterfúgio’ da TAM
No vôo de terça-feira com destino a Cuiabá
e “conexão” em São José
do Rio Preto, em nenhum momento os funcionários
da TAM tentaram disfarçar o expediente usado
pela companhia para driblar a portaria que impede trajetos
longos, partindo do Aeroporto de Congonhas. Pelo contrário.
No salão de embarque, uma funcionária
da TAM anunciava pelo sistema de som: “E atenção
para a chamada para o vôo 3740 com destino a São
José do Rio Preto, Cuiabá, Sinop, Alta
Floresta, Ji-Paraná e Vilena. Embarque iniciado
no portão de número 15.” Nenhuma
menção sobre conexão em Rio Preto.
Os destinos após Cuiabá seriam operados
por outras empresas.
Até os passageiros estranharam a possibilidade
de voar para destinos não permitidos pelo Conselho
Nacional de Aviação (Conac). “Eles
falam em uma conexão que não existe”,
disse o pecuarista Ovídio Brito, de 33 anos,
que vai pelo menos uma vez por mês para Cuiabá.
“A gente nem saiu do avião!”
O engenheiro paulistano Sérgio Kato, de 33 anos,
que mora em Cuiabá, disse ter percebido que a
“conexão” em Rio Preto era um “subterfúgio”
da companhia. “A agência de turismo (onde
ele comprou o bilhete) disse que, havendo escala, o
vôo é permitido. Eu duvidei, mas para mim
é melhor sair de Congonhas”, disse Kato.
Quando está em São Paulo, ele se hospeda
na zona oeste, mais perto de Congonhas que de Cumbica.
“Comprei o bilhete pensando que sairia de Guarulhos
e achei esquisito quando me informaram que o avião
partiria de Congonhas”, disse o comerciante Airton
Gurgacz, de 50 anos, que, de Cuiabá, seguiria
até Ji-Paraná (RO). Mas ele disse não
estranhar. “Os caras são sabidos, sempre
descobrem um jeitinho. Aqui vocês chamam isso
de malandragem. Lá na Amazônia, chamamos
de jiriquita.”
A notícia de que não é permitido
descer do avião na conexão, como ocorreu
no vôo de terça-feira da TAM entre Salvador
e São Paulo, deixa alguns passageiros revoltados.
Com medo de ficar uma hora dentro do avião -
tempo de duração das supostas conexões
-, a professora Sônia Maria Silva, de 54 anos,
irritou-se com a TAM. “É um absurdo não
poder descer do avião, ter de ficar aqui no meio
da limpeza. Essa crise aérea não resolve
nunca.” Para acalmá-la, o comandante prometeu
que a conexão não passaria de 30 minutos.
Desconfiada, Sônia cronometrou. Em menos de 35
minutos o avião estava decolando.
O Estado de São Paulo
04/11/2007
Governo ainda diverge sobre restrições
Zuanazzi, antes de deixar a Anac, admitiu que decisão
era ‘política’
Mariana Barbosa
Dois meses depois de estabelecerem restrições
operacionais ao Aeroporto de Congonhas, as autoridades
responsáveis pelo setor aéreo ainda divergem
sobre quais os objetivos das medidas. Procurado, o Ministério
da Defesa informou que não havia diretores disponíveis
para dar entrevista. Informalmente, porém, a
Assessoria de Imprensa alegou que a idéia era
“desafogar o tráfego do aeroporto”,
referindo-se ao fim das conexões. Sobre a limitação
das viagens a uma distância de mil quilômetros,
a justificativa apresentada foi a segurança.
O vice-presidente da TAM Paulo Castello Branco, diz,
com certa ironia, desconhecer a justificativa das restrições.
“Também estou querendo saber. Neste País,
só se tira, não se leva nada. Não
adianta tirar a conexão de Congonhas, se você
não põe alternativa no lugar. Guarulhos
está caminhando para a saturação.
O grande gargalo é de infra-estrutura.”
Dois dias antes de renunciar ao cargo, o ex-presidente
da Anac, Milton Zuanazzi conversou com o Estado e disse
que o objetivo da restrição de mil quilômetros
não era “desafogar Congonhas”. Falou
inicialmente que a medida envolvia uma questão
de segurança, mas, em seguida, admitiu: “É
uma decisão política do Conac (Conselho
Nacional de Aviação Civil).”
Para o professor de Transporte Aéreo da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Respício do
Espírito Santo Junior, “a regra é
inócua”. “As companhias estão
dentro da lei.” Ele lembra uma disputa similar
ocorrida na década de 70 com a companhia SouthWest,
em Dallas (EUA). Para estimular o uso de um novo aeroporto
fora da cidade, o governo limitou as operações
da SouthWest em Love Field, aeroporto central. A companhia
“quebrou” o vôo em duas etapas e passou
a fazer conexões relâmpago. “A Suprema
Corte deu ganho de causa para a SouthWest”, diz
Respício. “O mesmo aconteceria aqui.”
O próprio Rolim Amaro, fundador da TAM, forçou
a abertura de Congonhas para vôos para outras
capitais, aproveitando-se de brechas legais. Na década
de 90, quando o aeroporto estava limitado à ponte
aérea e a vôos para o interior, Rolim obteve
vôos para Brasília, com escala em Ribeirão
Preto.
O Estado de São Paulo
04/11/2007
'É preciso pensar,
não agir de rompante'
Professor diz que autoridades
agem de forma reativa e emocional e não pensam
no futuro
Mariana Barbosa
Professor de Transporte Aéreo da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Respício do
Espírito Santo Junior não compartilha
do entusiasmo do ministro da Defesa, Nelson Jobim, que
estabeleceu o dia 1º de março como marco
do fim da crise no setor aéreo. “Foram
sete anos de contingenciamento e investimentos errados.
Você não resolve isso em um ano.”
Cético com relação a uma solução
de curto prazo, Respício critica as autoridades
do setor por agir de forma reativa e emocional. Em entrevista
concedida ao Estado, ele observa que não foram
apresentados argumentos técnicos ou econômicos
para justificar as limitações ao aeroporto
paulistano.
O que o senhor acha das restrições
de vôo em Congonhas?
Qualquer interferência precisa ser justificada,
com argumentos econômicos e técnicos. Os
motivos técnicos de restringir vôos de
mais de mil quilômetros, eu desconheço.
Se você não consegue justificar tecnicamente,
fica uma decisão política, o que é
péssimo. Por isso, as companhias começam
a driblar as regras. Elas investem milhões de
dólares em aeronaves, pensando numa política,
e a regra muda da noite para o dia. São medidas
que não servem para nada, não são
previamente estudadas. A regulação no
setor não é racional, é reativa
e emocional.
Mudou alguma coisa com a nomeação
do ministro Nelson Jobim?
Já era assim na época dos militares,
criticados por não justificar suas medidas. A
agência civil, o Ministério da Defesa,
é tudo a mesma coisa. É preciso parar
para pensar, não dá para agir de rompante.
Restringiu-se em mil quilômetros com base em quê?
Por que mil é bonito? E 950 ou 1.500?
O sr. acha que o governo deveria definir
uma vocação para Congonhas, como, por
exemplo, vôos a negócios. Seria uma saída?
Não, privilegiar o passageiro de negócios
não é uma justificativa econômica.
Todos são iguais perante a lei, o turista e o
empresário. Um exemplo de boa justificativa econômica
foi a transferência de vôos fora da ponte
aérea do Santos Dumont para o Galeão.
Havia capacidade ociosa no Galeão. Em Guarulhos,
não há capacidade ociosa. E para jogar
o tráfego para Campinas há um custo social
de deslocamento, sem falar no custo ambiental.
O ministro Jobim provocou polêmica
ao exigir das companhias que aumentem o espaço
entre as poltronas. O que o senhor acha disso?
No mundo inteiro a configuração interna
do avião é de responsabilidade da companhia.
Com emoção não se raciocina. Daqui
a pouco vão exigir a volta das poltronas executivas
nos vôos domésticos. Uma coisa é
o passageiro reclamar, outra coisa é a autoridade.
A mudança na Anac e a criação
da Secretaria de Aviação Civil vão
resolver a falta de comando?
Só uma diretoria técnica e competente
na Anac não resolve. Continua faltando planejamento
integrado. A Infraero só olha para os aeroportos,
a Anac só cuida de fiscalizar - quando fiscaliza
- e a Aeronáutica só olha para o controle.
Do jeito que a secretaria foi estruturada, não
muda nada. Estou cético. A secretaria foi pensada
para arrumar a casa e não para pensar no longo
prazo.
Mas também era preciso arrumar a
casa, não?
Para fazer o que estão fazendo não precisava
de secretaria. Tem uma diretoria para olhar a Infraero,
outra para a Anac, outra para o espaço aéreo.
Você tem diretorias dentro da secretaria, pois
não confia nos outros braços. É
absurdo. Para que serve a Anac se tem uma diretoria
que cuida dela? É o órgão para
supervisionar o órgão. Se a estrutura
é ineficaz, tem de acabar com a estrutura antiga.
E como fazer isso?
É preciso fazer um estudo sobre as atribuições
de cada um e acabar com as sobreposições.
Não se sabe quem manda. A Anac, teoricamente,
tem de regular e fiscalizar os aeroportos e a Infraero
administrá-los. Ela não pode meter o dedo
no controle do espaço aéreo. Mas aí
tem problema em aeroportos com base aérea. Não
se sabe quem manda. A aviação está
fragmentada. Agora tem outra fragmentação,
na Defesa. Em vez de reduzir o número de caciques,
aumentaram.
A crise vai acabar em março do ano
que vem, como prevê Jobim?
No dia 1º de março começa a baixa
temporada. Na baixa, tudo melhora. Até a próxima
temporada. De novo, o culpado é o crescimento
econômico, como disse lá atrás o
ministro Guido Mantega. A culpa é do passageiro
que quer viajar.
Quanto tempo vai levar?
A crise aconteceu porque ao longo de 6, 7 anos o investimento
foi contingenciado e muito do que foi investido foi
em cima de decisões erradas. Não vai ser
em um ano que vamos resolver o problema.
Folha de São Paulo
03/11/2007
Em crise financeira, BRA precisa
de US$ 30 milhões
Funcionários da empresa
temem por demissões
MAELI PRADO DA REPORTAGEM LOCAL
A BRA, em crise financeira e com problemas para pagar
fornecedores, precisa de cerca de US$ 30 milhões
para voltar a operar no azul. Segundo a Folha apurou,
a companhia aérea vem mantendo teleconferências
diárias com o grupo de fundos que investiu na
empresa, em 2006, na tentativa de conseguir um novo
aporte.
A companhia tinha 4,6% dos vôos domésticos
em setembro deste ano, mas a perspectiva é de
queda, já que uma nova malha foi apresentada
à Anac (Agência Nacional de Aviação
Civil), que regula o setor aéreo. Os vôos
serão adequados à sua frota de aviões,
reduzida de 10 em operação para 5 após
o início das dificuldades financeiras. Bancos
que haviam se comprometido a fornecer crédito
para a companhia voltaram atrás, e a BRA ficou
sem capital de giro.
Um dos fundos de maior participação na
empresa, o Darby Investments, vem liderando as conversas
com a empresa, segundo fontes próximas às
negociações. No final do ano passado,
a Brazil Air Partners, que tem sócios como a
Gávea, administradora de recursos do ex-presidente
do Banco Central Armínio Fraga, entre outros
fundos de investimento, anunciou a compra de parte da
BRA. A entrada dos fundos foi divulgada, à época,
como o início de uma gestão profissional.
Consultores foram contratados pelos novos investidores,
mas tiveram dificuldade em conseguir informações
e fazer mudanças na empresa por causa da resistência
do ex-presidente Humberto Folegatti, que teve a saída
confirmada na última quinta-feira. Especialistas
afirmam que os fundos chegaram a investir cerca de US$
70 milhões, mas tinham relação
difícil com Folegatti, que mantém o controle
acionário da companhia.
Para tentar conter a crise, a empresa também
estaria preparando um corte de funcionários.
Diversos empregados da BRA receberam ligações
durante a última semana, para comparecer a uma
reunião na segunda-feira, às 10h, na sede
da empresa, em São Paulo.
De acordo com uma comissária de bordo, que não
quis se identificar, os rumores são de que entre
60 e 100 funcionários serão cortados.
Ela conta que foi contratada em setembro, mas há
dez dias não é mais escalada para nenhum
vôo. "Toda turma que entrou comigo, cerca
de 30 pessoas, está na mesma situação.
O clima está bem pesado na empresa."