:::::RIO DE JANEIRO - 04 DE OUTUBRO DE 2006 :::::

 

O Estado de São Paulo
04/10/2006
Legacy enganou controle aéreo e ignorou alertas pelo rádio
Transponder do jato fabricado pela Embraer voltou a funcionar após choque com Boeing
Aeronáutica quer saber por que depois da colisão o piloto retomou uso do rádio
Suspeita de crime coloca Polícia Federal no caso
Pilotos tiveram passaportes apreendidos
Caixa-preta do avião da Gol será enviada ao Canada

Marcelo Godoy, Tânia Monteiro

Os peritos da Aeronáutica não têm dúvidas de que o jato Legacy enganou os controladores de vôo do Cindacta 1, em Brasília, e provocou a maior tragédia da aviação civil do País: a queda de um Boeing da Gol, na sexta-feira, que matou 155 pessoas. Todas as informações da Aeronáutica mostram que os pilotos americanos do Legacy voaram com o transponder desligado - aparelho que identifica o avião no radar e integra o sistema de alerta anticolisão -, impedindo que os controladores de vôo vissem os dois aviões na mesma rota e evitassem a colisão.

Mais grave e misterioso: a Aeronáutica quer saber por que o piloto do jato não atendeu aos inúmeros chamados que a torre do Cindacta 1 fez até o momento do choque. Quer saber também como, após a colisão, não só o transponder voltou a funcionar como o piloto passou a chamar a torre, narrando o choque com um objeto não identificado pelo mesmo rádio que não havia atendido até então. 'Muito provavelmente, ele havia diminuído o volume do rádio. Ele (o avião) começou a ser chamado pela torre de Brasília e não respondia. A resposta veio, como por milagre, após o impacto', disse um oficial.

A Aeronáutica fez uma reconstituição dos vôos das duas aeronaves envolvidas na colisão para verificar possíveis falha de cobertura dos radares ou na comunicação das torres de controle. Não detectou nada de errado. Depoimentos colhidos revelam ainda que o transponder do Legacy estava ligado quando o jato levantou vôo em São José dos Campos (SP) rumo a Manaus. Assim, as investigações encaminham para o enquadramento do piloto do Legacy, Joe Lepore, e do co-piloto, Jan Paul Palladino, por homicídio culposo, caso fique provado que agiram com imprudência.

Segundo os peritos, sem o transponder do Legacy ligado, o sistema anticolisão do Boeing não tinha como registrar a aproximação do jato. Nem os operadores de vôo tinham como verificar a posição exata da aeronave. O radar indicava que o Legacy estava a 36 mil pés de altitude (10.972 metros), daí porque, apesar de o jato não responder aos chamados da torre, os operadores não decidiram desviar o Boeing, que vinha a 37 mil pés (11.277 m). A localização do jato estava distorcida por causa do transponder desligado.

Para entender por que isso ocorreu é preciso saber como os aviões são controlados pelos radares. Há a detecção primária. Por meio dela, qualquer objeto voador é acusado pelo radar. Quando mais distante do radar, maior a distorção na localização da aeronave. O Cindacta-1 de Brasília controlava o Legacy, que sobrevoava a divisa entre Mato Grosso e Pará.

Existe ainda o sistema secundário de radar. É ele que se comunica com o transponder para receber a posição exata e a altimetria do avião. Sem que o sistema esteja ligado, o avião não deixa de aparecer para a torre. Mas a identificação some e a localização perde exatidão.

Os registros dos radares mostram que o transponder do Legacy foi desligado pouco antes da colisão. E religado depois, antes do pouso na Base Aérea do Cachimbo (PA). Também mostram que o Legacy, enquanto ainda estava sendo monitorado pelo radar secundário, voava a 37 mil pés, mesmo depois de passar por Brasília. Ao decolar de São José, o jato recebeu o plano de vôo, assinado pelo piloto, que indicava que devia viajar a 37 mil pés passando pelo eixo São Paulo-Brasília e, então, descer para 36 mil pés.

Isso é obrigatório por causa da mudança de proa - sentido da aeronave - ao entrar no trecho Brasília-Manaus. Na rota Manaus-Brasília, a altitude de 37 mil pés é o espaço usado pelos aviões que vêm no sentido contrário, como o Boeing.

A Aeronáutica quer saber o que desligou o transponder. Pode ter sido decisão do piloto ou pane, o que é pouco provável. O equipamento tem cinco posições: desligado, stand by e os módulos A,B e C. Só neste último o transponder envia ao controle de vôo os dados de altimetria. Suspeita-se que o piloto o desligou para fazer manobras não-autorizadas com o jato recém-adquirido pela empresa de táxi aéreo ExcelAire ou ganhar altitude e velocidade a fim de economizar combustível.

COMUNICAÇÃO

Outro fator que pode ter contribuído para o acidente é uma improvável falha de comunicação. A regra é cumprir o plano de vôo. Para alterá-lo, é preciso pedir autorização. Assim, a torre entendia que o Legacy não ia descumpri-lo. Ele estaria em sua aerovia e não havia por que avisar ao Boeing sobre a existência de alguém em sua rota.

Só depois que percebeu o transponder do Legacy desligado é que o controle tentou contato com o jato, para pedir que ele religasse o aparelho. Ao depor, Lepore teria dito que estava fora da cabine do avião.

Técnicos da Aeronáutica rejeitaram suposições de haver um ponto cego no monitoramento de tráfego. Na fita do controle do tráfego aéreo pode ser visto outro avião, da TAM, na mesma rota. Há anomalias na comunicação por rádio na área do acidente, mas insuficientes para impedir o contato do Cindacta com as aeronaves.

 

 

O ESTADO DE S.PAULO
04/10/2006
Comandante pode não ter habilitação para Legacy
Adriana Carranca

A empresa de táxi aéreo ExcelAire informou ontem que os funcionários Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, que comandavam o Legacy quando o avião colidiu com o Boeing da Gol,matando 155 pessoas na sexta-feira, têm licença de pilotos de vôos comerciais e ambos estão habilitados para comandar aeronaves Embraer. Nos registros da Federal Administration Agency (FAA), a agência americana de aviação, no entanto, não consta a habilitação de Lepore, piloto da aeronave, para aviões da Embraer.

A informação foi passada ao Estado pelo porta-voz da FAA, Les Dorr. Segundo os registros, Lepore tem o chamado type rating, tipo de habilitação exigida pelo regulamento de aviação americano para aeronaves Cessna e Gulfstream. Só Paladino, co-piloto do Legacy, possui a habilitação para Embraer. Mas a legislação americana exige tal certificação do piloto. 'Normalmente, o piloto que detém a type rating estaria no comando da aeronave, e o outro, como co-piloto', explicou Dorr. 'Mas não podemos especular sobre nada nesse momento. Isso será considerado nas investigações.'

Door informou que existe a possibilidade de o piloto ter obtido a habilitação de Embraer 'muito recentemente', não constando ainda no registro da FAA. O Estado solicitou à empresa que enviasse cópia da habilitação de Lepore, mas, até as 23 horas, não havia recebido retorno.

Os dois, de acordo com a FAA, têm licença como pilotos de transporte aéreo, que seria o mais alto grau de qualificação que um piloto pode obter, exigido para capitão de vôos. Mas, de acordo com especialistas da Flight Safety Foundation (FSF), organização não-governamental na área de segurança em aviação, ainda assim, no caso do Legacy, o piloto deve seguir o regulamento, que exige a habilitação específica.

'Os pilotos do Legacy são fundamentais na investigação. Acho um erro do governo brasileiro ameaçá-los. Pela lei americana, eles não seriam obrigados a falar antes de terminadas as investigações', disse o vice-presidente da FSF, Bob Vanel. A ExcelAire informou que Lepore é piloto comercial desde 1984, com 8 mil horas de vôo, e Palladino, desde 1996, e tem 6.400 horas de vôo.

Procurada pelo Estado, a porta-voz da ExcelAire, Lisa Hendrickson, não quis comentar os rumores de que os pilotos teriam desligado o transponder, equipamento que identifica a aeronave para os radares, ou sobre a possibilidade de a Justiça brasileira pedir sua prisão.

 

 

Folha de São Paulo
04/10/2006
"Foram os 30 minutos mais assustadores da minha vida"

Joe Sharkey, repórter do "The New York Times" que estava no jatinho que se chocou com o Boeing da Gol, conta em artigo como foi o acidente
JOE SHARKEY DO "NEW YORK TIMES"

ERA UM VÔO confortável, sem sobressaltos.
Com as cortinas fechadas, eu estava relaxando em minha poltrona de couro, a bordo de um jato executivo de US$ 25 milhões que voava 11 quilômetros acima da vasta floresta tropical amazônica.

As sete pessoas que ocupavam o jato com capacidade para 13 passageiros estavam repousando, sem conversas.

De repente, senti um terrível abalo e ouvi um estrondo alto, seguido por um silêncio perturbador. Apenas o zumbido das turbinas era audível.

E então as duas palavras que nunca vou esquecer: "Fomos atingidos", disse Henry Yandle, um passageiro que estava sentado na poltrona do corredor perto da cabine de pilotagem do Embraer Legacy 600.

"Atingidos? O que nos atingiu?", eu imaginei. Ergui a cortina. O céu estava claro, o sol começava a cair. A floresta se estendia interminável. Mas lá, na ponta da asa, vi os destroços, mais ou menos um metro de metal retorcido, na posição em que o winglet, de um metro e meio, costumava estar.

E assim começaram os 30 minutos mais assustadores da minha vida. Nos dias que se seguiram, ouvi de muita gente que ninguém sobrevive a uma colisão aérea.

Eu tive muita sorte por ter sobrevivido e só descobriria mais tarde que os 155 passageiros a bordo de um Boeing 737, que fazia uma rota doméstica e nos havia atingido, não tiveram a mesma sorte.

Os investigadores de acidentes ainda estão tentando descobrir o que aconteceu exatamente. Nosso jato, bem menor, se manteve no ar enquanto o Boeing 737, mais longo, largo e mais de três vezes mais pesado, despencou do céu em mergulho vertical.

Mas às 15h59 da última sexta-feira, tudo que eu conseguia ver, tudo que eu sabia era que parte da asa havia desaparecido. E estava claro que a situação piorava rapidamente. A parte frontal da asa estava perdendo rebites, e o revestimento metálico estava sendo arrancado da estrutura.

Para meu espanto, ninguém entrou em pânico. Os pilotos começaram calmamente a examinar os controles e os mapas, à procura de um aeroporto nas imediações, ou a olhar pela janela em busca de um local para um pouso de emergência.

Mas os minutos se passavam, e o avião continuava a perder velocidade. Àquela altura, todos sabíamos o quanto a situação era ruim. Eu imaginava o quanto uma aterrissagem forçada, eufemismo otimista para queda, poderia doer.

Pensei na minha família. Não fazia sentido pegar o celular e tentar ligar, não havia sinal. E enquanto nossas esperanças se apagavam, como o sol, alguns dos passageiros começaram a escrever bilhetes para os cônjuges e familiares e a guardá-los nas carteiras, na esperança de que viessem a ser localizados mais tarde.

Quando o vôo começou, as anotações que me ocupavam eram outras. Escrevo a coluna semanal "On the Road", para a seção de viagens de negócios do "The New York Times", há sete anos. Mas minha presença a bordo do Embraer 600 era um trabalho freelancer, para a revista "Business Jet Traveler".

Meus colegas a bordo incluíam executivos da Embraer e de uma empresa de táxi aéreo chamada ExcelAire, a nova proprietária do jato. David Rimmer, vice-presidente sênior da ExcelAire, havia me oferecido carona de volta aos Estados Unidos no jatinho que sua empresa acabara de receber da Embraer.

E o vôo começou muito bem. Minutos antes do acidente, eu fui à cabine conversar com os pilotos, que disseram que o aparelho estava apresentando excelente desempenho. Eu verifiquei nossa altitude no altímetro: 11 mil metros.

Voltei ao meu assento. Minutos depois veio a colisão (que, descobrimos mais tarde, também havia arrancado parte da cauda da aeronave).

Não tivemos muito tempo para conversar nos minutos que se seguiram ao acidente.

Rimmer, um homem corpulento, estava encolhido no assento diante do meu, observando a asa danificada.

"É muito grave?", eu perguntei. Ele me olhou fixamente e respondeu: "Não sei".

Percebi a linguagem corporal dos dois pilotos. Eram como soldados trabalhando em completa sintonia em uma situação de perigo, exatamente como foram treinados para agir.

Pelos 25 minutos que se seguiram, os pilotos Joe Lepore e Jan Paladino dividiram sua atenção entre os instrumentos e a busca por um aeroporto. Não tiveram sorte.

Enviaram pedidos de socorro pelo rádio, e um avião de carga que voava em algum lugar da região os recebeu. Não houve contato com qualquer outro avião, especialmente com um Boeing 737, no mesmo espaço aéreo.

Então, por entre as copas escuras das árvores, Lepore avistou uma pista de pouso. "Estou vendo um aeroporto", disse.

Os pilotos tentaram contatar a torre de controle do que, mais tarde, descobrimos ser uma base militar escondida nas profundezas da Amazônia. Eles manobraram o avião de maneira suave para evitar qualquer desgaste adicional na asa danificada. Quando se aproximaram mais da pista, conseguiram seu primeiro contato com o controle de tráfego aéreo.

"Não sabíamos qual era a extensão da pista de pouso, ou o que havia nela", diria Paladino, naquela noite, na base de Cachimbo, em meio à selva.

A aterrissagem foi rápida e árdua. Vi o esforço dos pilotos para manter o avião sob controle devido à perda de muitos dos comandos automatizados. Eles conseguiram completar o pouso com boa margem de segurança. Cambaleamos em direção à saída.

"Belo trabalho", eu disse aos pilotos quando passei por eles. Na verdade, inseri uma palavra que não se pode publicar entre "belo" e "trabalho".

"Estamos aqui para isso", disse Paladino com um sorriso de ansiedade.

Mais tarde, naquela noite, jantamos e tomamos cerveja bem gelada, na base militar. Especulamos sem parar sobre o que poderia ter causado o impacto. Um balão meteorológico descontrolado? Um jato de combate abandonado pelo piloto depois de problemas em alguma manobra arrojada? Um jato de passageiros que houvesse explodido nas proximidades, varrendo nosso avião com destroços?

Qualquer que tivesse sido a causa, ficou claro que passáramos por uma verdadeira colisão aérea, aquelas das quais ninguém sobrevive.

Em um momento de humor negro, no alojamento coletivo onde dormimos, eu disse "talvez estejamos todos mortos, e isso seja o inferno, reviver a experiência de virar a noite conversando e tomando cerveja, no dormitório da faculdade".

Por volta das 19h30, Dan Bachmann, executivo da Embraer e o único de nós que falava português, veio à mesa em que estávamos instalados no refeitório e nos contou o que lhe havia sido informado no escritório do comandante. Um Boeing 737 com 155 pessoas a bordo estava desaparecido, exatamente na região em que fôramos atingidos.

Antes daquele momento, nós estávamos brincando, rindo sobre a nossa experiência quase fatal. Éramos os "Sete do Amazonas", sobreviventes improváveis aos quais o tempo que vivíamos não mais pertenciam. Realizaríamos uma reunião anual e contaríamos uns aos outros a que dedicamos nossas vidas. Mas em lugar disso, nós inclinamos nossas cabeças em um longo momento de silêncio, interrompido pelo som de choro contido.

Ambos os pilotos, experientes na condução de jatos executivos, ficaram muito abalados. "Se alguém deveria ter caído, seríamos nós", repetia sem cessar Lepore, 42, de Bay Shore, Nova York.

Paladino, 34, de Westhampton, Nova York, mal conseguia falar. "Estou tentando me conformar com a perda de todas essas pessoas. E dói", disse.

Yandle disse aos pilotos "vocês são heróis, vocês salvaram nossas vidas". Eles sorriram, desanimados. Era evidente que o peso do que aconteceu ficaria com eles para sempre.

No dia seguinte, a base estava repleta de autoridades brasileiras investigando o acidente e dirigindo operações de busca pelo Boeing 737 perdido, o qual um oficial me disse estar em uma área menos de 160 quilômetros ao sul de nós, acessível apenas para desbravadores que abrissem uma picada na selva.

Também pudemos ver o nosso avião, que estava sendo estudado por inspetores. Ralph Michielli, vice-presidente de manutenção da ExcelAire e um dos passageiros do vôo, subiu comigo em um monta-cargas para me mostrar os danos sofridos pela asa, perto do winglet decepado.

Um painel próximo à parte frontal da asa exibia um rombo de mais de 30 centímetros. Manchas escuras perto da fuselagem mostravam um vazamento de combustível. Partes do estabilizador horizontal, na cauda, haviam sido esmagadas, e faltava um pedaço do elevon esquerdo.

Um inspetor militar brasileiro que observava o avião me surpreendeu por sua disposição de conversar, ainda que ele não soubesse muito inglês, e eu, português nenhum.

Ele estava especulando sobre o que poderia ter acontecido e, em resumo, disse o seguinte: ambos os aviões, inexplicavelmente, ocupavam a mesma posição e altitude ao mesmo tempo. Os pilotos do Boeing 737, que voava rumo ao sudeste, avistaram nosso Legacy 600 que voava rumo a noroeste, para Manaus, e conduziram uma frenética manobra de evasão. A asa do 737, varrendo o espaço entre nossa asa e a cauda elevada, nos atingiu duas vezes, e o avião maior então prosseguiu em sua espiral destrutiva.

A situação parecia impossível, reconheceu o inspetor. "Mas acredito que seja isso que aconteceu", disse. Ainda que ninguém ainda saiba ao certo a causa do acidente, três outros oficiais brasileiros me disseram ter sido informados de que ambos os aviões estavam na mesma altitude.

Por que eu, o passageiro mais próximo do impacto, não ouvi o som, o rugido de um grande 737?

Perguntei a Jeirgem Prust, piloto de testes da Embraer. Isso foi no dia seguinte, quando fomos transferidos da base, em um avião de transporte militar, para o comando da polícia de Cuiabá, cidade cujas autoridades têm jurisdição sobre a área de impacto e na qual pilotos e passageiros do Legacy 600, entre os quais eu, seriam interrogados até o nascer do dia por um comandante de polícia e seus tradutores.

Prust pegou a calculadora e saiu fazendo contas, computando o tempo disponível para que eu ouvisse o rugido de outro jato se aproximando, com os dois aparelhos voando a cerca de 800 km/h em direções opostas. Ele me mostrou o resultado: "Uma fração de segundo". Nós dois olhamos para os pilotos, esparramados, em pose deprimida, em um sofá do outro lado da sala.

"Esses caras e aquele avião salvaram nossas vidas", eu disse. "De acordo com os meus cálculos, sim", ele concordou.

Mais tarde imaginei que talvez o piloto do jato de passageiros brasileiro talvez também tenha salvo nossas vidas, devido à rapidez de sua reação. Pena que o mesmo não se aplique às vidas de seus passageiros.

No comando da polícia, fomos solicitados a escrever nossos nomes, endereços, datas de nascimento, ocupações e nível de educação, bem como os nomes de nossos pais. Também fomos submetidos a exame por um médico de cabelos compridos, usando um jaleco branco que lhe chegava quase aos pés. Tivemos de nos despir da cintura para cima, para sermos fotografados de frente e de perfil.

Isso, explicou o doutor cujo nome eu não descobri mas se descreveu como "médico forense", serviria para provar que não fomos torturados "de maneira alguma".

O humor negro voltou, apesar de nossas tentativas para desencorajá-lo.

"Aquele cara é o legista", explicou Yandle mais tarde, acrescentando: "Acho que isso quer dizer que estamos mesmo mortos".

Mas as risadas, não muito animadas, duraram pouco enquanto voltávamos a pensar incessantemente nos corpos ainda perdidos na selva e em como aquelas vidas e as nossas se haviam cruzado, literal e metaforicamente, por uma horrível fração de segundo.

 

 

O Dia
04/10/2006 00:53h
Boeing e jato em rota de colisão no ar
Jornalista americano diz que militares confirmaram que aviões voavam a 37 mil pés


Rio - Em artigo publicado ontem no jornal ‘The New York Times’, o repórter norte-americano Joe Sharkey afirma, com base em informações de autoridades brasileiras, que o jato Legacy-600 e o Boeing 737-800 da Gol voavam a 37 mil pés. “Eu li o mostrador que mostrava a altitude”, lembrou.

Segundo Sharkey, três oficiais da Base Aérea de Cachimbo confirmaram a informação. O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos da Silva Bueno, já havia informado que o plano de vôo do Legacy determinava que o jato ficasse a 36 mil pés — abaixo do que foi visto pelo jornalista americano.

As informações de Sharkey foram dadas por inspetor militar brasileiro. O repórter frisou que o piloto do Boeing, Decio Chaves, viu o Legacy se aproximando de frente e tentou desviar. O jornalista, que estava no jato, conta que não ouviu o 737-800, mas sentiu a batida. Ele detalhou que o avião da Gol teria feito manobra brusca, mas mesmo assim bateu na asa do jato e, em seguida, começou a cair em espiral. “Assim começaram os mais angustiantes 30 minutos de minha vida”, contou.

A tripulação passou desesperadamente a procurar pista ao ver a asa atingida se desintegrar no ar. Já em terra, na Base de Cachimbo, Sharkey elogiou os pilotos Joseph Lepore e Jean Paul Palladino. “Bela pilotagem”. O grupo ainda fez piada na base. “Talvez estejamos mortos e isto aqui seja o inferno”, brincou Sharkey. Henry Yandle, passageiro, foi além — mesmo ao saber da tragédia. “Vocês foram heróis. Salvaram nossas vidas”, destacou. O comentário irritou internautas brasileiros, que congestionaram o fórum de leitores do ‘NYT’. “Senhor Sharkey, e se os seus ‘heróis’ forem considerados culpados?”, postou Jorge Silva.

O Papa Bento 16 enviou mensagem de solidariedade aos familiares das vítimas. Dizendo-se profundamente consternado, ele pede misericórdia divina e eterno descanso para passageiros e tripulantes mortos.

Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), as caixas-pretas do Boeing estão muito danificadas. Foi encontrada apenas parte do registrador de voz. O restante, incluindo a unidade de armazenamento de dados do vôo, essencial para a investigação, ainda não foi localizado. Esses equipamentos serão enviados para análise na sede da Boeing, nos Estados Unidos. A caixa-preta do Legacy e as gravações das torres de controle já estão com comissão de investigação.

APURAÇÃO PRELIMINAR

Apuração preliminar também indica que o Legacy alterou o seu plano de vôo. Ele estaria a 37 mil pés no trajeto entre Brasília e Manaus, mas a Aeronáutica ainda não informou se essa alterção foi autorizada pela torre de comando. O confronto de dados das caixas-pretas do Legacy e do Boeing é fundamental para confirmar esse dado. Mas há a hipótese de que Lepore estivesse testando a aeronave na viagem de entrega aos americanos. Por isso, teria desligado o equipamento anticolisão.

Com o aparelho do jato fora de operação, o Boeing conseguiria identificar a presença de aeronave no seu radar, mas não seria capaz de precisar o posicionamento, segundo especialista. Em depoimento à Polícia Civil do Mato Grosso, Lepore negou o teste. Disse que treinou em equipamento semelhante e voou no jato em São José dos Campos.

Federal vai investigar piloto

A Polícia Federal (PF) participará das investigações sobre o acidente. Segundo o superintendente da PF em Mato Grosso, Geraldo Pereira, será apurada a possibilidade de o piloto Joseph Lepore ter cometido homicídio culposo (não intencional). “Ele não teria tomado os cuidados necessários”, afirmou.

Lepore e o co-piloto Jean Paul Palladino passaram 10 horas, ontem, no Centro de Medicina Aeroespacial (Cemal), na Estrada do Galeão, na Ilha do Governador, fazendo exames médicos e psicológicos. Eles saíram pela porta de trás, escondidos.

A dupla chegou ao Cemal — centro de excelência — às 7h, com membro do consulado e advogado. A avaliação é obrigatória em caso de acidentes. Segundo militares do Cemal, Joseph e Jean estão abalados. Eles colheram sangue, tiraram radiografias e passaram por exames psiquiátricos, neurológicos, visuais e cardiológicos.

Por ordem da Justiça de Mato Grosso, a PF do Rio apreendeu os passaportes dos dois ontem. Eles devem ficar no Brasil até que seja confirmada a autenticidade das declarações prestadas à Polícia Civil, domingo.

PERITOS JÁ TÊM COMO IDENTIFICAR 46

Começaram a chegar, no fim da tarde de ontem, a Brasília, os corpos dos passageiros do vôo 1907 da Gol. O Instituto Médico-Legal do Distrito Federal deverá receber hoje os restos mortais de mais 30 pessoas removidas junto ao que sobrou da cauda do Boeing. A um quilômetro dali, foram encontrados os corpos do piloto Decio Chaves, 44 anos, e do co-piloto Thiago Jordão Cruso, 29. O instituto informou que já reuniu informações para identificar 46 dos passageiros mortos.

A Gol informou ontem que inicialmente liberará R$ 14 mil, do seguro obrigatório, para cada família. A companhia explicou que outros pagamentos estão previstos para o fim das investigações e conforme as ações na Justiça.

As equipes de busca e resgate conseguiram encontrar até o momento os restos mortais de 50 pessoas. Inicialmente, chegou-se a anunciar que seriam 100. Também foram recolhidos no meio da mata documentos de identidade, celulares e outros pertences que poderão ajudar na identificação. Legistas explicam que tais objetos podem ter impressões digitais e agilizar o processo.

Técnicos do IML esperam terminar hoje a coleta de sangue e saliva dos parentes para possível comparação genética. Fichas montadas com dados fornecidos pelas famílias, como tatuagens e cicatrizes, vão ser usados pelos peritos para evitar pedir o reconhecimento visual dos restos mortais dos passageiros. Mais 27 militares reforçaram o resgate na selva, que vinha sendo feito por 85 homens.

 

 

G1
03/10/2006 - 16h29m - Atualizado em 04/10/2006 - 00h35m
"PARTE ESSENCIAL" DAS CAIXAS-PRETAS ESTÁ FALTANDO, DIZ ANAC


A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) divulgou nota na tarde desta terça-feira (3), informando que as caixas-pretas encontradas do Boeing 737-800 estão muito danificadas.

Um avião desse modelo tem duas caixas-pretas (que na verdade são de cor laranja). Uma delas armazena só dados. Foi encontrada, tem muitos danos, mas pode ser analisada.

A outra armazena voz e dados de comunicação. A parte que armazena voz foi achada. A que guarda os dados de comunicação ainda está em algum lugar da selva. Segundo a Anac, essa parte que falta "é essencial para a análise, e continuam as buscas por ela na Serra do Cachimbo (MT)".

A nota oficializa ainda a formação da Comissão de Investigação sobre o acidente. O presidente é o coronel-aviador Rufino Antonio da Silva Ferreira, da Anac.

A comissão designou seis membros fixos, que investigam os fatores operacional, material e humano relacionados ao acidente. Também participam representantes dos fabricantes das aeronaves e dos motores, especialistas da Anac e do Comando da Aeronáutica, além de representantes internacionais. A comissão tem 90 dias para apresentar relatório sobre a causa do acidente, prazo que pode ser prorrogado.

A caixa-preta do Legacy, o jatinho que bateu no Boeing, também já está sendo avaliada. Mas seu conteúdo só será revelado depois de as informações serem cruzadas com as das caixas-pretas do Boeing, de acordo com a Anac.

 

 

G1
03/10/2006 - 20h47m - Atualizado em 03/10/2006 - 21h19m
"FOI UMA BATIDA SECA E BREVE", DIZ ESPECIALISTA
Alessandro Greco, do G1, em São Paulo


Um dado que pode indicar a causa do acidente com o Boeing 737-800 da Gol na última sexta-feira (29/9) é o formato da asa do jatinho Legacy -- que bateu no avião maior, mas conseguiu aterrissar.

Na opinião de Moacir Duarte, especialista em acidentes, a batida "foi uma batida seca e breve, pois a asa está intacta. Caso contrário, ela estaria destruída".

Duarte, que é pesquisador da Coppe-UFRJ, a Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, faz sua análise com base nas fotos do Legacy divulgadas no domingo (2) pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Nas fotos, é possível ver um detalhe do "winglet", o pedaço que fica no final da asa, parafusado a ela e com o bico virado para cima.

"Se o contato entre ele [o 'winglet'] e o Boeing fosse prolongado, haveria uma deformação na asa do Legacy e isso aparentemente não ocorreu", disse ao G1.

Na opinião de Duarte, o mistério de por que o Boeing caiu -- e não o Legacy -- começará a ser desvendado na hora em que for achado também o pedaço do avião da Gol que foi atingido pelo "winglet" do pequeno jato. "É preciso encontrar o destroço com o corte seco. Com ele, mais as duas caixas-pretas, será possível reconstituir o que aconteceu."

Outra questão que precisa ser respondida é: houve uma ou duas colisões? Há duas avarias no Legacy, uma no "winglet" e outra no estabilizador, o pedaço que fica sobre a cauda do avião.

O número de batidas pode ser descoberto pelo depoimento dos pilotos, cujo teor ainda não foi divulgado.

 

 

Globo Online
03/10/2006
às 20h55m
PF vai participar das investigações sobre a queda de avião da Gol
Bernardo de La Peña (enviado especial), Jaílton de Carvalho e Martha Beck - O GloboTV GloboCBNO Globo Online

Dois membros da Força Aérea Brasileira carregam a caixa-preta do Boeing 737-800 da Gol, encontrada entre os destroços do avião - Foto: Divulgação/Força Aérea Brasileira

BRASÍLIA, CUIABÁ e PEIXOTO DE AZEVEDO (MT) - A Polícia Federal vai participar das investigações sobre a queda do Boeing 737-800 da Gol. Segundo o superintendente da PF no Mato Grosso, Geraldo Perreira, a pedido do Ministério Público Federal (MPF), a PF vai instalar, nesta quarta-feira, um inquérito para apurar se foi cometido o crime de homicídio culposo pelo piloto americano Joseph Lepore, que conduzia o Legacy 600 que colidiu com o Boeing da Gol quando as duas aeronaves sobrevoavam a divisa entre os estados de Mato Grosso e do Pará. O acidente provocou a queda do avião da Gol e a morte das 155 pessoas que estavam na aeronave.

Nesta terça-feira, foram encontrados os corpos do piloto e do co-piloto da Gol . A Aeronáutica informou que já foram localizados cerca de 50 restos mortais, e não 100 como fora informado segunda-feira. Os dois primeiros corpos de vítimas do acidente chegaram no fim da tarde a Brasília. Os corpos serão levados para exame no Instituto Médico Legal, onde aguardarão identificação.

Segundo Geraldo Perreira, a investigação da PF servirá para apurar se Lepore, como pessoa habilitada, tomou alguma medida na condução da aeronave que poderia colocar em risco a vida das pessoas.

- Nós apuraríamos homicídio culposo por parte do piloto (Joseph Lepore). Ele não teve intenção de matar, mas não teria tomado os cuidados necessários como pessoa especializada. Vamos investigar o que houve. Isso é igual a um acidente de trânsito - afirmou o superintendente da PF.

PF apreende passaportes de pilotos do Legacy

Perreira informou que o MPF foi o responsável pela requisição da instauração do inquérito e que a apuração do caso pode passar a PF, porque crimes cometidos em aeronaves são de competência do órgão. Ele disse ainda que vai requisitar à Polícia Civil do Mato Grosso, que já investiga as causas e os eventuais responsáveis pela queda, cópias dos depoimentos tomados dos passageiros e da tripulação do Legacy, além dos laudos das perícias que já foram feitas.

A Polícia Federal também apreendeu na tarde desta terça os passaportes do piloto e do co-piloto do Legacy, Joe Lepore e Jean Paul Paladino. Os documentos foram retidos logo após os exames médicos realizados nesta terça-feira no Centro de Medicina Aerospacial, na Ilha do Governador, Rio de Janeiro. A decisão de apreender os documentos de viagem dos dois americanos foi tomada pelo juiz Tiago Souza Nogueira de Abreu, titular da comarca de Peixoto de Azevedo (MT), município onde caiu o avião da Gol. Os exames são de rotina, realizados para testar a capacidade física e psicológica dos pilotos e devem ser renovados anualmente ou em caso de acidente.

Novas informações recolhidas pelos órgãos do governo encarregados da investigação das causas da queda do avião revelam fortes indícios de que o Legacy, pilotado por Lepore, pode ter contrariado orientação da torre de comando da Aeronáutica, na decolagem em São José dos Campos (SP), permanecendo na rota do Boeing. Esse comportamento pode explicar as causas do acidente que matou 155 pessoas, informa reportagem publicada pelo jornal "O Globo" nesta terça-feira.

Técnicos americanos vão acompanhar investigação

O Comando da Aeronáutica confirmou que um controlador de vôo que trabalhava numa das torres responsáveis pelo monitoramento dos aviões que se chocaram foi afastado para a realização de exames psicológicos , mas esclareceu que o procedimento é padrão em casos de desastres aéres e, por isso, não é correto dizer que o controlador foi afastado do seu cargo.

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou nesta terça-feira que os representantes do governo americano que vão acompanhar os trabalhos de investigação do acidente envolvendo o Boeing 737-800 da Gol já chegaram ao país. Eles estão no Rio de Janeiro desde a tarde desta terça. Entre os representantes da equipe internaccional estão um técnico da Federal Aviation Administration (FAA), a agência de aviação americana, e três técnicos do Nacional Transportation Safety Board (NTSB). Também participam do trabalho, como observadores, representantes da Boeing e da Embraer, fabricante do Legacy que colidiu com o avião da Gol.

Papa Bento XVI envia mensagem de solidariedade

Ainda segundo a Anac, as duas caixas-pretas do Boeing 737-800 da Gol já estão em posse da comissão de investigação do acidente. No entanto, elas estão muito danificadas. Foi encontrada apenas uma parte do registrador de voz. O resto do equipamento, incluindo a unidade de armazenamento de dados, que é essencial para concluir a investigação, continua sendo procurada pelas equipes de resgate que estão na Serra do Cachimbo (MT), onde o avião caiu após colidir com um jato executivo Legacy, na última sexta-feira. A comissão de investigação tem 90 dias para apresentar um relatório com os resultados sobre a causa do acidente, mas o período pode ser ampliado, caso haja necessidade.

Nesta terça-feira, o Papa Bento XVI divulgou uma mensagem de solidariedade às vítimas do vôo 1907.

 

 

 

Estadão
03 de outubro de 2006 - 17:23
PF apreende passaportes de piloto e co-piloto do Legacy
A ordem para a apreensão dos passaportes partiu da Justiça do Mato Grosso
Rodrigo Morais


Os pilotos do jatinho, Lepore (camiseta)
e Palladino (boné)


RIO - A Polícia Federal do Rio de Janeiro apreendeu na tarde desta terça-feira, 3, os passaportes dos americanos Joe Lepore e Jan Paladino, respectivamente piloto e co-piloto do jato Legacy que se chocou com o Boeing da Gol na sexta-feira, no acidente que causou a morte de 155 pessoas.

A ordem para a apreensão dos passaportes partiu da Justiça do Mato Grosso. Lepore e Paladino passaram por exames clínicos, psicológicos e laboratoriais no Centro de Medicina Aeroespacial, na Ilha do Governador, zona norte do Rio, nesta terça. Eles estavam acompanhados por uma representante do consulado americano e um advogado.

 

 

Estadão
03 de outubro de 2006 - 14:00
Corpos de pilotos do Boeing da Gol são encontrados
Os trabalhos de resgate foram reiniciados a partir das 9 horas desta terça-feira
Solange Spigliatti


SÃO PAULO - Os corpos do comandante Decio Chaves Junior e do co-piloto Thiago Jordão Caruso, tripulantes do vôo 1907 da Gol que caiu na última sexta-feira, foram encontrados na manhã desta terça-feira, 3, de acordo com o Centro de Comunicação da Aeronáutica. Os trabalhos de resgate foram reiniciados a partir das 9 horas desta terça-feira em razão das condições meteorológicas na região.

Informada de que os corpos haviam sido encontrados, a Gol manifestou, em nota, o pesar pela perda. "Verdadeiramente vocacionados para a aviação, Decio e Thiago eram dois grandes profissionais, colegas exemplares e modelos para os seus pares. Por tudo isso, a Gol depositava neles toda a confiança e tem certeza absoluta de que fizeram tudo que era possível para salvar a vida de todos os que estavam a bordo do vôo 1907”, diz a nota em nome do comandante David Barioni Neto, vice-presidente técnico da Gol.

O presidente da companhia, Constantino de Oliveira Junior, disse que piloto e co-piloto ficarão na memória da empresa, que sempre se orgulhará da atuação de ambos. “Decio e Thiago são nossos heróis, assim como os comissários que integravam a tripulação. Merecem nossas homenagens e nosso agradecimento eterno. Nunca sairão de nossa lembrança”, afirmou.

Nesta segunda-feira, 2, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos da Silva Bueno, em entrevista coletiva junto com o ministro da Defesa, Waldir Pires, afirmou que cerca de 100 corpos de vítimas da queda do Boeing 737-800 da Gol na selva amazônica já haviam sido encontrados pelas equipes de resgate que devem permanecer no local ainda por uma semana.

O ministro Waldir Pires, porém, evitou fazer uma previsão sobre o dia em que o resgate dos 100 corpos será concluído devido à dificuldade de acesso ao local. "Queremos trazê-los o mais rápido possível", disse o ministro.

Segundo o brigadeiro, os familiares e parentes que estiveram sobrevoando o local do acidente ficaram "impressionados" com a dificuldade da operação de resgate.

Os dois primeiros corpos resgatados no domingo devem chegar nesta terça a Brasília. Eles não tinham documentos que os pudessem identificar, mas as roupas e alguns objetos pessoais que portavam podem ajudar a resolver o problema.

À medida que são resgatados, os corpos são identificados na Base da Serra do Cachimbo, de onde seguem para Brasília, para a identificação definitiva no IML, e entrega aos familiares. Dez legistas já trabalham na identificação. Por suas características e número de vítimas, o acidente foi o mais devastador da história da aviação brasileira.

 

 

Folha Online
03/10/2006 - 13h50
FAB localiza corpos de piloto e co-piloto de Boeing que caiu em MT

Os corpos do comandante Decio Chaves Junior e o do co-piloto Thiago Jordão Cruso, profissionais responsáveis pela condução do vôo 1907, que caiu em uma região de mata fechada em Mato Grosso na última sexta-feira (29), foram encontrados nesta terça-feira, conforme nota divulgada pela própria companhia aérea.

Na nota, o vice-presidente técnico da empresa, comandante David Barioni Neto, disse ter "certeza absoluta de que fizeram tudo que era possível para salvar a vida de todos os que estavam a bordo do vôo 1907". De acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), os corpos dos dois profissionais foram achados dentro da cabine do avião.

Na segunda-feira (2), a FAB (Força Aérea Brasileira), que comanda as operações de busca e resgate dos corpos dos 155 ocupantes do Boeing 737-800, disse ter encontrado cerca de 100 deles na cauda do avião. Grande parte deles foi mutilada. Para chegar ao local, que é de difícil acesso, as equipes tiveram que abrir uma clareira e descer em pára-quedas.

Militares que estiveram no local do acidente são unânimes em dizer que a destruição foi enorme. No domingo (1º), a área em que as buscas serão realizadas foi aumentada de 10 quilômetros quadrados para 20. O resgate dos corpos deverá durar ao menos uma semana.

Somente dois corpos --mutilados-- haviam sido comprovadamente resgatados e armazenados, até esta terça-feira. catalogados, ensacados e enviados de helicóptero para base da FAB montada na fazenda Jarinã, a cerca de 40 km do local da queda do Boeing. Os corpos são mantidos em caminhões frigoríficos e seguirão de helicóptero para Brasília (DF).

Para o diretor do IML de Brasília, José Flávio de Souza Bezerra, que ficará responsável por identificar as vítimas do acidente aéreo, os trabalhos poderão durar até dois anos. Nesta terça, o pai de uma moça morta no desastre, João Mendes Rezende, emocionou-se ao falar sobre o resgate e lamentou a provável demora. "Esperamos que o governo seja o mais ágil possível para aliviar o sofrimento de todos os familiares."

Investigação

O Boeing, que havia saído de Manaus com destino ao Rio, deveria fazer uma escala em Brasília. Ele perdeu contato por volta das 17h de sexta, depois de bater em um jato executivo Legacy fabricado pela Embraer. Os destroços do avião foram encontrados por volta das 9h de sábado, em uma área de mata, a 200 km do município de Peixoto de Azevedo (MT).

Divulgação/Anac

Imagem (acima) mostra Legacy avariado após choque com Boeing; abaixo, aeronave normal
O choque provocou danos na asa do jato Legacy, que conseguiu pousar na base aérea de Cachimbo. A aeronave seguia para os Estados Unidos com sete pessoas --piloto, co-piloto, dois funcionários da Embraer, um jornalista do "The New York Times" e dois funcionários da Excel Aire, empresa que comprou o jato. Todos passam bem.

Em depoimento prestado domingo, os pilotos --que são americanos-- disseram que não viram o Boeing, embora tivessem sentido um pequeno impacto e ouvido um "barulho". Afirmaram, ainda, que os equipamentos da aeronave funcionavam normalmente antes e depois do acidente.

De acordo com o presidente da Anac, o equipamento que sinaliza a presença de outra aeronave em rota de colisão, o chamado TCAS, funcionava normalmente no Legacy.

Para a Polícia Civil de Mato Grosso, a versão dos dois profissionais "soou inverossímil" e há hipótese de homicídio culposo. Neste caso, o piloto e o co-piloto do Legacy e os controladores de tráfego aéreo poderiam ser responsabilizados.

Tanto as caixas-pretas do Legacy quanto do Boeing foram localizadas e estão sendo submetidas a análises. Espera-se que os registros revelem quais problemas provocaram o choque entre as duas aeronaves e a queda.

 

 

O Globo Online
03/10/2006 às 12h59m
Legacy pode ter desobedecido a ordem de torre
CBN - Jaílton de Carvalho, Martha Beck, Bernardo de la Peña e Regina Alvarez - O Globo


PEIXOTO DE AZEVEDO (MT), CUIABÁ e BRASÍLIA - Novas informações recolhidas pelos órgãos do governo encarregados da investigação das causas da queda do Boeing 737-800 da Gol revelam fortes indícios de que o jato Legacy, pilotado pelo americano Joe Lepore, pode ter contrariado orientação da torre de comando da Aeronáutica, na decolagem em São José dos Campos (SP), permanecendo na rota do Boeing. Esse comportamento pode explicar as causas do acidente que matou 155 pessoas na última sexta-feira. Nesta terça-feira, foi retomado o trabalho de resgate dos corpos .

Ainda nesta terça-feira, o piloto e o co-piloto do Legacy realizam exames no Centro de Medicina Aeroespacial na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Joe Lepore e Jean Paul Paladino chegaram ao local no início desta manhã, acompanhados de um advogado e de um representante da Embaixada americana no Brasil. Os exames de rotina são realizados para testar a capacidade física e psicológica dos pilotos e devem ser renovados anualmente ou em caso de acidente. Segundo a assessoria de comunicação do centro, a previsão é de que os resultados fiquem prontos ainda nesta terça.

Na segunda-feira, Justiça do Mato Grosso determinou a apreensão dos passaportes de Lepore e Paladino, para evitar que eles deixem o país antes da conclusão das investigações.

Segundo informações apuradas pelos investigadores, o piloto do Legacy pediu autorização para voar a uma altura de 37 mil pés, a mesma que o Boeing vinha usando desde Manaus, informa reportagem publicada pelo jornal "O Globo" nesta terça-feira. ( clique e leia a íntegra da reportagem no Globo Digital)

No dia do acidente, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou que o Boeing da Gol estava a 36 mil pés - o que contraria a regra do controle de vôo no país. As aeronaves que partem do Norte em direção ao Sul sempre usam rotas ímpares em níveis de vôo, como 35 ou 37 mil pés. Já os aviões que partem do Sul em direção ao Norte utilizam os níveis são pares. Por isso, o Legacy tinha que estar a 36 ou 38 mil pés.

Uma fonte da Infraero esclareceu que uma aeronave pode voar "na contramão" em situações especiais, quando não há tráfego aéreo. Foi o que teria acontecido com o Legacy na primeira etapa de sua viagem em direção a Manaus.

O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, confirmou ontem que o plano de vôo do Boeing estabelecia uma altitude de 37 mil pés e o do Legacy, 36 mil pés. Ele também disse que os dois se chocaram a 37 mil pés.

— O Boeing estava a 37 mil pés e eles e bateram porque o Legacy também estava a 37 mil pés — afirmou o brigadeiro

Na segunda-feira, o Comando da Aeronáutica divulgou nota informando que foram encontradas as duas caixas-pretas do Boeing. Agora, os equipamentos de gravação de voz (voice recorder) e de dados (digital flight data recorder) serão encaminhados à comissão de investigação do acidente para serem analisados. Elas também serão encaminhadas para a sede do fabricante do avião nos Estados Unidos para perícia.

O piloto Joe Lapore disse em depoimento à polícia de Mato Grosso que uma falha no equipamento anticolisão pode ter sido a causa do acidente. Segundo ele, se o equipamento anticolisão estivesse funcionado, "talvez essa tragédia não tivesse ocorrido".

Fontes citadas em reportagem do "Globo" publicada na segunda-feira levantaram a hipótese de ter havido uma falha do controle de tráfego aéreo.

Segundo diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Denise Abreu, uma comissão do órgão regulador do mercado de aviação dos Estados Unidos (National Transportation Safety Board, ou NTSB), chegará ao Brasil nesta terça-feira para acompanhar as investigações da causa do acidente.

Além dos pilotos, estavam no Legacy dois executivos da empresa que comprou o avião, um jornalista americano que estava fazendo uma reportagem sobre a Embraer e dois funcionários da fabricante brasileira.

 

 

Folha Online
03/10/2006 - 03h00
Repórter do "NY Times" relata como foi a colisão com Boeing da Gol

O jornalista Joe Sharkey, repórter do "The New York Times", relata na edição desta terça do diário americano a experiência que ele descreve como uma "colisão com a morte". No relato, em primeira pessoa, o jornalista afirma que o mais surpreendente de tudo é ter sobrevivido ao acidente. Joe Sharkey estava no jato Legacy que teria se chocado com o Boeing 737 da Gol na última sexta-feira.

"Com a janela abaixada, eu estava relaxando numa cadeira de couro a bordo de um jato executivo de US$ 25 milhões, voando acima de imensa floresta amazônica. Sem aviso, senti uma impressionante sacudida e ouvi um estrondo ensurdecedor, seguido por um silêncio assustador. E então ouvi três palavras que jamais esquecerei. 'Nós fomos atingidos', disse Henry Yandle, outro passageiro.", descreve Sharkey.

Depois, Sharkey narra o que chamou de os "30 minutos mais assustadores" de sua vida. "Eu tenho sorte de estar vivo --apenas mais tarde eu soube que as 155 pessoas a bordo do Boeing 737, que provavelmente bateu no nosso, não tiveram a mesma sorte", conta o jornalista.

Sharkey explicou que as autoridades brasileiras continuam tentando entender o que de fato aconteceu e como. "Nosso pequeno jato conseguiu permanecer inteiro enquanto um 737 que é maior e cerca de três vezes mais pesado desabou com o nariz apontado para o chão", escreveu.

"Às 15h59 da última sexta, tudo o que pude ver e tudo o que eu sabia era que parte da asa não existia mais. Surpreendentemente, ninguém entrou em pânico. Os pilotos começaram calmamente a procurar o aeroporto mais próximo em seus mapas e controles".

O jornalista afirma que poucos minutos depois, o jato começou a perder velocidade e os passageiros começavam a imaginar como seria o pouso de emergência. "Pensei em minha família. Não havia sinal para tentar uma ligação pelo celular. E como as esperanças afundavam junto com o sol, começamos a escrever bilhetes para nossas esposas e pessoas queridas, com a esperança de que as notas poderiam ser mais tarde encontradas", conta Sharkey.

"Mais tarde naquela noite, recebemos cerveja gelada e comida em uma base militar. Nós especulávamos interminavelmente sobre o que tinha causado a colisão. Um balão meteorológico? Alguma parte de um avião que explodiu em algum lugar nos arredores? Qualquer que fosse a causa, estava agora claro que nós nos envolvemos em uma batida nos ares em que nenhum de nós deveria ter sobrevivido", escreve Sharkey.

O jornalista afirma que, apenas por volta das 19h30 do mesmo dia, é que ficaram sabendo que um Boeing 737 com 155 pessoas havia desaparecido "exatamente no local" em que eles acreditam que foram atingidos. No dia seguinte, a base militar onde estavam ficou repleta de autoridades brasileiras que investigavam o acidente. Os passageiros e tripulantes do Legacy foram então levados para Cuiabá, onde foram interrogados.