:::::RIO DE JANEIRO - 01 DE ABRIL DE 2007 :::::

 
Foto: Roberto Castro
 
CONSTANTINO JR., fazendo piada no dia da aquisição

"Para os vôos mais longos da Varig, já encomendei
barrinhas de cereal de um quilo".

Revista Isto É Dinheiro
01/04/2007
A Varig é da GOOOOL
Numa manobra ousada, a jovem empresa de Constantino Júnior paga US$ 320 milhões pela marca mais tradicional da aviação
por Daniel Leb Sasaki

A operação não era surpresa. Chegou a ser prevista por analistas de setor e anunciada pela imprensa durante semanas. Ainda assim, quando se confirmou, na quarta-feira 28, sacudiu o mercado. Depois de meses de negociação, a Gol Linhas Aéreas Inteligentes (GLI), holding que controla a Gol Transportes Aéreos, comprou a VRG Linhas Aéreas, operadora da marca Varig, por US$ 320 milhões – a maior aquisição já realizada entre companhias de aviação no País. Em tese, um negócio como outro qualquer. Mas, na prática, é muito mais do que isso: trata-se de um verdadeiro fenômeno empresarial encabeçado por Constantino de Oliveira Júnior, o jovem presidente da Gol. “Juntas, as empresas vão construir o mais importante grupo da aviação brasileira e sul-americana, com forte presença global”, anuncia o empresário. Brincalhão, ele relaxa os ombros em seguida e completa: “No mercado doméstico, manteremos a barrinha de cereal. Para o internacional, já encomendamos uma barra de um quilo”. Constantino tem mesmo motivos de sobra para rir. De uma só tacada, incorporou ao seu grupo o nome mais tradicional na aviação civil brasileira, estruturas de operação prontas, pessoal treinado, slots e espaços em aeroportos disputadíssimos e, o mais importante: abriu as asas da Gol às linhas internacionais de longo curso, uma jóia cobiçada pelas concorrentes.

O que torna mais extraordinária a façanha é a trajetória do empresário e a de sua criação. “A minhoca comeu a sucuri”, compara um consultor com espantosa precisão. Em 2001 (ou seja, há apenas seis anos), a Gol estreava num mercado ainda dominado pelas empresas aéreas tradicionais – Varig, Vasp e Transbrasil – e ambicionado pela dinâmica TAM, na época recém-lançada ao palco internacional. O mineiro Constantino, então com 32 anos de idade, era um completo desconhecido à aviação. Recebido com arrogância pelas dinastias vigentes e rotulado por muitos como aventureiro, ele pretendia fazer frente aos rivais com meia dúzia de aviões, amparando-se no modelo “low-fare, low-cost” (tarifas baixas, custo baixo) de congêneres estrangeiras bem-sucedidas, como Southwest, JetBlue e Ryanair. De sua cabine de comando, via o desafio à frente. Mesmo atormentada pelo fantasma da crise financeira, a Varig ainda reinava absoluta nos céus, com XXX% das rotas domésticas e nada menos que XXX% das internacionais. O que se viu de lá para cá foi um completo redesenho do cenário. Hoje, a Varig ocupa meros 4,5% do mercado, enquanto os seis aviões de Constantino se transformaram numa frota de 67 jatos de última geração, operando para 56 destinos, oito deles no exterior. “Nunca, na história da aviação mundial, uma empresa cresceu tanto, de forma tão sólida, tão avassaladora”, afirma o especialista em aviação Gianfranco Beting.

  O EXEMPLO GOL Filosofia de baixo custo será adotada na Varig

De fato, desde os anos 60, a aviação comercial brasileira não vê transformações tão rápidas, intensas e significativas. E muita coisa ainda mudará daqui para frente. Com a aquisição da “Nova Varig”, é certo que a Gol, que já detém 40,2% do mercado doméstico e 18,9% do internacional, ficará bem mais próxima da TAM, a atual líder. Perigosamente próxima, prevêem alguns analistas. Projeções apontam que a empresa de Constantino vai superar a rival nas rotas internas ainda em 2007. “A TAM está furiosa”, revela um consultor ouvido por DINHEIRO. “Eles não fizeram propostas na Varig para não correr riscos. O Bologna, mais tímido, quis assinar um acordo com a LAN. Só que a Gol foi mais audaciosa e saiu na frente”. Procurada, a TAM se recusou a comentar a compra. “A companhia não vai se manifestar sobre esse negócio”, informou a assessoria de imprensa. De toda forma, a investida de Constantino foi, provavelmente, a melhor alternativa para a Varig. Talvez, a única. Eliminou-se o risco de uma desnacionalização do setor com a entrada da chilena LAN e, também, o do desaparecimento da marca, caso a TAM assumisse o manche. O custo para a Gol foi razoável, levando-se em conta o peso do troféu: US$ 98 milhões (menos de 10% do caixa da empresa), a entrega de 6,1 milhões de ações preferenciais (cerca de 3% do total) e o compromisso de honrar a emissão de R$ 100 milhões em debêntures feita pela VRG.

Que a competição entre as duas maiores aéreas do País ficará mais acirrada é evidente. A grande dúvida é: os consumidores ganham ou perdem com a operação? “Gol e Varig serão mantidas como empresas independentes e o cliente poderá escolher em qual viajar”, garante Constantino. Em comunicado distribuído à imprensa, o empresário explicou que os serviços serão diferenciados e, os públicos-alvo, distintos. O programa de milhagem Smiles será preservado e permanecerá válido somente para trechos voados na Varig. Mas nem todos estão satisfeitos com a resposta. Miguel Bechara Júnior, advogado especializado em direito econômico, defende que um duopólio formado pela TAM e o novo grupo da Gol será lesivo ao consumidor. Juntas, as companhias já dominam quase 90% da aviação. “Não importa o que digam, a Gol não fará concorrência predatória com a Varig, porque as empresas têm capital aberto e precisam apresentar retorno. O que importa a eles é dar lucro, lotar as aeronaves. O governo deveria se interessar em manter a competição entre três ou mais grupos”, diz. Os dois órgãos que têm competência para julgar a concentração de mercado – Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) – não se pronunciaram até o fechamento desta edição.

  NEGÓCIO DA CHINA Chan pagou US$ 20 milhões pela Varig em 2006 e agora vende por US$ 320 milhões

Agora, o primeiro desafio para Constantino é cumprir aspromessas feitas diante do público: recrutar pessoal da Varig (segundo ele, compromisso assumido), dobrar a frota da empresa para 20 Boeing 737 e 14 aviões 767 e retomar as linhas para Londres, Madri, Milão, Paris, Miami, Nova York, Cidade do México, Santiago e Bogotá, abandonadas no ano passado. Isso pode ser mais difícil do que parece. “Eles disseram que trarão as aeronaves, mas não especificaram como as conseguirão. O mercado está aquecido, é difícil conseguir aviões a curto prazo”, diz o consultor entrevistado por DINHEIRO. A Gol precisará resolver esse problema até junho, quando expira o prazo para a Varig operar as rotas em questão.

Num segundo momento, o que Constantino terá que enfrentar é a delicada questão da sucessão das dívidas trabalhistas. Embora tenha anunciado que os credores da Varig concordaram com a venda sem qualquer passivo, Bechara insiste que o débito com os funcionários da empresa velha fica com a Gol. “Ela não pode herdar os ativos e simplesmente esquecer as obrigações. A Justiça do Trabalho, por muito menos, vai em cima“, conta. O advogado condena o que chama de “criação de artifícios jurídicos parta dar o calote nos funcionários” e afirma que, na Justiça, a “Nova Varig” já começava a ser responsabilizada pelos créditos. De acordo com ele, como a Gol tem mais aportes e patrimônio para cobrir as dívidas, terá que acertar as contas. Ou isso, ou a política resolve o impasse. “Roberto Teixeira era o advogado VRG e nunca deixou nenhuma dívida da Varig antiga contaminar a nova”, lembra um analista que acompanha as negociações. “Ele tem uma influência política enorme. Também impedirá que a Gol herde as dívidas”. É esperar para ver.

OCEANAIR GANHA ALTITUDE
VÔO REGIONAL
Hoje, a empresa só tem Fokker (foto) e Embraer.
EBNER, PRESIDENTE
“Não temos interesse na WebJet.”

ROSENILDO GOMES FERREIRA

O empresário German Efromovich, dono da Avianca (sediada na Colômbia) e da brasileira OceanAir tem uma obsessão: tornar-se um dos barões da aviação na América Latina. Um importante passo nesta direção foi dado na quarta-feira 28 com o anúncio da compra de 20 aviões Boeing 787 DreamLiner. O pacote custará US$ 1,5 bilhão e as entregas começam em 2010. “Somos os primeiros clientes dessas aeronaves na América Latina”, conta Carlos Ebner, presidente da OceanAir. Enquanto o DreamLiner não vem, a empresa vai operar com Boeing 767 nas novas rotas para a Cidade do México, Lagos (Nigéria) e Luanda (Angola). Há, ainda, uma expectativa para abertura da linha até Los Angeles, em parceria com a Avianca. São regiões nas quais diversas companhias brasileiras têm filiais, o que, segundo Ebner, justifica todo o investimento do grupo. No Brasil, o executivo pretende desembolsar US$ 20 milhões em novos aviões Fokker 50 e MK-28. A compra da Varig pela Gol, garante ele, não altera em nada os planos da OceanAir de abocanhar 10% do mercado doméstico até 2010. Hoje ela tem menos de 3%. “Já vivíamos uma situação de duopólio e esta transação só agrava esse quadro”, avalia. A aquisição da WebJet, por exemplo, poderia apressar os planos da OceanAir? “Não temos qualquer interesse nesta empresa”, descartou Ebner.

 
Força dupla na aviação brasileira

• A varig tem umafrota composta por 17 aviões
• A participação no mercado doméstico é de 4,5%
• A tradicional companhia voa para 18 cidades
• Fontes do setor apontam um prejuízo mensal de R$ 20 milhões
• A Gol opera com 67 aeronaves. Todas do mesmo modelo
• Em seis anos, alcançou 40,2% do mercado brasileiro
• Os aviões da empresa cobrem 56 destinos
• A aérea lucrou R$ 684,4 milhões em 2006, crescimento de 61,2% sobre 2005

 

R$ 24 milhões é o valor, em dinheiro, que a Gol vai pagar na operação

90% é a participação conjunta de Gol e TAM no mercado

 

"Os credores da Varig concordaram em vender
a empresa sem qualquer passivo"

CONSTANTINO JÚNIOR

 

 

COLUNA CLAUDIO HUNBERTO
31-03-2007
LENDA URBANA

Circulavam rumores, ontem, sobre a participação do ex-ministro José Dirceu na compra do Grupo Ipiranga pela Petrobras e também na recente aquisição da Varig pela Gol. Mas ele garantiu à coluna que é tudo fantasia.

 

 

COLUNA CLAUDIO HUNBERTO
31-03-2007

Aviso da Gol só agrava o caos

A empresa aérea Gol está recomendando que os passageiros não procurem os aeroportos, mesmo as operações tendo voltado à normalidade. No site da companhia aquinhoada por Lula com um presentaço (a Varig) consta o aviso de evitar os aeroportos, quando os deveria tranqüilizar com mensagens de esclarecimento. E a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) não vê nada disso acontecer, e se vê, não adverte e não multa.

 

 

COLUNA CLAUDIO HUNBERTO
31-03-2007

OAB sobre o caos: 'cidadania está no escuro'

O presidente nacional da OAB, Cezar Britto, divulgou nota agora há pouco em que critica o presidente Lula, na condução da crise do setor aéreo, lembrando que ele "exige providências, em vez de obtê-las". Britto critica a falta de informação e conclui que "a cidadania está no escuro". Leia a íntegra da nota da OAB: "A crise dos controladores de vôo deixa claro que há uma caixa-preta voando desgovernada no espaço aéreo brasileiro, cujo pouso no solo da transparência é inadiável. Estamos, quanto a isso, no pior dos mundos: todos sabem que algo de irregular e gravíssimo acontece e afeta um dos setores vitais da vida nacional, que é a aviação civil , mas não sabemos o que é.

A cidadania está no escuro. O presidente da República exige providências e, em vez de obtê-las, vê o quadro se agravar. Certamente porque as providências que exige sejam atribuições do seu próprio governo. Há, como é óbvio, várias perguntas que não querem calar: por que, até o acidente com o Boeing da Gol, no ano passado, nada disso ocorria? O que vincula aquele trágico momento da aviação comercial brasileira com a presente crise nos controles de vôo? O mais estranho é que sequer manter desinformada a população, a exemplo da tentativa de se tentar impedir uma investigação mais profunda, por meio do instrumento constitucional da CPI.

O agravamento da crise mostra o quanto a CPI é necessária e urgente. A crise só será superada quando as múltiplas perguntas que se colocou no ar começarem a ser respondidas. A respostas somente serão obtidas  quando a caixa-preta da desinformação for definitivamente aberta. A grande vítima desta crise é, mais uma vez, a sociedade brasileira. A CPI é um direito constitucional da minoria, a correta informação da crise é um direito de toda a cidadania. Ambos devem ser respeitados. Cezar Brito, Presidente do Conselho Federal da OAB".

 

 

JB - 31/03/07
charge do cartunista Ique